tag:blogger.com,1999:blog-249976302024-03-13T10:04:14.601+00:00Memórias e RaízesFoi plantada uma árvore que criou raízes muito profundas. Os seus ramos atravessaram oceanos, em viagens intermináveis e aventureiras. Quedaram-se em todos os continentes, fortaleceram-se. Os seus frutos eram apetecíveis... Por fim, o regresso, o reencontro com o velho tronco e o renascer nas raízes, uma nova esperança...Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.comBlogger25125tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-71584591045237878972020-12-04T20:59:00.004+00:002021-05-08T18:54:00.864+01:00NAS PLANURAS DO MOXICO III-1968-Nos cus de Judas II - MUIÉ <div style="text-align: center;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjI1vzdkfypE6NhsmyOeoEwvqpJWAB9ORKyvlpTTK_k_akVULLwB073wWTaVmLfc_QeYpvGJLgS9qxJfJysBD_FgoUYloo4kRuu2T6NaGTSQeZGW8DFNXDRPMIjwUZ7nAdm0JpzmQ/s1600/img04.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="568" data-original-width="812" height="278" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjI1vzdkfypE6NhsmyOeoEwvqpJWAB9ORKyvlpTTK_k_akVULLwB073wWTaVmLfc_QeYpvGJLgS9qxJfJysBD_FgoUYloo4kRuu2T6NaGTSQeZGW8DFNXDRPMIjwUZ7nAdm0JpzmQ/s400/img04.jpg" width="400" /></a></div>
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Nas planuras do Moxico após passar capinzais, matas, chanas (savanas), linhas de água, pontões, pontes, no mais profundo Leste de Angola, tendo por limite a linha de fronteira da República da Zâmbia, encontramos uma região conhecida pelos militares portugueses por "Os Cus de Judas", o sub-sector militar de Gago Coutinho na orgânica militar portuguesa no ano de 1968.<br />
Na mesma região entre a Vila de Gago Coutinho a atual Lumbala N´guimbo e a Vila de Cangamba, distante dos grandes centros urbanos da província do Moxico, outrora distrito do Moxico, encontramos uma pequena aldeia africana cujo nome lembra uma designação brasileira da palavra mulher, é o Muié. A aldeia do Muié encontrou a sua época áurea nos anos que antecederam o início da guerra de guerrilha no Leste de Angola, cujas primeiras ações ocorreram no ano de 1966 por dois movimentos armados, o MPLA e a UNITA. Antes, era uma povoação que agregava uma população de cerca de mil habitantes, três ou quatro comerciantes portugueses, uma Missão religiosa evangelista e um Hospital cujas condições das suas instalações e competência dos seus profissionais: médicos, enfermeiros e auxiliares, logo se tornou numa unidade de saúde prestigiada, cujo nome passou fronteiras étnicas e penetrou no país vizinho, a República da Zâmbia. Nele eram acolhidos os povos da região: Bundas, Luchazes, Quiocos, Luenas, Lundas, e populações chegadas de regiões distantes que, percorrendo centenas de quilómetros a pé, ali chegavam em busca de cura para os males do corpo, permitindo por outro lado, lavar a alma na mensagem cristã de missionários benfeitores. Mas tudo isto se perdeu subitamente com a chegada dos guerrilheiros A guerra de libertação nacional chegara ao Leste de Angola naquele ano de 1966 e o Muié passou, de terra pródiga de cura, a um aglomerado de quimbos (cubatas) sem vida, sem população, sem alma, em profundo abandono. A população africana dispersou-se pela região levada pela guerrilha, a casa do Chefe do Posto, património do Estado Português, foi ocupada por uma guarnição da tropa portuguesa que, pelo número escasso de homens, cerca de trinta, ía sofrendo os males de um isolamento atroz. Perante o perigo que rodeava o seu habitat minúsculo e precário, os soldados íam contando o tempo de permanência desejosos de voltarem ao conforto e à segurança do quartel/sede do Batalhão em vila Gago Coutinho, a atual Lumbala N´guimbo. A defesa daquele espaço cingia-se a duas metralhadoras, montadas, uma, na varanda de entrada da moradia, rodeada de sacos de areia, como se vê na primeira foto, a outra, na face oposta, localizada numa janela. As patrulhas saíam do "quartel" na tentativa<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYEDu9BrU9UuWOSfn_rz0Jk362Yu-WAlOt526fZP5ER5UZ2aNB5sYS3u6A9fH5tWtkzhDoHjc91MAkNUL0Nxh9EDbEU28QtG-LaKRBJLHGsbXyTE2UqBKx0QuVgH-3k4vFNtPo_A/s1600/rios.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYEDu9BrU9UuWOSfn_rz0Jk362Yu-WAlOt526fZP5ER5UZ2aNB5sYS3u6A9fH5tWtkzhDoHjc91MAkNUL0Nxh9EDbEU28QtG-LaKRBJLHGsbXyTE2UqBKx0QuVgH-3k4vFNtPo_A/s640/rios.jpg" width="640" /></a><span style="text-align: justify;"> de recuperarem elementos da antiga população que circulava nas redondezas, o que, por vezes, acontecia com êxito. Rodeados pelo arame farpado os nossos militares eram observados à distância. As flagelações (tiros à distância) causavam intranquilidade e insegurança e o receio de um ataque de graves consequências não estava longe de qualquer conjetura. As ídas ao rio para abastecimento de água, um martírio, que a respeitável presença da metralhadora montada num tripé sobre um dos unimogs, em parte, colmatava. A ponte em madeira sobre o rio fora queimada pelos guerrilheiros, impedindo o acesso por terra à tropa portuguesa sediada na Vila de Cangamba, que dista do Muié cerca de cento e vinte quilómetros em picada de piso duro, que abreviava sobremaneira o tempo de viagem. Cangamba estava em posição de fornecer reforços ou ajuda logística com maior brevidade, caso a ponte fosse reconstruída. Sem ponte os reabastecimentos partiam de Gago Coutinho em viagens que, pela natureza acidentada do piso, demoravam dia e meio na ída e dia e meio na vinda, tempo suficiente para os guerrilheiros prepararem um ataque de surpresa às colunas de abastecimento em alguma curva do trilho que ziguezagueava na mata a contornar as árvores. A distância a percorrer prefazia mais de 110 quilómetros na ida. A meio do percurso o andamento situava-se entre os 5 e os 10 quilómetros, com as rodas das viaturas em constante choque com as raízes que se salientavam no trilho provocando saltos "acrobáticos" às viaturas, quais "cabras do mato" nos seus saltos e volteios, esses sim acrobáticos. Os unimogs eram apelidados de "cabras do mato", uma alegoria criada pelos militares portugueses devido aos saltos provocados pelo piso acidentado das picadas. No resto do percurso caminhava-se a pé pela mata com duas secções formadas em linha a ladearem o unimog da metralhadora na tentativa de desmontar hipotéticas emboscadas e obrigar os guerrilheiros a retirarem debaixo do fogo da metralhadora e das espingardas automáticas G3. A região estava a ser controlada pela guerrilha atenta ao movimento da tropa portuguesa com especial incidência nas picadas por onde transitava a logística. O Muié era o mais distante destacamento a abastecer e a viagem a mais problemática, por isso se dizia que «militar que fosse ao Muié trazia </span><span style="text-align: justify;">uma história de guerra para contar».</span></div>
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<span style="text-align: justify;">ÀS QUATRO DA MANHÂ VAMOS AO MUIÉ</span><br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkvn8oBjhJ55c5Jpa4G4tTtOTWcXAZuX37qH8kztdlDjzJtPUklT3-ASyFg5I6CYhwkEe9CejRGvwJ0mY1QYZj5XuHzTObE2dTIKaLwAO-JUESjSeZp2agsZBVKevtPiGhL9DSzw/s1600/img03.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="575" data-original-width="812" height="283" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkvn8oBjhJ55c5Jpa4G4tTtOTWcXAZuX37qH8kztdlDjzJtPUklT3-ASyFg5I6CYhwkEe9CejRGvwJ0mY1QYZj5XuHzTObE2dTIKaLwAO-JUESjSeZp2agsZBVKevtPiGhL9DSzw/s400/img03.jpg" width="400" /></a></div>
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<span style="text-align: justify;">Às quatro da manhã de uma noite gelada por rigoroso e excessivo inverno em que a temperatura mínima atingira os sete graus negativos, segundo nos informava o boletim metereológico que diariamente era posto em anúncio num placard no quartel/sede do Batalhão 1920 sediado na Vila Gago Coutinho hoje Lumbala N´guimbo, oito condutores da Companhia de Caçadores 1719 subiram para os seus lugares nos respetivos unimogs, rodaram as chaves nas ignições e o ruído ensurdecedor de oito motores em uníssono fizeram calar o silêncio daquela noite fria. </span><br />
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<span style="text-align: justify;">A noite fora mal dormida devido à expetativa gerada. Sempre que se ía ao Muié a adrenalina subia ao rubro nos militares sujeitos a tal viagem. O comando da coluna foi assumido pelo capitão Azuil de Carvalho, comandante da Companhia. Era um oficial que não enjeitava o comando nos momentos de maior responsabilidade e perigo. A viagem ao Muié era um desses momentos. O perigo de emboscada espreitava em cada curva do caminho após as primeiras horas de andamento.</span><br />
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<span style="text-align: justify;">Já com alguns quilómetros andados os procedimentos de segurança tomaram forma. Em certos períodos do percurso descíamos das viaturas e avançávamos em linha, a pé, dentro da mata, com duas secções de sete homens comandadas por um furriel a ladearem o unimog da metralhadora, uma à direita e outra à esquerda. No início da tarde tivemos a companhia de dois caças T-6 a hélice e um helicópetro canhão que apareceram a escoltar-nos dos céus, e, entao, perante tal segurança, subímos para os unimogs até se esgotar o tempo de autonomia das naves que regressaram a Gago Coutinho para o reabastecimento de combustivel. Nesse tempo de ausência voltámos a descer das viaturas e a "bater mata" a pé, e isso repetiu-se até ao final da tarde quando os raios de sol íam aquecer outros horizontes e deixavam-nos tolhidos na noite gelada daqueles lugares longínquos e selvagens. As ídas ao Muié requeriam um esforço suplementar e a presença da Força Aérea a esperança de que o risco de emboscada se atenuasse sobremaneira. </span></div>
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<span style="text-align: justify;">A primeira parte do percurso foi realmente difícil e de andamento lento devido ao piso. Os unimogs saltavam nas raízes que atravessavam o velho trilho que ía contornando uma chana (savana) de capim fazendo aumentar substancialmente o tempo de viagem. Quase no final do dia pudemos aumentar o andamento das viaturas e recuperar algum tempo. A noite chegou, e, com ela, nuvens de mosquitos (melgas) e o frio intenso. O chão duro e acidentado da picada serviu de colchão naquela noite mal dormida e o saco cama camuflado uma ajuda preciosa, mas não evitou as picadas dos mosquitos que atacaram sem dó nem piedade o sono que precisávamos dormir. A "vacina" já nos</span><span style="text-align: justify;"> tinha sido aplicada em várias doses sempre que estas situações se apresentavam. A "Pensão Estrela" não oferecia qualquer conforto. A inexistência de ar condicionado ou serviço de quartos uma constatação que os "hóspedes" de ocasião tinham de dispensar até se levantarem sonolentos na madrugada seguinte ainda o céu estrelava. Consta que ninguém voltava nas "férias" seguintes por falta de acomodações dignas. A indústria do.lazer não chegara, ainda, ao Leste de Angola. Talvez chegue um dia quando a guerra for contada como lição de História ou recordada por testemunhos diretos ou indiretos.</span><br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAR-bxDGDrFn02G_-zaLb3Yh6d3eR7l6bX5bbhcXeMEOTHntOgC_YrRyue3M7psHyL7EGqEMIpIKJcpTtMFkMfJgsiSpPhKQwWjxcmbBR0H9ps94ouSK792q2TWHynV1rNj6NFLQ/s1600/img02.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="569" data-original-width="812" height="280" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAR-bxDGDrFn02G_-zaLb3Yh6d3eR7l6bX5bbhcXeMEOTHntOgC_YrRyue3M7psHyL7EGqEMIpIKJcpTtMFkMfJgsiSpPhKQwWjxcmbBR0H9ps94ouSK792q2TWHynV1rNj6NFLQ/s400/img02.jpg" width="400" /></a></div>
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<span style="text-align: justify;">Numa das curvas daquele caminho sinuoso que corria por entre as árvores surgiu inesperadamente os esqueletos queimados de dois unimogs a gasolina. Eram grandes e poderosos à vista dos nossos, a gasóleo, mas tinham uma fragilidade qual calcanhar de Aquiles, quando atingidos nos depósitos incendiavam-se, o que motivou a sua substituição pelos movidos a gasóleo, mais pequenos e aparentemente mais frágeis. Avisaram-nos das suas presenças no trilho no dia anterior do início da viagem. Serviram na propaganda contra o regime português que teimava em manter as colónias, nessa época denominadas Províncias Ultramarinas.</span></div>
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<span style="text-align: justify;">Por fim o piso melhorou e perante a escolta aérea dos T-6 e do helicóptero canhão, pudemos acelarar e chegar ao Muié por volta do meio dia. A entrada no Muié foi inesquecível pela impressão causada . O silêncio fazia daquela aldeia desabitada uma povoação fantasma. As portas das casas de adobe batiam na pequena aragem que corria, algumas janelas em madeira estavam fechadas, outras, escancaradas à espera que alguém as fechasse. Ouvíamos o som suave, melodioso e doce do ramejar dos eucaliptos altaneiros à medida que avançávamos para a casa do chefe de posto que agora servia de quartel à pequena guarnição, nossos camaradas de armas. Tivemos uma surpresa à chegada, afinal a aldeia não era totalmente desprovida de população, existia um elemento que tinha ficado. Era um negro espadaúdo, muito alto e de meia idade, de nome José Caxana. Foi deixado para trás pelos guerrilheiros por ser louco. Aparecia de vez em quando com ginguba (amendoins) para vender à tropa. O Muié era nessa altura uma povoação esquecida pelo Homem mas agradável de se ver, e de uma frescura singular. Talvez fosse esse o motivo de ter sido o local escolhido para a instalação de um Hospital e de uma Missão religiosa.</span></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOAQyMt2abVkQHIjxABskB8v0Lu9gA7Sa16Ba2Lz4NeZHYGzaSg2U9nZ8QLwVwj5gtd0GyQ20WhCNGTXU1YX0w8lyGCI-L4Wv5OUIOOjbRgGGapSMvxPHU4AwjUbzRonGg8ClWGA/s1600/img01.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="588" data-original-width="812" height="288" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOAQyMt2abVkQHIjxABskB8v0Lu9gA7Sa16Ba2Lz4NeZHYGzaSg2U9nZ8QLwVwj5gtd0GyQ20WhCNGTXU1YX0w8lyGCI-L4Wv5OUIOOjbRgGGapSMvxPHU4AwjUbzRonGg8ClWGA/s400/img01.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="text-align: justify;"> Para não se perder tempo e, após uma ligeira paragem para descarregar os abastecimentos, fomos levados até ao rio para se analizar as condições da ponte. Restava sòmente os grossos troncos espetados que saíam da água profunda à espera que alguém lá colocasse travessinas e longarinas para proporcionar, no futuro, a sua utilização. Entretanto fomos flagelados com três ou quatro tiros sem consequências. Somente uma roda de um dos unimogs passou por cima do peito de um dos soldados sem o ferir.</span><br />
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<span style="text-align: justify;">A azáfama para a construção da improvisada ponte logo se iniciou. Estupefacto, vi machados e serras a derrubarem eucaliptos, tábuas a saírem sabe-se lá de onde e por fim, após algumas horas de labuta árdua, alguém anunciou o fim dos trabalhos. Mais uma etapa fora vencida naquele conjunto de etapas.</span></div>
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<span style="text-align: justify;">"MARIAZINHA", A BALADA ETERNA DE CANGAMBA</span><br />
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A travessia da ponte processou-se debaixo de muitos cuidados. Foi uma prova dificil para os condutores e um risco para os ocupantes das viaturas, dado que, as tábuas das longarinas eram demasiado estreitas para oferecerem toda a segurança. Não houve flagelação como se esperava. Tudo decorreu debaixo de muita tensão até nos virmos na outra margem. Respirámos de alívio, Muié ficara para trás. A viagem ía continuar para Cangamba. A picada de chão duro proporcionou andamento rápido. Passámos por Cangombe e a meio da tarde já estávamos em Cangamba com a Cavalaria. A Cavalaria tinha fama de receber bem os seus convidados. Sabiam o gosto de uma refeição quente após dois dias a ração de combate. Na verdade convidaram-nos para um jantar quente na messe. Após o jantar que decorreu em franca camaradagem, obsequiaram-nos com um convívio inesperado. A presença de um enfermeiro africano de nome Brugel, originário de Cabo Verde, um verdadeiro "show-man", proporcionou um dos momentos mais emotivos de toda a comissão. Cantou canções em português e em dialeto. Tinha uma voz quente e bem timbrada para baladas. "Mariazinha", foi a balada que mais nos tocou. Cantou em dialeto e solicitou que o acompanhássemos em coro "MA-RI-A-ZI-NHA".<br />
A viagem prosseguiu na manhã seguinte em direção a Cassamba. O quartel era um verdadeiro primor, a cantina fora construída com canas, um trabalho artístico bem concebido à moda artesanal. Pareciam perfeitamente à vontade na zona tal como em Cangamba. Mas a viagem tinha de prosseguir até encontrarmos a estrada Luso/Gago Coutinho, hoje Luena/Lumbala N´guimbo e seguir por ela até Gago Coutinho<br />
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A EMBOSCADA EM LUTEMBO</div>
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A estrada Luso/Vila Gago Coutinho era uma estrada construída pela Junta Autónoma de Estradas de Angola. No tempo das chuvas era conservada pela empresa construtora. De terra batida e bastante larga mantinha-se em bom estado de conservação quase todo o ano, devido às terraplanagens e à gravilha introduzida que os cilindros enterravam dando maior consistência ao piso. Não fosse a poeira, que nos tingia a pele e o cabelo, oferecia uma viagem agradável e segura. O relevê para as bermas provocava o escorrimento fácil da água das chuvas sem provocar regos profundos que pudessem afetar o andamento das viaturas. Era a via principal que ligava a cidade do Luso, hoje Luena, capital do distrito, às várias localidades a leste, até à Vila Gago Coutinho, a 400 Kms. de distância e a 70 kms. da fronteira com a República da Zâmbia.. Poderá ser, no futuro, a via que fará escoar os produtos quando o desenvolvimento económico atingir aquela parte do território.<br />
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Entrámos nessa estrada perto da povoação do Luvuei e fizemos uma paragem breve no quartel. O Luvuei era a sede da Companhia 1721, pertencente ao Batalhão. Tinha um destacamento no Lutembo, povoação situada a cerca de 70 Kms mais à frente na mesma estrada no sentido de Gago Coutinho. A coluna aproximou-se da povoação do Lutembo com o unimog da metralhadora à frente e o apontador e municiador atentos a prescrutar a mata que ladeava a estrada à procura de qualquer movimento que pudesse por em causa a segurança da coluna quando o inesperado aconteceu. Já à vista da povoação a emboscada assassina assinou a sua sentença a dois valorosos soldados que seguiam no primeiro unimog, de pé, a abrir a coluna, o atirador e o municiador da metralhadora. Dois tiros certeiros atingiram aqueles dois companheiros que caíram na estrada sem vida Tudo levava a crer que tinham sido atingidos por uma arma de mira telescópica dado a precisão dos tiros. A consternação estava estampada nos rostos de todos os companheiros que estavam no local e apoderava-se dos rostos daqueles que chegavam. O alferes Castro estava atónito sentado na berma da estrada. Eram as primeiras baixas da companhia provenientes de arma inimiga. Uma raiva surda apoderou-se de todos nós. Aquelas baixas exigiam uma ação de retaliação, mas os elementos da guerrilha tinham abandonado o local. As emboscadas teem esta caraterística, é o atira e foge numa guerra de desgaste, de surpresa. Impotentes víamos os nossos companheiros caídos sem podermos reagir. Íamos retaliar contra quem? Contra inocentes que habitavam os quimbos (cubatas)? Concerteza que não.<br />
Mas a viagem tinha de prosseguir embora não estivessemos ainda refeitos da surpresa e da raiva que nos enchia os pensamentos.<br />
Chegámos a Gago Coutinho com a mágoa de termos perdido aquela batalha. Mais uma vez a ída ao Muié tinha posto de luto a tropa portuguesa, desta vez já no posfácio da viagem.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3g4Oy7iwsj3IzS9gj8IbS7I4jdNi0HLmmhwPBs6U_WApMy46je9MgWJ4w5lfzik6pUGVuqiXY_FHXq4na2GuLva4An_vxODB5LRPnR89-5W6rUfuPPogfkycDu6jdJb4luE0kTQ/s1600/thumbnail_Frota3.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="824" data-original-width="1280" height="257" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3g4Oy7iwsj3IzS9gj8IbS7I4jdNi0HLmmhwPBs6U_WApMy46je9MgWJ4w5lfzik6pUGVuqiXY_FHXq4na2GuLva4An_vxODB5LRPnR89-5W6rUfuPPogfkycDu6jdJb4luE0kTQ/s400/thumbnail_Frota3.jpg" width="400" /></a></div>
Algum tempo depois, numa viagem de abastecimento ao Ninda, sede da Companhia 1720, com destacamentos no Chiume e em Set, a sorte acompanhou a tropa portuguesa. A veterania e a valentia dos nossos militares impôs-se na picada com a captura de um emboscado e sua arma. O comandante da coluna o meu camarada de armas Furriel Rogério Magro foi agraciado com um louvor. No Set, o nosso camarada Furriel Ernesto Mateus perseguiu um grupo de guerrilheiros com captura de armas. Transportou às costas um companheiro ferido durante horas. Infelizmente temos pouca informação acerca deste acontecimento. Foi agraciado com uma Cruz de Guerra de quarta classe. Na picada do Mossuma um grupo de militares portugueses e um grupo de flechas comandados pelo nosso camarada de armas Furriel Carlos Barros aprisionou um guerrilheiro armado, merecendo por isso um louvor do comandante do Batalhão. Mais uma vez a valentia e a veterania da tropa portuguesa e dos auxiliares africanos impôs-se na picada no "duelo" com guerrilheiros. Antes de deixarmos "os cús de Judas" sofremos, ainda, uma emboscada à vista de Gago Coutinho, hoje Lumbala N´guimbo, com graves consequências. Dois feridos graves deixaram Angola para o Hospital Militar de Lisboa, tendo um só sobrevivido. Anos passados e já residente em Lisboa, ao descer a Av. da Liberdade cruzei-me com um rosto familiar que olhava na minha direção e se dirigia para mim. Era o soldado sobrevivente da emboscada de Gago Coutinho. Convidou-me para uma imperial num café da Avenida, disse-me que trabalhava na construção civil. há algum tempo. Estivera entre a vida e a morte no Hospital Militar de Lisboa e sobrevivera por milagre..Já em final de conversa afirmou que não hesitaria em pegar numa arma e ir combater de novo no ex-Ultramar português, caso fosse chamado pelo exrército português. Com esta afirmação, algo surpreendente, não me pareceu haver qualquer sentimento de revolta ou trauma devido ao que lhe acontecera na vida militar. Tinha sim, um sentimento de pena por todas aquelas centenas de milhar de portugueses que chegavam, fugidos de uma guerra civil gerada pelos Movimentos de Libertação após a saída do exército português dos territórios coloniais de África naquele ano de 1975. Chegavam sem perspetivas de futuro a um País em revolução.<br />
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Quando o nosso pensamento se fixa em África, O Lutembo e o Muié teem recorte nítico nesse universo de emoções. O Lutembo pelo opressivo acontecimento de perda de vidas, um luto permanente que transcende meses e anos, um toque de silêncio a unir-nos no mesmo amplexo. O Muié é o respeito. Um historial de Fé vincado por uma história humana de solidariedade, um Templo de Paz e Esperança interrompido pela guerra, instalando-se o medo, a fuga, o silêncio, permanecendo sòmente o doce ramejar dos eucaliptos que conduz à reflexão. Desejamos que o Muié volte a ser a terra de cura na ação Crística que fora antes da guerra. Volte a ter uma população presente, onde se possa encontrar os ruídos típicos das aldeias africanas, com os Kassumbis (galinhas) a depenicarem aos pés das Wanna Pwo (mulher madura) sentadas à porta da cubata, ou os Gaji n´Gaja (idosos) a fumarem o seu cachimbo africano e a cogitarem uma ída ao rio ou à caça.<br />
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Sabe-se que após a ofensiva do Leste pela tropa portuguesa a partir do ano 1971/1972 o Muié passou a Sede de Companhia apetrechada para receber refugiados pelos militares portugueses. A população regressou aos seus antigos quimbos. Não se sabe se o Hospital e a Missão foram já recuperados. Os nossos votos ficam aqui expressos se o Humanismo de Homens e Mulheres de Cura devotados à Paz Crística entender por bem.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgah3bCh6hJ5shLtCTVvjI5zNZ23CUHcJ-6kYY2Awnn9I70yLMUyeLa9pwXj3XwFdjznwdpaIvr0HvBAd_foBIcGw9F90EWwc3eVWcCONWxWdzFiYyKd282LLUbcSJlQiYfQGJ33g/s1600/GetAttachment+%252814%2529.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="159" data-original-width="214" height="296" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgah3bCh6hJ5shLtCTVvjI5zNZ23CUHcJ-6kYY2Awnn9I70yLMUyeLa9pwXj3XwFdjznwdpaIvr0HvBAd_foBIcGw9F90EWwc3eVWcCONWxWdzFiYyKd282LLUbcSJlQiYfQGJ33g/s400/GetAttachment+%252814%2529.jpg" width="400" /></a></div>
Meses depois a Companhia 1719 foi transferida para a Lunda, concessão da Diamang. O quartel, construído pela empresa, dista dois quilómetros da "capital administrativa" cidade do Dundo, uma cidade jardim repleta de vivendas rodeadas de relva.cuidada que oferecia o aspeto semelhante a uma estância turística. Disfrutámos de uma qualidade de vida invejável com acesso à piscina ao sábado, cinema à terça feira, sala de jogos da Casa do Pessoal onde praticávamos ténis de mesa e xadrês, biblioteca. Quiséramos que fosse este descanso um prémio, uma compensação por tudo o que passámos nos "cús de judas", mas não foi assim. <br />
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O chamamento para mais ações a leste e a sul de Saurimo (Henrique de Carvalho) intercalavam com esses dias de lazer. Uma operação de cinco dias foi surpreender garimpeiros dentro da concessão da Diamang. Em Nova Chaves apanhámos com a primeira mina. Outros isolamentos esperavam-nos em sítios de quimbos, O Dala, a sul de Saurimo (Henrique de Carvalho) conhecido pelos seus rápidos e cascatas, tinha uma população que vivia dias tranquilos como se vê na foto.<br />
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Uma hospedaria fechada aguardava pelo fim da guerra; um sítio de lazer para os tempos de paz. Até que chegou o dia de embarcar. O paquete Vera Cruz, que levara o Batalhão 1920 para Angola dois anos antes, em 1967, esperava no cais de Luanda.<br />
Os militares do recrutamento de Angola tinham uma oportunidade de viajar para Portugal gratuitamente. Alguns não conheciam o recanto pátrio cheio de História que se aprendia nos livros escolares. A maioria preferiu regressar de imediato às suas casas, ansiosos de paz e de futuro. </div>
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Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-64568952129707232722019-12-30T22:58:00.001+00:002020-08-17T21:12:30.071+01:00MOXICO V - MOXICO-UM MEMORIAL EM GRANITO FEITO <div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPCPYLsLUugrgpz-KG-18tDnJgqaWzLzZH4n8nbUKuCxuRfSGisH0AgSTlTcAsDupyqz4V32rES_VISn9Lj2H2DakSzzuRsLOleaqTl1J4s6SrSuAYrJ_eUEgwQaDW73z9EDoYVw/s1600/16388432_1589718154375078_1767402255532686163_n.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="595" data-original-width="795" height="298" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPCPYLsLUugrgpz-KG-18tDnJgqaWzLzZH4n8nbUKuCxuRfSGisH0AgSTlTcAsDupyqz4V32rES_VISn9Lj2H2DakSzzuRsLOleaqTl1J4s6SrSuAYrJ_eUEgwQaDW73z9EDoYVw/s400/16388432_1589718154375078_1767402255532686163_n.jpg" width="400" /></a>Construímos um memorial em homenagem aos nossos três companheiros falecidos por acidente. O memorial foi construído dentro do quartel do Lucusse e a mando do capitão Azuil de Carvalho, comandante da Companhia de Caçadores 1719, que encarregou o furriel Boticas dessa nobre missão. Nos catorze anos de guerra em Angola entre as Forças Armadas Portuguesas e os Movimentos de Libertação, os acidentes foram incontáveis e aconteceram de maneiras diversas: armas que dispararam porque as patilhas de segurança não se encontravam em posição de segurança e os gatilhos foram acionados inadvertidamente, granadas montadas como armadilha e acionadas por tração por uma falha na coordenação do movimento das forças no terreno; ou ainda, os acidentes auto provocados por falha nos travões das viaturas. Estes acidentes ocorreram nas companhias do Batalhão de Caçadores 1920 durante os dois anos de permanência no Leste de Angola em comissão de serviço entre 1967 e 1969. Somente o acidente auto não causou vítimas devido à destreza dos militares, que de um salto lançaram-se da camioneta civil que os transportava para a picada, momentos antes desta se despenhar. Outro acidente aconteceu com a pistola metralhadora de fabrico português a famigerada FBP (Fábrica Braço de Prata). Felizmente a rajada não encontrou alvos humanos e o alívio calou bem fundo quem estava presente. Não se compreendia como esta afamada arma identificada como falsa e perigosa continuava no ativo a assustar os incautos que a manuseavam. Em resultado destes acidentes faleceram na Companhia de Caçadores 1719 três militares, o que corresponde a 50% das baixas totais da Companhia, que foram em número de seis. Coincide esta percentagem, (50%), às baixas sofridas pelas Forças Armadas Portuguesas nos catorze anos de guerra em Angola, Moçambique e Guiné Bissau, ou seja, 8831 óbitos entre os quais 4280 por acidente.<br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjpNL1ToAdHtQuBbXEwi0pUb0HJPWnCCy4Ro-UE44E7S9FvvqHleawfWUdtnFvk2sDqCq3AuYOqShFbvZw_CY4dcvIiG7L59iBKYGc-IoGftrIjc6hMDQAsfOE9cTaWeUqn5xSPw/s1600/1186164_653366931340983_2041900913_n.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a>
Nas memórias que guardamos do Moxico temos em alta consideração os simpáticos povos da região, Bundas, Luchazes, Quiocos, Luenas, a apreensão de alguns termos dos seus dialetos, mas quase nada dos seus usos e costumes ou o significado das suas danças e festas. Não é fácil o entendimento dos vários dialetos existentes em África. Fica no entanto aqui este apontamento.<br />
Recordamos aqueles companheiros que não nos acompanharam no regresso a casa, e que hoje são o alvo das nossas homenagens. Homenagens sentidas em cerimónias celebradas no quartel de Abrantes onde o Batalhão de Caçadores 1920 foi formado, cerimónias cujo ponto alto, o toque de silêncio, nos cala até às lágrimas. Outro ponto que nos sensibiliza profundamente são as homilias na celebração da santa missa, quando o sacerdote celebrante divulga uma lista de ex-companheiros falecidos após desmobilização. Segue-se o almoço-convívio, cuja amizade, construída na ação e no convívio do dia a dia, quando se inventava mil maneiras de passar o tempo, é patenteada, permanece viva, já há muito consolidada no nosso memorial erigido graniticamente dentro de cada um de nós. <br />
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<br /></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsTYt7KJ_kE2YiGXcNOzelX2_NuMSW6ExgqmglqcUimeC5SThRCasIFj_QFIravmE4rP3OGk9we_lXjO9NF85KPGo3uuEyUvf05S8hOgqhA1ZvRkoQOzfuUFF7Y6DNpHwFnJZ-dQ/s1600/afangolamapa.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="726" data-original-width="759" height="611" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsTYt7KJ_kE2YiGXcNOzelX2_NuMSW6ExgqmglqcUimeC5SThRCasIFj_QFIravmE4rP3OGk9we_lXjO9NF85KPGo3uuEyUvf05S8hOgqhA1ZvRkoQOzfuUFF7Y6DNpHwFnJZ-dQ/s640/afangolamapa.jpg" width="640" /></a></div>
Rememoramos alguns momentos de descontração e de diversão que nos provocam ainda um certo sorriso, momentos vividos na segurança dos quartéis, ou os de contração, de atenção e de expetativa, em picadas poeirentas prontos para reagir a qualquer ação inimiga. Não esquecemos os companheiros que, em gestos de simpatia nos emprestavam a sua amizade, tornando o dia a dia mais fácil de ser vivido. Recordo o "meias rodas" de perna curta, o amigo Curião, que se esfalfava para seguir o ritmo da passada dos "gâmbias" pernaltas, o amigo Eusébio, o amigo Maria ou o amigo Mata, que atenciosamente moderavam o passo para que o amigo Curião, eu, o amigo Lopes, o amigo Américo Oliveira, ou o amigo Saraiva, os pudessem acompanhar. Recordo o amigo Curião responsável pela cantina a vender cerveja quente por limitações do motor elétrico; recordo a história do cabo crípto ao querer teimosamente manter a luz acesa durante o ataque ao quartel do Lucusse em Março de 1968 porque sentia-se na obrigação de decifrar uma mensagem recebida momentos antes do ataque, tendo por isso levado com um travesseiro.<br />
Quanto piso irregular percorremos de saco às costas, cheio de rações de combate e um saco cama camuflado para pernoitarmos ao relento, mal protegidos das picadas das melgas, do frio de rachar e da chuva torrencial, e o peso das cartucheiras sobre as ancas mais a espingarda automática G-3 com a patilha de segurança em posição de segurança, o minúsculo cantil, sempre minúsculo para as necessidades impostas pela sede, eram pesos acrescidos, importantes e obrigatórios. Recordo o amigo Fonseca cujo o medo lhe provocava sono nos serviços de vigilância; o amigo Joaquim Joaquim, era Joaquim duas vezes, no nome próprio e no sobrenome; o amigo Marques; o amigo Cesário, o trinca gafanhotos, e tantos outros, todos eles "Excelentes e Valorosos" (lema do Batalhão de Caçadores 1920) e "Sempre Prontos" (lema da Companhia de Caçadores 1719); o alferes Castro, descontraído e bem disposto que degustava várias Cucas de rajada, enquanto puxava um fado e dizia umas graças bastante inteligentes; o amigo Rogério Magro, natural do Porto, praticante de Ténis de Mesa no Futebol Clube do Porto, que não deixava os seus créditos em mãos alheias e era invencível nos confrontos com adversários que queriam testar o seu valor. (Havia uma mesa numa sala vazia no quartel de Gago Coutinho e raquetes, bolas e rede, mas esses materiais eram de fraca qualidade, o que dificultava/desmotivava os mais evoluídos tecnicamente, que era o caso do furriel Rogério Magro, mesatenista formado na escola do Futebol Clube do Porto); o alferes Santos, atlético e simpático, mostrava a sua destreza elevando-se no ar batendo os calcanhares, (que pena não ter ainda comparecido em nenhum convívio); o alferes Ribeiro, sorridente, à espera que tudo terminasse para regressar a casa, (também não compareceu em nenhum convívio); o alferes Lima Ferreira que queria ser herói e oferecia o grupo de combate para operações sofrendo a contestação de todo o grupo e com isso a quebra de autoridade, «se quisesse ser herói, que fosse sozinho», diziam. Tentou seguir a vida militar mas por motivos que desconhecemos não conseguiu esse intento; o furriel Carlos Barros que andava sempre mal de um dos ouvidos, foi de Benguela para a recruta em Nova Lisboa, hoje Huambo, e depois chamado para o Batalhão 1920, Companhia 1719; o furriel Azevedo do Grupo de Combate do alferes Santos, russo e encarniçado, não me lembro de o ver rir mas era um amigo simpático, faltava-lhe somente mostrar o teclado de vez em quando; o furriel Rodrigues, chefe dos mecânicos e músico formado em conservatório. Tocou violoncelo numa orquestra de Lisboa. Uma noite acordou ao som de um disparo de um dos sentinelas e saiu do quarto assustado convicto de ter visto um "turra" aos saltos dentro do quartel. Claro que o furriel Rodrigues foi o alvo das risadas durante alguns dias. Diziam que ele tinha visto um turra yé, yé a dançar o rock. Dormiu alguns dias na camarata dos sargentos até se assegurar que afinal o turra yé yé foi somente o fruto da sua imaginação prodigiosa de músico encartado. Incorporou o conjunto musical da Diamang no Dundo, enquanto lá estivemos, já no final da comissão, com rápida adaptação a um instrumento que nunca tinha tocado, a viola solo; o furriel Nelson Meira Santos, da CCS (Companhia de Comando e Serviços), da secção de Transmissões, era o artista teatral do Batalhão, auto apelidava-se de Xalabadunga porque gostava de fazer xalabadas, termos inventados ainda estudante liceal em Lisboa. Compreendi que afinal Xalabadunga podia ser o seu nome artístico e xalabadas os números burlescos que encenava. Culto, puxava pelo seu alemão liceal para se transformar num Hitler exaltado, de discurso inflamado, penteado a rigor e de expressão facial congestionada pela ira. Era o delírio na "plateia". Dizia poesia como ninguém mas era sempre a mesma, longa, propositadamente ilógica, humorística. Era sempre exigida pela assistência, intitulava-se "O Temudo":<br />
<br />
Vi há dias o Temudo,<br />
Aquele rapaz telhudo,<br />
Que comprou um chafariz,<br />
Só para lavar o nariz, …….<br />
<br />
Mais adiante ia dizendo:<br />
<br />
E perguntou-me de súbito<br />
Na posição de decúbito:<br />
O quadrado da raiz<br />
Que atravessa, ao que se diz,<br />
A tangente com a secante,<br />
De eixo piriclitante e<br />
Focos encomiásticos,<br />
Que derivam dos elásticos<br />
Tem na traça facial<br />
Da quinta diagonal<br />
Os cinco turcos dos sucos<br />
Da comporta dos Kalmucos?<br />
Como a coisa era custosa<br />
Mandei vir um gasosa……….etc...etc.<br />
A terminar:<br />
<br />
E assim o serrazina,<br />
Com a grande comoção,<br />
Comeu metade de um cão,<br />
Comprou um pau de resina,<br />
Numa velha deu chapadas,<br />
Alistou-se nas cruzadas,<br />
E partiu para a Palestina,<br />
<br />
Escreveu-me de lá, há dias,<br />
A dizer que ainda não tinha chegado!!<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtVSq4PXW-O1zrxh3CkBiKaLq7STUZ-JmayUzVFl8uKw9g8DOubDO1NCtgfxy2PfWxrZq55MQF3GHLiMAoYiErKxPnM7nGbATzFc3JFg2ScSzz8D6vTh_8xg8a_9p-J58ruD_1CA/s1600/GetAttachment+%25282%2529.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="141" data-original-width="219" height="256" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtVSq4PXW-O1zrxh3CkBiKaLq7STUZ-JmayUzVFl8uKw9g8DOubDO1NCtgfxy2PfWxrZq55MQF3GHLiMAoYiErKxPnM7nGbATzFc3JFg2ScSzz8D6vTh_8xg8a_9p-J58ruD_1CA/s400/GetAttachment+%25282%2529.jpg" width="400" /></a></div>
Era o encantamento e o segundo delírio na assistência. Dizia-a umas vezes com a voz embargada pela comoção de reviver tempos saudosos imitando a voz de um idoso, outras vezes de forma natural de quem narra um episódio do seu passado. Repetiu-a tantas vezes que alguns dos habituais assistentes a decoraram. Claro que estes números teatrais eram regados a Cucas e a Nocais, as cervejas produzidas em Angola e sempre presentes nos quartéis nesse tempo de guerra e de amizade. A invocação da saudação a Baco. o deus do vinho, "Evoé Baco, Evoé Baco, Evoé bacantes" dirigido pelo mestre de cerimónias Xalabadunga, à moda da Roma imperial, era outro ponto alto na agenda, respondendo a assembleia em uníssono erguendo as garrafas de cerveja, "Evoé, Evoé Baco, Evoé bacantes".<br />
Nelson, o Xalabadunga, diariamente, ao por do sol, deixava a encenação, o divertimento e os companheiros. Isolava-se em silêncio e em recolhimento íntimo. Parecia que o sol tinha um poder estranho sobre ele e a sua falta mergulhava-o numa profunda reflexão solitária, só entendível pela saudade.<br />
<br />
O último dia de comissão representava o fim de um ciclo. Regressava-se à vida civil com a consciência do dever cumprido mas sem se vislumbrar um fim para aquele conflito que se ia eternizando nas zonas quentes do Norte e do Leste. Retomar a vida civil representava a dádiva do emprego e de uma carreira segura no Estado ou na Banca, preferencialmente. Quem se estabelecia no Ultramar Português apercebia-se que o desenvolvimento económico proporcionava o emprego fácil e as oportunidades eram oferecidas em todos os sectores da atividade económica sob os auspícios de um futuro cheio de promessas. O crescimento económico galopante fazia crescer o otimismo nas populações laboriosas crentes de que o progresso seria fatalmente o destino de Angola. Inimaginável um desaire económico que pudesse por fim a esse estado de graça. Acreditava-se que o bom senso seria privilegiado por quem, no futuro, teria a responsabilidade de governar aquele grande espaço cheio de riquezas escondidas no subsolo. Haveria concerteza nos futuros líderes a responsabilidade de tudo fazerem para uma governação na continuidade, e na unidade de um só povo.<br />
<br />
1974, precisamente a 26 de Abril espalhou-se a notícia em Angola de que no dia anterior, dia 25 de Abril, teria havido uma revolução em Portugal. O governo do Professor Marcelo Caetano caíra ante a ameaça do Movimento dos Capitães. O futuro do Ultramar Português discutiu-se numa mesa de negociações com os Movimentos de Libertação em Alvor, no Algarve. Os portugueses que estiveram no Moxico a combater nas Forças Armadas Portuguesas tinham o conhecimento de que os Movimentos de Libertação não se entendiam entre si e se combatiam para o domínio de território e de controlo de população. As armas eram o modo de se expressarem. Como seria encarado o futuro dos "auxiliares" africanos que lutaram ao lado das forças portuguesas, alguns com 15 / 20 emboscadas contadas nos seus historiais como combatentes? Quantas emboscadas mais seriam necessárias para se alcançar um novo ciclo de paz e de fraternidade entre todos os angolanos, sem exclusões de nenhuma espécie? O pessimismo dos ex-combatentes portugueses que conheciam esta realidade vivenciada no Moxico, confirmou-se no choque moral que veio nos últimos meses de permanência da tropa portuguesa no território e agravado após à sua saída e à desmobilização de todos os militares: a guerra fratricida, o bombardeamento de cidades, a fuga das populações, a ponte aérea para Portugal, o colapso económico. <br />
</div>
Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-86380933314761136072018-12-28T15:17:00.005+00:002020-09-30T18:06:09.359+01:00NAS PLANURAS DO MOXICO IV - MOIO, MOIO MOXICO, MOIO<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqP2CGEaqwWG_u2b0TFztQalHpD6WTDtO6z9qRdNq5rp02T20SbNbJPFScgjTLry4cLFbLA7Y8FR-2jVX1yQ05ZH7caa2IiaGxpnsZN3mdIMl0Z7z4Phbo_QiRCYfurcYH8zOxpA/s1600/cedida_por_rui_ribeiro_hotel_luso.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="472" data-original-width="630" height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqP2CGEaqwWG_u2b0TFztQalHpD6WTDtO6z9qRdNq5rp02T20SbNbJPFScgjTLry4cLFbLA7Y8FR-2jVX1yQ05ZH7caa2IiaGxpnsZN3mdIMl0Z7z4Phbo_QiRCYfurcYH8zOxpA/s320/cedida_por_rui_ribeiro_hotel_luso.jpg" width="320" /></a></div>
A palavra Moxico deriva do nome do soba Quioco Mwa Muxiku. O povo era Tchokwe ou Cohwe que os portugueses puseram Quioco. A ocupação do Moxico pelos portugueses iniciou-se a 3 de Março de 1895 pelo Tenente-Coronel Trigo Teixeira, que partiu de Luanda no intuito de ocupar os territórios entre o Alto Kwanza e o Zambeze, que passaram a ser designados por Moxico. Trigo de Morais estabeleceu uma colónia penal militar agrícola nas terras do soba Mwa Muxicu, fazendo construir a fortaleza Ferreira de Almeida, extinta em 1901. Em 15 de Setembro de 1917 separou-se do distrito de Benguela. </div>
<div style="text-align: justify;">
O fundador da cidade do Luso (Moxico Novo) foi D. António de Almeida. Em 1922 Moxico Novo passa a designar-se Vila Luso e em Maio de 1956 passou a cidade. Em 1950 inicia-se a construção do aeroporto e o edifício dos Correios e também o Hotel Luso, sede do Banco de Angola, e o Cine-Teatro Luena que começou a funcionar em 1956.</div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnPkap8uWjDLaBpZNPCmoEd48Use4FgQCPJlUgp-uFLQW-55nj45L530smA5DUGdwiWDCvzACn_X2WSXuasyXKWYzyOx2IQp7l2DpyJdjDkP60bHW-exX7UURm7g0qe5z7fWhBrw/s1600/LUSO2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="951" data-original-width="1600" height="190" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnPkap8uWjDLaBpZNPCmoEd48Use4FgQCPJlUgp-uFLQW-55nj45L530smA5DUGdwiWDCvzACn_X2WSXuasyXKWYzyOx2IQp7l2DpyJdjDkP60bHW-exX7UURm7g0qe5z7fWhBrw/s320/LUSO2.jpg" width="320" /></a></div>
A cidade do Luso nasceu 10 anos depois de terminada a Conferência de Berlim (1884/1885). Foi nessa conferência que se desenhou o mapa de África como é agora. Foi aí que nasceu o território de Angola. Na Conferência de Berlim ficou estipulado a obrigatoriedade da ocupação efetiva dos territórios de África pelas potências coloniais europeias e a aculturação dos povos. Existiam somente duas cidades onde é hoje a República de Angola: Benguela, fundada em 1617 pelo português Cerveira Pereira, que teria somente cerca de 200 habitantes, capital do Reino de Benguela que abrangia os territórios entre o Quanza e o Cabo Negro, (perto da atual cidade de Tombwa, a antiga Porto Alexandre, onde o navegador português Diogo Cão numa viagem pela costa africana colocou um padrão); e Luanda, fundada em 1575 por Paulo Dias de Novais com cerca de dois mil habitantes, capital do Reino do N´Gola, que ia desde o Ambriz até ao Quanza. No vasto interior, povoados fundados por antigos funantes (comerciantes ambulantes) iam-se mantendo ou valorizando dependentes da satisfação dos sobas, ou suprimidos, pela sublevação dos povos. Os grupos de colonos chegados aos planaltos do interior Sul e Centro ficavam à sua sorte. Famílias empobrecidas optam viver como africanos (cafrealismo) vencidos pelas dificuldades e "esquecidos" pelas autoridades portuguesas. Os bóeres chegaram à Humpata, no sul do território, vindos da Damarlândia, África do Sul inglesa, após uma travessia do deserto à moda bíblica, onde sucumbiram pela sêde famílias inteiras. Chegados ao rio Cunene em 1880, (fronteira natural com o Sudoeste Africano) e após conversações com as autoridades portuguesas na então Vila de Moçâmedes, prosseguiram a sua marcha até à Humpata, no planalto da Huíla, região de muitas águas e terrenos férteis onde se instalaram. Constituíram a Colónia agrícola de S. Januário, onde só existiam dois portugueses estabelecidos. Adquiriram a nacionalidade portuguesa, mas em 1925 realizaram novo trek de regresso à Damarlândia. <br />
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Ficaram muito poucas famílias, ou porque não quiseram abandonar as suas farmes, ou porque se sentiam portuguesas, ou porque, as forças, devido à idade, já não permitirem grandes esforços. Contavam as suas vidas de aventura como voluntários na guerra com os povos da temivel Liga Ovampo do território Ovampo, antes e durante a 1ª Grande Guerra Mundial na Europa (1914-1918). A Liga Ovampo era uma liga de povos guerreiros, onde se contavam os aguerridos Cuamatos e os Cuanhamas, entre outros, chefiados pelo soba Mandume e seus lengas (generais), Liga armada e municiada pelos alemães do Sudoeste Africano. Os boéres eram excelentes cavaleiros e exímios atiradores. Moçâmedes já era uma ridente cidade desde 1907, a terceira, fundada por portugueses ex-residentes em Pernambuco, Brasil, fugidos e perseguidos durante revolução praieira, já o Brasil era um Império, independente de Portugal desde 1822. Chegaram ao porto de Moçâmedes em 1849 e constituíram uma colónia agrícola. Encontraram uma feitoria fundada por olhanenses chegados em 1844, a única que se mantinha ativa graças à produção do pescado e à indústria do peixe seco que era exportado para Luanda nos navios correio do Estado e vendido no almoxarifado. Estes novos colonos, 188 no seu todo, chegaram no dia 4 de Agosto de 1849 na barca "Tentativa Feliz". Fundaram a povoação de Moçâmedes e deram finalmente o impulso económico que a região precisava. Dedicaram-se, juntamente com os olhanenses, à produção do pescado e à indústria do peixe seco, tornaram-se produtores de algodão na época da guerra civil americana, com bom rendimento do capital investido devido ao aumento do preço nos mercados. Dedicaram-se à produção da cana do açúcar com três engenhos comprados no Brasil subsidiados pelo Estado Português, engenhos a serem entregues a sociedades que se viessem a constituir ou a indivíduos empreendedores que logo se comprometeram a reembolsar o Estado com o rendimento de várias safras. Chegaram cheios de fé num futuro promissor. Outros 120 chegaram em 26 de Novembro de 1850, também de Pernambuco com o mesmo objetivo: o povoamento e o desenvolvimento da agricultura em Moçâmedes. Em 1859, ou seja 10 anos após a chegada da primeira colónia Moçâmedes tornou-se vila. A corrente migratória proveniente de Olhão a partir de 1860 fez aumentar o consumo do produto agrícola, salvando a agricultura do marasmo a que estava devotada. Historiadores afirmam que os olhanenses vieram salvar a agricultura que se fazia nas margens dos rios Bero, Giraúl e Coroca pelo consumo de frescos. <br />
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Foram eles que levaram as primeiras artes de pesca para as praias a sul de Benguela, fundaram pescarias e povoações em praias isoladas e desertas e organizaram o comércio de cabotagem. Entretanto a escravatura fora abolida em 1869 nos territórios administrados por Portugal. Passara o período mais tenebroso que África conhecera. As fazendas brasileiras foram o destino deste tráfego ignóbil que finalmente as potências coloniais europeias punham termo. Duzentos anos tinham-se passado desde que o padre jesuíta António Vieira se insurgira no Brasil contra a escravatura dos índios. O rei português D. João IV expediu uma provisão real com data de 9 de Abril de 1655, em que ordenava que os índios ficassem apenas sob a jurisdição e proteção das missões da Companhia de Jesus. Era o sonho da Companhia reunir os catecúmenos, civilizá-los, conservá-los sob sua tutela, contrariando a pretensão dos fazendeiros que os queriam para si. Um dos resultados desta postura política foi o aumento do número de escravos encaminhados de África, (cerca de dois milhões) para as fazendas no Brasil.<br />
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Em Angola, o esforço de Portugal para povoar o interior do território ia prosseguindo com o sacrifício das finanças públicas. Fazer de Angola um segundo Brasil era o propósito histórico a atingir após a independência daquela antiga colónia portuguesa (Brasil). 222 madeirenses chegavam no navio "Índia" ao porto de Moçâmedes em 1884, subiram ao planalto da Huíla em carros bóeres para se fixarem no vale do Lubango e dedicarem-se à agricultura. Fundaram um povoado naquelas terras planálticas que prosperou rapidamente para se tornar cidade em 1923 com o nome cidade de Sá da Bandeira, hoje cidade do Lubango. No dia da sua ascensão a cidade, o comboio do Caminho de Ferro de Moçâmedes subia a Serra da Chela e freava pela primeira vez na nova estação daquela recém eleita cidade, tornando-a terminal de linha. Cerca de 40 anos mais tarde chegava a Cassinga, nas "Terras do Fim do Mundo", no sudeste angolano. para carregar o ferro extraído das minas e transportá-lo ao porto mineraleiro situado em Moçâmedes, onde, através de um sistema de tapetes rolantes era despejado nos porões de grandes petroleiros com destino ao Japão e outras potências industriais.<br />
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No planalto central, no Huambo, as distâncias obrigavam a um esforço de longas caminhadas. Como no sul, adotaram o carro bóer, como se vê na foto acima, puxado por juntas de bois, para o transporte de pessoas e de mercadorias.<br />
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O Caminho de Ferro de Benguela veio enriquecer o estado de escassez dos transportes. O planalto central sentiu os seus efeitos. A linha férrea foi-se alongando até chegar à fronteira do Congo Belga, hoje Congo Kinshaza numa extensão de 1.349 Kms, terminando a sua viagem em Teixeira de Sousa, a atual Luau. Nesta vila, a partir de 1938 internacionalizou-se com a ligação ao Katanga no Congo Belga, hoje República do Congo Kinshaza, e Rodésia do Sul, na época colónia inglesa, a atual República da Zâmbia.<br />
Instalaram-se novos povoadores portugueses ao longo da linha. O interior central conheceu então um rápido crescimento agrícola, comercial e industrial. Foi fundada a cidade de Nova Lisboa em 21.9.1912 pelo Governador Geral Norton de Matos (1912-1914). Teve esta designação (cidade de Nova Lisboa) de 1928 a 1975. Em apenas cinco dezenas de anos tornou-se na segunda maior cidade de Angola e grande centro agrícola, industrial, comercial e cultural Em 4.9.1940 passou a sede de diocese. As oficinas gerais do Caminho de Ferro de Benguela situavam-se nesta nova cidade com várias centenas de trabalhadores instalados e suas famílias. O mundo do desenvolvimento parecia apontar para Leste em direção ao Moxico e nordeste em direção à Lunda. Mas a lenta expansão demográfica e a larga extensão de território foram condicionantes que fizeram esperar por políticas mais decididas na criação de infraestruturas. Em 1974 aconteceu algo importante no Moxico no que se concerne às acessibilidades, concluiu-se a asfaltagem da estrada Luso / Vila Gago Coutinho, hoje cidade de Luena / Lumbala N´Guimbo com extensão a Ninda numa distância de 480 quilómetros. Outra estrada foi asfaltada para Sul a partir do Cuito, a antiga Silva Porto no planalto central, sensivelmente com a mesma dimensão. Lumbala N´Guimbo, a antiga Vila de Gago Coutinho deveu este nome ao homem que liderou a missão que, entre 1912 e 1915 delimitou a fronteira sudeste. O sub-sector de Gago Coutinho era um quase deserto em termos de atividades económicas promotoras de desenvolvimento. Deserto à espera das energias do colonizador apto, empreendedor, criador e inovador. <br />
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Em 1973 Angola possuía mais de 8.000 Kms. de estradas pavimentadas. Todas as cidades, (perfaziam mais de trinta), estavam ligadas entre si por essas estradas. Percorre-se Angola de Norte a Sul e do litorial, (cidades do Lobito ou Benguela) à fronteira Leste no Moxico em asfalto, onde noutro tempo se comia o pó levantado pelos rodados das viaturas. Mérito da JAEA (Junta Autónoma de Estradas de Angola) pela excelência do trabalho realizado.<br />
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Um desenvolvimento galopante em todos os sectores da atividade económica foi conseguido noutras regiões do território a partir de 1961, aquando do início das hostilidades.<br />
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No seu discurso sobre Luso-Tropicalismo, o sociólogo brasileiro Gilberto Freire refere-se à «capacidade dos portugueses para confraternizar, lírica e franciscamente com africanos, ameríndeos e asiáticos para incorporar os seus valores, para amar suas mulheres, é única nos portugueses».<br />
Freire defende que o «método mouro de conquista pacifica de povos, de raças e de culturas foi assimilado pelo homem luso e posto ao serviço da expansão cristã nos trópicos».«Uma política social de feitio tão pouco europeu que acentuou a singularidade da posição dos lusitanos entre os poderes imperiais da Europa. Amorenezou-se sob o sol dos trópicos ou sob a ação da mestiçagem».<br />
«Estes traços de personalidade do povo português resultaram da sua origem étnica e cultura heterogénia e refletiram-se na expansão ultramarina, o mundo que o português criou, criando uma unidade de sentimento e cultura, acima de meras questões de soberania».«Há no português enorme capacidade de adaptação a todas as coisas, ideias e seres, sem que para isso implique perda de caráter». «Foi esta faceta que lhe permitiu sempre manter a atitude de tolerância e que imprimiu à colonização portuguesa, em certas épocas, o caráter inconfudível de assimilação por adaptação». Ao contrário de outros povos europeus os portugueses não eram etnocêntricos mas sim cristocêntricos». Como resultado da miscigenação Freire defende que emergiu um novo tipo de sociedade e de civilização caraterizado pela presença e participação dos homens de cor. «A integração de agentes culturais seria o resultado natural da vocação ecuménica da presença portuguesa pelo mundo desde os tempos do Infante D. Henrique...»<br />
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Mas os ventos de mudança começaram a soprar. O tempo da 1ª. República em que o Alto Comissário português General Norton de Matos dignificou em Angola, fundando uma cidade no seu Centro (Nova Lisboa) e projetando Estados Federados com autonomia financeira nos territórios ultramarinos chegara ao fim. Este paradigma assente pela ação de Norton de Matos durante a 1ª. República foi definitivamente abandonado. O Estado Novo tomara os destinos do País com a constituição de 1933 e com novas políticas de contornos ditaduriais. Com o novo modelo instituído desaparecia a autonomia financeira de cada um dos territórios de África e os seus orçamentos teriam de ser aprovados pelo Ministério das Colónias.<br />
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Os ventos da história vindos da Europa reconheciam que os povos sujeitos ao sistema colonial tinham o direito de serem livres para escolherem eles próprios os seus destinos. Portugal permaneceu estático a essa mudança. Em 1961 a guerra para a libertação do território chegou ao Norte, e em 1966 ao Leste. O Moxico ía conhecer um dos períodos mais cinzentos da sua história. Abriu-se a frente Leste pelo exército português por um lado, e pelos movimentos independentistas por outro. A guerrilha estava no terreno para doutrinar e controlar populações, o exército português para frustrar essas intenções e trazer as populações até às cidades, vilas, postos administrativos e quartéis numa ação de reordenamento visando dificultar a ação da guerrilha. Nessas aldeias agora constituídas havia uma organização de alerta e autodefesa garantidas pelas Milícias de Regedoria lideradas normalmente pela autoridade tradicional (sobas), armados de espigardas de repetição. O êxodo da população deu-se após o início das hostilidades em 1966. O Moxico ficou despovoado. <br />
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A maior concentração de população situava-se em Gago Coutinho, hoje Lumbala N´Guimbo, com mais de cinco mil habitantes e à volta de vinte e cinco sobas. As etnias eram várias, desde os povos da região, Bundas, Luchazes, Quiocos aos Huambos mais distantes, em convivência pacífica. Existia um posto escolar, uma delegação da Junta Autónoma de Estradas, dois comerciantes com atividade limitada, duas missões religiosas, uma masculina e outra feminina, que mantinham alguns serviços de educação e aculturação. A situação económica das populações era a mais baixa que se pode imaginar. As lavadeiras contratadas pelos militares auferiam algum rendimento. As forças militarizadas autótones tinham também algum rendimento. Os comerciantes íam obtendo algum lucro com as encomendas de marisco e outros produtos que chegavam no avião Nord Atlas da Força Aérea Portuguesa, a via transportadora do correio que chegava uma vez por semana.<br />
A segunda maior concentração de população era no Sessa, a 90 Kms a Oeste de Gago Coutinho, com cerca de dois mil habitantes. Havia um comerciante estabelecido ído do Muié, povoação que fora totalmente abandonada. Era transmontano. O Mussuma a sete Kms. da República da Zâmbia continha pouco mais 100 indivíduos quando noutro tempo mantinha`seis mil habitantes. Outras pequenas concentrações existiam espalhadas pelo território mas não passavam disso mesmo, pequenas concentrações. O sub-sector militar de Gago Coutinho, nos cús de Judas, estava quase deserto.<br />
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Era dado ver-se o movimento de tropas fardadas de camuflado munidos de espingardas G3, em cidades, vilas e aldeias nas zonas de conflito armado, no Norte e no Leste daquele território catorze vezes e meia maior que Portugal Continental. Território onde viviam à volta de 600.000 portugueses, a grande maioria na escala social média baixa. A segurança dessa população, nas cidades, nas vilas e aldeias nas zonas de conflito armado dependia desses soldados que traziam da metrópole (Portugal Continental) a vontade de servir e de proteger. Nas estradas de terra batida, nas picadas e trilhos marcados pelos rodados das viaturas, os unimogues, as berliet, os camiões, rompiam a nuvem de poeira provocada pelo andamento das viaturas da frente, poeira que se elevava nos ares e invadia toda a coluna na vida diária de quem exercia a defesa da soberania. <br />
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Os gritos de entusiasmo das crianças á passagem das viaturas era esfuziante, "Moio", "Moio", "Moio", gritavam, Só uma criança pode libertar tanta energia contida, num momento. Continua audível a quem viveu esses momentos breves de euforia. "Moio", "Moio Moxico", "Moio" respondiam os militares contagiados.<br />
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Infelizmente a grande maioria dos portugueses que pisaram o solo africano em Angola, Moçambique ou na Guiné Bissau eram soldados enviados pelas forças armadas portuguesas para defenderem a soberania de Portugal dos movimentos independentistas. Em Angola foram 14 anos de guerra colonial em que os militares portugueses permaneciam dois anos em comissão de serviço. Regressavam com a visão imprecisa e limitada da grandeza do território e do seu desenvolvimento o que motivava o desinteresse para uma possível projeção de vida. Nas zonas onde a paz imperava, no sul e centro do interior e litorâneo, as cidades, vilas e aldeias cresciam e embelezavam-se, eram lugares onde existia confiança num futuro promissor. Esses soldados regressavam fascinados com a beleza de algumas paisagens idílicas nos espaços visitados, o caso do Dala com as suas cascatas, rápidos e verdura luxuriante, fascinados pela afabilidade das populações que, por temperamento já explicado pelo sociólogo brasileiro Gilberto Freire, os militares se socializavam em conversas amenas e trocas de informação, querendo saber o significado de vocábulos do seu dialeto, ou encomendar algum artigo do artesanato quioco, um povo hábil que elabora peças em madeira para caçar ou pescar, de tamanho natural ou em miniatura, máscaras para as suas danças tradicionais e rostos talhados no pau com perfeição. Os militares lá vinham de vez em quando com novidades:<br />
-Sabem como se diz galinha na língua deles? Cassumbi. E homem forte e alto? Samuconga. E homem alto e magro? Camiramira. E Rapariga bonita? Caféco Chamuanza. E só rapariga, Caféco. E velha? Mana Pó,(corruptela de Mwna Pwo) E velho? Caixa na caixa (corruptela de Gagi n´Gaja).E água? Meia, meia de calçar, diziam. Alguns militares foram mais longe na sua ânsia de conhecer África. África é para se disfrutar, dizia certo amigo militar..<br />
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E vai daí improvisa uma rede para capturar uma linda borboleta que esvoaçava no aquartelamento e que se aproximara do arame farpado desaparecendo na vegetação. O inaudito desta situação, já de si algo hilariante, é que correu atrás dela com a rede em riste passando ele também o arame farpado, desaparecendo no mato e das vistas dos companheiros que o esperaram com preocupação. Isto passou-se no Muié em 1968 na zona mais quente do Leste, nos Cús de Judas. Acabou por juntar inúmeras peças de arte quioca ao longo do tempo. Como as deveria condicionar para as poder embarcar? Nem ele próprio sabia responder! O certo é que as embarcou no Vera Cruz no regresso a Portugal em Julho de 1969.<br />
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Se foi a mulher que inventou a agricultura, no Moxico foi a mulher que inventou a pesca da tuqueia, um peixe mais pequeno que joaquizinhos criado nas chanas (savanas) alagadas da Cameia no Moxico no tempo da chuva. É pescado por mulheres. Quando as águas descem é vê-los a brilhar ao sol presos nos ramos das bissapas (arbustos), ou caídos no manto seco e gretado do solo, como descreve o estudioso da cultura angolana, o radialista Sebastião Coelho no seu blog. Curiosidade que só os tempos de paz poderiam oferecer e seria possível apreciar, entre muitos outros costumes a descobrir naqueles povos amigos e pacatos. Então o grito Moio, Moio Moxico, Moio, não seria somente lembrado como um grito de satisfação e de liberdade na despedida daquelas terras virgens e selvagens, mas, dupla ironia do destino, como um grito de mágoa, na saudade de muitos e muitos momentos vividos de confraternização, confraternização com um povo simpático, afável e acolhedor que se tornou amigo e que sempre será lembrado. MOIO, MOIO MOXICO, MOIO. </div>
Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-10678820739246642172016-12-01T14:01:00.003+00:002021-01-26T13:20:50.055+00:00NAS PLANURAS DO MOXICO II -1968-NOS CUS DE JUDAS<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdpZqA9xUq8Kw0P75UNYEr7kG59qHokyE0UDrjxpLlGXq5SO1qrOKXFPsf2i528s2ifD6e12UgvfG3hhY2CGG1a0YvetMs_sw8qxHckGxTitw07IkDcdUrR9hxT_3jNC3Sh6VkAQ/s1600/thumbnail_Frota2.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="208" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdpZqA9xUq8Kw0P75UNYEr7kG59qHokyE0UDrjxpLlGXq5SO1qrOKXFPsf2i528s2ifD6e12UgvfG3hhY2CGG1a0YvetMs_sw8qxHckGxTitw07IkDcdUrR9hxT_3jNC3Sh6VkAQ/s320/thumbnail_Frota2.jpg" width="320" /></a></div>
A rotação das companhias operacionais do Batalhão de Caçadores 1920, (vidé post "Nas Planuras do Moxico"), ía fazer-se faseadamente para não desguarnecer os quartéis. A Companhia 1719 estacionada no Lucusse, a que eu pertencia, renderia a 1721, estacionada no quartel / sede do Batalhão em Vila Gago Coutinho, hoje Lumbala N' Guimbo, que dista 70 kms da República da Zâmbia. Das três companhias operacionais do Batalhão, a 1721 era a mais stressada. Esteve sujeita durante sete meses aos ataques de surpresa da guerrilha quando se deslocava no abastecimento aos quartéis sob a sua logística.<br />
Antes de deixarmos o quartel do Lucusse houve a preocupação de se erguer um memorial aos três companheiros lamentavelmente falecidos em dois acidentes. A sorte ditou a primeira baixa da Companhia. O disparo de uma G3 atingiu mortalmente um camarada quando decorria a limpeza das armas em vésperas de sairmos para o Lumbala, no saliente do Cazombo. O segundo acidente aconteceu nos morros do Cazombo, a norte do Lumbala, cinco meses depois, com o óbito de mais dois companheiros atingidos pelo rebentamento de uma armadilha ali montada pelas forças especiais para defesa daquele local durante as horas que ali íam permanacer. Uma palavra de agradecimento e reconhecimento aos valorosos enfermeiros que, no local e com parcos meios, tudo fizeram para aliviar o sofrimento dos feridos naquela noite fatídica.<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpw9lC9qaML75HwlYUCQwsI9wnOYAZxqEGt8p_8p468nyIG06awqu3S3rjpnoH-cJgaBTEu1DUnjwbgAmzJjvI2cG6_8odLOQ_3QfujdmggO_PtPWSYzoibhZTrusMJpNPnu_QQw/s1600/thumbnail_Frota1.jpg" style="clear: left; display: inline; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="222" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpw9lC9qaML75HwlYUCQwsI9wnOYAZxqEGt8p_8p468nyIG06awqu3S3rjpnoH-cJgaBTEu1DUnjwbgAmzJjvI2cG6_8odLOQ_3QfujdmggO_PtPWSYzoibhZTrusMJpNPnu_QQw/s400/thumbnail_Frota1.jpg" width="400" /></a>Íamos deixar o quartel do Lucusse sete meses após a nossa chegada. A povoação, de numerosos quimbos (cubatas), a população, calculada em mais de mil individuos, ocupava vasta área. Dois comerciantes portugueses permaneciam de pedra e cal. Ao recordarmos este vasto período de sete meses de intervenção da Companhia, logo nos ressalta as operações militares no Lumbala, no saliente do Cazombo, onde o grande rio Zambeze nos oferecera a visão serena do seu estuário e o uso seguro da sua praia fluvial, quando, após caminhadas de dias, cansados e sedentos, mergulhávamos nas suas águas. Caminhadas aparentemente sem rumo nos quarenta dias que permanecemos nas suas margens sem vermos viv´alma. A região é de facto verdadeiramente despovoada. Só as manadas de nunces dão vida às chanas (anharas, savanas) esquecidas pelo homem, perseguidos tenazmente por incansáveis predadores. No trilho Lucusse/Lumbala permaneciam abatizes, (árvores derrubadas sobre o trilho) do início das hostilidades (1966) com novos trilhos a cortorná-los.<br />
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O meu grupo de combate foi a primeira tropa da Companhia 1719 a seguir para Gago Coutinho (Lumbala N´Guimbo) sob o comando do alferes Castro, quando do início da rotação das companhias operacionais do Batalhão. Fomos render um grupo de combate da Companhia 1721 que seguiu para o Luvuei e seu destacamento no Lutembo.<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQU5jReFeiJMnYpAc0hNm6lcSs6FGaPizdRNVF4mUkifzlFOHUSjyrM-0PYbntMkOFlU8ZtHqBQ5eFNRL76FvHDFC1hO8Lpo0uYYWzVpiMRmWmmCQxdve0l3lE-XE14ECBqEXUkg/s1600/rios.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQU5jReFeiJMnYpAc0hNm6lcSs6FGaPizdRNVF4mUkifzlFOHUSjyrM-0PYbntMkOFlU8ZtHqBQ5eFNRL76FvHDFC1hO8Lpo0uYYWzVpiMRmWmmCQxdve0l3lE-XE14ECBqEXUkg/s640/rios.jpg" width="640" /></a>Na região de Gago Coutinho (Lumbala N´Guimbo), conhecida pelos militares por "os cus de Judas", a preocupação era enorme. Dois movimentos digladiavam-se entre si e ambos opunham-se tenazmente à tropa portuguesa. Eram guerrilheiros que tinham sob o seu controlo populações refugiadas nas matas. Sabiamos que a Companhia 1721 que estávamos a render sofrera fogo mortífero nas emboscadas a que foram alvo. As colunas de abastecimento saíam da Sede do Batalhão fortemente armadas com o unimog da metralhadora à frente montada num tripé com avental em aço para proteger o peito do apontador e do municiador que seguiam de pé prontos a disparar ao primeiro sinal de emboscada. <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimHWQqNhkEyks9c2Ms5SLOAUQqY0FtjrksfqRFyRN3JFKDx-Zhr6UxSTlmERi28x5GsN-uDxomq73M5fUQKdYKjAqI71pT1zj-moH7OqojyvPIiAMBsDWJy0onk3F1cJjtcDvQiA/s1600/thumbnail_Frota4.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimHWQqNhkEyks9c2Ms5SLOAUQqY0FtjrksfqRFyRN3JFKDx-Zhr6UxSTlmERi28x5GsN-uDxomq73M5fUQKdYKjAqI71pT1zj-moH7OqojyvPIiAMBsDWJy0onk3F1cJjtcDvQiA/s400/thumbnail_Frota4.jpg" width="266" /></a></div>
As chapas laterais em aço e o capacete metálico ofereciam proteção ao resto do corpo. A coragem destes homens que seguiam à frente da coluna era digna dos maiores elogios e reconhecimento de camaradas e do comando. Encabeçavam a coluna e constituíam o primeiro alvo das ações da guerrilha. A coragem não se aprende nos manuais de instrução, está dentro de cada um, nas motivações e no domínio do medo que cada um exerce sobre si. Naquela zona, de complexas picadas, que ligavam a Sede do Batalhão aos pequenos povoados de escassos quimbos que se mantinham junto aos quartéis e casas de chefes de posto a guerra mantinha-se acesa na perseguição a grupos armados pelas tropas portuguesas e auxiliares indígenas (Flechas, TES, GES), e em sentido contrário, de emboscada às colunas de abastecimento aos quartéis, cujo alvo era a tropa portuguesa e auxiliares indígenas que viajavam nas picadas: Ninda e seus destacamentos de Chiúme e Sete; Muié, o mais distante, de trilho arguto a impedir o avanço rápido dos unimogs que saltavam nas raízes que se salientavam no trilho quais cabras do mato em suas danças acrobáticas; Mussuma, destacamento avançado a sete kms da Zâmbia de escassa população que habitava 40 / 50 quimbos (cubatas) junto ao quartel e à casa do chefe do posto, a autoridade portuguesa na região, que surpreendentemente se mantinha ao serviço, apesar do risco de vida que corria. <br />
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<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3-3wuJKhpphoMdSTe3MDdSecHbu7pUzsEOLcfvWITdgJi65lZMBVK2J4vafiSBwOtNW74NqZ44_r2AQo7xLPVvXsOvW64_3LRcHZc8tUI7lwWFMYUIGSCxEXlZLOU3uJHayfo3A/s1600/12951_506786379389935_739781640_n.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3-3wuJKhpphoMdSTe3MDdSecHbu7pUzsEOLcfvWITdgJi65lZMBVK2J4vafiSBwOtNW74NqZ44_r2AQo7xLPVvXsOvW64_3LRcHZc8tUI7lwWFMYUIGSCxEXlZLOU3uJHayfo3A/s320/12951_506786379389935_739781640_n.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Welvitchia Mirabilis</td></tr>
</tbody></table>
Quinze/vinte dias após ter chegado a Gago Coutinho, (Lumbala N´Guimbo), surgiu Março e as férias. Escusado será dizer que aguardava ansiosamente por esse dia. Ía reencontrar a família, ver amigos, assistir às "Festas do Mar". Era as festas de verão da cidade sob a sigla dos três Ms, (Moçâmedes, Mar e Março). Moçâmedes, cidade do sul de Angola recebia visitantes de toda a parte, num movimento inusitado ao deserto e às suas atrações, como o Oásis da<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdPBmjqW8k06idHCBFNfbNExOdLB9ON7qrXqf2UVe-DAY-r4l5EhrstPYxuVdUge8uKtloMzOGJOM3o81xtPuuSgEyCy7yRQ-gjJ5I0e054E0cKtzY_kXohSNrf5Y86HIl_4QIEQ/s1600/13599_1597724783797753_2810042423952513698_n.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdPBmjqW8k06idHCBFNfbNExOdLB9ON7qrXqf2UVe-DAY-r4l5EhrstPYxuVdUge8uKtloMzOGJOM3o81xtPuuSgEyCy7yRQ-gjJ5I0e054E0cKtzY_kXohSNrf5Y86HIl_4QIEQ/s320/13599_1597724783797753_2810042423952513698_n.jpg" width="320" /></a></div>
"Lagoa dos Arcos" ou "Arco do Carvalhão", conhecer a célebre Welvitchia Mirabilis, a planta endémica que só é encontrada naquele deserto e na Damarlândia, no Sudoeste Africano, visitar as amplas praias arenosas onde se praticava a caça submarina, conhecer a cidade e a animação da feira, assistir ao circuito automóvel que se tornara na maior atração das festas com a presença de alguns dos grandes volantes nacionais em confronto com os volantes locais e de outras cidades daquela ex-Província portuguesa. Fui renovando energias, mas o pensamento, esse bailarino errante, por vezes, fixava-se nas recordações mais recentes: a imagem daquela picada arenosa e quase a pino, a dificuldade em ultrapassá-la, os carros atascados, o guincho da berliet a puxá-los, a chana alagada, os unimogs atolados, os ramos debaixo de rodas, a tentativa de os fazer andar mais alguns metros, etc etc.<br />
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Os amigos de infância estavam todos lá. Deixámos de saber uns dos outros após termos sido chamados para as zonas de conflito. A grande maioria estava no Norte a cumprir os dois anos de comissão. Ninguém pensava no pior apesar de alguns terem passado por situações difíceis. Estávamos obrigados a cumprir um dever e teríamos de permanecer até nos mandarem para casa.<br />
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O que sabe bem pouco dura. Em vésperas de tomar o "friendship" de regresso a Gago Coutinho, despedi-me de alguns amigos. Encontrei o Rato (Vítor Alves) na rua, trabalhava no despachante oficial sr. Radich. Tive no entanto tempo de desabafar umas palavras sobre a felicidade. Não sabiam a sorte de poderem olhar o dia seguinte com tranquilidade e com futuro. Despedi-me carinhosamente do meu Pai que a falta de saúde o debilitara fortemente. Dei-lhe palavras de conforto e de esperança, mas intimamente sabia que era a última vez que o via com vida.<br />
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Não havia voos diretos de Moçâmedes para o Luso. O avião fez escala em Luanda voando depois para o Luso. Do Luso para Gago Coutinho tencionava viajar no avião da Força Aérea Nord Atlas (barriga de ginguba) que transportava o correio e encomendas todas as terças feiras para várias localidades. Gago Coutinho encontrava-se na rota desse voo assim como Henrique de Carvalho (Saurimo) e Cangamba.<br />
Para minha surpresa fui informado na secretaria do comando que o quartel do Lucusse, meu quartel anterior, tinha sido atacado por um grupo numeroso de guerrilheiros. Dista do Luso (Luena), 150 kms e isso constituia motivo de preocupação na cidade. Uma coluna de abastecimento (MVL) estava prestes a sair do Luso para Gago Coutinho passando pelo Lucusse e decidi ir nessa coluna. A escolta era feita por duas secções da minha companhia que se mantiveram no Lucusse com o capitão para fazerem a entrega do quartel à companhia que nos rendera. Esta viagem fecharia a rotação das companhias operacionais do Batalhão. Apanharíamos o capitão no Lucusse que viajaria connosco e com o que restava da companhia para Gago Coutinho. No dia aprazado para o MVL (Movimento de Viaturas Ligeiras) apresentei-me ao comandante de escolta. Vinha sem arma e um soldado emprestou-me uma granada para que não ficasse sem defesa em caso de emboscada. Não vi o camionista sr Artur Alves naquela viagem. Provavelmente não teria sido escalado pelos serviços do exército. Conheci-o quando pela primeira vez viajei naquela estrada Luso / Gago Coutinho, hoje Luena / Lumbala N´Guimbo na cabine da sua camioneta. (Vidé post anterior "Nas Planuras do Moxico")<br />
A coluna chegou ao Lucusse sem novidade. O capitão ao me ver disse-me que vinha em má altura. Parecia preocupado com os dizeres de uma mucanda (bilhete) encontrada perto do quartel. Dizia que nos aguardavam a 30 kms do Lucusse. Pareciam bem informados da viagem que estávamos a realizar. O capitão tinha passado um mau bocado no ataque ao quartel. Teve de rastejar até à saída da camarata debaixo de fogo intenso para entrar na trincheira que circundava todo o interior do aquartelamento a partir das camaratas. O ataque fora denunciado e perdida a surpresa. O dispositivo de defesa anulou a tentativa de entrada no quartel e foi eficaz na reação ao fogo IN (inimigo) que vinha de fora do arame farpado.<br />
O comando da coluna passou para o capitão que ordenou o disparo do morteiro 60, ora para a direita, ora para a esquerda da estrada, de modo a provocar um efeito psicológico negativo, de receio, a quem estivesse emboscado a poucos metros da estrada. Na realidade o estoiro da granada de morteiro impressiona pela audição, parece o rasgar de um pano que se ouve a algumas centenas de metros de distância.<br />
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Já perto de Gago Coutinho os carros da frente pararam de repente fazendo parar toda a coluna Os militares saltaram dos unimogs e os camionistas saíram apressados das cabines das camionetes para se resguardarem nas bermas da estrada. Uma bandeira desfraldada não identificada sinalizava a presença de guerrilheiros na zona. Como levava uma máquina de filmar quis filmar aquela cena empolgante. Procurei o capitão que estava deitado na berma da estrada em posição de fazer fogo. A autorização foi concedida e pude filmar as primeiras cenas de um filme que serviria mais tarde para recordar aquela fase da minha vida de militar miliciano em cenário de guerra.<br />
Passados uma meia hora de expetativa retomámos a marcha até Gago Coutinho sem que o IN (inimigo) se tivesse manifestado.<br />
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Dias depois começou a dança dos reabastecimentos. O primeiro foi ao Mussuma, que dista setenta quilómetros de Gago Coutinho (Lumbala N´guimbo) e sete da fronteira com a República da Zâmbia. Partimos de madrugada, bem cedo, com o propósito de regressarmos no mesmo dia, evitando dar tempo ao IN de preparar qualquer ação contra a coluna. A minha secção desceu no caminho com o objetivo de detetar a presença de algum grupo armado. Contavam que a aquela tática tinha sido adotada devido ao conhecimento de pontos sensíveis onde normalmente a guerrilha atuava. Tínhamos o aviso de que os confrontos já se tinham dado noutras ocasiões e de modo inesperado, o que equivalia a dizer que puséssemos toda a atenção no silêncio para não sermos pressentidos. Estávamos por nossa conta naquelas horas de espera, sem comunicação via rádio que nos pudesse valer. Recolheram-nos no regresso e chegámos a Gago Coutinho ainda o sol brilhava.<br />
A surpresa aconteceu no Sessa. Colocaram o nosso grupo de combate naquele Posto Administrativo onde existia, para além do chefe de posto e esposa, dois polícias. A defesa das populações estava a cargo de uma milícia preparada militarmente pelo chefe de posto com boa atuação tática na aproximação de objetivos. O Sessa estava muito isolado mas bem defendido pela milícia, todos eles pertencentes ao povo local. Não tinham a nossa presença como necessária. Víamos apresentarem-se no Posto, diariamente, 15 a 20 refugiados na sua maioria mulheres e crianças doentes, inchadas, subalimentadas, necessitadas de assistência. Era-lhes logo fornecido a fuba (farinha de milho), base da sua alimentação, e medicamentos. A parte humanitária não fôra esquecida pela administração portuguesa daí o elevado número de refugiados que diariamente se apresentava no Posto. Tudo funcionava naquela estrutura administrativa. Como iriam reagir quando soubessem da presença da tropa portuguesa? Uma incógnita, que, passados dias se clarificou confirmando os receios já expostos pelo administrador. O número de apresentações foi rareando até quase se extinguir.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgX68to_IgITF6S9zpzVs3c3Qiwwlzbw83URQqD35a24pPB4aAkp_TdcIX8jrO72MbKfi6p41AwZgrqu9zSQuR19f5ZKzW4gA6Jlbz1SwIvWBBXyOwSekzN6IWOeWrZOtNvSpb1Zw/s1600/thumbnail_Frota50002.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgX68to_IgITF6S9zpzVs3c3Qiwwlzbw83URQqD35a24pPB4aAkp_TdcIX8jrO72MbKfi6p41AwZgrqu9zSQuR19f5ZKzW4gA6Jlbz1SwIvWBBXyOwSekzN6IWOeWrZOtNvSpb1Zw/s640/thumbnail_Frota50002.jpg" width="433" /></a></div>
Na guerra subversiva quem tem a população do seu lado adquire vantagem no terreno. Se fôr o governo a ter a população sob controlo os elementos subversivos ficam à deriva sem apoio na sua subsistência itinerante e serão facilmente localizados e seguidos pelas forças governamentais através da rede de informadores que é montada.<br />
Para nossa surpresa encontrámos um comerciante residente. Tinha-se fixado ali, no Sessa ído do Muié, quando este Posto Administrativo foi totalmente abandonado, quer pela população nativa, quer pelos comerciantes. O pessoal que colaborava na Missão e no Hospital desapareceu levada pelos guerrilheiros para as matas, e a casa do chefe do Posto foi ocupada por um grupo de combate reforçado das nossas forças.<br />
Não sabiamos como aquele comerciante era abastecido de mercadoria. Provavelmente aventurava-se nas picadas, porque os camionistas só viajavam com escolta militar e o Sessa não constava nas rotas do abastecimento. O dito comerciante fiava mercadoria à milícia com a promessa de pagamento logo que começassem a receber um quantitativo mensal que fora prometido pela administração portuguesa sob palavra do chefe do Posto, mas tal pagamento nunca aconteceu. O caso agudizou-se quando em definitivo se soube que essa promessa nunca seria cumprida e o comerciante arcou com o prejuízo.<br />
Daí a um tempo o chefe do Posto foi transferido. Perdera-se um líder carismático da mais alta importância na prossecução de políticas de recuperação de populações que se estava a tentar levar a efeito na região pela administração portuguesa. Dias depois deste acontecimento o comandante do nosso grupo de combate, alferes Castro, recebeu ordens para regressar a Gago Coutinho. Ía comandar a Companhia na ausência do capitão que fôra ferido com gravidade durante uma operação. Fôra evacuado de helicópetro para o hospital do Luso. O seu estado de saúde inspirava cuidados, só regressando à companhia quase no final da comissão.<br />
Semanas depois fomos nós que regressámos a Gago Coutinho. A situação no Sessa tornara-se piriclitante. Sem a liderança do chefe de Posto e a milícia insatisfeita sem vontade de intervir, como já tinha demonstrado nos últimos dias da nossa permanência, a população corria o risco de ser abordada pelos guerrilheiros e convencida a regressar às matas. <br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieup0ZgaifSBJ8uE9xYN8gX-Ka_WhOoYGpZJnhfC7bIoEMUOkzKPDBjGQMoZkm-VOPHmHG41z4TU8-pIW3_FYEx6wnxt25dppTphyphenhyphenLlGnndLvvtkfbQJ83TZoGJ1ahECow57rXvg/s1600/GetAttachment+%252815%2529.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="222" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieup0ZgaifSBJ8uE9xYN8gX-Ka_WhOoYGpZJnhfC7bIoEMUOkzKPDBjGQMoZkm-VOPHmHG41z4TU8-pIW3_FYEx6wnxt25dppTphyphenhyphenLlGnndLvvtkfbQJ83TZoGJ1ahECow57rXvg/s320/GetAttachment+%252815%2529.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Almoço comemorativo do 1º. ano de Comissão</td></tr>
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O que se sabe é que, após a tropa ter saído do Sessa, a milícia continuou a exercer o controlo da região com a colaboração da população na deteção de grupos de aproximação.<br />
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Estávamos em Julho do ano de 1968 quando o comando do Batalhão quis comemorar um ano de comissão. Gago Coutinho (Lumbala N´Guimbo) não se engalanou, mas sentíamos que esse dia era na verdade um dia para comemorar. Vestimos no melhor rigor que era permitido: uma farda limpa, bem engomada. De duche tomado, espírito aberto e otimismo a rodos sentámos à mesa para almoçar e confraternizar. O rancho fôra melhorado. Receios e saudades não foram tema. A conversa se animou como sempre acontecia nas festas comemorativas, lembrando uns, calando outros, a péssima certeza de que havia outra eternidade para o regresso definitivo à Terra, à Família, ao Futuro.<br />
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Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-25429492233200781092015-12-31T11:34:00.000+00:002020-04-12T19:21:35.365+01:00 NAS PLANURAS DO MOXICO<div style="text-align: justify;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHt0__sG6YSdCVwP0bIWPZlDWrhL9qvXYMWdQnJPTlx4LEE2FFXEns7puVhJWf4sPDA8F-7NMj75px4Yy_EowIIYytGSGYya-4eAaPmxjJTLKQYyoJmn6OeamTUkFI5-NSbseJaQ/s1600/aa_lago3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="204" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHt0__sG6YSdCVwP0bIWPZlDWrhL9qvXYMWdQnJPTlx4LEE2FFXEns7puVhJWf4sPDA8F-7NMj75px4Yy_EowIIYytGSGYya-4eAaPmxjJTLKQYyoJmn6OeamTUkFI5-NSbseJaQ/s320/aa_lago3.jpg" width="320" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9WlljcBnGbl47q0S-thxX-qyBlRUm1OgenZRRn9eX17mPrjMhmR0JTgNq8dpzSZy-mdVrjmkmbIaVe6NX95xCCrGTJEM7BabXSCKKJ0TAaDPtbCzGt4HC6dukIzXq_6dlLBbG_w/s1600/aa_seantiga.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="145" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9WlljcBnGbl47q0S-thxX-qyBlRUm1OgenZRRn9eX17mPrjMhmR0JTgNq8dpzSZy-mdVrjmkmbIaVe6NX95xCCrGTJEM7BabXSCKKJ0TAaDPtbCzGt4HC6dukIzXq_6dlLBbG_w/s200/aa_seantiga.jpg" width="200" /></a>Em meados de Julho de 1967, recebi no Regimento de Infantaria 22 de Sá da Bandeira (Lubango), a Guia de Marcha que me transferia para o Regimento de Infantaria 20, de Luanda, sinal de que a incorporação numa unidade militar instalada em zona de conflito armado no Norte ou no Leste de Angola estaria para breve. <br />
Era um conflito armado, hoje designado por "guerra colonial", que punha em confronto as Forças Armadas Portuguesas e os Movimentos de Libertação dos territórios do Ultramar Português, Angola, Moçambique e Guiné Bissau. Formávamos um grupo de quatro furriéis recém promovidos do recrutamento provincial da então ProvÍncia Portuguesa de Angola, formados na EAMA (Escola de Aplicação Militar de Angola), localizada na então cidade de Nova Lisboa, hoje cidade do Huambo. Viajámos juntos a partir de Sá da Bandeira (Lubango) e ficámos alojados na Pensão Serpa Pinto, em Luanda, nome de um militar português e esforçado sertanejo de finais do séc. XIX, que realizou uma extraordinária travessia da África Central, chegando ao Lago Niassa e a Durban na África do Sul. O Largo Serpa Pinto evidenciava o alto edifício da Residencial Kate Kero cujo número de andares motivava o olhar curioso de quem passava à sua sombra. Luanda fervilhava de gente. O movimento de autocarros, táxis e automóveis particulares era digno das maiores cidades do País. Era mesmo considerada a terceira maior, sendo Lisboa, a capital, a primeira, e o Porto, a segunda. Luanda estava sufocante de calor e humidade como não se experimenta no Sul, na Sintra de África, como os antigos colonos chamavam ao clima do Namibe, a antiga Moçâmedes, mais temperado, mais suportável no sol a sol da enxada desbravadora no arrotear de zonas de cultivo.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipmmJM8_XRwuHH8eZqPmLGu2JassZzKDHukJGfXXWU0mNXupiBE8tay5SKXqtVX3dyt8Bdi53gnq4CW3dhD_-fibZhFi9S_B9ECLfrOlLpQYNHeiLtDJrKjfH6IlunpVGWOR4EYA/s1600/capela_sm_small.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img border="0" height="301" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipmmJM8_XRwuHH8eZqPmLGu2JassZzKDHukJGfXXWU0mNXupiBE8tay5SKXqtVX3dyt8Bdi53gnq4CW3dhD_-fibZhFi9S_B9ECLfrOlLpQYNHeiLtDJrKjfH6IlunpVGWOR4EYA/s400/capela_sm_small.jpg" width="400" /></a></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDnBU77tMjjb2qiNrQmb4HiH2vttU70lq5fcjuk4xMpcLD_omN2QpoG_Fq4DY82smS___n7y6NXW7tOiKue7AUHgIyzD6vDHZ2QKOiM3HG33QF5JRz3lhpTlPelwPPInG5IqCXmQ/s1600/crist_rei-medium.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDnBU77tMjjb2qiNrQmb4HiH2vttU70lq5fcjuk4xMpcLD_omN2QpoG_Fq4DY82smS___n7y6NXW7tOiKue7AUHgIyzD6vDHZ2QKOiM3HG33QF5JRz3lhpTlPelwPPInG5IqCXmQ/s320/crist_rei-medium.jpg" width="222" /></a></div>
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Soube então que devíamos aguardar pelas "Guias de Marcha" que levar-nos-ía a uma zona de conflito armado, e cumprir o que desde 1961 era exigido a qualquer soldado português: o cumprimento de dois anos de comissão de serviço em zonas de conflito, em missão de soberania, na defesa de uma Pátria una e indivisivel. Marcelo Caetano, chefe do governo português, numa "conversa em família" referiu-se à guerra colonial como um «policiamento das forças armadas na defesa, manutenção e segurança das populações africanas e europeias, visto Portugal não estar em guerra com ninguém». O regime considerava os Movimentos de Libertação como "movimentos terroristas" apoiados por potências económicas.</div>
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A estada em Luanda demorou quatro dias de sufoco, empapados em suor. Encontrávamos alívio nos "ares condicionados" das casas comerciais disseminadas pela cidade e na ingestão de líquidos. Ainda não tinha descoberto o remédio santo algarvio para o alívio da sêde e secura da garganta: um cálice de bom medronho. </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij7H2RNT59X4qd3hgb0LZB3jZ_pRE1gSQJTFmndXkwTEyBzvHY6MijajkMWFKFBFvf46DZIeVb6HaKUx3OlxiYW5tUOKa8djFrX-M1YRqO7GbheTKL7YjoDDZv59FfypA-Gv4kUw/s1600/GetAttachment+%25286%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="191" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij7H2RNT59X4qd3hgb0LZB3jZ_pRE1gSQJTFmndXkwTEyBzvHY6MijajkMWFKFBFvf46DZIeVb6HaKUx3OlxiYW5tUOKa8djFrX-M1YRqO7GbheTKL7YjoDDZv59FfypA-Gv4kUw/s320/GetAttachment+%25286%2529.jpg" width="320" /></a></div>
De posse das "Guias de Marcha" que conduzir-nos-ía a uma zona de conflito, preparámo-nos para partir. O nosso destino era a Zona Leste, (Moxico) onde dever-nos-íamos dirigir e sermos incorporados no Batalhão de Caçadores 1920, ainda em viagem para Angola (9 dias no paquete Vera Cruz), Batalhão constituído pelas Companhias Operacionais 1719, destinada ao Lucusse, a cerca de 150 quilómetros a leste da cidade do Luso, hoje Luena; a 1720 destinada mais a leste, Luvuei; e a 1721 Vila Gago Coutinho, hoje (Lumbala Nguimbo), sede de Batalhão, que dista cerca de 70 quilómetros da fronteira com a República da Zâmbia.O maximbombo (autocarro) partiu de Luanda numa viagem por atalhos através de picadas empoeiradas em direção à Vila General Machado (Camacupa), uma das estações do Caminho de Ferro de Benguela. Ali tomámos o combóio até à cidade do Luso, capital do distrito do Moxico, o mais vasto distrito de Angola e Sede do Comando Militar da Zona Leste; cidade que após a independência passou a chamar-se Luena. Por sorte viajava no autocarro um soldado que pertencia à unidade militar estacionada no Lucusse, quartel do meu destino, que me pôs ao corrente da localização e de outros pormenores, como população e comerciantes instalados. <br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdv3NMKybFMm8OAUEujDjOdvQRjkU266A0syyOI2N7G2FgpAsjx58CHNJqSjQKmrBOJABRSfCfrKdQ1U1SohUvWzwutEWL_R4pCWkS4ldI2SSugR37Eii-sycEQ4-8HUAnMS5Crg/s1600/5f69887609019147506af9d87fdb6213.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdv3NMKybFMm8OAUEujDjOdvQRjkU266A0syyOI2N7G2FgpAsjx58CHNJqSjQKmrBOJABRSfCfrKdQ1U1SohUvWzwutEWL_R4pCWkS4ldI2SSugR37Eii-sycEQ4-8HUAnMS5Crg/s1600/5f69887609019147506af9d87fdb6213.jpg" /></a>A viagem de comboio de Camacupa ao Luso (Luena) decorreu com normalidade. Transportava uma força militar de segurança na carruagem de passageiros e outra força numa grazine, que seguia à frente da locomotiva com vários soldados atentos à linha.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8kmitk15i2p46z3ujBjbkLUBe4cGvOAlcFi0HKBUTLW9Lpumsz8J_srL6U8tYLANb5EuP4IglSuuDcHzl2HQKIGASUdhcDRsH1P7VXEauTURC-FWClpP1GF8OYCVoCT6PEbx08Q/s1600/memor7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="203" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8kmitk15i2p46z3ujBjbkLUBe4cGvOAlcFi0HKBUTLW9Lpumsz8J_srL6U8tYLANb5EuP4IglSuuDcHzl2HQKIGASUdhcDRsH1P7VXEauTURC-FWClpP1GF8OYCVoCT6PEbx08Q/s320/memor7.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqqt_WoVCrKnAT-0lCZIcHgiPuUU4uqELNMfz2DBm2LdwpP36GuF6d3WQ8ustIXm5nj6VSApTV9E4trYtRtrJfuuhysbnKNlN3vhhV5XLMyAZhZhfWwu9pp36kUBKSFJ6blT3htA/s1600/memories-8.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="264" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqqt_WoVCrKnAT-0lCZIcHgiPuUU4uqELNMfz2DBm2LdwpP36GuF6d3WQ8ustIXm5nj6VSApTV9E4trYtRtrJfuuhysbnKNlN3vhhV5XLMyAZhZhfWwu9pp36kUBKSFJ6blT3htA/s320/memories-8.jpg" width="320" /></a>A cidade do Luso (Luena) surpreendeu-nos pela dimensão apreciável, pela limpeza das ruas alcatroadas, pelos espaços verdes, pelo traço e dimensão do Cine-Teatro Luena, pelos jardins, pelo edifício da sua melhor unidade hoteleira, o Hotel Luso, adquirido pelo Estado Português para messe e alojamento de oficiais com serviço de restaurante e esplanada abertos à população, não faltando a montra de mariscos cujas gambas gigantes e frescas enchiam o olho e as glândulas salivares de quem olhava Dizia-se que a "tomada" do Hotel Luso pelos oficiais do exército português teria sido a única vitória do exército português na guerra do Leste. Claro que esta falácia humorística provinha de elementos subversivos ligados à guerrilha, que amedrontavam a população com frequentes boatos de ataques iminentes. População que se confessava receosa e insegura confinando-se à área urbana. Cidade que nos surpreendeu pelos seus 2.539 habitantes, apesar do contexto de guerra que se vivia na região e a consequente perda de alguma vitalidade económica<br />
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Poucos dias após a nossa chegada partimos numa coluna de abastecimento na já mencionada estrada de terra batida Luso/Gago Coutinho, hoje, Luena/Lumbala N´guimbo. <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO2nLAFTWrYmRJIC8uZUkkEsa02-5OOlCZQwtjdPf_mFIL-ZhNty9SBcmmyytaQZsfAH5iqI0fm25TV6425yN-C3jeQ1GeaXrKUnj2dkm8GcnrQLe_eyAQn42uzV7Rl7DSY6btcQ/s1600/GetAttachment+%252811%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO2nLAFTWrYmRJIC8uZUkkEsa02-5OOlCZQwtjdPf_mFIL-ZhNty9SBcmmyytaQZsfAH5iqI0fm25TV6425yN-C3jeQ1GeaXrKUnj2dkm8GcnrQLe_eyAQn42uzV7Rl7DSY6btcQ/s320/GetAttachment+%252811%2529.jpg" width="320" /></a></div>
O exército português fretava camionetas civis que, postas em fila, viajavam com escolta militar; uma secção à frente outra atrás, comandadas por um furriel. As secções eram constituídas por sete homens, armados com duas granadas de mão ofensivas e a respetiva espingarda automática G3, a "canhota" na gíria da caserna, por ser colocada sempre à esquerda quando era possível repousar, posição que melhor servia para ser alcançada com rapidez.<br />
Um dos camionistas, o senhor Artur Alves, aceitou transportar-nos na cabine da sua camioneta. Calmo e seguro de si, aguardava o sinal de partir. Ía enfrentar mais uma vez as incertezas duma viagem de risco. Caminheiro de picadas, tantas vezes as percorrera a partir do Luso e por todo o Moxico, enfrentando vicissitudes várias até às primeiras ações da guerrilha em 1966, um ano antes. <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFbXvGpFyHbLXwHO6lhV93apQBE0xqVjeVC4ybEHB7h4uC-_zr36giOxDU018ueVJnJRRLZGmel674AdYM_fqvqSHLhQPLujLLPC81UtFmrMZ3aB21L_8kWvWrlfLKkVYIPdR-wQ/s1600/cedida_por_rui_ribeiro_hotel_luso.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFbXvGpFyHbLXwHO6lhV93apQBE0xqVjeVC4ybEHB7h4uC-_zr36giOxDU018ueVJnJRRLZGmel674AdYM_fqvqSHLhQPLujLLPC81UtFmrMZ3aB21L_8kWvWrlfLKkVYIPdR-wQ/s320/cedida_por_rui_ribeiro_hotel_luso.jpg" width="320" /></a></div>
O tráfego de mercadorias cessou nessa altura por falta de segurança, recomeçando com a chegada dos militares portugueses e a proliferação de quartéis. As colunas de abastecimento trouxeram serviço de fretes contratados pelo exército. A cidade recuperou o seu curso e a população a esperança de futuro.<br />
A viagem iniciou-se a um sinal do comandante de escolta. Em determinada altura vimos uma casa rés da estrada pintada de branco e bem conservada. Estava abandonada. Era Luatamba. Esta casa serviu mais tarde para alojar o meu grupo de combate em proteção aos trabalhadores da Junta Autónoma de Estradas que faziam a conservação daquele troço. Algum tempo depois caterpillas poderosas daquela empresa abriam uma nova estrada por entre as matas e chanas sob a direção de um topógrafo moçamedense de nome Rosa, irmão do conhecido Bica, estrada que foi asfaltada até Ninda anos depois, em 1974, com passagem por Gago Coutinho (Lumbala N´guimbo). Ninda localiza-se entre Lumbala N´guimbo e Chiúme. Os trabalhadores da Junta Autónoma de Estradas completavam a sua dieta com a saborosíssima carne de caça. Certa vez alinhámos numa das caçadas. Escolheram uma chana perto do acampamento, e como as caçadas eram efetuadas à noite, houve a necessidade de acender uma fogueira junto das viaturas que nos aguardavam no trilho, para serem localizadas na escuridão da noite pelos caçadores que, em cima de um Land Rover, volteavam na chana de gambearra em punho. As fogueiras eram vistas a kilómetros de distância e isso constituía um perigo para a nossa segurança. O bom senso falou mais alto e fez-nos desistir dessa ideia de caçar.<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiy6ws-tfMmh8uJZ01FrDKane0-IQqmNuX0bpA9N9cOTB1jmq-QVY3qoI6a17BT15AUBzxO4g4TZyLy0C8UQQLMb9nQQ5jOJu4EMZVwuIjy30u7-wznpSPfLmodvKJ9C95el5Ripw/s1600/GetAttachment+%25283%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="278" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiy6ws-tfMmh8uJZ01FrDKane0-IQqmNuX0bpA9N9cOTB1jmq-QVY3qoI6a17BT15AUBzxO4g4TZyLy0C8UQQLMb9nQQ5jOJu4EMZVwuIjy30u7-wznpSPfLmodvKJ9C95el5Ripw/s400/GetAttachment+%25283%2529.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">LUCUSSE-O HASTEAR DA BANDEIRA ÀS 8 HORAS DA MANHÃ</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: left;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLzZpGdQemJNtB-UZE0IOjyXRwwkREmyvGSQP3L1qtvNbMip1QfAkcbQfBnNWqhuQEepXJ4y-Fap4OVzNxQzaYRX5iyJafGwqKEhaWqdqMhYOZ5jeK8-hAixhdf0mdVuCV7ke4CA/s1600/GetAttachment+%25285%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLzZpGdQemJNtB-UZE0IOjyXRwwkREmyvGSQP3L1qtvNbMip1QfAkcbQfBnNWqhuQEepXJ4y-Fap4OVzNxQzaYRX5iyJafGwqKEhaWqdqMhYOZ5jeK8-hAixhdf0mdVuCV7ke4CA/s400/GetAttachment+%25285%2529.jpg" width="400" /></a></div>
Lucusse surgiu debaixo de uma nuvem de poeira, Era o termo da minha viagem, avisou-me o senhor Artur Alves.<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglRKp14SyPMcT7VB1dxYzTtHB_WPkGgUjOZ57LzWJeS2_xcTzGVfgDDRu5rhLoFk8Clgwh8WPaZzaUGKnchtALat3jEkbGASNBP842MUtaX8f-V9cOclncP4ocVIhArxdr9hMzIw/s1600/GetAttachment+%25287%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglRKp14SyPMcT7VB1dxYzTtHB_WPkGgUjOZ57LzWJeS2_xcTzGVfgDDRu5rhLoFk8Clgwh8WPaZzaUGKnchtALat3jEkbGASNBP842MUtaX8f-V9cOclncP4ocVIhArxdr9hMzIw/s1600/GetAttachment+%25287%2529.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Monumento da CArt 1452, Lucusse</td></tr>
</tbody></table>
O quartel alojava a companhia de artilharia 1452, à espera de rendição. Eu era o primeiro sinal. Os outros camaradas prosseguiram a viagem. O Mateus ficaria no Luvuei também sede de companhia e o Patrício em Vila Gago Coutinho, quartel/sede de Batalhão, a 70 Kms da Zâmbia.<br />
<br />
Encontrei um ambiente afetivo naqueles camaradas "velhinhos" em final de comissão. Íam regressar à Metrópole e isso dava-lhes a tranquilidade do "dever cumprido". <br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCmIHEtFMWwrT7dPbVQJLtTJeRcp2VXyc5VCD_bydimAtims4x4rJxsIlz3gsSRTuBajQhLBj8XIELB7c7uHOa5CTdy2JUP9Ku7DHDgtwMWzJDoPzGT8hml7o6J1OLpk3D8l1rsw/s1600/GetAttachment+%25288%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCmIHEtFMWwrT7dPbVQJLtTJeRcp2VXyc5VCD_bydimAtims4x4rJxsIlz3gsSRTuBajQhLBj8XIELB7c7uHOa5CTdy2JUP9Ku7DHDgtwMWzJDoPzGT8hml7o6J1OLpk3D8l1rsw/s320/GetAttachment+%25288%2529.jpg" width="192" /></a>Um furriel de origem guineense, muito social e de educação esmerada, quis adoptar uma atitude "paternalista", ao "maçarico" acabadinho de chegar e ainda inexperiente nas situações difíceis por que passara. Aconselhava a maior disciplina e responsabilidade no cumprimento de procedimentos estudados na formação teórica. Socialmente, valorizar o respeito e a amizade, essenciais à interação. O objetivo destes conselhos úteis era bem mais generoso do que à primeira vista poderia parecer: dar o melhor de nós, do nosso caráter, do nosso saber, do nosso status, do nosso esforço, para em conjunto contribuirmos para o regresso efetivo de todos no final da comissão.<br />
Uma semana depois, fomos convocados para um curso de "reconhecimento de itinerários" na cidade do Luso, onde aprendemos cálculos de sustentabilidade de pontes ao peso das viaturas. Foram alguns dias passados na cidade. A cidade é sempre bem vinda para quem está no mato. Come-se diferente, veste-se à civil, voltam os hábitos sociais e os divertimentos, visita-se espaços verdes, nota-se o quotidiano de uma população laboriosa, respira-se descontração e segurança.<br />
Enquanto isso recebemos a informação da chegada do nosso Batalhão à cidade e deram-nos ordens para regressarmos aos nossos quartéis nessa coluna. Foi o primeiro contacto com quem seria, no futuro, o comandante do meu "grupo de combate", o alferes Castro, natural de Portalegre.<br />
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O tempo de serviço começara a contar, Alguns riscavam num calendário os dias que íam passando, mas a sensação de lentidão acabou por não merecer a pena tal rotina. <br />
A companhia estava numa situação de dupla função, "quadrícula" e "intervenção". Longos dias de marcha nos esperavam até aos objetivos previamente definidos pelos oficiais de operações. Soube então que vários emigrantes enquadravam os grupos de combate, o que vinha compensar de certa forma o número de portugueses que saíam do País e não serviam na guerra colonial. Os soldados que provinham da emigração formavam uma click altamente considerada e respeitada.<br />
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Certa vez aproveitei uma ída ao Luso para depositar umas economias. Dirigi-me ao Banco de Angola, e surpresa das surpresas, reencontrei o Marcolino, meu colega na Escola Comercial, ali funcionário, e o meu primo Mariúca (Mário Lisboa Frota) que exercia as funções de sub-gerente. O gerente chamava-se Evaristo Sena, um amigo de infância do meu Pai, ambos naturais de Moçâmedes (Namibe). Evaristo Sena pertencia a uma família oriunda de Olhão. Os Senas fizeram uma viagem de Olhão para Moçâmedes num barco de pesca à vela em 1906 em 38 dias, constituindo um récord. O barco chamava-se Sena II.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRP4iJ_Z8E4NfnQF_XoJomyAGzZh1po6vFrt3AngIqT7Mhm0BH705iEAMDrho647AoDLLbPOZZBPrkhOvYFU8XbisvuTpvSkQ6ss7XoYbgH4Tl9V11B_7FpTF0d_zJB_D5EhqODg/s1600/memor5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRP4iJ_Z8E4NfnQF_XoJomyAGzZh1po6vFrt3AngIqT7Mhm0BH705iEAMDrho647AoDLLbPOZZBPrkhOvYFU8XbisvuTpvSkQ6ss7XoYbgH4Tl9V11B_7FpTF0d_zJB_D5EhqODg/s320/memor5.jpg" width="208" /></a></div>
A viagem dos meus avós em Janeiro de 1893 demorou 41 dias. Lembrei-me do seu nome ao me ser apresentado pelo meu primo Mariúca. Era da idade do meu Pai e estava à beira dos 65 anos, idade da reforma. Lembrava-me do meu Pai contar-me que foram ambos convidados para o Banco de Angola em meados da década de 1930, suponho. O meu Pai exercia as funções de contabilista principal na firma Conserveira do Sul de Angola, a maior empresa industrial do distrito de Moçâmedes e uma das maiores do território angolano, então Província do Ultramar Português. Os escritórios da Conserveira localizavam-se na então Vila de Porto Alexandre, hoje cidade de Tombwa. Um irmão do meu Pai de nome Zeca foi buscá-lo para a entrevista que decorreu em Moçâmedes, mas o meu Pai recusou a proposta do Banco. Tinha um grande apreço pelo gerente da Conserveira de nome Matos Garcia que fê-lo seu braço direito, e, via, ter ali, naquelas funções, um futuro promissor, já que a empresa se permitia pagar bons ordenados e boas gratifições no final de cada exercício. <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiV4EtUaNJBLFt7JPoaLquo9i6TGbqWeILQMCjGNicp0tD9eZNFQu4w-JopikmVDR-gZG0c9LN8zNAdIbEUISOTdZJDR7UjlWSUyHC7GDuKoCaGwupwArraCmPbDOoUDWWQ_diDYw/s1600/memor4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="204" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiV4EtUaNJBLFt7JPoaLquo9i6TGbqWeILQMCjGNicp0tD9eZNFQu4w-JopikmVDR-gZG0c9LN8zNAdIbEUISOTdZJDR7UjlWSUyHC7GDuKoCaGwupwArraCmPbDOoUDWWQ_diDYw/s320/memor4.jpg" width="320" /></a></div>
Por isso pôde construir, em administração direta, uma moradia em Moçâmedes sem o recurso ao financiamento, que nessa época era prestado pela Sociedade Cooperativa O Lar do Namibe. O senhor Matos Garcia viajou para Lisboa onde abriu um escritório da Conserveira, vendeu depois a sua cota desligando-se definitivamente da empresa. Grande estratega comercial era um amigo do meu Pai juntamente com a sua esposa, D. Julieta, que foi professora de piano das minhas irmãs em Porto Alexandre (Tombwa). Os escritórios da Conserveira mudaram para a cidade de Moçâmedes, capital do distrito, em 1944 sob a gerência do senhor Martins, para gáudio das senhoras que pretendiam obter melhores condições de vida e distrações que só uma cidade pode proporcionar.<br />
Terra de oportunidades, foi oferecido ao meu Pai a representação de uma das companhias de navegação. De feitio conservador, o meu Pai já tinha dado o "nó" com a Conserveira e recusou. Existia a Companhia Colonial de Navegação e a Companhia Nacional de Navegação. Ambas faziam o transporte de passageiros para o Ultramar. "Vera Cruz", "Santa Maria", "Príncipe Perfeito", "Infante D. Henrique" entre outros, eram grandes e modernos paquetes pertencentes a essas companhias. Portugal possuía uma das maiores marinhas mercantes do mundo.<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKOHpltPh8ivONJTXOeU0sQtfQAeyGIanM9Yf7RW3ggUC4vJ0yMg2rWBAHXCqJy9LrwzSlXz9Fs3h8O50E435t_FUZ4tQuqnT-j6ee7wh09RxzdH22ZArxjz_qhvO0apQ5k_nagA/s1600/memor6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKOHpltPh8ivONJTXOeU0sQtfQAeyGIanM9Yf7RW3ggUC4vJ0yMg2rWBAHXCqJy9LrwzSlXz9Fs3h8O50E435t_FUZ4tQuqnT-j6ee7wh09RxzdH22ZArxjz_qhvO0apQ5k_nagA/s320/memor6.jpg" width="208" /></a>Mudámos para a nossa casa em 1952, tinha eu sete anos de idade. Cerca de trinta e cinco anos após a sua fundação, a solidez financeira da Conserveira do Sul de Angola foi abalada por uma crise de falta de peixe, seguindo-se a queda do preço das farinhas nos mercados, provocado pela ascensão do Perú como grande produtor mundial. Situação agravada pelo afundamento e recuperação da maior traineira, a S. Jorge de 120 toneladas, afundamento motivado por fortes correntes que atingiram a Baía de Tombwa (Porto Alexandre), fazendo o derrube da ponte onde se descarregava o peixe, escavando e abatendo parte da praia, quase atingindo as instalações industriais. Estas despesas avultadas e inesperadas fizeram sangrar a já difícil situação económica da empresa levando-a à insolvência e à falência pouco depois. A falta de pescado criara uma crise preocupante na economia do distrito com algumas falências de empresas de dimensão. Soube, mais tarde, que a falta de peixe no Atlântico se fez sentir em centros de pesca no continente europeu.<br />
<br />
A foto acima foi tirada no Rio Lucibe, situado entre a cidade de Luena (Luso) e o Lucusse. Foi a nossa primeira experiência fora do quartel. Estávamos a guardar uma serração de madeira em laboração. As condições de segurança eram muito precárias. Vivíamos em cubatas meio desfeitas, com buracos enormes nas paredes de barro, mas surpresa, o colmo envelhecido da cobertura não deixava passar a chuva. Os madeireiros tinham uma vida ingrata, de risco, expostos que estavam às surpresas. Viajavam sem escolta militar e segundo se dizia, nem todos tiveram a sorte dos audazes. A permanência no Lucibe foi de cerca de vinte dias, quando finalmente chegaram ordens, via rádio, de regressarmos ao nosso quartel do Lucusse.<br />
<br />
A vida nos quartéis é feita de rotinas diárias. A ída ao rio para o abastecimento de água era um risco que tinha de se correr. O quartel do Lucusse fôra construído em 1966, no início das hostilidades, um ano antes, por uma companhia de artilharia em que fazia parte o meu conterrâneo Carlos Ventura. Possuía boas condições de defesa, tal como arame farpado em toda a volta, iluminação para o exterior, abrigos para os sentinelas e para duas metralhadoras pesadas Breda escavados em lugares estratégicos. À saída de cada camarata podia-se descer para uma trincheira que percorria todo o interior do aquartelamento. Para além de todos estes cuidados criados para a defesa e segurança do quartel, existia, comprovadamente, um aspeto essencial a observar: uma grande confiança nas qualidades e capacidades do soldado português. Afinal o que estava em causa era a sobrevivência de todos nós.<br />
Parecia que nada podia afetar a tranquilidade dos dias que passavam lentos. Havia notícias vagas de aproximação de grupos junto da população, desconhecia-se a proveniência. Por vezes apareciam tropas especiais em trânsito, que lá pernoitavam e seguiam os seus destinos. Tive a agradável surpresa de rever o meu colega de escola Francisco Freitas Branco, que cedo se ausentou com os pais para Nova Lisboa (Huambo) e lá prosseguiu os estudos, e o Mário Calão, um torretombense de gema. Pertenciam a famílias muito estimadas de Moçâmedes (Namibe). Encontrei o Mário Calão nas margens do lago da "Reserva de caça da Cameia". Fomos fotografados por um fotógrafo do exército que seguia naquela campanha e, segundo me disseram, a foto foi vista numa galeria em Luanda com o título "Reencontro de Amigos", ou algo parecido. Na verdade aquele registo ficou magnificamente enquadrado numa das mais fantásticas paisagens da África angolana. Ambos pertenciam à 8ª. de Comandos.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOe6bUIgvqm0O_FpsJ3fWDV26G_Q0GI6gfGBXaWRpEloN52J_Gp98twT3XV56lf7pUfPXd4_pTByBNBuqvITVo0LEXFuXoc4uIAhfoCYXwJ3tcfTVUNnicW5rf8zxLnx1eo5fs1Q/s1600/GetAttachment+%252819%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOe6bUIgvqm0O_FpsJ3fWDV26G_Q0GI6gfGBXaWRpEloN52J_Gp98twT3XV56lf7pUfPXd4_pTByBNBuqvITVo0LEXFuXoc4uIAhfoCYXwJ3tcfTVUNnicW5rf8zxLnx1eo5fs1Q/s320/GetAttachment+%252819%2529.jpg" width="297" /></a></div>
Numa madrugada, o meu grupo de combate e outro, seguiram com eles para o Lumbala, nas margens do Rio Zambeze, onde permanecemos 40 dias em operações, sem vermos o IN (inimigo). A viagem para o Lumbala demorou dois dias com pernoita num acampamento improvisado de paraquedistas. Sofreram um ataque na noite anterior. Dormiam em buracos escavados na chana (savana) cobertos com lonas. A viatura que transportava a secção do meu amigo Rogério Magro ficou avariada no trilho, a 10 Kms do acampamento. Coube à minha secção ir buscá-los e rebocar a viatura. O alferes Lima Ferreira, um guerreiro "sempre pronto", (lema da Companhia), ofereceu-se para nos comandar e lá fomos debaixo de muita tensão. À noite, numa chana, onde a caça abunda e os predadores se escondem, os ruídos se fundem com o movimento do capim. Não sabemos quem os provoca, homem ou animal? A escuridão torna-se insuportável, aterradora. De dia eram as manadas de nunces que se avistavam ao longe. Um espetáculo extraordinário de vida animal em movimento.<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdby0y1KY3WZlM2geDAwgQH92Ur_EKd7JrfqAVotmxhgqichSlEPaVNsrCy21kvIc0PyvJqIK__GBPpUhCuwbM5N6kNP9oaoW0aUgt0QZuDHBtorbWibnwY8RzWAxs1V7o93Mnhw/s1600/memories-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="248" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdby0y1KY3WZlM2geDAwgQH92Ur_EKd7JrfqAVotmxhgqichSlEPaVNsrCy21kvIc0PyvJqIK__GBPpUhCuwbM5N6kNP9oaoW0aUgt0QZuDHBtorbWibnwY8RzWAxs1V7o93Mnhw/s320/memories-2.jpg" width="320" /></a><br />
Finalmente chegámos ao Lumbala e ao quartel onde ficámos alojados 40 dias, e não 4 como inicialmente estava previsto. Dormiamos em colchões de borracha e as refeições eram quase sempre massa com feijão e feijão com massa, sem qualquer vestígio de carne e, ração de combate. A carne lá chegou num abastecimento que demorou dias a chegar devido à chuva que não cessava de cair. Ficou imprópria para consumo e o resultado foi uma forte dor de barriga com diarreia que abrangeu uma centena de homens a correr com as calças na mão para junto de um dos sentinelas para avisá-lo que estava ali agachado a aliviar a tripa.<br />
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Fizemos longas operações a pé sem vermos viv´ alma. Quando os rios estavam longe e os cantis vazios, era de cavar na chana (savana) para encontrarmos a almejada água, que aparecia logo, quase à superfície.<br />
Certo dia preparámo-nos para viajar a Caripande, quartel isolado na linha de fronteira com a Zâmbia. Notámos um unimog completamente chapeado com reduzidas vigias para se ver para fora. Vinha com forte escolta. Disseram-nos que transportava uma alta patente, um Tenente-Coronel. Caripande era abastecida por via-aérea porque os pontões em madeira das linhas de água da única picada que a ligava ao mundo (Lumbala/Caripande), tinham sido queimados dois anos antes, inviabilizando a comunicação por terra. Um grupo de técnicos da engenharia militar vinha preparado para solucionar o problema dos pontões, e num exercício de grande eficácia montou os doze pontões que íam surgindo no trajeto.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixFvi2cdkCczfFR0LfIwJPb8DpXsvgdB9zBsLqBdK0-U1ORkdD40pAfhJ_L2U5ZGPPE2dtSQyrtAiHZr5MqxI5xOSFYtPeLWdNCOvIPThGwIPWzZ5YFLw6A3oFum9G2wnkku2rtw/s1600/Saliente+CazomboII.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="598" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixFvi2cdkCczfFR0LfIwJPb8DpXsvgdB9zBsLqBdK0-U1ORkdD40pAfhJ_L2U5ZGPPE2dtSQyrtAiHZr5MqxI5xOSFYtPeLWdNCOvIPThGwIPWzZ5YFLw6A3oFum9G2wnkku2rtw/s640/Saliente+CazomboII.jpg" width="640" /></a></div>
Chegados a Caripande encontrámos um número de militares que nos pareceu ser um grupo de combate reforçado, (mais de 30 homens), e mais dois polícias. O quartel estava cercado de arame farpado e avisaram-nos haver armadilhas em toda à volta. A picada é de chão duro e deu-nos andamento para regressarmos ao Lumbala no dia seguinte.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitwN1vD_H7JaPsJdIh7oV_cpvvJ9Ybe49LVbLJCUhjEjmlDMKI1i4mCEvZ7LlWA2Ca2DL2rnJ5IT83UrW-uRi-rmZWsn8M84QnpCwbuviw0Sc-rGiWnEE5CJeX8iYeFIPJVU4iJw/s1600/GetAttachment+%25289%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitwN1vD_H7JaPsJdIh7oV_cpvvJ9Ybe49LVbLJCUhjEjmlDMKI1i4mCEvZ7LlWA2Ca2DL2rnJ5IT83UrW-uRi-rmZWsn8M84QnpCwbuviw0Sc-rGiWnEE5CJeX8iYeFIPJVU4iJw/s320/GetAttachment+%25289%2529.jpg" width="203" /></a>Após 40 dias em operações, finalmente o regresso ao quartel do Lucusse, ao aroma do lençol lavado, ao pijama limpo, à roupa a cheirar a sabão e passada a ferro, ao corpo lavado por duches diários, à cama quente da camarata, ao colchão fôfo e reconfortante. Do Lumbala ficou-nos a grata recordação do Rio Zambeze que nos oferecera momentos de acalmia. Não havia corrente naquele estuário largo e quente com uma lancha da marinha ancorada no meio, um gigante adormecido mas pronto para a emergência. Uma tentação para nadadores na travessia daquele estuário. Ir, tocar e regressar representava a distância da travessia. E assim aconteceu. O Carlos Barros de Benguela, furriel do grupo de combate do alferes Santos, o Tony, outro furriel do meu grupo de combate, e eu próprio, lá fomos em braçadas lentas naquela aventura que me ía custando a vida por cansaço. Ondulação, somente a dos barcos de borracha dos fuzileiros no trânsito entre os dois quartés, um em cada margem. Diziam os fuzileiros que os jacarés tinham-se afastado devido ao ruído dos motores. O rio Zambeze deu-nos momentos de lazer, lavou-nos o corpo e tranquilizou-nos a alma.<br />
<br />
O Natal de 1967 apanhou-nos no Luso. Não nos deixaram regressar ao Lucusse porque a tropa entrou de prevenção como sempre acontecia nas datas festivas do calendário. Foi o Natal mais pobre comemorado. A nota de quinhentos que trazia na carteira foi trocada para aqueles dias de valor acrescentado. Dividia-a pelos sete homens da minha secção depois de tirar o valor a pagar na pensão. Lá deu para duas imperiais e dois bolos de pastelaria. A noite da passagem do ano já foi passada no Lucusse com projeção de um filme dos irmãos Max, uma surpresa este luxo vindo do Luso.<br />
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Chegavam notícias preocupantes das outras Companhias Operacionais, a 1720 e a 1721, estacionadas mais a leste. A 1721, estacionada junto ao comando do Batalhão em Vila Gago Coutinho (Lumbala N´guimbo), tinha um forte problema de abastecimento aos destacamentos de Muié, Ninda, Mussuma. As colunas de abastecimento eram quase sempre emboscadas. Eram destacamentos muito isolados, referenciados como "os cús de Judas" em zonas em que a guerrilha se movimentava à vontade, controlava população, e se mostrava mais aguerrida na reação às tropas portuguesas.<br />
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<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQcxg9RHjrhOxUUPjkCWe1r4h4NXGjH-cPmFmvPB_3z97rKWBr44waSBqY7xRImPB3igJaI7Yo6vvhld3f7zZzDTCqO3NmhOz2E9NSr2seZqaMXGAz4vm0AHGpq5YU5bV4N_IexQ/s1600/GetAttachment+%252810%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQcxg9RHjrhOxUUPjkCWe1r4h4NXGjH-cPmFmvPB_3z97rKWBr44waSBqY7xRImPB3igJaI7Yo6vvhld3f7zZzDTCqO3NmhOz2E9NSr2seZqaMXGAz4vm0AHGpq5YU5bV4N_IexQ/s320/GetAttachment+%252810%2529.jpg" width="245" /></a>M</td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O Patrício ao meio</td></tr>
</tbody></table>
Um "belo" dia, recebemos a notícia de que se iria fazer a rotação das Companhias Operacionais do Batalhão. A nossa íria para Lumbala N´guimbo (Gago Coutinho), substituindo a 1721 que iria para o Luvuei, onde estava a 1720. A 1720 iria para o Ninda, que era Sede de Companhia, com um destacamento em Sete e outro em Chiúme. A 1721 era a mais "stressada", tinha sido a mais sacrificada. Há muito que estava sem Capitão. Os soldados estavam à altura dos acontecimentos com demonstrações de bravura. O Patrício fora louvado duas vezes, era um exemplo de coragem. Mas havia uma lacuna grave, a falta de um comandante experiente.<br />
A nossa Companhia estava com a moral elevada e bem comandada. Não tínhamos sofrido qualquer baixa em combate. Mas lamentavelmente dois acidentes tinham ceifado três vidas. O primeiro em vésperas da viagem ao Lumbala quando da limpeza das armas no dia 6/9/67. Uma G3 disparou atingindo mortalmente um camarada que limpava a sua arma. O segundo acidente deu-se nos morros de Cazombo, a norte do Lumbala, cinco meses depois, em 01-02-68. A explosão de uma granada montada como armadilha, ceifou mais duas vidas, quando se preparavam para passar a noite na mata junto às tropas especiais. Apesar das três baixas sofridas, não me surpreendeu a decisão do Comando de enviar-nos para a pior zona de conflito da Zona Leste: a região de Gago Coutinho, Lutembo, Ninda, Muié, Mussuma, Chiúme, Sete, os "cús de Judas." Não preguei olho nessa noite. <br />
Mal recebeu a notícia, o capitão viajou apressado para o Luso (Luena) numa coluna "fantasma", (epítedo dado por ele próprio). Já tívéramos uma forte dose de sacrifício e esperávamos notícias mais animadoras. Mas a decisão estava tomada. Íamos mesmo para Lumbala N´guimbo (Gago Coutinho) sem apelo nem agravo.</div>
Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-91168015918721564422014-12-30T10:35:00.002+00:002017-06-13T17:35:26.268+01:00GRANDES FEITOS-UMA ODISSEIA<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;">
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKQ3nhTwImm-sMJ841MDvjWIsiaq09YZHZaLTZZkOLUAs2H_voPAvNGhHfWmMOOoi31zSaoWHB0mXQG6aaBTZznO0v5goDJKVuG-33q4xFHjLUKnIn63qIKAqTw14xKgh-7K_3qg/s1600/GetAttachment.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="290" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKQ3nhTwImm-sMJ841MDvjWIsiaq09YZHZaLTZZkOLUAs2H_voPAvNGhHfWmMOOoi31zSaoWHB0mXQG6aaBTZznO0v5goDJKVuG-33q4xFHjLUKnIn63qIKAqTw14xKgh-7K_3qg/s1600/GetAttachment.jpg" width="320" /></a>Impelidos pelo espírito aventureiro que os carateriza, os pescadores olhanenses lançam-se no comércio marítimo pelos portos do Norte África e do Mediterrâneo, a comerciar os produtos da sua safra, com relevância para o peixe e seus derivados. Esse comércio trouxe a fortuna a várias famílias que fizeram engradecer física e historicamente a sua querida Olhão. Poucas memórias encontramos desse período de aventura, em que o caíque de vela latina foi figura principal, juntamente com o pescador pertinaz da Terra, protagonistas de feitos, que, se passados a obra escrita, configuraria uma GRANDE ODISSEIA ou uma GRANDE EPOPEIA MARÍTIMA. A colonização olhanense no Sul de Angola abrangendo o séc. XIX e princípios do séc. XX foi outra glória histórica deste povo audaz. Infelizmente desconhecemos qualquer </div>
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
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Cento e quinze anos após o início desses feitos épicos, a história quis devolver à Mãe Pátria Portuguesa os descendentes daqueles valentes pescadores de XIX e XX e todos aqueles que apostaram o seu futuro na emigração e naquele destino no Sul de Angola tomando, alguns, após chegada, outros destinos no território. A guerra civil chegou no decurso do ano de 1975. Nada mais havia a fazer senão a saída intempestiva ou organizada quanto possível de uma terra onde a ação do homem europeu e africano, lado a lado, tornou próspera e progressiva. As traineiras procuraram sair, no maior segredo, dos portos de pesca para a viagem de salvação de pessoas e bens. Uma nova Odisseia ía-se iniciar, a "ODISSEIA do REGRESSO", não em caíques do séc XIX à vela, que fora passado, mas em prósperas traineiras do séc. XX, na conquista do futuro, odisseia documentada "vaga a vaga", à escala de um diário, por quem a viveu. Baldomiro Soares natural da Ilha da Culatra, frente a Olhão, e emigrado em Luanda, depois de ter vivido alguns anos no Bairro da Torre do Tombo em Moçâmedes, hoje Namibe, era bancário e viveu-a, com o seu pai, mestre Sabino, homem de muito saber acumulado ao longo de 50 anos na pesca e com muita navegação costeira, mas sem o conhecimento de navegação de longo curso, seu irmão Sabino, delegado de propaganda médica e sua cunhada Rosa Maria, bancária. O Bala e o Teco os cães da família os acompanhavam. Pareciam sentir as angústias dos seus donos nos momentos em que o perigo de soçobrar superava a esperança de sobreviver. Um deles era da raça "Baía dos Tigres" adaptado à convivência humana e por isso manso. (A raça "Baía dos Tigres" é uma raça de cães existente naquele local do sul de Angola em estado selvagem e que se julga terem ido ali parar em consequência de um naufrágio).</div>
Para quem acredita em milagres, foi um milagre de sobrevivência esta aventura iniciada em Luanda até Olhão. Rodeada de vagas gigantescas e a navegar só, sem qualquer apoio à vista, a pequena traineira Sabino I de 14,40 metros, construída em Luanda em 1971, ía resistindo àquele mar sempre furioso, qual Adamastor a assoprar ventos e agitar vagas, apostado em sepultar para sempre aquele minúsculo barco e seus quatro tripulantes nas entranhas do seu mar. Instrumento de bordo para localizar no mapa o "ponto" do mar em que se encontravam não existia. Um mapa, uma sonda e uma bússola eram os instrumentos disponíveis mais o saber do velho lobo do mar, mestre Sabino. Este livro é um compacto de 269 páginas, esmiuçado dia a dia no fervor da contenda com o Mar. Cabe-me aqui alertar para esta obra que transcende qualquer ficção por ser real, verdadeira e talvez única naquele cenário atlântico. "ODISSEIA MARÍTIMA-Luanda-Olhão-35 Dias no Regresso em Traineira".<br />
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Em Luanda e nos preparativos para a viagem, Baldomiro Soares e seus companheiros jamais pensaram que precisariam de todas as suas forças, toda a fé num Deus todo poderoso e omnisciente para superarem uma natureza hostil e superior. Segundo os cálculos, com o combustível reunido, poderiam atingir as Canárias contando com a solidariedade dos navios que encontrassem ou no acolhimento de um porto de mar amigo. Escreve Baldomiro: «Eram duas e meia da manhã do dia 24 de Agosto de 1975, com luar aberto, nada propício a uma fuga, junto ao anúncio da Cuca, na Ilha de Luanda, com o motor a meia força que iniciámos a viagem. A embarcação levava as redes de pesca à vista e a chata a reboque para dar a entender que íamos para a pesca, caso fôssemos detetados por autoridades dos partidos políticos, já que andavam em cima dos pescadores, proibindo a saída de barcos para Portugal». «Os dois primeiros dias de navegação foram calmos e pacíficos, o que nos deu a oportunidade de nos organizarmos. Começámos por determinar o tempo de leme que era distribuído entre mim e meu irmão, fazíamos leme de quatro em quatro horas, ficando o nosso pai, com o cuidado de verificar o motor de hora a hora e fazer leme e cozinhar sempre que possível. Nas primeiras horas de leme deu para recordar os últimos dias em Luanda, cidade que se encontrava sob o recolher obrigatório devido ao desentendimento entre os partidos políticos que, fortemente armados, se guerreavam constantemente, provocando o caos e a desordem, jamais vistos em território ainda dito nacional». A situação em Luanda era caótica com prisões arbitrárias sob a indiferença dos militares portugueses que deveriam reagir e repor a ordem. O fim trágico de uns e o desaparecimento de outros (portugueses e angolanos) determinou a decisão de fuga não só em Luanda mas em todo o território de Angola, de norte a sul. Aquelas horas ao leme com mar manso muitos <br />
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<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
pensamentos fluíram. Aquela traineira fora conseguida com a venda de bens em Portugal. Tudo fariam para chegarem a Olhão e reatarem uma nova vida. Estavam imbuídos da coragem necessária, da vontade indómita dos homens do mar que tanto labutaram no Mar Mediterrâneo, no Mar de Larache em Marrocos, na costa de África (Angola, Gabão, S. Tomé, Congo Francês). Mestre Sabino conhecera algumas dessas viagens. Fizera ao Mar de Larache antes de ir para África e ao Gabão quando estava em Luanda. Foi nessas viagens ao Gabão que fizera o cálculo do combustível para chegar a Olhão, mas não foi possível reunir tal quantidade, ficando em falta 3000 litros, para além da insuficiência de óleo e de alimentos na quantidade desejável, que em Luanda já eram escassos. Pensavam na sorte que acompanha os audazes e na fé dos navegadores. Baldomiro fizera uma promessa à Senhora dos Navegantes: quando chegasse a Olhão compraria uma imagem para colocar na capela da Ilha da Culatra, promessa que foi cumprida integralmente depois de vender a chata. Levavam 300 litros de água potável para beber e cozinhar.</div>
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
<br /></div>
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
TERCEIRO DIA-O INÍCIO DAS TEMPESTADES<br />
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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Escreve Baldomiro: «No terceiro dia fomos surpreendidos por forte tempestade que nos desviou da rota arrastando a embarcação para dentro do Golfo da Guiné, o Golfão da Guiné, como era conhecido pelos antigos navegadores. Segundo os nossos cálculos, atravessámos a linha do Equador que passa a norte do Gabão. <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwtg_9hDMzVIBxjYp8d1ugI_nqOfyTAj3hPPpA4q05SGqs1zEBfKKXOApVpbDWSqqFpHq5uVctzjQkteaT6-uzPL0YMi7_sHVyWkYeKj8tHJzwCdaZ1i5UTpR6BqlPfEOARq286w/s1600/digitalizar0012.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="311" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwtg_9hDMzVIBxjYp8d1ugI_nqOfyTAj3hPPpA4q05SGqs1zEBfKKXOApVpbDWSqqFpHq5uVctzjQkteaT6-uzPL0YMi7_sHVyWkYeKj8tHJzwCdaZ1i5UTpR6BqlPfEOARq286w/s1600/digitalizar0012.jpg" width="400" /></a></div>
O mar, verdadeiramente encrespado, com chuva e vento soprando fortemente de sudoeste, estragou parte da comida fresca que trazíamos dentro de caixotes em cima do convés, ficando, apenas alguns produtos enlatados. Verduras e frutas foram arrastadas pelas águas da chuva e das vagas que entravam pela proa do barco. Aproveitámos um queijo açoreano que levámos para dentro da cabine, para secar naturalmente... Por volta das dezasseis horas o vento amainou e o pai verificou que havia muita água dentro da cabine do motor, o que não era normal, e providenciou que a bomba elétrica funcionasse em pleno, voltando tudo à normalidade, admitindo que se tratava de água da chuva que tinha entrado pela porta da cabine».<br />
<br />
<i>Assi dizendo, os ventos, que lutavam</i><br />
<i>Como touros indómitos, bramando,</i><br />
<i>Mais e mais a tormenta acrescentavam,</i><br />
<i>Pela miúda enxárcia assoviando.</i><br />
<i>Relampados medonhos não cessavam,</i><br />
<i>Feros trovões, que vem representando</i><br />
<i>Cair o Céu dos eixos sobre a Terra,</i><br />
<i>Consigo os elementos terem guerra.</i><br />
(Lusíadas, canto VI-84)<br />
<br />
Com o mar calmo e já no quinto dia de navegação avistaram os contornos de terra e cruzaram-se com um arrastão japonês. O comandante do arrastão era um indivíduo simpático, falava inglês e deu a indicação da posição no mapa. Cedeu-lhes sessenta litros de óleo. Aceitaram um balde cheio de peixe fresco que durou dois dias. A falta de gasóleo fez-se sentir dias depois levando a que o barco ficasse no meio do Oceano parado e longe da costa. Sem rádio não tinham como pedir ajuda nessa emergência.<br />
«Foi no décimo-oitavo dia de navegação que o motor parou sem gasóleo», conta-nos Baldomiro. Era uma quarta-feira do dia 10 de Setembro daquele ano fatídico de 1975. A sorte tinha sido madrasta no antigo porto do Congo Francês, hoje Mauritânia, Port-Etienne, hoje Nouadhibou e não puderam arranjar o almejado gasóleo que os fizesse chegar a um porto amigo no Sahára Espanhol. Escreve Baldomiro: «Antes de saltar para terra afim de prender as cordas aos cabeços de amarração que ali se encontravam para esse efeito, fomos logo visitados por dois homens fardados, e um indivíduo que parecia ser polícia se dirigiu a nós, falando em francês. Ficámos sem pinga de sangue. Tínhamo-nos enganado. Não estávamos em território espanhol. Aquilo que mais temíamos aconteceu. Como não entendíamos o seu falar o polícia foi chamar um espanhol para servir de intérprete. Depois de nos identificarem fomos imediatamente presos e os documentos do barco apreendidos. Presos pelo motivo de não termos hasteado a bandeira do país e por não haver relações diplomáticas com Portugal». «Quando entramos num porto estrangeiro devemos hastear a bandeira desse país».<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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«Prometemos comprar uma bandeira, no dia seguinte, se nos devolvessem o dinheiro, o que não veio a acontecer». «Depois de muitas explicações, alegando que estávamos desorientados naquela entrada, levaram-nos presos para a Capitania do porto. Como já passava das cinco horas da tarde, por sorte nossa, já estava fechado». «O funcionário de serviço devolveu-nos os documentos e mandou-nos para o barco, debaixo de prisão, com um polícia de serviço, exigindo a nossa presença no dia seguinte às 8 horas da manhã». «Acompanhados do cidadão espanhol e a nosso pedido, levou-nos a um escrítório de uma compahia italiana de assistência às pescas, que se encontrava localizada no cais, e à qual solicitámos ajuda com gasóleo e comida até chegarmos a Portugal, que depois mandaríamos o dinheiro...Fomos bem recebidos mas a resposta foi negativa. Pediram-nos 103 contos na nossa moeda por 6000 litros de gasóleo. O pouco dinheiro que tínhamos ficou na posse no guarda marítimo. Voltámos para o barco desanimados». O espanhol era comandante de um barco espanhol de pesca com contrato para pescar na Mauritânea e não poude dispensar gasóleo porque este era fornecido pelo estado, o que seria preso caso fosse descoberto e denunciado. O cidadão espanhol aconselhou sairem de madrugada do porto porque ali não havia maneira de obterem ajuda e porque poderiam ficar retidos meses, e isso se o assunto se resolvesse, pois os mauritanos costumavam ficar com os barcos apreendidos. «O susto foi tão grande que começámos a planear a fuga». «O espanhol José, assim como alguns tripulantes espanhóis daquele barco, oferecem-nos, às escondidas dos nativos/tripulantes do seu barco, alguma comida para aquela noite». «Mais tarde, já de madrugada, aparece-nos na nossa traineira com um saco cheio de pão e comida que bem nos valeu para as surpresas que ainda iríamos encontrar, dando preciosas indicações para sair de noite daquele porto de pesca. Os espanhóis diziam que tínhamos tido muita sorte em chegar àquele porto, devido aos baixios perigosos no meio da baía o que dificultava muito quem por ali passasse e esta era somente para pessoas muito experientes naquela área marítima». «Seja o que Deus quiser». «Encontrar um bom samaritano no meio do mar que nos desse algum gasóleo para chegar pelo menos a Vila Cisneiros!»<br />
«Por volta das duas horas da manhã, o polícia de vigia ao nosso barco encostou-se a alguns caixotes e deixou-se dormir...Como estávamos alerta para este momento, libertámos a amarração e a embarcação foi arrastada pela correnteza e a leve briza de vento, afastou-nos do cais, durante longos e ansiosos minutos. Quando nos encontrávamos já bem afastados, verificámos que bem perto de nós um arrastão tinha saído do porto e dirigia-se ao alto mar para a faina de pesca. Não perdemos tempo em segui-lo. O pai pôs o motor a trabalhar e, imediatamente à força toda, fomos atrás daquele barco, até avistarmos ao longe boias de sinalização. Por razões que desconhecemos o arrastão voltou atrás, regressando ao cais, mas nós seguimos em frente até passarmos bem pertinho das primeiras boias de sinalização... Ainda vimos o polícia acordar de sobressalto e começar a correr até o perdermos de vista...».<br />
«São sete horas da manhã, os primeiros raios de sol surgem no horizonte e as nuvens teimosamente não se querem desvanecer e, já bem afastados de terra, encontrámo-nos no mar alto, direcionando a bússula com rumo ao norte». «Navegámos mais um dia quando econtrámos um enorme barco de pesca chinês "Five Oceans 125". Aproximámo-nos e, por gestos pedimos gasóleo. Tínhamos combustível apenas para mais algumas horas! Aquele que nos pareceu ser o comandante veio ao convés com gestos pouco amigáveis para nos afastarmos. Ainda conseguimos navegar ao lado do barco cerca de uma hora, pedindo insistentemente ajuda. Um dos marinheiros ou comandante, ameaçando-nos, pareceu-nos exibir uma arma, pelo que desistimos e acabámos por seguir a nossa viagem, tristes e desanimados».<br />
«Aproximámo-nos mais de terra, que nos pareceu ser um lugar deserto, pois não vimos sinal de vida, quando por volta das oito horas o barco parou por falta de gasóleo.»...«Fundeámos a cerca de dez braças de profundidade e calculámos estar distanciados três ou quatro milhas de terra, esperando que algum bom samaritano nos veja»...«Verificámos que estávamos fundeados em cima de rochedos e que os cabos de amarração não iriam aguentar muito tempo». A sonda tinha deixado de funcionar e não existia maneira de saber a altura de mar que poderia pôr em causa a segurança do barco na maré vazia. A solução foi encontrada por mestre Sabino e pelo processo antigo: com uma corda e uma chumbada. O resultado foi tranquilizador: estavam a cinco braças das rochas. Escreve Baldomiro: «Ao longe um navio passa por nós e lançamos um pedido de socorro com sinal luminoso (o único que tínhamos a bordo) mas não deu resultado. Nas noites seguintes, mal o sol se punha, começávamos por acender archotes, com roupa embebida em gasóleo que se encontrava no cavername da casa do motor, para chamar a atenção dos barcos que navegavam ao largo da nossa posição. Todo esse esforço foi em vão e acabámos por queimar toda a roupa que tínhamos, ficando apenas com a roupa do corpo. Mais uma noite à nossa frente com o frio incomodativo do deserto do Sahara, esperando por nós. A alimentação estava já muito reduzida e quase no fim, e a água racionada». <br />
<br />
À DERIVA ATÉ AO SALVAMENTO<br />
<br />
A manhã do vigésimo terceiro dia (15 de Setembro-2ª. feira) o dia amanheceu límpido, mas o vento soprava fortemente. Baldomiro pressentia que algo de transcendente ia acontecer. Mestre Sabino deu mais folga à amarração para evitar o roçar nos rochedos. Se os cabos rebentassem andariam à deriva e seriam arrastados sem possibilidade de comandar o barco. Naquele momento estavam somente fundeados com uma âncora pois as outras os cabos tinham rebentado por roçarem nas rochas. «Tomámos a decisão de apetrechar a chata com o motor de popa, um pequeno mastro com uma vela e dois remos. A intenção era ir ao encontro dos barcos que diariamente avistava e pedir auxílio. Vamos aguardar pelas três horas da tarde e ver se os barcos de pesca aparecem, como habitualmente». ... «Não sei se terei forças para remar na chata em caso de necessidade». <br />
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Uma extrema fraqueza tinha-se apoderado daqueles corpos que mal se alimentavam, e de água só tinham meio galão. «Quinze horas e lá estão eles, os dois barcos navegando para terra. Na mesma direção que diariamente temos registado. Não perdemos mais tempo. Estão a mais de cinco milhas de distância. Embarcámos na chata sob ondulação muito forte e com o motor de borda a funcionar, soltámos a amarra que prendia ao barco. O motor apenas funcionou alguns minutos, acabando por se avariar. Estamos a alguns metros do barco e tentamos apanhá-lo novamente, mas não conseguimos lá chegar. A corrente é muito forte e a chata afasta-se rapidamente da embarcação». Um dos remos partiu-se tal o esforço dispendido. Mestre Sabino que tinha ficado na traineira com Rosa Maria, tentou lançar uma corda, em vão. Fez um gesto para se atirar ao mar o que foi impedido por Rosa Maria. Teria sido um suicídio dado as condições do mar e a extrema fraqueza de todos. Com a chata à deriva viram desaparecer rapidamente a Sabino I de vista. «Devido à grande ondulação, tão pouco víamos os barcos de pesca que tanto ansiosamente procurámos discortinar no horizonte e que possivelmente estariam mais a sul. O meu irmão perdeu as forças e não mais conseguiu lenvantar-se. Eu ia manobrando a chata à vela procurando não atravessar nas ondas, evitando que se voltasse. Quando caíamos na cova da onda, víamos ao lado, acima da chata, na crista da onda, vários tubarões, que gulosamente nos rodeavam». «A chata começou a meter água e num esforço inacreditável consegui esgotar a água e manobrar a vela ao mesmo tempo. Não sei como Deus me deu tanta força e coragem». «Tristes e desanimados e com o sol prestes a nos deixar qual monstro sagrado, repentinamente, vimos à nossa frente, o primeiro barco de pesca que já tínhamos identificado enquanto estávamos a bordo do nosso barco. Passou bem perto de nós. A alegria que sentimos depressa se desvaneceu. Navegando lentamente cortando a forte ondulação que se fazia sentir, foi passando por nós sem parar. Ficámos desesperados, acenando e gritando para que nos vissem ou ouvissem, mas não vimos marinheiros em cima do convés. O contra-mestre ao leme, não deu pela nossa presença. O mar encrespado e o vento forte não permitia uma visualização clara para o homem que vai ao leme. Quase que fomos albaroados....O arrastão passou e com ele a esperança do salvamento foi-se desvanecendo...».<br />
«...Minutos depois, à nossa frente, o segundo barco de pesca quase nos afundou. O meu irmão gritava loucamente. Ninguém ouvia os nossos gritos. Os marinheiros iam todos recolhidos nos camarotes e o homem do leme não prestou atenção à chata. Certamente, como nos disse mais tarde, nunca iria imaginar encontrar aquela "casca de noz" no meio do mar tão revolto. O meu irmão caiu de joelhos até encostar a cabeça à amurada da chata, com o rosto sulcado de lágrimas que não procurou ocultar, sem forças de tanto gritar»...«Navegando lentamente o navio vai-se afastando cada vez mais, quando a cerca de 10 metros de distância, de repente, em cima do convés, na popa do barco, estava um marinheiro africano com os olhos esbugalhados pela surpresa, olhando para o nosso desespero. O homem perdeu a fala. Não compreendia o que se estava a passar. Em pleno mar alto, uma pequena chata com dois homens a bordo prestes a afundar-se!». «O marinheiro atónito reagiu aos nossos gritos angustiantes, quando, repentinamente, apercebendo-se do perigo que corríamos, correu apressadamente até à cabine do comando, dando o alarme do seu achado em cima da água...Estamos salvos...»<br />
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«...Em 26 de Setembro chegámos ao farol de Santa Maria».<br />
Escreve Baldomiro: «Por incrivel que pareça a nossa odisseia foi recheada de tempestades, desde o terceiro dia até poucas horas antes da chegada a Olhão, parece-nos que Deus dos Oceanos, Neptuno, mais uma vez se sentiu profanado, pelo atrevimento e coragem das gentes olhanenses».<br />
<br />
<i>Agora sob as nuvens os subiam</i><br />
<i>As ondas de Neptuno furibundo;</i><br />
<i>Agora a ver parece que deciam</i><br />
<i>As íntimas entranhas do Profundo.</i><br />
<i>Noto, Austro,Bóreas, Áquilo queriam</i><br />
<i>Arruinar a máquina do Mundo;</i><br />
<i>A noite negra e feia se alumia</i><br />
<i>Cos os raios em que Pólo todo ardia.</i><i> </i> <br />
<br />
(Lusíadas, canto VI-76)<br />
<br />
<br />
«Hoje com os pés em terra, olhando para trás e para todas as adversidades por que passámos, humildemente só temos uma palavra. Deus. Obrigado meu Deus».<br />
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<br />
Entre trombas de água andamos navegando<br />
Com o irado céu a água já sugando,<br />
E o mar, apavorando, todo enfurecido<br />
A engolir-nos parecia decidido<br />
<br />
E o Bala e o Teco porfiados,<br />
Na proa cortadora vigiando,<br />
Eram pilotos a isso elevados<br />
No oceano perigoso navegando.<br />
<br />
Por isso foi que Sabino, o Capitão,<br />
Os promoveu a marinheiros,<br />
Por ver tão clara aptidão<br />
Animando os próprios companheiros.<br />
(Autor: Baldomiro Soares)<br />
<br />
Em Olhão esperava-o a sua muito dedicada esposa Cristina Estrela, filha de mestre Estrela, e seus filhos. Cristina e Baldomiro conheceram-se em S. Martinho da Baía dos Tigres onde mestre Estrela fixou residência e permaneceu durante vinte anos. Era natural de Santiago de Tavira mas foi para Olhão com oito meses. Considerava-se, por isso, um olhanense de gema.<br />
<br />
AGRADECIMENTO E HOMENAGEM<br />
<br />
Baldomiro Soares quis com esta obra homenagear e agradecer aos seus salvadores. São bem sentidas as suas palavras:<br />
«Esta obra é uma homenagem de eterna gratidão ao nosso salvador, o jovem marinheiro do barco de pesca espanhol "Tela I", bem como ao seu comandante e marinheiros, num dos momentos mais dramáticos da nossa viagem.<br />
Um profundo agradecimento à Marinha de Guerra Espanhola, instalada em Vila Cisneiros, Sahara Espanhol (1975), aos seus Oficiais, Sargento mecânico e Marinheiros da corveta "Centinela W-33"<br />
Um profundo agradecimento ao Patrão de Costa D. Tomaz Suarez Santana e sua ilustríssima esposa, pela recepção que nos dispensaram.<br />
Ao povo de Vila Cisneiros pela calorosa recepção como jamais tive em minha vida.<br />
Os Homens de grandeza Moral é que fazem as grandes nações.<br />
<br />
Muito ... e muito Obrigado...»<br />
<br />
«Dedico este livro à minha esposa, filhos e netos por todo o apoio e carinho que sempre me dedicaram e ainda ..................ao meu saudoso Pai, meu querido Herói...............»<br />
<br />
O produto da venda desta obra é canalizado para instituições de caráter humanitário. Baldomiro Soares divide-se, hoje, pelo País que o acolheu, os Estados Unidos da América e a sua querida e eterna Olhão, Ilha da Culatra, onde nasceu, e Santa Luzia, onde moravam os seus avós.<br />
Os olhanenses da diáspora sentem uma forte ligação à sua Terra. Por mais que andem por este mundo jamais se esquecem do lugar onde nasceram, onde formaram o seu caráter aguerrido, patriota e profundamente humano. <br />
<br />
<br /></div>
<br />
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<br />
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Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-69989130634847815932013-12-31T14:22:00.000+00:002020-04-21T11:41:31.140+01:001839/1849- OS 10 ANOS QUE ANTECEDERAM A FUNDAÇÃO DE MOÇÃMEDES/ANGOLA<div style="text-align: justify;">
Sob a égide de Sá da Bandeira ía finalmente iniciar-se e desenvolver-se a ocupação portuguesa às terras a sul de Benguela, e, paralelamente, dar cumprimento aos convénios para a abolição da escravatura que se efetivou no ano de 1869. Em 1837, o estado português concede passagens gratuitas a artífices e a familiares de degredados, medida essa extensiva a qualquer europeu que em África quisesse fixar-se. No ano de 1839 o ministro José Lúcio Travassos Valdés, 1º Conde do Bonfim, cria um presídio no novo porto de Moçâmedes, a antiga Angra do Negro, era então governador geral Eleutério Malheiro. É estabelecido um pacto amistoso e mercantil com os sobas regionais Mossungo e Giraúl. No ano seguinte, em 1840, deu-se início à construção de um forte que passou a chamar-se de S. Fernando para alojar uma força militar que seria o garante da vida de pessoas e bens, a proteção das populações nativas sujeitas aos assaltos dos povos do interior, e a confirmação de que o povoamento ía realmente efetivar-se, atraíndo os primeiros povoadores do reino de Portugal àquela baía e àquelas terras do sul. </div>
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"Já há brancos em <em>Moçâmedes</em>". Este grito ecoou por todo o sertão quando se soube da chegada do primeiro habitante branco ao recém criado Estabelecimento Prisional de Moçâmedes. Era o ano de 1839, o ano de início da colonização portuguesa às terras do soba Mossungo, na antiga Angra do Negro. Com a chegada do primeiro habitante branco iníciáva-se a época da instalação de feitorias, a primeira de sete no período compreendido entre 1839 e 1845. Esta época antecedeu a fundação de Moçâmedes, a atual cidade do Namibe no Sul da República de Angola, fundação que historicamente se reporta a 4 de Agosto de 1849, data da chegada da barca Tentativa Feliz transportando os componentes da primeira colónia agrícola constituída por portugueses residentes em Pernambuco, Brasil, organização liderada por Bernardino Freire de Figueiredo Abreu e Castro. A época das feitorias foi um período histórico essencialmente de iniciativa particular cujos projetos resultaram em tentativas mal sucedidas, ou de êxito relativo aquém dos objetivos que os seus esforçados empreendedores sonharam alcançar, tentativas com subsídios do Estado Português, cujo objetivo era o povoamento das regiões a sul de Benguela com povoadores do reino.</div>
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<br />
(Olhão é um dos principais portos de pesca português e fez parte da freguesia de Quelfes até ao ano de 1695, ano em que foi criada a freguesia de Nossa Senhora do Rosário com sede em Olhão. Causa reparo o historiador Carlos Alberto Garcia ter afirmado ser Cardoso Guimarães natural de Olhão que, ao longo do tempo tem sofrido rápido crescimento demográfico, estando parte da sua área urbana localizada na freguesia de Quelfes.) </div>
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A obra de Manuel Júlio de Mendonça Torres denominada "O Distrito de Moçâmedes nas Fases de Origem e Primeira Organização", de imprescindível consulta para a compreensão da histórica de Moçâmedes, dado o seu grande valor documental, tão importante que alguém a crismou de a "Bíblia da Colonização de Moçâmedes", serviu de base na informação aqui contida e relata essa época de uma forma sucinta, reunindo dados estatísticos, enumerando as feitorias e os seus proprietários fornecendo alguma informação biográfica e outras que conduzem à percepção duma época inicial de implantação de um povoamento assaz difícil e pertinaz. </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibWFawCNE9ympAe0-8l5_qvWaoF8VcuRr3NeefMmnHZTxcEHB2sIp_XoercskKG6w2M-N-bXqQJv0TNTcXSPvmMIsLi1_2rHXFetPe0Bg-yC4fMhVB1UE0ORTnKZRhHHBVxsuIyQ/s1600/thumbnail.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" closure_lm_550536="null" height="132" hua="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibWFawCNE9ympAe0-8l5_qvWaoF8VcuRr3NeefMmnHZTxcEHB2sIp_XoercskKG6w2M-N-bXqQJv0TNTcXSPvmMIsLi1_2rHXFetPe0Bg-yC4fMhVB1UE0ORTnKZRhHHBVxsuIyQ/s1600/thumbnail.jpg" width="200" /></a>A 1ª feitoria montou-a António Joaquim Guimarães Júnior, que também se assinava de António Joaquim de Figueiredo Guimarães, o primeiro homem branco a fixar-se no então chamado Estabelecimento Prisional de Moçâmedes, de sociedade com Jácome Filipe Torres, de Benguela. Apresentou na Secretaria do Ultramar, em Fevereiro de 1839, um requerimento em que se oferecia para montar ali uma feitoria destinada à indústria de charqueação (carne seca) e cortumes, se o Estado lhe desse o necessário subsídio. O requerimento obteve pronto e favorável despacho. António Guimarães partiu de Lisboa em finais de Março desse ano (1839) e chegou a Luanda em meados de Junho onde assinou um contrato provisório. Chegou ao Estabelecimento a 5 de Outubro na corveta Isabel Maria. Insinuou-se ao soba Mossungo com presentes e este compensou-o mandando construir uma espécie de telheiro com ramagem para o proteger dos raios solares e ofereceu-lhe uma esteira para o resguardar, de noite, da humidade do solo. António Guimarães chegou a montar a feitoria, mas passado algum tempo, por faltar a todas as condições do contrato, teve de embarcar na mesma corveta que o levara a Moçâmedes, a fim de responder por seus atos perante as <br />
autoridades de Luanda.</div>
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A feitoria, assim que o empreendedor a deixou, foi roubada e destruída pelos pretos.</div>
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Teve em Moçâmedes a alcunha de "Gato com Botas", ignora-se o motivo. A feitoria estava montada no sítio da Aguada, à entrada das Hortas, onde o Dr. Lapa e Faro cerca de cinquenta anos mais tarde mandou construir uma vivenda. O Dr. Lapa e Faro era médico a exercer medicina no hospital de Moçâmedes num período muito posterior à época das feitorias, mas ainda durante o séc. XIX. O sítio passou a denominar-se "Gato com Botas", alcunha do seu primeiro ocupante.</div>
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Em 7 de Março de 1887 dava o nº. 117 do jornal de Moçâmedes a notícia do falecimento em Lisboa de António Guimarães, acompanhando-a de ligeiros traços da sua biografia: «era um homem inteligente, mas infeliz nos seus empreendimentos. Fundou vários jornais que gozavam bastante crédito, tais como "a Pátria" e o "Diário Comercial", e colaborou em outros escrevendo muitos artigos sobre Moçâmedes. Fundou outros periódicos, tais como, "Debates", "Verdade", etc.»</div>
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Consta que escreveu um livro, intitulado "Na Baía de Moçâmedes", datado de 1842, que foi procurado por interessados e estudiosos, mas não foi encontrado. Não se sabe se teria sido publicado.<br />
<br />
A 2ª feitoria data de 1841. Montou-a Bernardino José Brochado, de sociedade com D. Ana Ubertal, de Luanda. Bernardino José Brochado, depois de montar a feitoria, ausentou-se para a região do Cuanhama onde residiu durante alguns anos, deixando escritos das viagem então empreendidas e realizando estudos cujas impressões foram publicadas nos Anais do Conselho Ultramarino e no Jornal de Moçâmedes. Regressou a Moçâmedes onde exerceu, com elevado prestígio, as funções de juiz, vereador e presidente da vereação. Conhecedor de todo o distrito que compreendia não só a parte litorânea do Estabelecimento, mas também a parte planáltica da Huíla, propôs extremadas e proveitosas iniciativas, tendentes ao progresso de todo esse vasto território que constituía o então distrito de Moçâmedes. Fundou na Vila a primeira casa comercial. É, pois, de sua autoria algumas memórias desse tempo. Faleceu na então Vila de Moçâmedes no dia 10 de Maio de 1885, aos 65 anos de idade. Bernardino José Brochado foi de facto, de entre os sete proprietários de feitorias, aquele que habitou na Vila mais tempo. Teria sido o habitante mais antigo no dia em que faleceu.</div>
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A 3ª feitoria foi montada por Clemente Eleutério Freire, de sociedade com José Maria de Sousa e Almeida, e José Maria Teixeira Cravela, negociante do Norte do Zaire. Dedicou-se á agricultura com empenho nas margens do rio Bero. A sua horta era digna de menção. Não é mencionado qualquer tentativa industrial. </div>
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<br /></div>
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O mesmo não aconteceu com a 4ª feitoria, já referida, do algarvio Fernando José Cardoso Guimarães, em sociedade com Luís Batista Fins e Ana Joaquina dos Santos Silva. Cardoso Guimarães chegou em 1843, era natural de Quelfes, segundo Manuel Torres, freguesia vizinha à de Olhão. Introduziu desde logo a pesca no distrito e a indústria do peixe seco. Marca assim o início da pesca metropolitana no Estabelecimento Prisional de Moçâmedes. Com a introdução dos meios de captura do peixe naquela zona piscícola, passaram a ser conhecidas variadíssimas espécies de peixe, classificadas de 1ª e de 2ª qualidades. Nas espécies consideradas de 1ª qualidade, o pungo, a corvina, o cherne, a garoupa, a tainha, a pescada, a anchóva, o peixe espada e o safio num total de 19 espécies principais. De entre as espécies consideradas de 2ª qualidade, o sarrajão, a sardinha, a cavala, a savelha, o cação, o galhudo e o xarrôco, no total de 18 espécies principais. Cardoso Guimarães dedicou-se á agricultura que cuidou com esmero. Lê-se no relatório da viagem do General Silveira Pinto, então Governador Geral da Província, aos portos do sul, efetuada em Junho de 1849, que aquele alto magistrado visitara as hortas do estado e de particulares, visitando também a horta de Fernando Cardoso Guimarães causando-lhe reparo «uma couve, verdadeiro prodígio de vegetação», diz o relatório: «Era de forma cónica e tinha perto de oitenta polegadas de altura, ocupando as folhas, na base do tronco, uma circunferência de dez passos».</div>
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Em indeterminada data surgiu um artigo no jornal algarvio "O Comércio de Portimão" pela pena do sr. Dr. Armando Carneiro que «Joaquim Cardoso, natural de Quelfes, e vários outros companheiros, entre os quais Domingos Galambas, partiram a bordo do caíque Nossa Senhora do Rosário e aportaram a Moçâmedes em Julho de 1843, sendo estes, segundo ele, os primeiros povoadores e os autênticos fundadores de Moçâmedes». Esta polémica lançada no jornal de Portimão foi amplamente rebatida e naturalmente concluíram ser os emigrantes portugueses chegados de Pernambuco em 1849, 166 entre homens, mulheres e crianças, chefiados por Bernardino Freire de Figueiredo Abreu e Castro, os verdadeiros fundadores de Moçâmedes, os que ergueram no distrito a primeira povoação. Domingos Galambas é mencionado na década seguinte (1850) como proprietário de uma horta.</div>
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No mesmo ano, 1843, surgiu a 5ª. feitoria, montada por João Pinto Gonçalves, de Novo Redondo.</div>
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Em 1844, a 6ª por Venâncio António da Silva, de Luanda.</div>
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<br /></div>
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Em 1845, João António Magalhães, montou a 7ª. de sociedade com António Garrido, de Luanda, que negociou no Estabelecimento até ao ano de 1851.</div>
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Este levantamento foi publicado pelo fundador da segunda feitoria Bernardino José Brochado no Jornal de Moçâmedes do dia 10 de Setembro de 1881.</div>
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Em 1852 há, ainda, notícias do algarvio Cardoso Guimarães; comprou nesse ano sementes de boa qualidade para semear na sua horta e assim poder abastecer de sementes de boa qualidade os novos colonos chegados de Pernambuco, Brasil, em 1849 e 1850.<br />
<br />
(Os primeiros três anos que se seguiram à chegada dos colonos do Brasil em 1849 e 1850, as chamadas primeira e segunda colónias, foram anos de uma forte estiagem que fez secar as terras nas margens do rio Bero e Giraúl. A estiagem, o desconhecimento do clima e as sementes de fraca qualidade causaram grande escassez do produto agrícola que provocou carências alimentares e doenças, cuja mortalidade atingiu os 20% de uma população mal alimentada e empobrecida, em início da actividade agrícola.)</div>
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Em 1844 manda a Raínha D. Maria II mil anzóis «por lhe constar que era uma baía de muito peixe onde já havia pescadores algarvios».</div>
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A força militar destacada na fortaleza S. Fernando, que foi construída entre 1840 e 1845, constituía o garante da vida de pessoas e bens, proteção necessária à permanência e a projetos de continuidade, a confiança num futuro em construção. Os proprietários das feitorias mantiveram com os nativos locais e do interior, um pequeno comércio de permuta, ministrando-lhes bebidas, fazendas e missangas e deles recebendo, em troca, cera, marfim e couros, que exportavam para Luanda e Benguela e portos do Norte de Angola, através dos barcos-correio do Estado. Exerceram as suas atividades com manifestações de diligência e coragem, sob os tríplices aspetos, agrícola, comercial e industrial, embora rudimentarmente. Tentaram pela pesca o melhoramento das suas condições económicas. Assim, o Boletim Oficial nº 30, de 4 de Abril de 1846, noticiou da chegada a Luanda, em 1 do mesmo mês e ano, do hiate-correio, Quinze de Agosto que, dos portos do barlavento, levara para aquele porto, além de correspondências e encomendas, «setenta motetes de peixe seco, das pescarias de Moçâmedes», destinados à Fazenda, tendo feito a viagem de roda a roda em vinte e oito dias. No ano seguinte, 1847, transportou o mesmo iate, «duzentos e trinta motetes de peixe seco de Moçâmedes» e no mesmo ano a escuna-correio Conselho, sob o comando do segundo-tenente Araújo e Silva «cem motetes de peixe seco para a Fazenda». Os motetes eram amarras de 10 peixes secos. Em 1845 o Estado determinou que o dízimo sobre o peixe fosse aplicado no Estabelecimento a partir desse ano, porque nesse ano a indústria piscatória passou a ter algum peso, cujo desenvolvimento vinha sendo feito gradualmente, nos anos anteriores. Já havia muitas crianças no Estabelecimento, filhos, alguns, de reclusos e das suas mulheres que os acompanhavam na reclusão. Foi nomeado um sargento para professor primário para ministrar as primeiras letras a nove crianças.</div>
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<br />
(O tenente Garcia foi retirado do Cruzeiro Luso-Britânico para exercer o comando do forte de S. Fernando no Estabelecimento Prisional de Moçâmedes. O Cruzeiro Luso-Britânico foi criado pela Inglaterra com a colaboração de Portugal, e destinava-se à vigilância dos mares e da costa africana para deteção e captura de navios negreiros. O tráfego de escravos fora proibido por um convénio entre as potências coloniais europeias tendo em vista a abolição da escravatura a prazo, o que veio a acontecer em Portugal no ano de 1869. A vigilância das praias ao longo da costa africana era exercida por navios da marinha de guerra portuguesa visando não só a deteção e aprisionamento de navios negreiros mas também a localização de vestígios de futuros embarques. O decreto-lei de 1836 defenia concretamente esses vestígios e tem como exemplo um excessivo número de pipas. O topónimo Baía das Pipas, a norte da cidade do Namibe, foi adotado depois de ter sido ali encontrado um excessivo número de pipas para futuro embarque em navio negreiro. A autoridade portuguesa mandou queimá-las fazendo cumprir desta forma o estipulado no decreto-lei).<br />
<br />
Muitos anos mais tarde foi acrescentado outros panos de muralha à fortaleza atenuando sobremaneira o seu aspeto austero. Por qualquer acaso do destino ou por algum acontecimento perdido na história, a partir de 1845 não se montou qualquer feitoria. O desenvolvimento económico parecia estacionário. Ao se mencionar esta época inicial de povoamento, podemos qualificá-la de meras tentativas de fixação sem consequências por habitantes acidentais, pois não foram acompanhados das indispensáveis circunstâncias para o genuíno exercício da missão colonizadora - a de construtores de moradias para a conveniente formação do aglomerado distrital; a de úteis organizadores de lares com o intuito de imprimir às suas vidas feição de permanência; a de zelosos economizadores de cabedais para avisada prevenção do futuro; e a de cautos transmissores de bens aos seus legítimos descendentes. Deixaram perder (danificados, roubados ou abandonados) os módicos haveres, que, porficiosamente adquiridos, viram, em pouco tempo, desaparecer, sem que deles restasse a mínima sombra de vestígio, assim nos afirma Manuel Torres.<br />
Em 1849 restava somente uma feitoria em Moçâmedes, a do algarvio natural de Quelfes(?), ou Olhão(?) Fernando Cardoso Guimarães por se ter também abalançado às pescas, segundo notícia veiculada nos Anaes do Município de Mossamedes, como nos diz Manuel Torres na sua obra supra citada.<br />
<br />
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Nesse mesmo ano (1849), começou um movimento inusitado no Estabecimento. Construíam dois barracões de pau a pique com cobertura de palha e amarrados com mateba, ou seja tiras de casca de árvores, perto da fortaleza S. Fernando, onde cerca de cem anos mais tarde construíram o Cine Teatro Moçâmedes; um dos barracões para alojar casados, outro, para alojar solteiros. O Governador Geral, general Silveira Pinto visitou o Estabelecimento. «A estada do Governador Geral foi festejada com iluminações e fogo no ar, recebendo, a primeira autoridade da província provas de apreço. Fez distribuir aguardente e fazendas aos sobas Giraúl e Quipola que o presentearam com dois bois. Três dias depois do embarque do Governador Geral deveriam chegar a Moçâmedes os emigrantes portugueses de Pernambuco. Anteviam já horizontes prometedores: a transformação pelo trabalho, da terra que buscavam, a possível criação de um povoado, a sequente fundação de um distrito.»</div>
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(No local dos barracões construíram o primeiro jardim público de Moçâmedes, o chamado "Jardim do Colono", em homenagem a estes colonos fundadores. Foi o primeiro local de convívio da população às quintas-feiras e aos sábados sob o som da banda da guarnição militar alojada na fortaleza S. Fernando. No mesmo local e cerca de cem anos depois da construção dos barracões, construíram o Cine Teatro de Moçâmedes). </div>
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<a name='more'></a>
<!-- Blogger automated replacement: "https://images-blogger-opensocial.googleusercontent.com/gadgets/proxy?url=http%3A%2F%2F2.bp.blogspot.com%2F-BERbyjWPaA0%2FUtCKCrzoE-I%2FAAAAAAAAAV4%2FB2Iqh4pTM3Q%2Fs1600%2F7313774_ozJUU.jpg&container=blogger&gadget=a&rewriteMime=image%2F*" with "https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikGtQgG4HpP36sSZs5DPE0LaJ4bualVw2ECXOTren4jxjnz9AOUnVUGsiO6hkBlfvHDk3kXEtDIKTVn9_dWOdjMJkJGl6MDIrK99dyvnXJI2Xq2I2RRs4hHcAN5iYLtIlCJlxZqw/s1600/7313774_ozJUU.jpg" -->Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-72908740525593820972012-12-31T21:56:00.001+00:002017-04-07T12:14:44.975+01:00UM OLHAR NO PASSADO <div style="text-align: justify;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgi5JETSvbkJxQpPZGu-Sc3P9n463Mt0Uvcx2zT4E7kdbb5mVeLoxvBhwFF86duoDdkbSgDKBNLw0sNY2jGbcLtR9R4n8_bvkChGHcvbSXiIi83cUpwGX2fFa52TQh7wnqblewu5w/s1600/001a.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ea="true" height="97" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgi5JETSvbkJxQpPZGu-Sc3P9n463Mt0Uvcx2zT4E7kdbb5mVeLoxvBhwFF86duoDdkbSgDKBNLw0sNY2jGbcLtR9R4n8_bvkChGHcvbSXiIi83cUpwGX2fFa52TQh7wnqblewu5w/s320/001a.jpg" width="320" /></a></div>
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Após a independência do Brasil com o brado "Liberdade ou Morte" proferido pelo Príncipe Regente D. Pedro no dia 7 de Setembro de 1822 nas margens do riacho Ipiranga, perto de S. Paulo, Portugal lançou-se na implementação de políticas de ocupação e desenvolvimento dos seus territórios africanos visando construir em Angola um segundo Brasil com população reinol.<br />
<br />
O esforço requeria uma vontade férrea face aos parcos rendimentos de um reino empobrecido, endividado e com grandes défices orçamentais. Os céticos opinaram o abandono puro e simples dos territórios e acabar com o Império. Se isso acontecesse, provavelmente, o Brasil ocuparia o espaço deixado pelos portugueses no que é hoje o território angolano devido ao peso que o tráfego de escravos exercia na economia do País e à influência dos traficantes lá fixados. O orgulho nacional fez avançar o projeto do império que tinha como objetivo a auto-suficiência desses territórios ultramarinos.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6QLoLU-epKaZL82xxCMT6B3-GtFPWvywt2VRb_vD-7_j9RXa9Ckws7Rp3Q-1WX5o91-g1kH9YNeinTWpMRL5C3SgUjj95kA-hHRYyDNDvW32ibGVC9ObHTOpiq6SOPZ5eeMe_2g/s1600/179631_1559184066163_1432132274_31167179_152535_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="220" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6QLoLU-epKaZL82xxCMT6B3-GtFPWvywt2VRb_vD-7_j9RXa9Ckws7Rp3Q-1WX5o91-g1kH9YNeinTWpMRL5C3SgUjj95kA-hHRYyDNDvW32ibGVC9ObHTOpiq6SOPZ5eeMe_2g/s320/179631_1559184066163_1432132274_31167179_152535_n.jpg" width="320" /></a>Relevante e histórica a presença dos pescadores algarvios no Sul de Angola. O grande historiador olhanense Dr. Alberto Iria na sua obra "Os caíques do Algarve no Sul de Angola", relata a ação desenvolvida pelos pescadores algarvios no Sul de Angola com incidência no antigo Distrito de Moçâmedes, hoje Província do Namibe, obra única de pesquisa, que nos leva ao conhecimento de uma época de crescimento económico do distrito cuja dinâmica se deve em grande parte às gentes do litoral algarvio lá fixados, e, ao seu instrumento de trabalho, o rápido caíque. Um cidadão inglê<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiN0S9l_ZrOO3X2Bz_hELsI7A6gMc8sw7CRi4TLh7kjm97F0CYGVM1CpvN_Ws1cMlkq52jMbXGutsDIiAhzo5wh0K7WafIqKZ5GHgYykKoe4uQxWTvddECwxDGL_q6oa-oy62cPAg/s1600/BomSuc1%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" eea="true" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiN0S9l_ZrOO3X2Bz_hELsI7A6gMc8sw7CRi4TLh7kjm97F0CYGVM1CpvN_Ws1cMlkq52jMbXGutsDIiAhzo5wh0K7WafIqKZ5GHgYykKoe4uQxWTvddECwxDGL_q6oa-oy62cPAg/s320/BomSuc1%25281%2529.jpg" width="320" /></a>s que veio fixar-se em Portugal em 1793, refere-se às excecionais qualidades dos homens do mar do Algarve, frisando serem os preferidos em Lisboa como remadores nos serviços do arsenal, da alfândega, nos navios de guerra e nas reais embarcações de recreio; em Gibraltar, os escolhidos para os barcos da guarnição inglesa, e, de uma maneira geral, para não fugir à regra, os escolhidos nos portos pelo Mediterrâneo. Eram uma presença no desenvolvimento da pesca e do comércio marítimo no litoral algarvio, no Mar do Larache em Marrocos, na costa Ocidental Portuguesa, no Mediterrâneo até ao Mar Negro. Íam do Algarve para o Sul de Angola em busca de outros mares, outras rotas, dirigidos pelos seus mestres, hábeis mareantes, destemidos, arrojados, intemeratos. Surgiria uma nova era de progresso no distrito de Moçâmedes com a fixação de populações nas praias a norte e a sul da vila, capital do distrito. <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcxFgDbj79Nzob-K7YNsAmYOmKuE58bMgyOqNC1R1W1HBHqAnQqQqxrXri2-mH91O3McgRbz8lvE4g-GtqY_O_LmcjrUB4mqaOiNe-S2MaARGD9B0EFC3CPvuq_b2PASGhi2ow-Q/s1600/72.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ea="true" height="280" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcxFgDbj79Nzob-K7YNsAmYOmKuE58bMgyOqNC1R1W1HBHqAnQqQqxrXri2-mH91O3McgRbz8lvE4g-GtqY_O_LmcjrUB4mqaOiNe-S2MaARGD9B0EFC3CPvuq_b2PASGhi2ow-Q/s400/72.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
Consultando os arquivos locais, o Dr. Alberto Iria relata de forma exaustiva, o movimento de cabotagem feito por estes barcos algarvios, que asseguraram durante décadas, o transporte do peixe seco pela costa angolana, até ao Gabão, Congo Francês, S. Tomé e Ilha de Stª. Helena onde Napoleão fora deportado. Mestres na navegação ao longo da costa, eram experimentados na instalação e manuseio das artes de pesca, peritos nas formas de conservação do pescado.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimf-3V8T1TRZGq81UMRGO8e-AYPYyPZtEfA0Ix8I08BcdOuu7qSsCVojpOfmpe9_AbcTflwS0qytUV2fYT6Bpiwug-QvkLZFu9Ud-tHSSw0tkrzjJIHKoVT_C7tFplWIkw3sgrow/s1600/GetAttachment.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ea="true" height="262" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimf-3V8T1TRZGq81UMRGO8e-AYPYyPZtEfA0Ix8I08BcdOuu7qSsCVojpOfmpe9_AbcTflwS0qytUV2fYT6Bpiwug-QvkLZFu9Ud-tHSSw0tkrzjJIHKoVT_C7tFplWIkw3sgrow/s400/GetAttachment.jpg" width="400" /></a></div>
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Fizeram de praias isoladas centros de pesca e criaram pequenas indústrias artesanais, como o óleo de fígado de cação e o de peixe seco que se tornou na grande indústria do distrito, que, por ser barato, passou a fazer parte da dieta dos africanos a juntar-se à fuba de milho e de mandioca, ao feijão, à batata doce, ao arroz ou a alguma carne que compravam ou obtinham da caça.<br />
<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglo3DMQoNyAMn1ErCsv98ECZnZrud8uc91by-3TIzuydEoYzry_yC0oD23uYd_WmNwuLvKOxR7VT7D1CgkUDBN20vbQTpyaw9VTeUvEeKAZGzuOPblmMdrYHvxwls1UPCbIzRIxg/s1600/168599_1559201146590_1432132274_31167232_5671597_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ea="true" height="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglo3DMQoNyAMn1ErCsv98ECZnZrud8uc91by-3TIzuydEoYzry_yC0oD23uYd_WmNwuLvKOxR7VT7D1CgkUDBN20vbQTpyaw9VTeUvEeKAZGzuOPblmMdrYHvxwls1UPCbIzRIxg/s400/168599_1559201146590_1432132274_31167232_5671597_n.jpg" width="400" /></a></div>
O peixe abundava em toda a costa. A pesca à linha rentável. Em 1868 já havia no Sul de Angola, mais do dobro das pescarias que os olhanenses lá encontraram à sua chegada. Eram dez naquele ano e, dessas, sete pertenciam à gente de Olhão.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEityyUCNQy4xW2sf-xPeMUNGvKAufdNBY2V10EAb4pV-xLDrnRslGFDdHwfgAkIHlSfx6-PMGjWVxnoNCwx9EHo3Se1o8QYccTsW5O1UcaXL3Daimg0MmV_jZ0gG24MOcURVY3QMQ/s1600/536763_404884066249336_2105865760_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="223" oea="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEityyUCNQy4xW2sf-xPeMUNGvKAufdNBY2V10EAb4pV-xLDrnRslGFDdHwfgAkIHlSfx6-PMGjWVxnoNCwx9EHo3Se1o8QYccTsW5O1UcaXL3Daimg0MmV_jZ0gG24MOcURVY3QMQ/s400/536763_404884066249336_2105865760_n.jpg" width="400" /></a></div>
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<br /></div>
Cerca de oitenta anos após a chegada dos primeiros caíques, surgiu um novo tipo de barco de pesca e um novo impulso no desenvolvimento económico no distrito de Moçâmedes. As redes enchiam agora o bojo de traineiras com toneladas de peixe; as mais pequenas com capacidade para 60 e 80 toneladas, as maiores de 120, uma de 150, propriedade do industrial Domingos Cuanhama, construída em Porto Alexandre nos estaleiros do portimonense José Alexandre em 1970 e duas de 200 toneladas que tinham como proprietário a empresa Ceal, construídas em Porto Alexandre nos estaleiros do vilacondense Carlos Sousa. Também a firma Sulangolana, Lda., mandara construir a sua, de 180 toneladas, mas esta em ferro. Compraria a Domingos Cuanhama a de 150 toneladas como estratégia para expansão de negócios. Era necessário abastecer as fábricas com pescado (matéria prima) para transformação em conservas, farinhas e óleos de peixe com destino aos mercados importadores, Alemanha e resto da Europa.<br />
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK2wx6FBqFiG9rR9izByF81kKQt0eJCxHhfz8WuMVDfFvWbDxjqqPSLuspFdQUjg0J9l51CvhyphenhyphenxwPzGdWKxWsv64_VTQrimWRP1DjryLBzhXOTrEO9WJQu-89-LL3MmO13DMlDQA/s1600/293816_540254742657047_554409669_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><em><img border="0" height="209" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK2wx6FBqFiG9rR9izByF81kKQt0eJCxHhfz8WuMVDfFvWbDxjqqPSLuspFdQUjg0J9l51CvhyphenhyphenxwPzGdWKxWsv64_VTQrimWRP1DjryLBzhXOTrEO9WJQu-89-LL3MmO13DMlDQA/s320/293816_540254742657047_554409669_n.jpg" width="320" /></em></a><em> </em><br />
<em>A traineira apresentada nesta foto tinha capacidade para 60 toneladas e pertencia à firma de Porto Alexandre "Tendinha & Irmão, Lda.; chamava-se "Harmonia", nome do caíque que pertencera à família Tendinha, de origem olhanense, nas primeiras décadas do séc. XX. Em 1976 agravou-se a guerra civil que assolava todo o território de Angola, com a sequente fuga da população. A população portuguesa ou de origem portuguesa que ainda permanecia preparou-se para abandonar o território. Urgia por a salvo o que restava de pessoas e bens. O "Harmonia" juntou-se a outras traineiras para rumarem ao porto da Namíbia Walwis Bay. Deste porto houve quem rumasse ao Brasil fazendo-se transportar nos seus barcos de pesca. Dezenas de traineiras e alguns pequenos atuneiros partiram com destino à cidade de Portimão, no Algarve. A meio do percurso juntou-se-lhes o "S. Gabriel", barco de carga da Marinha de Guerra Portuguesa, com combustível e mantimentos. Três dessas traineiras não chegaram ao destino, começaram a meter água e foram abandonadas e afundadas. Duas chegaram a reboque com os motores avariados. No Funchal, Ilha da Madeira, ficaram alguns atuneiros. No Algarve, "O Harmonia" mudou de nome, puseram-lhe "Miragem" porque havia outro barco de pesca com aquele nome; pescou na costa do Algarve e nos mares de Marrocos. As políticas europeias levaram-no ao abate quando prestava serviço nas pescas e se encontrava completamente restaurado pronto a novos desafios, acabando os seus dias com o nome de "Iona". Pertenceu sempre à família Tendinha, fixada em Faro e Olhão.</em><br />
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</div>
<br />
No auge do desenvolvimento da indústria dos derivados do peixe na década de 1960 até à fuga da população, que se iniciou em 1975, fuga essa devido à insegurança e ao caos imposto pela guerra civil que assolou todo o território angolano como já foi referido, a farinha de peixe era um dos produtos de maior exportação da ex-província portuguesa, provavelmente o segundo depois do café que chegou a ser a quarta produção mundial. A época das canoas, dos caíques e dos palhabotes à vela ficara no passado com testemunhos diretos a afiançarem um historial das suas existências.</div>
<span style="text-align: justify;"><span style="color: black;"><br /></span></span>
<br />
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgo8BIWRiYZvkV4B6th4fLLb7UrhXXmvxP6uaVvzzumja4PlqlM_f-_c6-sKwwQoA9IjHh7rORMuGj7h11aPA2XWWeQqXv3PKuc2aGpwv8VRfzhHXDYowNRx2nwJFP2EJS7-W6T6A/s1600/Porto_Alexandre_sized.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="280" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgo8BIWRiYZvkV4B6th4fLLb7UrhXXmvxP6uaVvzzumja4PlqlM_f-_c6-sKwwQoA9IjHh7rORMuGj7h11aPA2XWWeQqXv3PKuc2aGpwv8VRfzhHXDYowNRx2nwJFP2EJS7-W6T6A/s400/Porto_Alexandre_sized.jpg" unselectable="on" width="400" /></a><span style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Porto Alexandre, chamada pelos indígenas Bitolo Coroca e pelos ingleses Port Alexander, a Angra das Aldeias quando os portugueses lá chegaram, hoje cidade de Tômbua, tornou-se no maior porto piscatório de Angola, e, no contexto africano, considerado um dos maiores da África Ocidental. Elevada a cidade em 1961 a população aumentava à medida que a indústria dos derivados de peixe se ía desenvolvendo. Fora um dos tais centros piscatórios fundado pelos algarvios de Olhão por volta de 1863 quando ali aportaram para se fixarem com seus barcos de pesca e suas casas de madeira.</span></span></div>
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
<span style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;">A baía constituía um porto de abrigo seguro de águas normalmente tranquilas. Souberam coexistir com a hostilidade dos ventos ciclónicos do deserto, as garroas, que danificavam as frágeis casas de madeira que serviam de habitação.</span></div>
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
<br /></div>
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigJpSI3ZATpO7Yq2SHJRcx_W25d_xpoM520_7E-KDCMN39fBtyBC4CEguUDPjX69xKtSuLtg_05v_Cj5ROuXRGegMYZC36Rzh1wb7Pgi-2aEk1vQO0Vg-iMWlv5JsZmYMhJk3T4Q/s1600/106.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; height: 236px; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; width: 321px;"><img border="0" height="201" jea="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigJpSI3ZATpO7Yq2SHJRcx_W25d_xpoM520_7E-KDCMN39fBtyBC4CEguUDPjX69xKtSuLtg_05v_Cj5ROuXRGegMYZC36Rzh1wb7Pgi-2aEk1vQO0Vg-iMWlv5JsZmYMhJk3T4Q/s320/106.JPG" width="320" /></a>Moçâmedes, a actual cidade do Namibe, cresceu e alindou-se. No espaço antes deserto arenoso e praia de areia solta, plantada depois de pescarias e estaleiros, nasceu uma marginal que ligava a baixa da cidade ao cais comercial no Bairro da Torre do Tombo, e, em sentido contrário em direção às hortas desenvolveu-se um jardim com um kilómetro de extensão. Um matizado de plantas e flores emprestou-lhe o colorido. Tornou-se espaço de convívio da população aos domingos à tarde junto a um coreto que desapareceu subitamente e ingloriamente para dar lugar a um belíssimo tanque luminoso. <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNFKbxURXlyXGGOCUi0bu7gX0lizz3SUD2nxE40M2WypZZMPRbgUgrpVShIHEoWy1BHuu5kRrZXfVUVqW94PI7_v7TRlgOQjmrbvHi6Tbho63RNqLixZu4nRChJqxDzo-5SU3E2A/s1600/112.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="235" jea="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNFKbxURXlyXGGOCUi0bu7gX0lizz3SUD2nxE40M2WypZZMPRbgUgrpVShIHEoWy1BHuu5kRrZXfVUVqW94PI7_v7TRlgOQjmrbvHi6Tbho63RNqLixZu4nRChJqxDzo-5SU3E2A/s320/112.JPG" width="320" /></a>Dos tanques jorravam repuxos de água. <span style="color: black;">Corria um caramachão com bancos de madeira para os passeantes descansarem à sombra das bungavílias, e as palmeiras ofereciam-lhes o ar tropical. Atrás, a pouca distância, o azul marinho de um mar plácido a convidar ao lazer nos dias de verão. Instituíram as Festas do Mar, em Março, com a sigla dos três Ms (Moçâmedes, Mar e Março). A cidade é uma esquadria de ruas direitas e travessas a fazer lembrar a cidade pombalina de Vila Real de Santo António no extremo algarvio banhada pelo rio Guadiana com vista para a cidade de Ayamonte situada na outra margem, em Espanha.</span></div>
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Resta-nos saudar cá de longe do tempo a época áurea dos caíques, das canoas de pesca e dos palhabotes, os pioneiros da barca D. Ana da primeira leva da corrente migratória que se gerou a partir de Olhão em 1860, Francisco de Sousa Ganho, pai e filho, este apenas com 9 anos de idade, a esposa e mãe Maria Catarina Peixe, António de Sousa Ganho, irmão do primeiro, António Fernandes Peixe, Lourenço Fernandes Peixe e José Carne Viva que um dos seus descendentes, o senhor Gilberto de Carvalho, o identificou como José Martins e carne viva, alcunha. <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvQIZnpQOG-hfQfM7qd9zdJ7OPn0s1Z739LL5FXXGDjfg4a-AtD5XePXFbbgaRipe1QEFyVdSn95_Aj5T1rJyhxjThQcyIcDh-LpjMMVO4CgMbo5QUrLeTYiqV8aOtrzJP6KhjXg/s1600/431383_277298112383627_1704219846_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" oea="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvQIZnpQOG-hfQfM7qd9zdJ7OPn0s1Z739LL5FXXGDjfg4a-AtD5XePXFbbgaRipe1QEFyVdSn95_Aj5T1rJyhxjThQcyIcDh-LpjMMVO4CgMbo5QUrLeTYiqV8aOtrzJP6KhjXg/s400/431383_277298112383627_1704219846_n.jpg" width="400" /></a></div>
Saudemos os elementos da segunda leva da corrente migratória José Rolão, João da Cruz Rolão, Francisco da Cruz, Tomé do Ó, (sabe-se, hoje, pelo Dr. Alberto Iria ser esposo de Maria da Cruz Rolão, esta nascida em Olhão em 1817 e falecida em Moçâmedes a 21 de Setembro de 1890, com 73 anos de idade e que o sucedeu como regedora em Porto Alexandre após o seu falecimento ocorrido no dia 29 de Dezembro de 1872), e José Mendonça Pretinho.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBwA-C9Q6oUlkIAM408-GlBJGg3dlcVGubMIugHs98xI5wdlxsJtS5DHR5NPS5IzYACea1gQFJ02XxknAlga1Nd3sPDdpF8oW6DOySTMjp-Wo3RMOiJrcXBzCepBTn-SWYFiSY8A/s1600/264421_2155460735675_1521168505_2311341_766220_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ea="true" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBwA-C9Q6oUlkIAM408-GlBJGg3dlcVGubMIugHs98xI5wdlxsJtS5DHR5NPS5IzYACea1gQFJ02XxknAlga1Nd3sPDdpF8oW6DOySTMjp-Wo3RMOiJrcXBzCepBTn-SWYFiSY8A/s400/264421_2155460735675_1521168505_2311341_766220_n.jpg" width="400" /></a></div>
Saudemos todos aqueles que chegaram em barcos de pesca à vela, ou em vapores das companhias de navegação em carreiras regulares, famílias que transformaram o Sul de Angola numa terra de progresso intensivo. <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYohZyX7iLbF94JDddzwY3Z2Qgi1YQGrdNo6dBjuSjlLDvIhvkJMPMoPq0HTsDR9AAm_TvWQKSFrcipbdwerGqHPiM1-dAEJ24sy92GYEFKyMGkz0x1Rghk0Zlm6FIo0407XLSiA/s1600/scan_0003.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ea="true" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYohZyX7iLbF94JDddzwY3Z2Qgi1YQGrdNo6dBjuSjlLDvIhvkJMPMoPq0HTsDR9AAm_TvWQKSFrcipbdwerGqHPiM1-dAEJ24sy92GYEFKyMGkz0x1Rghk0Zlm6FIo0407XLSiA/s400/scan_0003.jpg" width="400" /></a></div>
Aos experimentados pioneiros das diversas artes de pesca, todas elas provenientes de Olhão, que criaram as condições para o desenvolvimento da indústria artesanal de uma forma rápida e permanente em resposta ao chamamento de políticos eminentes e da coroa à patriótica ação de povoar e desenvolver os territórios de África, visando fazer parar a corrente migratória para o Brasil que continuava a receber grande parte da emigração portuguesa.<br />
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
<br />
Escreve o Dr. Alberto Iria o seguinte texto, encontrado a páginas 98 da sua obra supra mencionada: «Ainda vi, em Porto Alexandre, no dia de S. Pedro em 1965, mas infelizmente já em ruínas, apenas com braços, caverna e roda de proa, no melancólico dizer, no saudoso lamento de um velho lobo do mar da minha terra, o que fora, outrora, o elegante caíque Florinda Costa, construído nos estaleiros de Olhão (no do mestre José da Graça, na banda do Levante, ou no do mestre João da Carma na banda da Barreta?) há muitos anos. Viera para Porto Alexandre com seu mestre e dono, Carlos da Costa Russo. Em 1913 por casual ironia do destino, deram-lha outro nome: o Desejado. Mais tarde ainda e antes de ser desmantelado, em 1961, chamaram-lhe Mondego. E assim acabou os seus dias o velho caíque Florinda Costa, o último da sua espécie a morrer no Sul de Angola, onde ainda ouvi os ecos das suas numerosas viagens para o ex-Congo Francês e ex-Congo Belga, além da habitual cabotagem entre os portos daquela nossa província».<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij3PDi6iAJAMLn6ir-7NlGzLyzZb1ZnDt45TdDOzf4yFQ0UAUfpQCGMr4gCtVfcuDvOmbCgm13JiSMjlcjGmRwYNjXfCZ4jFxPLRIDsnXL34ke3GU00IaRKj2CL5CCKuND7Mlf1g/s1600/03.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><em><img border="0" height="300" jea="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij3PDi6iAJAMLn6ir-7NlGzLyzZb1ZnDt45TdDOzf4yFQ0UAUfpQCGMr4gCtVfcuDvOmbCgm13JiSMjlcjGmRwYNjXfCZ4jFxPLRIDsnXL34ke3GU00IaRKj2CL5CCKuND7Mlf1g/s400/03.jpg" width="400" /></em></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<em> (Nesta foto uma panorâmica do deserto do Namibe e em relevo vários exemplares da planta Welwitschia Mirabilis, considerada a maior descoberta botânica do séc. XIX. Era chamada de Tômbua pelos indígenas, nome que prevaleceu para designar a cidade de Porto Alexandre após a independência. Esta planta só existe no deserto do Namibe e na Damarlândia no Sudoeste Africano, Namíbia (endemia). Na verdade parece personificar a sede naquele deserto extremamente seco)</em><br />
<br />
Cecílio Moreira, ao escrever sobre Porto Alexandre e seus fundadores, «os heróicos algarvios, os pioneiros da ocupação de todas as nossas baías a Sul e a Norte da cidade capital do distrito, os abnegados olhanenses», escreve: «Foram estes homens humildes do nosso povo que venceram a fome, a sede e o tremendo isolamento, escondidos entre as dunas e o mar, batidos constantemente pelo vento agreste, que fustiga sem piedade. Á falta de outros materiais, muitos construíram as suas primeiras e rudimentares habitações com ossadas de cetácios monstruosos, que em datas remotas e desconhecidas haviam dado à praia, no saco da baía. <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUxuh0DHiexusPgtH50YCIPkJ8Z4zsIUfnJV2UrlM3XKAVdthZaiqjUK2jB0zG31jwUzQuS77ahSGshWwdKCgPJLhMLDa7nevT4uhtlBgU3JuHdHsRraJraQkSob2W0gwWVyaIVw/s1600/75167_476357252395627_1649183816_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ea="true" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUxuh0DHiexusPgtH50YCIPkJ8Z4zsIUfnJV2UrlM3XKAVdthZaiqjUK2jB0zG31jwUzQuS77ahSGshWwdKCgPJLhMLDa7nevT4uhtlBgU3JuHdHsRraJraQkSob2W0gwWVyaIVw/s400/75167_476357252395627_1649183816_n.jpg" width="400" /></a></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgS8msNWcZN-B_1HhM4x21nknJmwStMFAmOrAR1efitYyro4BysIm7sV2vMkKE26gdnPxUIroesPfhsrvtrGqLnCJJGPDQSTQsAwva-bb0Nr1d-0dE6ZnkNT1XkOYztWvehE0pj8Q/s1600/TERRA11+tombua.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" jea="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgS8msNWcZN-B_1HhM4x21nknJmwStMFAmOrAR1efitYyro4BysIm7sV2vMkKE26gdnPxUIroesPfhsrvtrGqLnCJJGPDQSTQsAwva-bb0Nr1d-0dE6ZnkNT1XkOYztWvehE0pj8Q/s400/TERRA11+tombua.jpg" width="400" /></a></div>
Ainda hoje é frequente, em Porto Alexandre, encontrar-se, na demolição de antigas construções, aquele estranho material, usados pelos pioneiros da ocupação.O vento Leste provoca temperaturas bastante elevadas, são frequentes no meses de Abril a Junho. Chegam a durar semanas, causam muito mau estar, respira-se com difilculdade. Conseguem exterminar animais, fazem torcer os vigamentos e deteriorar os mobiliários.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0OPapkDiE5h6zPfS9xGBDwBmChG2fIQSkgKCaB4fa37FfHBYuM3mf8IXmb9S2TPlfB-zvPyTDetvFRwHJ-qh40Uu18W2kcVtG9xTKrcFYM1pjItZYLZIawpgZd50Nh32WU7Ssxw/s1600/TERRA13+tombua.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" jea="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0OPapkDiE5h6zPfS9xGBDwBmChG2fIQSkgKCaB4fa37FfHBYuM3mf8IXmb9S2TPlfB-zvPyTDetvFRwHJ-qh40Uu18W2kcVtG9xTKrcFYM1pjItZYLZIawpgZd50Nh32WU7Ssxw/s400/TERRA13+tombua.jpg" width="400" /></a></div>
O mar, abundante em pescado, parecia compensar, em parte, o sem-número de privações daquela gente audaz. Os alimentos eram confecionados com águas de cacimbas (poços) abertas na areia, a pouca distância da praia, com um grau de salinidade bastante acentuado». «Se o meio ambiente era difícil para os pioneiros de Porto Alexandre, que quase só viviam a bordo dos seus caíques, poderemos agora avaliar o que seria essa vida em terra, para as suas próprias mulheres e filhos».<br />
<br />
Mas o Dr. Alberto Iria não se quedou pelos arquivos para fazer História, visitou famílias algarvias, entrevistou-as em suas casas, colheu vasta informação. Escreve: «Em Moçâmedes, no dia de S. João em 1965, ainda me foi dado o prazer e a honra de visitar, em sua casa, um venerando homem do mar, natural de Olhão, já com 74 anos de idade, casado com D. Felicidade dos Santos Frota. Trata-se do senhor Januário Mendes Tendinha, nascido a 12 de Janeiro de 1891, na freguesia de N. Srª. do Rosário, filho de Januário António Tendinha e de Maria da Cruz Rolão Tendinha, prima-irmã da celebrada Regedora de Porto Alexandre Maria da Cruz Rolão. Veio para Moçâmedes a bordo no vapor Cazengo, apenas com 12 meses, na companhia de seus progenitores. Seu pai que chegou ser Regedor de Porto Alexandre, ali montou um estaleiro naval, contratado pelo mestre João Gregório Hungria, com mais dois calafates, e fez a travessia atlântica a bordo do caíque Harmonia. Este caíque, construído em Olhão nos estaleiros de mestre João da Carma, foi reparado e comprado em leilão, pelo pai do senhor Tendinha, e, mais tarde, vendido para o Lobito, onde foi transformado num barco motorizado com o nome de Nelson. O senhor Tendinha só depois de atingir os 21 anos é que teve licença oficial para governar o caíque Harmonia, durante cerca de 30 anos. É irmão do senhor Lordino Fernandes Tendinha, industrial de pesca em Porto Alexandre e ali presidente da Câmara».</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitPmEbMsx9xejoh9KZ2V4uiSMK-P2cJbXCwHP7L7vovPKGbRRb1wtl-_G5HKAgmA-ETS9RHhcFFwOgGrk3wjxg1m5toF5gv988dbTEp5vjrqogzZGzuripBXqvgwJTBrreLghGyw/s1600/Sousa+Ganho.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitPmEbMsx9xejoh9KZ2V4uiSMK-P2cJbXCwHP7L7vovPKGbRRb1wtl-_G5HKAgmA-ETS9RHhcFFwOgGrk3wjxg1m5toF5gv988dbTEp5vjrqogzZGzuripBXqvgwJTBrreLghGyw/s320/Sousa+Ganho.jpg" width="220" /></a>Sobre a família Sousa Ganho, chegados na barca D. Ana, que abriu caminho à corrente migratória de Olhão para Moçâmedes nos ídos de 1860, (vêr post "OS OLHANENSES A SUL DE BENGUELA"), conta-nos o Dr. Alberto Iria:</div>
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
«Francisco de Sousa Ganho era natural de Olhão e nasceu no ano de 1830 tendo falecido em Moçâmedes em 13/7/1895.( Moçâmedes, como sabemos, é a actual cidade do Namibe). Era filho de Francisco de Sousa Ganho e de Teresa de Jesus Ganho. Seu filho Francisco de Sousa Ganho Júnior (que fez a viagem na barca D. Ana com o seu pai e tios, com 9 anos de idade), era natural da freguesia de Stª. Isabel, Lisboa, nasceu a 11/11/1850. Eles íam na canoa de pesca para Moçâmedes mas conseguiram entrar na barca D. Ana. Estiveram na Baía das Salinas onde se dedicaram à pesca à linha e à extração de óleo de fígado cação. Rumaram depois para P. Alexandre (a actual cidade deTômbua) e Baía dos Tigres, sendo dos primeiros a fixarem-se nessas praias. O Júnior teve a sua primeira pescaria na Baía dos Tigres. Possuíam o caíque "Restaurador". Estiveram no Mocuio, Baía das Pipas, e Baba, onde possuíram uma "armação à valenciana", (a terceira que foi instalada no distrito). Foi o primeiro olhanense a construir uma casa em Moçâmedes». Conta, ainda o autor, o seguinte episódio passado na Praia do Sal:</div>
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_cs5Bf81syTUuITyDQwJhHZKuM1yCTyxA302nX6jUnnzalZR-j4sIyMy6FTIrsXbJbo7moSKyshPPdHlaIkipcHTqAf7ozPJqQtB3Qw-tlEDZvKyTO7mD4zXOQGtDX4t0Zx-k8g/s1600/Francisco+de+Sousa+Ganho+Junior.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_cs5Bf81syTUuITyDQwJhHZKuM1yCTyxA302nX6jUnnzalZR-j4sIyMy6FTIrsXbJbo7moSKyshPPdHlaIkipcHTqAf7ozPJqQtB3Qw-tlEDZvKyTO7mD4zXOQGtDX4t0Zx-k8g/s320/Francisco+de+Sousa+Ganho+Junior.jpg" width="228" /></a></div>
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
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<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
«Em 3 de Fevereiro de 1871, o olhanense Francisco de Sousa Ganho indemnizou Maria da Cruz Rolão por ter lançado ao mar as madeiras para construir uma casa e mais utensílios de pesca que Maria da Cruz Rolão desembarcava na Praia do Sal, a norte da Vila de Moçâmedes» e mais adiante afirma, «declarou perante testemunhas que promete sob palavra de honra viver bem com os seus vizinhos residentes na Praia do Sal ou em qualquer parte deste distrito». Maria da Cruz Rolão é a histórica Regedora de Porto Alexandre que se evidenciou pela coragem e mereceu ser refereciada pelos políticos da época. Segundo o autor reataram a amizade que sempre uniu as gentes de Olhão. Tornaram-se elementos integrantes da população de Porto Alexandre, possivelmente vizinhos porque a população era escassa. </div>
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
No "Livro de Registos de Passaportes de 1921" encontra o Dr. Iria a seguinte descrição: «Foi concedido passaporte de Moçâmedes para Lisboa a Tolentino de Sousa Ganho, médico, casado com D. Adelina Salvatério Santos, natural do Rio de Janeiro, Brasil, e a duas filhas Maria e Suzana, respectivamente de 7 anos e 14 meses». Recentemente o senhor Pedro Ganho corrige esta informação num comentário no post "OLHÃO-TERRA DE PESCADORES/NAVEGADORES, A MAIOR DIÁSPORA COLONIZADORA A SUL DE BENGUELA :«Permitem-me duas correcções: Tolentino de Sousa Ganho tinha uma filha Suzana e um filho Mário, meu avô. A minha avó era Adelina Salvatori Santos. Mário Ganho casou em Coimbra com D. Gracinda, tem hoje 96 anos, 23 netos e 6 bisnetos. Cumprimentos de Coimbra, Pedro Ganho».</div>
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
Estas fotos de Francisco de Sousa Ganho (pai) e de Francisco de Sousa Ganho Júnior (filho) foram oferecidas ao Dr. Alberto Iria pelo Dr. Tolentino de Sousa Ganho e consta do livro que referenciamos. </div>
Gratos, ficamos, pois, ao senhor Pedro Ganho pela correção, cujo erro se deve certamente à perceção do autor à letra do registo ou ao lapso da descrição.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjF5x516tjM4D2xLd3IoESEp484MiY0B_-RITnO7ygeiwHZ2VrZUjGEVLi2c9ctZQI_UlB_UmgR3LigP4WbkD-FikklAMprMjn9atfSDeKdCptb9-lN8HL5Bw6C_fQBMLlyENTnSA/s1600/224336_167644743296823_100001538940741_422419_2217443_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ea="true" height="205" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjF5x516tjM4D2xLd3IoESEp484MiY0B_-RITnO7ygeiwHZ2VrZUjGEVLi2c9ctZQI_UlB_UmgR3LigP4WbkD-FikklAMprMjn9atfSDeKdCptb9-lN8HL5Bw6C_fQBMLlyENTnSA/s400/224336_167644743296823_100001538940741_422419_2217443_n.jpg" width="400" /></a></div>
Lembra-se o senhor Alberto Gomes da Baía das Pipas, hoje com 92 anos de idade, terem existido a residir na Baía das Pipas antes dos anos 1960, dois membros da família Sousa Ganho, o senhor Sobriano Ganho e o senhor Ângelo Ganho. Sobriano Ganho dedicava-se à pesca da mariquita (espécie de sargo), com gaiolas. Veio definitivamente para Portugal quando começou a falhar o peixe e uma grave crise de pescado se instalou e se prolongou por mais de um ano, e Ângelo Ganho que foi para Porto Alexandre para sócio da empresa J. Patrício Correia. Havia nessa empresa um sobrinho deste chamado Fernando Ganho, filho de Sobriano que exercía a profissão de soldador na fábrica de conservas. Em Moçâmedes trabalhava como guarda-livros (contabilista) Gilberto Ganho. No desporto moçamedense evidenciava-se outro elemento desta família, o conhecido hoquista do Atlético Clube de Moçâmedes Tolentino Ganho. J. Patrício Correia não resistiu à grave crise de pescado que se abateu sobre aqueles mares e acabou por falir como faliram algumas outras empresas dedicadas à transformação do pescado. Pensa-se, hoje, ter sido o ainda desconhecido El-Ninho o causador da falta de peixe no Atlântico com o aquecimento das águas e a consequente emigração das espécies ou o seu mergulho para águas mais profundas, fenómeno que se repetiu posteriormente noutros oceanos e que foi devidamente identificado com o El-Ninho.<br />
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Não nos podemos esquecer de referenciar os colonos de Pernambuco da primeira e da segunda colónia agrícola chegados em 1849 e 1850, os fundadores de Moçâmedes que se lançaram também na captura do pescado e na comercialização do peixe seco. Manuel José Alves Bastos e sua esposa D.Amélia do Carmo Torres Bastos, proprietária do caíque "Amélia", são nomes que o Dr. Alberto Iria referencia como grandes impulsionadores da actividade piscatória em conjunto com os olhanenses. Mas são estes que continuam a chegar em grande número nos seus barcos de pesca ou em vapores. Deram novo alento à agricultura, mergulhada no marasmo pela escassez de consumidores. Alguns autores acreditam que os algavios acabaram por salvar a agricultura da ruína. Hoje escreve-se sobre a colónia agrícola de Moçâmedes como uma das muito poucas colónias agrícolas de sucesso dirigidas pelo Estado em todo o espaço angolano. Mas esse sucesso deve-se em parte ao grande número de algarvios que chegavam. Fixaram-se nas praias a Sul de Benguela, fundaram empresas e criaram os alicerces de uma nova economia no distrito cujo desenvolvimento se tornou rápido e imparável.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEishc38KSh3-RRLll4YdEIx0inb2bmMHZlJtcQ-z6gykYhYdgZJt_hbmLz55JLEQX8P3CfOlGvYJK_cKis0_2IqaFVXNPbyYZItz1BJzvp0xURgAMQUA7cwlnMf1g_lXUrl7BGOkg/s1600/Mocuio-Jo%C3%A3o+Tom%C3%A1s+da+Fonseca.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ea="true" height="261" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEishc38KSh3-RRLll4YdEIx0inb2bmMHZlJtcQ-z6gykYhYdgZJt_hbmLz55JLEQX8P3CfOlGvYJK_cKis0_2IqaFVXNPbyYZItz1BJzvp0xURgAMQUA7cwlnMf1g_lXUrl7BGOkg/s400/Mocuio-Jo%C3%A3o+Tom%C3%A1s+da+Fonseca.jpg" width="400" /></a></div>
<em> (Nesta foto vemos instalações industriais da empresa João Tomás da Fonseca na Praia do Mocuio, cerca de 20 Kms. a norte da cidade do Namibe. Algarvio da cidade de Portimão foi um dos grandes empreendedores do distrito de Moçâmedes, "criador de um pequeno império").</em><br />
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As gerações foram-se sucedendo. Famílias havia que contavam quatro e cinco gerações de naturais cujos elementos exerciam as mais variadas profissões. As empresas eram como que "escolas de formação técnico-profissional" onde se formavam desde mecânicos a eletricistas, de calafates a "guarda-livros", os contabilistas de então. Alguns, estudaram na Metrópole onde encontraram o seu futuro. Um "regresso" por conveniência profissional. A grande maioria fizera da Terra de Promissão dos seus pais e avós a sua Terra, lutaram por um futuro com o estímulo de construirem algo para si e para os seus vindouros. Um futuro que se pensara promissor para muitas e muitas gerações naquele sol e naquele mar angolano.</div>
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Em 1925 o Governo da República Portuguesa, por portaria publicada no Diário do Governo, louva o esforço dos colonos olhanenses naquela região angolana e desloca-se a Olhão elementos da Liga Nacional Pró-Colónias para escolha de um local onde se iria erigir um monumento aos colonizadores olhanenses do Sul de Angola, projeto que, infelizmente, não foi concretizado. Resta-nos o consolo de, ao percorrermos as ruas de Olhão, olhando as suas placas, podermos notar um nome que é memória e símbolo de tenacidade da mulher olhanense, viveu o desenvolvimento daquelas terras do deserto na segunda metade do séc XIX, lá faleceu, foi mencionada e enaltecida pelos políticos da época que a tornaram heroína e um exemplo de coragem; ficou uma simples placa e um nome, apenas, numa rua da Terra-Mãe de Olhão, a provocar uma ténua lembrança de um segmento da sua história heróica, pequeno memorial, ante a grandeza dos feitos, sofrimento e abnegação da diáspora olhanense no Sul de Angola: a Rua de Maria da Cruz Rolão, a célebre Regedora de Porto Alexandre.<br />
(Créditos de imagem do blog: <a href="http://www.princesa-do-namibe.blogspot.com/">www.princesa-do-namibe.blogspot.com</a>) de Nídia Jardim. As Fotos de Porto Alexandre teem referência à nossa conterrânea Lay Silva que, desde já, agradeço.)</div>
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<img height="66" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTB3KTLpaUr37WmwVS2zWSqUx2WVU5wQm5prO5xx0MgszM7DPpTId5mzgWmhsZYZi-UBT66lnaZZxkxxDxG4A2fEmQRbSg7bB7Dx1cO_99i2iQqGp2lwRSfbRLjUbUwfAd2ONVdA/s320/1865_-%257E1.JPG" style="filter: alpha(opacity=30); left: 187px; mozopacity: 0.3; opacity: 0.3; position: absolute; top: 251px; visibility: hidden;" width="96" /><br />
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<img height="67" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgo8BIWRiYZvkV4B6th4fLLb7UrhXXmvxP6uaVvzzumja4PlqlM_f-_c6-sKwwQoA9IjHh7rORMuGj7h11aPA2XWWeQqXv3PKuc2aGpwv8VRfzhHXDYowNRx2nwJFP2EJS7-W6T6A/s320/Porto_Alexandre_sized.jpg" style="filter: alpha(opacity=30); left: 195px; mozopacity: 0.3; opacity: 0.3; position: absolute; top: 1969px; visibility: hidden;" width="96" /><img height="67" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgo8BIWRiYZvkV4B6th4fLLb7UrhXXmvxP6uaVvzzumja4PlqlM_f-_c6-sKwwQoA9IjHh7rORMuGj7h11aPA2XWWeQqXv3PKuc2aGpwv8VRfzhHXDYowNRx2nwJFP2EJS7-W6T6A/s320/Porto_Alexandre_sized.jpg" style="filter: alpha(opacity=30); left: 181px; mozopacity: 0.3; opacity: 0.3; position: absolute; top: 1979px; visibility: hidden;" width="96" /><br />
<a name='more'></a>Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-90000871762605865672011-07-27T17:17:00.093+01:002014-10-20T23:34:45.949+01:00Biografia de JOSÉ JOAQUIM DE MATEUS DA GAMA<div align="center">
Texto de António Gama - Micro-biografia do meu AVÔ PATERNO.<br />
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UM POUCO DA SUA HISTÓRIA</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-n3SdWjmVsJp-7MjNfuvbKPiYGganhLvjP9-wkCyIKgHoCDwzlGDrqX6f8hNEnx1oUb5pKIs2K55H7CP1JPSPADCBQYd77RmP1LT5MVFJYWTC3gU4qgbEFgerNxaol1yShBydiQ/s1600/264044_1833182954814_1397610893_31614493_3340374_n.jpg"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-n3SdWjmVsJp-7MjNfuvbKPiYGganhLvjP9-wkCyIKgHoCDwzlGDrqX6f8hNEnx1oUb5pKIs2K55H7CP1JPSPADCBQYd77RmP1LT5MVFJYWTC3gU4qgbEFgerNxaol1yShBydiQ/s320/264044_1833182954814_1397610893_31614493_3340374_n.jpg" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5641714231852025522" style="cursor: hand; float: left; height: 320px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 248px;" /></a><strong><em>José Joaquim de Mateus da Gama</em></strong>, é, sem dúvida, uma das maiores figuras militares de Angola. Homem de alta envergadura moral e intelectual, paladino intemerato que, nas horas decisivas do perigo, sempre se afirmou pelos seus rasgos de audácia, como cavaleiro andante da dignidade nacional.<br />
Pela primeira vez, desde 1885, o Governo de Lisboa, decide encarar de frente o problema da fronteira Sul de Angola, deixando-se, por uma vez, de mais improvisações. Incumbe aos Generais <em>Mateus da Gama</em> e <em>Pereira d´Eça</em> de organizar a expedição, ao mesmo tempo que lhes faculta todos os meios que empresa de tal envergadura exige. Para que mesmo em Angola o empreendimento tenha todo o apoio, <em>Mateus da Gama</em> exerce as funções de <strong><em>Comandante</em>-<em>Chefe</em></strong> e <em>Pereira D'Eça</em> as de <strong><em>Governador-Geral</em>.</strong><br />
Foi necessário, não é demais repetir-se, o sacrifício de colunas inteiras, o martírio de funentes e missionários, a paralização total das trocas comerciais nas regiões em litígio, para que o Governo Central - (Terreiro do Paço - Lisboa) acordasse do sono letárgico de que estava possuído desde 1885, para não ir mais atrás no tempo.<br />
<em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTW75JqbFvAqG86eQVAu39BkL0cDKukZxdclBkb0caN-dMfVCSpLiU17et-0wv6HvwsOpJpqWFu3Td_jV-ZHNsIo7Pa3z9jh2fRb-wtm6GvkymNnfq7WhDaOkVQpxZfBp2R5Yukw/s1600/ph_exped.jpg"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTW75JqbFvAqG86eQVAu39BkL0cDKukZxdclBkb0caN-dMfVCSpLiU17et-0wv6HvwsOpJpqWFu3Td_jV-ZHNsIo7Pa3z9jh2fRb-wtm6GvkymNnfq7WhDaOkVQpxZfBp2R5Yukw/s320/ph_exped.jpg" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5641751268579221442" style="cursor: hand; float: left; height: 228px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 300px;" /></a>Mateus da Gama</em> - Homem de Angola - tinha um ar marcial e uma vontade férrea, a par de qualidades ímpares de comando que o impunham naturalmente a militares e civis. Disciplinado e disciplinador, mal andava quem desafiasse a sua autoridade. </div>
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<span style="color: black;">Do plano de operações de <em>Mateus da Gama</em>, que começara a ser elaborado logo após os trágicos acontecimentos de Naulila e sob o influxo da confiança que lhe fora reiterada pelo Governo Central, fazia parte a ocupação do Cuanhama. </span>Mas, em telegrama de 5 de Fevereiro de 1915, tendo mudado o Ministério, era aceite a sugestão, por ele mesmo apresentada, de, em face da importância das forças em operação, ser confiado o comando a um oficial de grande determinação e de superior patente. Esse oficial foi <em>Mateus da Gama</em> que, por motivo do insussesso de Naulila e da desorganização que dele resultou, encontrou logo de início enormes dificuldades a vencer. «Foi por isso que três longos meses se passaram em trabalhos de preparação e organização, porque tínhamos de garantir condições de vida a 12.000 homens (incluindo uma parte da população civil) e 3.000 solípedes, e eficiência combativa a perto <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjG8fGQg_NA9Ut1p6YK9WO3QR2mKYnWsiCl0BxHXMC8IEDZ1jzIDQpthNjdRG10CHcU8MmnAwmKQSRoE7kiLl-eX08qmTvNcJu0wkPoEZefuGUwjFqA_457y8k_cfFYCyo9WBiH7w/s1600/Baixo+Cunene.jpg"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjG8fGQg_NA9Ut1p6YK9WO3QR2mKYnWsiCl0BxHXMC8IEDZ1jzIDQpthNjdRG10CHcU8MmnAwmKQSRoE7kiLl-eX08qmTvNcJu0wkPoEZefuGUwjFqA_457y8k_cfFYCyo9WBiH7w/s320/Baixo+Cunene.jpg" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5641723703272757842" style="cursor: hand; float: left; height: 230px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>de 5.000 homens que tinham de operar, na melhor das hipóteses, a 500 quilómetros da base de desembarque (Moçâmedes).» Só nesta pequena cidade do litoral, base marítima das operações, encontravam-se, acantonados ou bivacados, dois Batalhões de Infantaria, quatro Baterias de Artilharia e outras Unidades de Artilharia e Metralhadoras; e, além destas, havia tropas espalhadas pelo Capelongo, Cahama, Forno da Cal, Tchiapepe, Otchinjau, Chíbia, Humpata e Lubango.<br />
O problema, sendo efectivamente de caracter material, não o era menos de caracter moral, pois o insucesso de Naulila tivera uma perniciosa influência, não só sobre as forças militares que haviam entrado em acção, mas ainda sobre todas as tropas da retaguarda e sobre as populações civis. A um e outro aspecto era indispensável atender rapidamente e sem a menor hesitação. E <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6QLoLU-epKaZL82xxCMT6B3-GtFPWvywt2VRb_vD-7_j9RXa9Ckws7Rp3Q-1WX5o91-g1kH9YNeinTWpMRL5C3SgUjj95kA-hHRYyDNDvW32ibGVC9ObHTOpiq6SOPZ5eeMe_2g/s1600/179631_1559184066163_1432132274_31167179_152535_n.jpg"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6QLoLU-epKaZL82xxCMT6B3-GtFPWvywt2VRb_vD-7_j9RXa9Ckws7Rp3Q-1WX5o91-g1kH9YNeinTWpMRL5C3SgUjj95kA-hHRYyDNDvW32ibGVC9ObHTOpiq6SOPZ5eeMe_2g/s320/179631_1559184066163_1432132274_31167179_152535_n.jpg" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5649879952660926146" style="cursor: hand; float: left; height: 222px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>foi em luta com obstáculos tremendos - que qualquer outro consideraria invencíveis, - que começou a revelar-se, em toda a sua energia, a personalidade do velho chefe, a quem fora confiada a direcção das operações no Sul de Angola.<br />
<strong><em>Cumpria-lhe recuperar o território abandonado, restaurando assim o nosso prestígio perante o gentio; fornecer aos governadores do distrito elementos para prontamente poderem sufocar qualquer rebelião; e, finalmente colocar as forças de que dispunha em condições de poderem fazer face a qualquer nova investida alemã, vingando o insucesso de Naulila, cooperando tanto quanto possível com as tropas aliadas da África do Sul e preparando simultaneamente a ocupação do Cuanhama.</em></strong><br />
<img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEis3G2mZJBPIK5oTPdRwqz9AMFmrtDZKiArWwBYSEDj5CP2X3eTgjtoOnOMYHTAMdqB89m9bVUu8PrpKCucBtef6lrvcMdKuqUfgfQrsQSstfKjeaV5W8JeEOFtmuiidonnvJ9ulg/s320/ph_cavalaria.jpg" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5641759679849029682" style="cursor: hand; float: left; height: 213px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 300px;" />Nas operações a que a efectivação de tais objectivos daria lugar, impunha-se como primacial a reocupação do Humbe, importantíssimo nó de comunicações, de onde seria possível cobrir o Planalto da Huíla, atacar os alemães, se estes tentassem novas incursões, avançar sobre o Cuanhama e, ainda mesmo, se a ocasião se apresentasse favorável, partir para a invasão da Dâmara.<br />
Agravando a situação, acrescia que, por falta de chuvas, nos últimos quatro anos, reinava a fome no Sul. E, acima de tudo, peando a acção do comando, a nossa posição internacional estava longe de ser definida e em termos de poder determinar, da parte desse mesmo comando, um procedimento pronto, claro e sem hesitações.<br />
Não paravam ainda aqui, porém, os obstáculos com que teria de contar a vontade férrea de <em>Mateus da Gama.</em> Não eram só os Alemães e o gentio rebelado que, após Naulila, haviam praticado atrocidades sobre os europeus, especialmente no Humbe e no Evale; tinha também de estar vigilante para com os Boers, que, à excepção dos mais antigos se achavam prontos a dar as mãos aos alemães, revoltando-se contra nós<em>. </em>Por todas essas razões se impunha, <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPKf986qk2fiYYyULGNbXeSCEdpV3shn_djeJrW6lKYDEjuyQuUqmNPzIYEN4RgN33uBGGDC-dsu9qBV73Gsl2PWwO4WDju-twTcr9UM37UOksmGmP4iocpo9Yvz6gqMQhyful0A/s1600/PONTE_%257E1.JPG"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPKf986qk2fiYYyULGNbXeSCEdpV3shn_djeJrW6lKYDEjuyQuUqmNPzIYEN4RgN33uBGGDC-dsu9qBV73Gsl2PWwO4WDju-twTcr9UM37UOksmGmP4iocpo9Yvz6gqMQhyful0A/s320/PONTE_%257E1.JPG" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5641763140243394802" style="cursor: hand; float: left; height: 214px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>como necessidade premente e imediata, a reorganização das linhas de comunicação, na extensão de 1.200 quilómetros, nos teatros de operações dos vales do Cunene e do Cubango. Para poder deslocar as forças, os abastecimentos e as munições até esses pontos afastados do interior, dispunha-se somente de um Caminho de Ferro de via reduzida, cuja construção à data apenas atingira a base da serra da Chela.<br />
Contava-se que <em>Mateus da Gama</em>, verificando o rendimento quase nulo dessa via, mandara chamar a Vila Arriaga o <em>engenheiro Artur Torres</em> e lhe pusera a questão em meia dúzia de palavras:- necessito de uma estrada que vença rapidamente a serra... e acompanhou as suas palavras do gesto de quem pretendia atacar, à romana, o formidável acidente geográfico que se apresentava à sua frente.- O que V. Exª quer é uma escada e isso eu não sei fazer!...<br />
<strong><em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMi84wcfpPwbuJwt1wQxs1LOK0EtuCKZnZo1zz0QbZbuh7Pk1VTzJjfRJ9dQbEUOncXTFWB3mPcGOQesvbq2EKwqQtXybk_QNZOA_Wj6dAVPItVaS6hGa4-gwk5Vm6y57P_tRtng/s1600/MO_CER%257E1.JPG"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMi84wcfpPwbuJwt1wQxs1LOK0EtuCKZnZo1zz0QbZbuh7Pk1VTzJjfRJ9dQbEUOncXTFWB3mPcGOQesvbq2EKwqQtXybk_QNZOA_Wj6dAVPItVaS6hGa4-gwk5Vm6y57P_tRtng/s320/MO_CER%257E1.JPG" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5641747287638135394" style="cursor: hand; float: left; height: 201px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>Mateus da Gama</em> impacienta-se. Encaram-se novas soluções. Em face da grandiosidade do objectivo a alcançar, as duas inflexíveis vontades chegam, por fim, a um acordo conciliatório. E, tendo-lhe sido fornecidos alguns milhares de trabalhadores, dentro de poucos meses o engenheiro Torres - um dos grandes servidores do Sul de Angola - entregava aos comandos das tropas uma estrada que subia a Chela e era, tecnicamente considerada, uma verdadeira maravilha de engenharia.</strong><br />
Em 18 de Abril, <em>Mateus da Gama</em> realiza a sua primeira visita de inspecção às unidades estacionadas no Planalto. Já nessa altura ninguém podia duvidar de que à frente das forças militares se encontrava um homem de rara firmeza e energia, inteiramente disposto a fazer frente a todas as contrariedades e na intenção inabalável de as jugular. Numa reunião de oficiais, convocada no Lubango, o velho chefe, que na alma e no corpo possuía a fibra de um Viso-rei, dissera estas secas palavras: - «Meus senhores, mandei-os aqui reunir para lhes dizer que no meu dicionário foi banida a palavra dificuldade. Podem retirar-se!»<br />
Ía passar à acção. Já no Tchipelongo a marinha, comandada pelo <em>tenente Afonso Cerqueira</em>, trocara os primeiros tiros, em defesa da Missão católica, ameaçada pelo gentio! A atmosfera era de guerra!</div>
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Faltava apenas proceder aos necessários reconhecimentos, não só para averiguar da situação, mas ainda para avaliar dos recursos locais. Em 15 de Junho estava <em>Mateus da Gama</em> de novo no Planalto, acompanhado dos seus colaboradores de confiança, visitando a Quilemba, o Lubango, a Chíbia, a Quihíta, os Gambos, o Pocolo e o Tchiapepe, avançando até quase às portas do Humbe, à Cahama e Chicusse! Viajava de qualquer forma: em camião, empoleirado nos sacos de carga, sem cama e sem trem de cozinha. Os chauffeurs civis tremiam de o acompanhar. Sobre alguns que tentaram sabotar os carros para não avançarem, esteve iminente a ameaça de um pronto fuzilamento! O Sul de Angola tinha, finalmente o seu homem, - (um homem de Angola). Os soldados hipnotizados pela sua energia, excediam-se em todos os cometimentos a que metiam ombros.</div>
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Para o Alto Cunene partira, em reconhecimento da região Gambos, Mulondo, o malogrado <em>capitão Sebastião Roby,</em> que ali encontrou a morte em luta heroica com o gentio.</div>
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E agora, uma vez dada a ordem para a constituição dos destacamentos que haviam de ocupar o Humbe e a Donguena, essas colunas partiram ao seu destino, a primeira comandada pelo coronel Veríssimo de Sousa e a segunda pelo <em>major de cavalaria Vieira da Rocha</em>. Em 7 de Julho as duas forças penetravam no Humbe, cuja Fortaleza e habitações tinham sido pasto do fogo lançado pelo gentio.</div>
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Dissolvidos esses destacamentos e constituído o comando militar do Humbe, que foi confiado ao <em>coronel Veríssimo de Sousa</em>, em 9, <em>Mateus da Gama</em>, em pessoa, acompanhado por uma numerosa escolta de oficiais e tropas montadas, atravessou o Cunene, em reconhecimento ao Forte Roçadas, destruído por explosão na retirada que se seguira a Naulila.</div>
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De regresso ao Planalto, com o fim de impulsionar a marcha das unidades ali estacionadas, <em>Mateus da Gama</em> é surpreendido com uma notícia que fortemente o contraria. «Recebi no Lubango um telegrama participando que os alemães da Damareland se tinham rendido ao <em>general Botha</em>, e com verdade devo dizer que foi esta a notícia mais desagradável que em toda a campanha me chegou. Mas, como o homem põe e Deus dispõe, necessário era adaptar-me à nova situação, encará-la tal como os factos a apresentavam e tomar imediatamente as medidas correlativas. Ficava só em campo o gentio, tinha-se simplificado consideravelmente a minha tarefa, mas nem por isso ela teria ficado, como à primeira vista poderá parecer, uma tarefa fácil». </div>
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Daqui resultou que as tropas que operavam na direcção de Cassinga foram mandadas retroceder para o Capelongo, passando a constituir o destacamento do Evale, além deste, mais três destacamentos se organizaram: o do Cuanhama, o do Cuamato e o de Naulila. </div>
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Ao destacamento do Evale competia dirigir-se sobre o Quiteve, batendo o Mulondo e o Cafu, e atravessar o rio Cunene para actuar sobre a embala do Evale; o destacamento do Cuanhama atravessaria o Cunene, no vau da Chimbua, tendo como objectivo a embala de Ngiva, para a conquista do Cuanhama; o destacamento do Cuamato cruzaria o Cunene junto ao Forte Roçadas, procurando reocupar o Forte do Cuamato; e, finalmente, o destacamento de Naulila desceria pela margem direita do Cunene, operando na região da Hinga e dirigindo-se depois ao Cuamato, em cuja coluna se encorporaria. O Quartel General mantave-se nos Gambos, a utilizar os preparativos das operações, e deslocou-se em 6 de Agosto para a base geral do Humbe.</div>
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<em>Mateus da Gama</em> acompanhava o destacamento do Cuanhama, escolhendo para si o Posto de maior responsabilidade: «Tudo me levava a crer que o destacamento do Cuanhama seria o que encontraria maior resistência, por isso o acompanhei».</div>
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Preparando e esclarecendo o avanço das colunas, haviam sido lançados para a frentes pequenos reconhecimentos,que, nem por serem de pequena guerra, deixaram de ter marcado valor. Desde fins de Janeiro que o <em>alferes Sarmento Pimentel</em> policiava os caminhos que da Cahama conduziam ao Cunene, estendendoo a vigilância pela Donguena e foz do rio Ondoto. A sua descoberta, dirigida sobre os vaus de Schwartz-Boy-Drift e Calueque. figura como serviço de raro mérito, pela valentia e resistência manifestadas pelos seus executantes: «Nem a fome nem a sede abateram a moral dos soldados que, durante dois dias, comeram carne de zebra com fava e milho cozidos, bebendo água detestável».<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgA653Q0DcH8Zz45jWch_Zbvy-tRLq9Tf3URS6Ba3g7o-dP88aLdI7eyyoWyh65NmSWRCtw4XTbBT9ieUL5pRoPCaH4E6xwrg0qNQ98FLQNx9lwc-QJcNDtPtFRW2oBKO6lnDC-qw/s1600/boers+1.jpg"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgA653Q0DcH8Zz45jWch_Zbvy-tRLq9Tf3URS6Ba3g7o-dP88aLdI7eyyoWyh65NmSWRCtw4XTbBT9ieUL5pRoPCaH4E6xwrg0qNQ98FLQNx9lwc-QJcNDtPtFRW2oBKO6lnDC-qw/s320/boers+1.jpg" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5641714859049326850" style="cursor: hand; float: left; height: 197px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>Em 7 de Julho iniciava este audacioso oficial, à testa dos cavaleiros boers, uma luta irregular de surprezas, de incursões fulminantes, aparecendo, ainda, de noite em frente das libatas. «Os boers, - afirmava no seu relatório - são bons guias e auxiliares desembaraçados, conhecem como ninguém o Sul de Angola, são todos afrikanders, desejando acima de tudo a independência do Transval os antigos, da União Sul Africana os novos. Alguns deles eram afectos aos Alemães, por estes lhes prometerem a independência, e outros a troco de recompensas». Terminados os trabalhos preparatórios, as colunas partiram do Humbe ao seu destino.<br />
A coluna do Cuamato passa o Cunene e alcança em 13, o Aucongo, com ligeira resistência do gentio, atingindo sucessivamente o Damequero e a Inhaca e entrando no Forte do Cuamato em 15. O Forte, embora saqueado, não fora desmantelado, mas os edfícios do comando e os particulares achavam-se em ruínas. A coluna do Evale, tendo partido do Mulondo em 11, atingiu o seu objectivo, sem maior resistência, havendo encontrado em bom estado as fortificações do Quiteve, Cafú e Evale. Por sua vez o destacamento de Naulila atingia o Vau Calueque, batendo, juntamente com os auxiliares boers, a região da Hinga e estacionava no local de combate de Naulila. A descrição do terreno da acção atinge proporções verdadeiramentes arrepiantes e macabras: «Os Portugueses mortos em combate parece-me estarem enterrados no fosso da Fortaleza, por alguns vestígios de roupas e tendas rasgadas que lá existem. Também se vêm numa árvore caída perto do Forte, seis cordas pendentes que serviram para enforcar gente...uma delas ainda segura uma cabeça, que é de um preto». Ali tinham padecido morte ignóbil os heróicos Landins de Moçambique, que se haviam batido como leões, sem que tivesse havido respeito pela sua qualidade de soldados, regulares e uniformizados.<br />
Na coluna do Cuanhama, a mais forte de todas, por ter de se defrontar com a maior resistência, ía encorporado o <em>Quartel General de Mateus da Gama</em>. Tendo saído em 12 do Humbe, atravessou o Cunene no Vau de Chimbua e cursou dificultosamente as chanas arenosas das Palmeiras, da Garrafa, da Cachaqueira e da Cauncula. As patrulhas da cavalaria de segurança informaram que os Cuanhamas se concentravam junto das cacimbas da Môngua. E no dia 17 o destacamento, ainda em marcha, viu-se forçado a adoptar o dispositivo de combate. </div>
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Na manhã de 18, um pelotão de infantaria indígena de Moçambique, acompanhado pelo valoroso <em>tenente Humberto de Ataíde</em>, Comandante da Companhia saía para ocupar as cacimbas e para reconhecer o local mais conveniente para a construção de um Forte. E,logo na orla do mato, foi violentamente atacado, vendo-se forçado a retirar. O mesmo aconteceu aos auxiliares indígenas do <em>capitão Ferreira do Amaral</em>, que haviam saído do quadrado para verificar a direcção da retirada do inimigo. </div>
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Dois Esquadrões de Cavalaria penetram no mato, onde encontram viva resistência, tendo sofrido baixas, entre os quais o <em>alferes Damião Dias</em>, cujo cadáver foi mais tarde encontrado, barbaramente mutilado. O regresso da Cavalaria ao quadrado, depois de ter repelido vitoriosamente o inimigo, dá origem a manifestações de entusiasmo. O grande consumo de munições exigia contudo pronto reabastecimento. O <em>alferes Costa Andrade</em> parte de camião para a base do Humbe a reclamar o envio de munições, especialmente de artilharia, víveres e água, sendo encarregado de mandar transmitir ao destacamento do Cuamato a sugestão de efectuar uma demonstração sobre Ngiva, a fim de provocar a divisão das forças inimigas. No dia seguinte o valoroso oficial regressava ao quadrado, conduzindo um comboio de três camiões, com munições, víveres e forragens. A falta de água, porém, continuava a fazer-se sentir duramente. Por isso, em 19, o quadrado tentou pôr-se em marcha na direcção das cacimbas, tendo, todavia o seu movimento ter sido detido por forte resistência inimiga; uma nova tentativa de deslocação foi coroada de êxito, apesar da viva reacção dos Cuanhamas, tendo-se conseguido atingir as cacimbas; após o que as forças se entricheiraram no terreno.<br />
A meio da noite deu-se o alarme. E, logo de manhã, a face da frente teve de repelir um ataque, que se estendeu para a esquerda, com tentativas improfícuas de envolvimento sobre a retaguarda. O fogo manteve-se vivo durante duas horas e, sempre que este afrouxava, ouviam-se claramente os cânticos de guerra do gentio. À falta de cavalaria, do quadrado partem, em carga à baioneta, fracções de infantaria e marinha, que atacam a fundo, penetrando na espessura do arvoredo.<br />
Tinha sido um dia inteiro de luta. <em>Mateus da Gama</em>, percorreu, por entre aclamações, as faces do quadrado, felicitando as tropas pela sua bravura.<br />
Mas, apesar das vantagens alcançadas, a situação da coluna era grave: faltavam víveres<br />
e da retaguarda já há dias que não chegavam qualquer socorro. A cominicação enviada pelo major Ortigão Peres, aos serviços de etape do Humbe, traduz eloquentemente essa stuação: «Esperamos que todos os esforços tenham sido feitos e continuem a fazer-se para que eles (os víveres) nos cheguem sem demora, Além de forças do Cuamato e do major Reis e Silva, pode V. Exª. lançar mão das de Naulila (empregando especialmente o <em>alferes Sarmento</em> e os seus Boers), na segurança da linha de comunicações. Temos feito todos os esforços para comunicar com V. Exª. Antes de ontem partiu um camião com uma metralhadora e uma força comandada por um valente sargento da armada e ontem à noite partiu um serviçal de José Guerreiro com uma nota minha para V. Exª. Hoje esta nota é escoltada por uma força constituída por três camiões com duas metralhadoras e trinta praças comandadas pelo <em>tenente Roma</em>. O conselho de oficiais, ontem reunido, resolveu quase por unanimidade que fiquemos aqui quase até à última extremidade, e, como disse na minha anterior nota a V. Exª. mesmo uma retirada só a podíamos fazer protegidos por tropas vindas da retaguarda e representaria um gravíssimo desastre, sob todos os pontos de vista».</div>
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Ao ter conhecimento da situação o<em> coronel Veríssimo de Sousa</em>, comandante do destacamento do Cuamato, assistido eficazmente pelo <em>capitão Esteves de Mascarenhas</em>, não hesitou, encarando-a corajosamente. Exigia-se, para salvação dos seus camaradas, que o destacamento realizasse um esforço sobre-humano; e ele soube cumprir plenamente o seu dever. Das sóbrias palavras do seu relatório, pode adivinhar-se o sacrifício das tropas que comandava: «toda a abnegação, toda a boa vontade, toda a coragem com que suportaram as enormes fadigas e privações, desde a falta de água e insuficiência da ração, até essa penosíssima marcha, quase sem dormirem e descansarem»!</div>
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Essa deslocação de forças, realizada energicamente, através de terras de sede e com os maiores sofrimentos, em direcção ao Forte Roçadas e daí, pelo Vau da Chimbua, para a Môngua, onde entrou em formação de combate, com o comboio de reabastecimento no interior do quadrado, é, no dizer de um distinto oficial, a mais notável das marchas das nossas campanhas coloniais.</div>
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Uma vez restabelecidas as comunicações, começaram a chegar à Môngua, onde a toda a pressa se construía um Forte, notícias que davam o Soba Mandume como refugiado na Donga, procurando o abrigo da soberania inglesa.</div>
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Efectivamente, no dia 31 de Agosto, apresentava-se no acampamento um emissário, com uma carta do <em>major Pritchardt</em>, oficial encarregado dos negócios indígenas do Sudoeste Africano, na qual se oferecia a Mateus da Gama como medianeiro, declarando-se animado do «desejo muito sincero de prestar todo o auxílio possível em assegurar, o mais rapidamente possível, a terminação das hostilidades, evitando-se assim o derramamento de mais sangue».</div>
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<em>Mateus da Gama</em> responde cortesmente, apressando-se porém a desfazer um ligeiro equívoco em que o oficial inglês estava laborando: «Não se trata de hostilidades entre as forças do meu comando e as do chefe da nação Ovampo, e sim do facto das forças do meu comando, atravessando território incontestavelmente português, serem atacadas por gentio que têm como Soba o Mandume». Não eram operações entre forças de dois exércitos independentes, mas sim pura rebelião, que se tornava indispensável subjugar. </div>
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RELATO DA HISTÓRICA BATALHA DA MÔNGUA</div>
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De posse de elementos considerados necessários para uma avaliação rigorosa da situação, <em>Mateus da Gama</em>, fez avançar a coluna em que se incorporou, mas cujo comando directo foi cometido ao coronel Veríssimo de Sousa. A marcha das tropas foi praticamente um passeio até 7 de Julho, data em que foi ocupado sem resistência o Humbe conjuntamente com as forças do <em>major Vieira da Rocha</em>. Este partiria dos Gambos, ocupara Otchinjau e a Donguena, restabelecendo assim a soberania de Portugal naqueles territórios.Fixando o Quartel General no Humbe, <em>Mateus da Gama</em> põe em movimento a máquina que montara meticulosamente no Lubango; expede ordens para que as forças de Cassinga, já chegadas ao Mulondo, desçam o Cunene; organiza a coluna para ocupar o Cuamato, sob o comando do <em>coronel Veríssimo de Sousa</em>; e confia ao <em>tenente Amorim</em> a missão de retomar Naulila.</div>
A coluna principal é confiada ao <em>tenente-coronel Caldas</em> que tem por missão reduzir as forças do Mandume.<br />
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Esta pluralidade de ataques visa distrair os Cuamatos, Evales e Cafimas, para que não vão engrossar os efectivos do Caudilho Quanhama, o terrível Mandume.</div>
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Assim a 12 de Agosto de 1915 partem as colunas para os seus respectivos destinos, Simplesmente, enquanto os objectivos secundários (Cuamato, Evale e Cafima) são conseguidos com relativa facilidade, o objectivo principal (o Cuanhama) depara dificuldades quase insuperáveis. E isso porque o astuto Mandume se apercebera da estratégia traçada pelo staff do Estado-Maior. </div>
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<em>Mateus da Gama</em> congrega todas as forças para junto de si e prepara-se para a batalha das batalhas que ele próprio sabe ser decisiva. Nela joga o tudo por tudo.As planuras da Môngua vão assistir a uma luta de gigantes em condições extraordinariamente desvantajosas para os portugueses, que dificilmente suportaram as temperaturas do Cuanhama, que chegaram a atingir os 50 graus centígrados.</div>
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A 17 de Agosto de 1915, com as cacimbas (poços artesianos) da Môngua à vista, as tropas de <em>Mateus da Gama</em> deparam finalmente com o inimigo; este, sabedor da importância que a água, naquela semi-desértica região tem para a sobrevivência de homens e animais, desencadeia de imediato um ataque vigoroso, que se prolonga sem quebra de ânimo pelos dias 18 a 23 de Agosto, apesar das pesadíssimas baixas que sofre nas suas fileiras, onde por vezes se abrem autênticas clareiras. </div>
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Do nosso lado, logo a 18, há a lamentar a morte do <em>major Pala, capitães Cortez e Pires Monteiro</em>, membros do Estado Maior, além do<em> alferes Mateus</em> - (sobrinho do <em>General Mateus da Gama</em>) - e de outros graduados; a 19, a morte do <em>capitão Sousa</em> e do <em>tenente Passos e Sousa</em>; a 20, um ferimento extremamente grave do <em>tenente Ataíde Pereira</em>.</div>
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Ainda a 20, a nossa coluna corre o risco de sossobrar. Mandume desencadeia um ataque contra os comboios que ligam à retaguarda e garantem o apoio logístico aos Expedicionários, conseguindo isolar as forças de <em>Mateus da Gama</em>.</div>
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A partir daquele dia e até 24 de Agosto, privados de tudo, mortos de sede e de fome (os solípedes tinham sido quase todos dizimados pelos Cuanhamas), só prodígios de energia e acções heróicas conseguiram evitar um morticínio que, a dar-se, seria certamente o maior da nossa história!<strong><em> Felizmente, o oficial encarregado das comunicações no Cunene, apercebe-se da situação e organiza rapidamente uma coluna de socorro que, a golpes de audácia e rasgos de heroicidade, quebra o cerco e abastece as nossas tropas.</em></strong></div>
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Mandume avalia a situação, faz um balanço das enormes perdas que o seu exército sofreu, conclui que a batalha está irremediavelmente perdida, perdida que fora a última chance com a derrocada do cerco aos portugueses. Nada mais lhe resta do que abandonar a contenda, fugindo à frente dos seus guerrilheiros. A batalha terminara e a Môngua tornara-se um local histórico!<br />
Nesta cruenta batalha, o <em>General Mateus da Gama</em>, com a saúde depauperada, com sede e fome, por não querer ter um tratamento diferente dos seus soldados, com o exemplo da sua inquebrantável vontade, com a dignidade do seu porte, conseguiu galvanizar os seus comandados, dos oficiais mais graduados ao soldado mais humilde. </div>
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EMBALA E QUARTEL GENERAL DO MANDUME</div>
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- A OCUPAÇÃO DA N´DGIVA - </div>
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Apesar de tantas privações, com prodígios de vontade, <em>Mateus da Gama</em>, logo que, a 27, chega o Esquadrão de Dragões do Evale, ordena a marcha para a Embala do Mandume. Durante o percurso, cria, de acordo com o Governador,<em> general Pereira d´Eça</em>, os Postos Administrativos do Dombe, Bulugunga e Oxinde. Na manhã de 2 de Setembro as tropas portuguesas iniciam o avanço sobre <strong>N´Dgiva</strong>, capital do <strong>Cuanhama</strong>, passando por Buluganga e Oxinde. A cavalaria repele as pequenas resistências esboçadas. Finalmente a 4 de Setembro de 1915, pelas 14 horas e 30 minutos, o <em>capitão Ramalho Ortigão</em>, Oficial às ordens de <em>Mateus da Gama</em> pode vangloriar-se de ter sido o primeiro soldado português a entrar na <strong>Embala da N´Dgiva</strong>, que encontrou vazia, porque Mandume, à aproximação das nossas tropas, lançou fogo à sua Capital. Essa marcha, executada em condições terríveis de calor, de sede e de fadiga, constitui a última e uma das mais penosas provas a que as tropas portuguesas foram sujeitas na dura campanha do Cuanhama. Terminadas as operações, o território reconquistado, ficou dividido nas zonas militares do Humbe, Cuamato, Cuanhama e Evale, sob o comando superior do <em>major Pires Viegas</em>, com sede no Cuanhama. Assim se podem considerar como completadas em Angola as lutas da Ocupação, estabelecendo para Sul, até à fronteira determinada pelo Tratado de 30 de Dezembro de 1886, a nossa acção Política e Administrativa. E, como sempre na nossa história colonial, à <strong>Ocupação</strong> seguiu-se imediatamente a <strong>Pacificação</strong>. O gentio em massa apresentou-se ao vencedor, confiado na sua clemência e espírito de humanidade. Mandume fora derrotado e, com ele todo o povo Ovampo. Pela primeira vez a fronteira sul é de direito e de facto, para sempre, a resultante dos convénios de 1886. <em>Mateus da Gama</em>, traçadas as linhas mestras para a <strong>Administração Política e Militar do Sul de</strong> <strong>Angola</strong>, agora como sempre, com a consciência de mais um dever cumprido, é forçado a deslocar-se à Metrópole para cuidar da saúde, pois a mesma estava tremendamente abalada pela extrema dureza da <strong>Campanha</strong>. Pelo seu esforço e pelo sacrifício das suas tropas, entregava ao País uma área de 60.000 quilómetros quadrados, para sempre ocupada. <strong>Uma nota a terminar: <em>A verdadeira beneficiária da Expedição vitoriosa do general Mateus da Gama, foi, sem dúvida Angola, ao ter-se garantido a Fronteira Sul, que de outro modo teria sido Anexada pelo Sudoeste Africano... </em></strong><br />
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Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-17749966973933618362010-02-28T23:40:00.085+00:002013-08-09T18:38:42.092+01:00O COLONO - Homenagem a ALEXANDRE SIMÃO PORTUGAL<span style="font-family: verdana;"><em><strong></strong></em></span><br />
<span style="font-family: verdana;"><em><strong></strong></em></span><br />
<span style="font-family: verdana;"><em><strong></strong></em></span><br />
<span style="font-family: verdana;"><em><strong><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTFly8ahZmasQTetKf_qOnTgAS-gqG60zD_BWBEXCglOny4IrZLtdKqjR1S0kRanT0EtdsxAKXG_4b9DCDcTbhRlv9NL3XuKFxAWq9XeqHpQoKEeAAIdmsBnk77Z3vnIs42WsF5w/s1600-h/DSCF0803m.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5443694975318099154" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTFly8ahZmasQTetKf_qOnTgAS-gqG60zD_BWBEXCglOny4IrZLtdKqjR1S0kRanT0EtdsxAKXG_4b9DCDcTbhRlv9NL3XuKFxAWq9XeqHpQoKEeAAIdmsBnk77Z3vnIs42WsF5w/s320/DSCF0803m.jpg" style="cursor: pointer; float: left; height: 240px; margin: 0pt 10px 10px 0pt; width: 320px;" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjemzfXKEMD3HZSibwdH5-DuGKegAObIdzkHn0696injW3dZY3_7AikczIaXG61VnOClycaK_j0Rw85ZH7wWM0s0ZI1ey9ONTow4K444a-UkhJpUlWDSE5PkrXmmpN6EM-yOjq4Qg/s1600-h/DSCF1266.JPG"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5443720349243540562" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjemzfXKEMD3HZSibwdH5-DuGKegAObIdzkHn0696injW3dZY3_7AikczIaXG61VnOClycaK_j0Rw85ZH7wWM0s0ZI1ey9ONTow4K444a-UkhJpUlWDSE5PkrXmmpN6EM-yOjq4Qg/s320/DSCF1266.JPG" style="cursor: hand; float: left; height: 240px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>Um texto do Professor Doutor MÁRIO FROTA</strong></em></span><br />
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Abalara vergado ao peso das responsabilidades familiares que contraíra.<br />
Abandonara a sua Académica que o alcandorara a herói pela vitória na Taça (a Primeira) de 39.<br />
Prescindira da carreira que abraçou e a que se entregava com invulgar devoção.<br />
Demandara os longes ignotos com o espírito que o trouxera do chão amado do Carvalhal Formoso, lá pelas bandas de Belmonte, ao jeito de quem não teme a aventura e desafia as procelas do mar alteroso rumo às inóspitas plagas africanas.<br />
Acolhera-se inicialmente à sombra de um irmão empreendedor que se instalara em Luanda.<br />
Frustada a experiência de vida na capital, desencanta do baú com que se fizera ao mar, amparado em quatro rebentos em que se inspirara para afrontar os reveses com que a vida o brindara, o diploma da ESCOLA SUPERIOR NORMAL que, findo o 7º. ano do Liceu, cursara e o habilitara à docência.<br />
Investido em funções de Mestre-Escola, demanda a verdejante Lubango, altaneira, nos contrafortes da Chela, promisora região que os cabouqueiros oriundos da Madeira conformaram a golpes de audácia e com o desvelo das mãos de quem ama entranhadamente a terra acolhedora que se abre como virgem ardente à paixão que incendeia a alma.<br />
No seu mourejar, privilegia com invulgar mestria os dotes que o impelem para a juventude: consagra-se generosa e devotadamente aos jovens, na multirracialidade que fora a experiência de vida de uma sociedade sem barreiras étnicas (mas obviamente com divisões económicas como as que se acham onde a etnia é única e singular); vota-se ao desporto escolar, treina a Mocidade, cria a Académica da Huíla, ei-lo ao leme da selecção da Huíla. Mais tarde dirige uma instituição do Estado que acolhe de todos os cantos de Angola crianças, jovens e adolescentes que frequentam estabelecimentos de ensino da área pedagógica da Huíla. E aí desenvolve inolvidáveis <strong>actividades de formação.</strong></div>
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Os mais novos a quem ensinara as primeiras letras, jamais olvidarão os feitos heróicos que lhes transmitia com invulgar entusiasmo e o halo de lusitanidade que imprimia à narrativa histórica:</div>
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<em>10 DE JUNHO</em></div>
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<em>Ó Céus e mares de Deus</em></div>
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<em>Ó história do mundo </em>inteiro</div>
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Vós<em> sabeis que, em toda a Terra,</em></div>
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<em>Portugal foi o primeiro!</em></div>
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<em>Sabeis dos conquistadores,</em></div>
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<em>Dos nossos navegadores,</em></div>
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<em>A vida, os feitos, a glória,</em></div>
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<em>A alargar a fé, o império,</em></div>
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<em>Num mundo só de mistério.</em></div>
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<em></em></div>
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<em>Ainda sabeis de cor</em></div>
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<em>A vida cheia de amor</em></div>
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<em>Dos nossos mártires santos,</em></div>
<div align="justify">
<em>Que, em defesa da Verdade,</em></div>
<div align="justify">
<em>Tão cheios de santidade...!</em></div>
<div align="justify">
<em>Sublimaram seus encantos.</em></div>
<div align="justify">
<em>Sabeis dizer a primor</em></div>
<div align="justify">
<em>A história do seu cantor,</em></div>
<div align="justify">
<em>Aquele incompreendido</em></div>
<div align="justify">
<em>que tanto sofreu na terra,</em></div>
<div align="justify">
<em>Desde a fome à guerra,<br /></em></div>
<div align="justify">
<em>E morreu desconhecido...</em></div>
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<em>Então, Ó brisa divina,</em></div>
<div align="justify">
<em>E tu, onda cristalina,</em></div>
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<em>Ó história da humanidade,</em></div>
<div align="justify">
<em>Gritai alto aos portugueses </em></div>
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<em>Que se curvem reverentes</em></div>
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<em>Neste dia de saudade.</em></div>
<br />
<div align="justify">
<em>E, depois aos mais meninos,</em></div>
<div align="justify">
<em>Em seus peitos pequeninos</em></div>
<div align="justify">
<em>Agitai seus corações.</em></div>
<div align="justify">
<em>Ponde-lhes as mãos em doçura</em></div>
<div align="justify">
<em>E o joelho em curvatura,</em></div>
<div align="justify">
<em>Numa saudade a Camões...</em></div>
<br />
<div align="justify">
E, para sobreviver que magros eram os proventos da docência e farta a prole de quem praticava exemplarmente os mandamentos da Igreja consagra-se a outros mesteres. Cedo, em jeito de prece, dirige à Senhora do Monte uma oração impregnada de ternura<span style="font-size: 0px;"></span>:</div>
<div align="justify">
Nossa Senhora do Monte,<br />Por maior que seja a calma ,<br />Tem a frescura da fonte<br />E mata a sede da alma.</div>
<div align="justify">
É alta fraga o altar...<br />Mas, por todo o horizonte,<br />Quem passa sem te fitar,<br />Minha Senhora do Monte?!</div>
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</div>
<div align="justify">
Tem aos pés a sua fonte<br />
Que mata a sede a quem passa<br />
E vai rezando baixinho<br />
(Pelas curvas do caminho):<br />
«Maria, Cheia de Graça...»<br />
<br />
Em momento de fundo desalento, em que a inspiração de poeta desabrocha, confiou ao papel as saudades da Mãe, nos ídos de 46, em poema a que dera o subtítulo de O COLONO:<br />
<br />
A casa...o campanário...o céu<br />
... ... ... ...<br />
Saudades assim, ninguém tem...<br />
Porq´eu sucumbo a recordar<br />
A minha terra... a minha Mãe.<br />
<br />
Santa velhinha que ficou chorando<br />
Lá na serrania do meu Portugal...<br />
E eu já não posso suportar meu mal...<br />
<br />
Volto ao doce lar vou deixar aqui<br />
Meu fato branco e meu chapéu de linho.<br />
Quero pegar novamente o meu cajado,<br />
Voltar a ser pastor no meu cantinho...<br />
<br />
Quero o remanso das minhas ovelhas,<br />
P'ra relembrar da flauta as melodias,<br />
Quero rezar ao pé da minha Mãe,<br />
Ao doce badalar d'Avé-Marias.<br />
<br />
Ao pranto do colono (e colono deu como corruptela nos plainos da Chela "CHI (os) CORONHO (colono)) sucedia-se a vontade indómita de derribar os obstáculos que se antepunham, na transparência do exemplo, no luzeiro ofertado como sinal à comunidade envolvente nos discípulos que criara, no fervor com que quotidianamente punha um adobe mais na edificação de uma sociedade plural, multirracial, multi-ideológica, no sacrossanto respeito por liberdades intrínsecas à natureza humana que poder algum sufocaria: Angola era expressão de democracia social.<br />
E, nas fichas de polícia em que ao tempo se plasmavam os traços da natureza de cada um e todos, em particular dos que à função pública se votavam, um registo se surpreendeu: "não é da situação, mas é um cidadão exemplar".</div>
<div align="justify">
E que fosse da situação! Importante é que se seja vertical, íntegro, sério, portador de valores.</div>
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Desfez-se do que da massa da herança lhe coubera em quinhão lá para as bandas da Cova da Beira.</div>
<div align="justify">
A sua terra, mitigadas as saudades do chão natal, era a radiosa Angola, que o acolhera generosamente no seu seio, a sua comunidade a dos que na grande Academia, que fora o Liceu da Huíla, se preparavam para a magnitude das missões do devir.</div>
<div align="justify">
Nas actividades complementares que desenvolvera foi explicador, camionista, treinador gracioso de futebol, pastor das ovelhas que transpusera para os espaços que pretendera reconstituir a sua Serra da Estrela, irresistivel tentação de quem não projecta regressos, sequer episódicos, de quem transportara raízes para se enraizar noutra latitude, rodeado pelos filhos que a terra pródiga lhe doara ungidos por Deus.</div>
<div align="justify">
E a figura do desportista de eleição que fora e era, exaltava-se em esplendor em particular quando os Estudantes de Coimbra deambulavam em digressão pela amada terra a que em 1482 Diogo Cão, patrono insigne do seu Liceu-Academia, aportara.</div>
<div align="justify">
Amara entranhadamente a terra e os jovens que nela se formavam com as saudáveis praxes importadas da Lusa-Atenas nas condicionantes do tempo.</div>
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Uma trintena de anos se escoava...</div>
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Os algozes da história projectaram-no e aos seus ainda dependentes, esvaído, perturbado, para o porto de cais do exílio sem retorno - nas contas do tempo, cercados pelos desconjuntados caixotes do magro espólio de um abandono com ressaibros de hedionda traição, é a imagem do campanário que ante a importância de uma terra úbere e acolhedora retorna ao espírito, num adeus ao futuro, num regresso apoucado ao passado. Do campanário de que saudades não nutria, obnubilado por campanários outros que edificara na terra adoptiva.</div>
<div align="justify">
E no cuidado balanço de uma vida, é o <em>déficit</em> que avulta no <em>superavit</em> do rol de realizações sem par que os filhos espúrios de uma pátria ferida pela ignomínia da História, projectam, negando-se e negando séculos de convívio.</div>
<div align="justify">
"Só teremos de chorar os mortos se os não soubermos respeitar em vida".</div>
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A esperança renascida nos alvores de 92, que Alvor sepultara, levara-o de volta a Angola.</div>
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De dignitários do poder a cidadãos anónimos, reconhecendo-o, saudaram-no e homenagearam.</div>
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Confiara. A breve trecho ecoa de novo o som da metralha. Angola é condenada às galés.</div>
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Tal como na turva estratégia dos ínvios políticos de Lisboa, de novo se precipitara a luta fratícida em que um milhão de vidas se consumiria.</div>
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Na contemplação das sombras em que pretensos "vultos", sobre a epígrafe VENENO, escreve:</div>
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</div>
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</div>
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</div>
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</div>
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</div>
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</div>
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<em><strong></strong></em></div>
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<em><strong></strong></em></div>
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<em><strong><br />"O homem que o é de h pequeno</strong></em></div>
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<em><strong>É um reles frasco de veneno</strong></em></div>
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<em><strong>Que ultrapassa o vil odor das fezes.</strong></em></div>
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<em><strong>É um produto adulterado,</strong></em></div>
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<em><strong>-O fétido e imundo resultado</strong></em></div>
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<em><strong>Duma prisão de ventre em nove meses."</strong></em><em><strong> </strong></em></div>
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<strong><em><span style="color: white;">gjhujhu</span></em></strong></div>
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<strong><em><span style="color: white;">jkhjkjk</span></em></strong></div>
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<strong><em></em></strong></div>
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<strong><em></em></strong></div>
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<strong><em></em></strong></div>
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<em><strong></strong></em></div>
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<strong><em></em></strong></div>
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<strong><em></em></strong></div>
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<strong><em></em></strong></div>
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<em></em></div>
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</div>
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</div>
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</div>
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</div>
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</div>
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E ao "aportar" à Batalha, após a castástrofe por que se saldara a "exemplar descolonização", terra a que nada o ligava, a não ser o facto de ali haver logrado habitação, registara:</div>
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<br /></div>
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</div>
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Estamos longe</div>
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Ou já é perto</div>
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Dos limites do Deserto</div>
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Para a Terra Prometida? </div>
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<br /></div>
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</div>
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Deus o sabe,</div>
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Mais ninguém.</div>
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-Entre amigo!</div>
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-Donde vem? </div>
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<br /></div>
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</div>
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Das lonjuras do caminho...</div>
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-não é pouca a minha idade...</div>
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à procura do conforto</div>
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Que só há na eternidade. </div>
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<br /></div>
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</div>
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Descanse por um momento</div>
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Neste seu acampamento.</div>
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Temos pão e temos vinho...</div>
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-se tiver necessidade,</div>
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Fale com sinceridade,</div>
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-Leve pão para o caminho!</div>
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<br /></div>
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</div>
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</div>
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Resistira ao infortúnio, retirara-se do fecundo convívio com a juventude, preenchera o tempo consagrando-se ao artesanato que lhe completaria a magra reforma de inspector escolar, a que acedera quando bruscamente o retorno das caravelas... se aprontou...</div>
<div align="justify">
Finou-se perto dos 90: a 5 de Fevereiro de 2002.</div>
<div align="justify">
E, em reflexão terminal, indagava-se: </div>
<div align="justify">
<br />
"Mas quem somos, afinal?!</div>
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Na vida... bem poucochinho...</div>
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Depois do vendaval</div>
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Só destroços no caminho".</div>
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<br />
O registo é imperfeito, incompleto, quiçá, inconsequente...</div>
<div align="justify">
A homenagem, porém, é sentida. Merecida. Para lá de merecida.</div>
<div align="justify">
Em <strong>Alexandre Simão Portugal</strong>, cidadão do mundo, que nunca se reviu nos estatutos dos primitivos colonos, que desbravaram o inóspito sertão, na acepção tradicional do termo, mas que contribuiu a seu modo para o desbravamento de inteligências, para a materialização do lema ora caído em olvido -"mens sana in corpore sano" -, que subtraiu à ociosidade crescentes camadas de jovens de todos os estratos, condições e modos de vida, que deu a Angola e aos angolanos de todas as matizes, nos quadros do tempo, o seu intelecto e sua energia contagiante, em <strong>Alexandre</strong> <strong>Simão Portugal</strong> - o Prof. Portugal para tantos que com ele privaram e dele fruíram ensinamentos e orientação - o preito de homenagem a quantos, em mourejar permanente, construíram uma portentosa Angola que outros, na sua avidez insaciável, lançaram na mais ignóbil destruição.</div>
<div align="justify">
Terra de afectos, Angola não merecia que o fruto de tantos - brancos, negros, mestiços feitos do amor de povos e raças distintos - se houvesse ingloriamente malbaratado, num retrocesso à barbárie.</div>
<div align="justify">
E quantos insuspeitos agentes do mal, cuja personalidade se argamassou em ódios e propósitos de incontrolável destruição, se deleitam em denegrir uma colonização que, essa sim, nos seus desacertos pontuais, foi exemplar, homenagear quem em domínios distintos soube construir um País portentoso que o desvario de gente desprovida de senso e de humanidade lançou para o esgoto da História, é imperativo de cidadania, é dever de elementar justiça que ninguém de coração lavado e ideal alevantado se recusará a subscrever.</div>
<div align="justify">
Que na sublimidade do gesto a História o registe!</div>
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</div>
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</div>
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</div>
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<span style="font-family: arial;"><span style="font-family: arial;"><span style="font-family: arial;"><span style="font-family: arial;"><span style="font-family: arial;"><span style="font-family: arial;"><span style="font-family: arial;"><span style="font-family: Georgia;"></span></span></span></span></span></span></span></span></div>
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<br />
<strong>Mário FROTA<br /></strong></div>
<span style="font-family: arial;"><span style="font-family: Georgia;"></span></span><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<div align="justify">
</div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-89370596556154968372009-10-23T18:24:00.049+01:002010-03-29T09:00:02.411+01:00Uma História de Vida-WILLEN VENTER-AMIGO PARA SEMPRE<strong>UM TEXTO DE ANTÓNIO GAMA</strong><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4uV1d1eWSutWFhCCn-8g6RXc_tB3tHt8mJCBSbnvxXezCWUsKbBaUVsx6PqNElA6smt88YgeAekZDZBooNoRSenlh7xz1tmINi8A3zd4iGcS1_81hRUt1gFmEjQNW5mxDirOkyw/s1600-h/DSCF8567d.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 240px; FLOAT: left; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5400586800031233298" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4uV1d1eWSutWFhCCn-8g6RXc_tB3tHt8mJCBSbnvxXezCWUsKbBaUVsx6PqNElA6smt88YgeAekZDZBooNoRSenlh7xz1tmINi8A3zd4iGcS1_81hRUt1gFmEjQNW5mxDirOkyw/s320/DSCF8567d.jpg" /></a>Entre os poucos Boeres que ainda habitavam as terras da Humpata, figurava um cidadão de quase oitenta anos, homem enérgico e desempenado, cuja existência merece algumas páginas de exaltação, porque o seu nome se acha estreitamente ligado a quase todos os acontecimentos militares da ocupação do Sul de Angola. Quando em 1927, os Boeres, arrastados por agentes da União Sul Africana, para contrabalançarem a influência eleitoral dos Alemães na Damaralândia, efectuaram um novo <em>trek</em>, o velho Willen Venter opôs-se corajosamente a essa aventura; mas vencido pelo número, quase sozinho, ficou agarrado à sua propriedade na Palanca, onde lhe tinha crescido a família e onde, pouco a pouco, fora ganhando força no seu cérebro a ideia de acabar como português fiel, na boa hospitaleira terra de Angola! Aqui tinha filhos e netos; aqui lhe decorrera quase toda aventurosa existência de caça e de guerra... Para que trocar, já quase no fim da vida a paisagem ridente da Humpata pela aridez desértica da Dâmara, onde, como única manifestação de vida, as plantas espinhosas e os cactos hostis parecem encolher-se sob o fogo do céu?</div><br /><div align="justify">Ficou. E lá de quando em quando, descia ao Lubango e procurava-me para conversar. Ele sabia que eu gostava de falar do passado; e, como parte brilhante da sua vida activa se achava também localizada no passado, abria-se comigo e penetrava gostosamente nesses tempos de acção, fazendo reviver perante os meus olhos os feitos dessa quadra heróica, as figuras mortas dessa epopeia de que ele fora um vulto cavalheiresco. </div><br /><div align="justify"></div><div align="justify">Em 1876 partia do Transval uma grande coluna de 400 carros boeres, pejados de gente desesperada que, não podendo resignar-se às vexações dos ingleses, preferia meter-se ao deserto, em busca da liberdade. Chefiava essa gente, à moda bíblica, o patriarca Jacobus Friederick Botha, que pela sua idade e gravidade, assumira a chefia militar, política, moral e religiosa dos emigrantes. O longo comboio de carros adoptava, durante as marchas, rigorosas disposições de guerra e acampava sempre em <em>laager</em>, pronto para a defesa. Era, afinal, um povo em deslocação, pronto para a luta e levando consigo, como força moral que havia de couraçar contra todas as diversidades, o espírito da Bíblia. No meio do deserto a falta de água fez-se sentir dum modo horroroso. Famílias inteiras sucumbiram no mato, depois dos maiores sofrimentos; nalguns raros poços, onde apenas existia lama, acumulavam-se os cadáveres dos animais, que morriam às centenas, depois de devorarem com sofreguidão a terra onde existia o menor vestígio de humidade; outros, desvairados pela sede, fugiam em carreiras vertiginosas pelo mato. Foi uma das muitas tragédias humanas da história do homem.</div><br /><div align="justify">À luz das fogueiras, nos acampamentos perdidos no seio da África selvagem, a inquietação dessas almas religiosas traduzia-se em cânticos a Deus, louvores pela sua bondade, solicitações de amparo e de coragem para finalmente virem a alcançar, como os Hebreus, uma terra da promissão, onde descansar o corpo e retemperar a alma das depressivas angústias com que a piedade e a sua fé tão duramente haviam sido postos à prova. </div><br /><div align="justify">Willen Venter era então uma criança de quinze anos. E nos seus olhos gravavam-se para sempre os quadros dessa vida de vagabundos, rompendo todos os dias a marcha com destino incerto, guiados somente pela sua insaciável aspiração de liberdade. Os furiosos assaltos dos Negros, que esbarravam contra os parapeitos dos carros, de dentro do qual saraivava o fogo certeiro dos defensores; as cenas de caça ao elefante, ao leão e ao búfalo, em que actos da maior audácia e temeridade eram praticados em cada dia por esses homens, como garantia da sua própria conservação; as marchas violentas sobre os temporais desfeitos ou sob o acicate do calor, da sede e da fome; os enterramentos dos mortos que iam tombando pelo caminho - tudo servia para caldear a sua alma de bronze e para paralelamente temperar os seus músculos de ferro! </div><br /><div align="justify">Prolongara-se essa odisseia por cinco anos e, durante eles, os Boeres apenas haviam conseguido fixar-se temporariamente no <em>Kaok-feld</em>, onde chegaram a construir casas de pedra. «Ali também famílias inteiras foram dizimadas pelas febres e o nome de Rustplaatzs (lugar de descanso), com que os emigrantes baptizaram o seu acampamento, foi efectivamente, para quase metade deles, o lugar do descanso eterno. Dezenas e dezenas de sepulturas lá ficaram para o testemunhar».</div><br /><p align="justify">Aí lhes chegou a notícia da existência de Brancos na margem direita do rio Cunene. E um dia em que alguns caçadores haviam saído com os seus carros para a caça ao cavalo-marinho, estabeleceram o primeiro contacto com gente do agricultor e comerciante António José de Almeida, que negociava na outra margem do rio. </p><div align="justify">À sede do Concelho do Humbe vão alguns cavaleiros Boeres, que recebem do Chefe informações respeitante às terras do Planalto, à sua fertilidade, à sua abundância de águas... Os cavaleiros regressam mais depressa ao <em>Kaok-feld</em>, animados por uma grande esperança!</div><br /><div align="justify">Entretanto o Chefe do Humbe comunicava ao Governador de Moçâmedes, Nunes da Matta, a visita dos emigrantes, e breve chegava autorização para que uma delegação sua se dirigisse àquela vila do litoral, afim de assentar com o Governador as condições da fixação em terra portuguesa.</div><br /><div align="justify"></div><div align="justify">O moço Willen Venter assiste com viva curiosidade à partida dos cavaleiros, chefiados por Botha, que iam penetrar nessa terra de maravilha, cujos encantos e seduções já haviam embriagado a sua imaginação!</div><br /><div align="justify">O regresso dos emissários era aguardado com ansiedade no acampamento; e, por fim, quando estes voltaram, não só confirmaram a fertilidade do Planalto, descrevendo com entusiasmo a abundância das suas águas - a águas de que havia nos seus corpos martirizados uma sede infinita!- como contaram da bondosa hospitalidade das autoridades e das gentes de Angola. Deus finalmente mostrava-lhes a terra da promissão!</div><br /><div align="justify">O acampamento agita-se numa alegria irreprimível. Aquela gente grave exterioriza, à sua maneira o júbilo da salvação; em quermesse movimentada, os pares enlaçam-se; e, pela noite fora, como numa tela holandesa, os corpos agitam-se em dança descompassada!</div><br /><p align="justify">A grande caravana abandona o <em>Kaok-feld</em> e penetra em Angola pela Donguena, seguindo dali ao Humbe e aos Gambos. Na Catumba encontra-se com um grupo de cavaleiros portugueses que iam ao seu encontro, do qual fazia parte o Governador Nunes da Matta. O primeiro contacto com as autoridades foi agradável: o Governador teve palavras animadoras para os emigrantes. Willen Venter deixa-se impressionar pelo brilho da bandeira que acompanhava os emissários portugueses, mal podendo imaginar que à sua sombra, havia de lutar e arriscar a vida repetidas vezes!</p><div align="justify">O acto oficial da apresentação efectuou-se na Fortaleza da Huíla, em 28 de Dezembro de 1880: o Governador assinava, juntamente com o «comandante» Jacobus Friederick Botha, e alguns Boeres, um termo de declarações e acordo para o estabelecimento de uma «colónia agrícola e criação de gado». Aos emigrantes Boeres seria concedida, nos campos baldios da Humpata, uma zona de três mil hectares para fundação de uma povoação, pertencendo, ainda, a cada família a concessão que requeresse dentro da lei... Os novos colonos mantinham todos os compromissos assumidos pela Comissão que se havia deslocado a Moçâmedes, e por parte do Governo Português eram-lhes fixados direitos, entre os quais figurava em primeiro plano a inteira liberdade de culto.</div><br /><div align="justify">Puxados por longas espanas de bois, os carrões Boeres rodavam já a caminho das planuras da Humpata. Cruzavam a cada passo linhas de água murmurejantes; e a planície larga, ao longo da qual o capim crescia abundantemente, encantava-lhes os olhos, ávidos de extensão e de liberdade. Ali poderiam exercer as suas velhas aptidões pastoris; e dali poderiam, anualmente, partir para as expedições venatórias, tão gratas ao seu feitio aventureiro. Quase se lhes haviam esbatido já no espírito as amarguras passadas; e agora sentiam pressa em delimitar os seus terrenos, em construir as suas casas, bem isoladas e espaçadas, para garantia dos pastos e a que instintivamente haviam de imprimir as linhas interiores e exteriores das <em>farms</em> holandesas.</div><br /><div align="justify">A comissão da distribuição das terras, constituída pelo Presidente do Conselho Colonial, Abreu e Castro de Saldanha da Gama, alferes Artur de Paiva, comandante Botha e Gert Van Der Merwe, trabalhava afanosamente.</div><br /><div align="justify">Os Boeres sentiam-se perfeitamente à vontade, pois na área da Humpata, apenas se achavam estabelecidos a essa data (1880) dois Portugueses.</div><br /><div align="justify">No dia 19 de Janeiro de 1882, no lugar da tchangarala, a pouca distância da Humpata, realizava-se, na presença do Governador, de Abreu e Castro de Saldanha da Gama, de Artur de Paiva e de outros Portugueses, a cerimónia de abertura de uma grande vala de água, tirada dos rios Neves e Canhando, para irrigação dos terrenos já distribuídos pelos novos colonos.</div><br /><div align="justify">O comandante Botha, empunhando a Bandeira Portuguesa, proferiu uma alocução, no qual terminava por formular um voto: «Na presença hoje de dois Chefes estrangeiros e uma bandeira também estrangeira, espero que o futuro nos tornará irmãos e que, abrigados à sombra da sua bandeira, tenhamos tudo a esperar da sua protecção e da sua justiça»</div><br /><div align="justify">Pouco tempo depois, já essa bandeira deixara de ser bandeira estrangeira, porque, por portaria de 23 de Dezembro de 1882, eram os colonos Boeres naturalizados portugueses.</div><div align="justify">Willem Venter era então um rapaz de vinte anos, corajoso, forte, determinado, desempenado e de «sangue quente». A vida aventurosa em que logo de início se encontrara envolvido, imprimia feição à sua alma viril, a qual a existência tranquila e monótona da Humpata não podia de forma alguma dar satisfação.</div><br /><p align="justify">A Conferência de Berlim pusera-nos na necessidade de realizar uma ocupação efectiva para reconhecimento de direito de posse das terras africanas. As ameaças definiam-se no sentido de Leste, onde nenhuma linha de fronteira havia sido determinada. Urgia, por isso, avançar prontamente e fixar sobre o Alto Cubango alguns pontos fortificados, que não só balizassem a nossa ocupação, mas que pudessem ainda manter-se em condições de barrar o desenvolvimento de qualquer outra influência.Essa importantíssima missão foi cometida a Artur de Paiva, que desde a chegada dos Boeres havia exercido o cargo de Chefe do Concelho da Humpata. O jovem oficial, cujo nome tanto havia notabilizar-se nas Campanhas do Sul, contraíra casamento com uma filha de Jacobus Botha, o que, a par da rectidão do seu caracter, lhe dera sobre os Boeres um notável ascendente.</p><div align="justify">Willen Venter alista-se como auxiliar nessa campanha audaciosa, tentada com os minguados recursos do Planalto. E logo o moço cavaleiro se notabilizava pela infatigável resistência e pela decisão com que enfrenta as situações difíceis e procura os perigos.</div><div align="justify">Assim foi iniciada a sua vida de acção. E, quando de novo, Artur de Paiva parte do Planalto, em 1890, para vingar a morte do sertanejo Silva Porto, no Bié, a vontade e a opinião de Willen Venter, homem feito e endurecido, pesam já na direcção do grupo de cavaleiros Boeres que em volta dele espontaneamente se agrupam, colaborando nas operações que deram a vitória às armas portuguesas. A sua valentia serena, a sua confiança raciocinada, o seu conhecimento perfeito da vida do mato, onde por vezes um estratagema audacioso pode decidir da sorte de uma coluna em operações, põem nas mãos fiéis de Venter o comando desses homens fortes.</div><div align="justify">Nessa agitada campanha recebe o seu primeiro ferimento. E, desde então, com ele se conta sempre confiadamente, porque na rectidão do seu espírito não podem albergar-se sentimentos que não sejam de pura e inalterável lealdade. Já o seu sangue se vertera - e não havia de ser só uma vez - pela causa nobre a que havia de dedicar a sua vida inteira.</div><br /><div align="justify">Desde 1883 era o Sul de Angola talado por grupos de Hotentotes armados que, acossados pelos Alemães da Dâmara, se internavam em território angolano, praticando sobre o gentio pacífico razias sangrentas e roubos audaciosos. «Os Hotentotes que se acham hoje (1941) em armas no distrito, nos terrenos do Concelho do Humbe, Gambos e Huíla são, tomando o mínimo do número, quatrocentos, e trinta deles montados em cavalos, armados de boas espingardas Martini Henry e Westley Richards, além de um grupo de um grande número de Bushmen, (Bosquímanes) pior armados mas não menos para temer em combate, do que os seus senhores».</div><div align="justify">Sobre as qualidades guerreiras desta gente nómada: «São homens que atiram tão bem como os Boeres e não ignoro - (assim foi dito pelo meu pai e avô) qual o resultado da guerra que os Ingleses contra eles sustentaram no Transval. Não se sustentam a pé firme, em campo descoberto, contra forças europeias que os ataquem e os carreguem à baioneta mesmo, mas são temíveis em guerra de emboscada contra essas mesmas forças. A segurança dos seus abrigos dá-lhes maior firmeza no tiro. É, pois, imprudente mandá-los atacar pelas forças indígenas de que dispomos e, dando-se tal caso, a derrota destas forças é infalível».</div><br /><div align="justify">Artur de Paiva confia a difícil missão de os bater ao valoroso alferes Quintino Rogado, sob cujas ordens põe os auxiliares Boeres, alistados para esse fim.</div><div align="justify">Andando as forças em perseguição dos Hotentotes, Willen Venter, que chefiava um grupo de dez cavaleiros, teve a notícia de que esses salteadores se encontravam no Hai. Pôs-se no seu rasto; e, topando com eles numa libata, a uma três horas de Tábua, aí os atacou. Travando-se vivíssimo tiroteio de parte a parte, caindo logo dois Boeres mortos e ficando Venter gravemente ferido por uma bala que o atingira numa ilharga, por outra que o atravessou pelas costas e por uma terceira que, ricocheteando nos fechos da sua espingarda, o foi ferir na cara. Dois homens organizam umas andas para conduzir o ferido, enquanto os restantes fazem face a mais de cinquenta Hotentotes. A retirada impõe-se, sem ao menos poderem enterrar os mortos que jazem no chão!</div><br /><div align="justify">Willen Venter chega à Humpata entre a vida e a morte; mas o vigor do seu organismo depressa o restitui à vida e à saúde. </div><div align="justify">Uma larga quadra de tranquilidade dá-lhe a seguir ensejo a entregar-se às aventuras de caça, que ao mesmo tempo lhe permitem tomar um perfeito conhecimento da região. Quando, em fins de Abril, tombavam as últimas chuvas borrifadas, já os seus carros e os seus cavalos seguiam para o mato, onde, durante meio ano vivia embrenhado, no encalço do rinoceronte, do elefante e do leão.</div><div align="justify">Artur de Paiva, em 1898, após o massacre do pelotão do Conde de Almoster em Jamba Camufate, recebe ordem de socorrer a Fortaleza do Humbe, cercada pelo gentio revoltado.</div><div align="justify">Chefiando os auxiliares Boeres estava a seu lado Willen Venter, que, em plena quadra de chuvas, sofria, como todos os que constituíam a coluna as mais duras provações. </div><div align="justify"></div><div align="justify">Depois de uma vida activa de dedicação e patriotismo, Artur de Paiva embarca para a Metrópole, desgostoso e incompreendido. Seguem-se-lhe nas lides da ocupação do Sul os vultos gloriosos de Padrel, Alves Roçadas e João de Almeida, que a impulsionam com energia.</div><br /><div align="justify">Na pequena expedição comandada por Alves Roçadas, que em 1905 foi à conquista do Mulondo, onde o sanguinário Hangalo exercia sobre os seus súbditos e sobre os negros dos sobados vizinhos as mais horríveis crueldades. Willen Venter comandava de novo o troço de cavaleiros Boeres, que, descendo o Cunene, pelo Capelongo, se reuniu à coluna no Mulondo. Os Boeres marchavam em perseguição do soba batido, que foram encontrar já morto pelo seu próprio Chicaixeiro (introdutor da embala) e conduziram a sua cabeça ao acampamento da coluna. Daí internaram-se no Cuamato, apreendendo gado e tornaram de seguida parte activa nas razias praticadas na região dos Gambos. Pela sua decisão e audácia, é Venter nomeado, por proposta de Alves Roçadas, cavaleiro da Ordem de Torre e Espada. A indomável rebeldia do Cuamato preocupava os dirigentes da Colónia. Da expedição de 1904, contra ele dirigida, resultara o grave insucesso do Vau do Pembe, em que trezentos portugueses haviam encontrado morte inglória. Na chana de Mata-Bindane continuavam insepultas as ossadas desses mártires. Nem que não fosse senão para abater a arrogância e insolência dos Cuamatos, era indispensável passar o rio e infligir-lhes um castigo severo.</div><div align="justify">Roçadas, tendo organizado uma coluna punitiva (1906), atravessa o rio e estabelece-se no outeiro, em frente do Vau Muconde, e aí constroi um Forte (Forte Roçadas), que havia de servir de base às futuras operações do Baixo Cunene.</div><br /><div align="justify">Enquanto decorria os trabalhos da construção, é ordenada uma incursão em território do Cuamato Pequeno, a realizar pelos auxiliares Boeres e Willem Venter, alguns portugueses e uma pequena força de Dragões de Angola. «A acção fora quente», diziam os auxiliares. Os Cuamatos, em grande número, tentaram cercar os nossos com fogo violentíssimo. Os Mucimbas foram fortemente dizimados pelos Cuamatos, mais velozes. Willem Venter, chefe dos auxiliares brancos, teimava permanecer no meio do semi-círculo; não queria que dissessem que fugia. Mas a boa razão dos seus chamou-o à realidade. Retirar era urgentíssimo. Assim se fez, a toda a velocidade dos cavalos. Um tiro prostra a montada de Bartolomeu de Paiva, filho primogénito do grande herói português Artur de Paiva. É homem perdido. Orlog pára, ampara-o e iça-o para cima do seu cavalo e salva-o.</div><br /><div align="justify">Estabelecido o Forte na margem esquerda do rio Cunene, urgia acabar de vez com a lenda da invencibilidade dessa gente que todos os anos passava o rio e assaltava traiçoeiramente os povos ribeirinhos, já submetidos à nossa autoridade, matando, incendiando e roubando gado e gente. «Estes foram os motivos remotos da guerra. As causas próximas: a necessidade de lavarmos a afronta de 1904 (desaire do Vau do Pembe); a necessidade ainda mais urgente de se iniciar a ocupação efectiva daquela região, habilitando-nos por essa forma a satisfazer compromissos internacionais e a estarmos preparados para, num futuro mais ou menos próximo, procedermos de comum acordo com os vizinhos Alemães à demarcação da fronteira natural naquela parte dos nossos domínios, que demoram entre o Cunene e o Cubango».</div><br /><div align="justify">Da grande coluna, então organizada, constituída na maioria por tropas do Continente e comandada pelo capitão Alves Roçadas, fazia parte um troço de auxiliares, dirigidos pelo bravo Tenente da Infantaria, Teixeira Pinto, compreendendo Portugueses chefiados por José Lopes e Emídio Baptista, bem como os Boeres de Willen Venter, que, à frente dos seus cavaleiros, havia de tomar parte de todas as acções dessa dura campanha, acabada a qual foi condecorado com a medalha de prata da Rainha D. Amélia.</div><div align="justify">Era interessante ouvir da sua boca a evocação saudosa desses tempos de acção e luta. A respeito de cada um dos dirigentes tinha um comentário pitoresco e justo. As figuras principais dessa epopeia desenhavam-se nitidamente pela viveza da sua linguagem expressiva: o grande Artur de Paiva, que se impunha dominadoramente pela lúcida serenidade e pela determinada decisão do seu querer; Quintino Rogado, patrulheiro incansável, que bateu a cavalo todo o Sul de Angola; Roçadas, o Chefe silencioso, metódico e tenaz, a quem se deve a ocupação de quase todo o Ovampo; Eduardo Marques, que, estreitamente ligado a Roçadas como seu Chefe de Estado- Maior, o completava pela sua previdente e activa ubiquidade:</div><div align="justify">- Ah! Eduardo Marques é magro; mas o coração dele não é magro!</div><br /><div align="justify">Portugal entrara na Grande Guerra. Dada a vizinhança dos Alemães na Dâmara, as populações do Sul viveram horas de graves inquietações.</div><div align="justify">Roçadas, na mira de lançar mão de todos os meios de defesa locais, procurava recrutar auxiliares entre os colonos portugueses e Boeres. «Os principais como Willen Venter, Andris Alberts, Bartolomeu de Paiva e outros, isto é, os velhos companheiros de 1905, 1906 e 1907 - Mulondo, Cunene e Cuamato, puseram-se logo à nossa disposição. Estes arrastariam outros, seus amigos e parentes.</div><div align="justify">«Conseguimos, assim, assegurar um contingente de uns trinta auxiliares de confiança, dedicados e leais».</div><div align="justify">«Entretanto - quero aqui prestar-lhe o meu preito de amizade e admiração - debatia-se numa longa agonia, lá ao longe, na sua <em>farm</em> modesta, o velho Botha, que em 1881 trouxera a colónia do Transval, através de mil perigos e privações, subjugado ao peso dos anos e duma doença pertinaz.» </div><br /><div align="justify">Fui de propósito levar-lhe as minhas consolações. E nunca esqueci o momento em que o venerando patriarca, rodeado de todos os seus, ao fitar-me, (falando-me do meu pai e avô; segundo ele: nutria uma enorme consideração e amizade por ambos), se deixou dominar pela comoção, e uma lágrima rebelde deslizou por aquela face sempre honrada e austera. «Recordou-se talvez de um dia parecido, em que o meu pai e outros companheiros, foram expressamente à Humpata convidar os Boeres para os acompanharem na guerra aos Cuamatos, e só conseguiram levar uns dezassete ou dezoito: e, a uma observação que lhe fizeram a este respeito, ele o velho Botha, quase octogenário, mas forte ainda, no seu arcabouço de atleta, alto e aprumado como os eucaliptos da sua <em>farm</em>, respondeu:- Senhor General Mateus da Gama, os Boeres de hoje já não são os mesmos!</div><div align="justify">«Os Boeres de hoje já não são os mesmos», dissera o patriarca Botha, na hora da agonia.</div><br /><p align="justify">Na verdade, entre eles haviam-se infiltrado elementos novos que, agitando esperanças ilusórias faziam activa propaganda contra a soberania portuguesa. Antes de Naulila, desempenhando as criminosas funções de agente de ligação entre os Alemães do Planalto e os seus concidadãos da Damaralândia, o Boer Duplessis, «montado num cavalo ou mula branca, com alguns gentios ribeirinhos do Cunene informaram, passava e repassava o Vau de Schwartz-boy-Drift e lá ía a caminho de Qualude, Dâmara, levar correspondência que lhe confiavam e regressava pouco depois para repetir a missão. Essa propaganda foi-se activando dia a dia; até que, em 1927, patrocinado pelo governo Sul Africano, teve lugar o êxodo da gente Boer de Angola, para terras da Dâmara.A acção nefasta dos agentes da União não se desenvolveu todavia sem provocar entre Boeres uma certa efervescência, porque nem todos, em especial os velhos que haviam tomado parte nas campanhas da ocupação, se resignavam em ânimo leve ao abandono do solo hospitaleiro de Angola; contudo, levados pela sua tendência nómada, um novo <em>trek</em> se operou, que para sempre os afastou da terra que há mais de meio século havia sido para eles a terra da promissão.</p><p align="justify">Houve porém um homem que, nas reuniões preparatórias da partida, ergueu a sua voz corajosa, verberando o procedimento dos seus compatriotas, que insensatamente íam trocar o paraíso pelo deserto, voltando as costas ao solo amigo, que, em hora difícil carinhosamente os agasalhara: esse homem foi o honrado e valoroso velho Willen Venter, que, leal e firme no obstinado cumprimento do seu dever, ficou quase sozinho na sua farm, aguardando serenamente a morte, que tantas vezes enfrentara ao lado de Artur de Paiva e de Alves Roçadas, e, para se furtar à qual o seu corpo nunca esboçara sequer um passo à retaguarda!</p><p align="justify">Esta era a sua terra, que, como Pátria adoptiva, se abrira hospitaleiramente para o agasalhar, a ele e a seus pais, numa hora de enorme angústia e graves dificuldades. Aqui decorrera a sua vida; aqui lutara e guerreara; aqui constituíra família, construindo a sua casa e fertilizando o solo pelo seu próprio braço; e aqui vertera o seu sangue... Não! Por coisa alguma largaria a sua<em> farm</em>, onde os eucaliptos altos à tarde ramalhavam docemente, exprimindo-se em linguagem amiga, que ele muito bem compreendia, porque eram tão velhos como ele, e, como ele, sabiam com quanto esforço tinha sido feita esta terra de Angola, que era afinal a sua verdadeira Pátria!</p><br /><p align="justify">Luanda, Setembro de 1941 </p><br /><div align="justify"></div>Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-5311481830407263952009-09-23T22:57:00.020+01:002010-11-19T19:00:59.308+00:00ORLOG - Servidor e Guerreiro Zulu-Uma Vida ao Serviço de Portugal<div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong>BREVE BIOGRAFIA DE ORLOG, o ZULU, por ANTÓNIO GAMA</strong></DIVALIGN="JUSTIFY"><strong></strong><br /><br /><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Entre os auxiliares que tomaram parte nas <strong>C</strong>ampanhas de <strong>O</strong>cupação do <strong>S</strong>ul de <strong>A</strong>ngola, o ORLOG foi sem dúvida, uma das figuras mais representativas, não só pelo dilatado período de tempo durante o qual serviu Portugal, como pela valentia e audácia com que o soube fazer.</div><div align="justify"></div><div align="justify">Esta tradição de aproveitar as forças indígenas nas lides coloniais é entre nós muito antiga. Já Paulo Dias de Novais, primeiro <strong>G</strong>overnador de <strong>A</strong>ngola, havia lançado mão dos <em>"empacasseiros"</em> nas lutas travadas na bacia do <strong>Q</strong>uanza, berço do nosso estabelecimento em <strong>A</strong>ngola; e os Jagas, que, no dizer do campeador Baltazar Rebelo de Aragão, <em>«é gente forasteira e que vive de roubar e fazer guerra».</em></div><div align="justify"><em></em></div><div align="justify"></div><div align="justify">ORLOG, chefe dos auxiliares indígenas, era um preto alto, seco, esbelto, Zulu de origem, que viera ainda criança para o <strong>P</strong>lanalto da <strong>H</strong>uíla e esteve connosco nas <strong>E</strong>xpedições do <strong>S</strong>ul de <strong>A</strong>ngola, desde pelo menos a Campanha do <strong>B</strong>ié, em 1890.</div><div align="justify">Artur de Paiva desenha-o em quatro traços, salientando a impaciência do seu ardor combativo. Achavam-se as quatro peças de artilharia comandadas por Paiva Couceiro, Evaristo de Almeida, Paulo Ramalho e Quintino Rogado, em frente da libata do <strong>B</strong>ié, executando fogo. Mas eram já cinco da tarde e Artur de Paiva não queria que o assalto da infantaria se desenrolasse pela noite fora, pensando adiá-lo para a madrugada do dia seguinte, quando ORLOG se destacou dos seus auxiliares e, dirigindo-se-lhe, exclamou:</div><div align="justify">- Senhor, o dia acaba-se; é melhor saltar-mos lá dentro!</div><div align="justify">- Tens razão, rapaz, vamos a isso!</div><div align="justify">Cessou o fogo de artilharia, a infantaria armou baioneta. E, dentro de momentos, os paus da libata eram arrancados e os <strong>Vachimbas</strong>, como cães de fila, irrompiam no recinto da fortaleza indígena.</div><div align="justify">Um ano mais tarde, ORLOG achava-se encorporado nas temíveis tropas de Padrel que iam atacar o Humbe, tendo sido encarregado de convocar auxiliares indígenas para participarem das operações. «Neste mesmo dia»-diz Padrel, no seu relatório - «nomeei o pessoal para esse efeito, sendo encarregado da missão ORLOW (ORLOG), filho de Tom, que dispõe de grande influência entre os <strong>Muchimbas</strong>, partindo no dia seguinte para aquele concelho (<strong>G</strong>ambos), onde devia aguardar a chegada da expedição, juntamente com o grupo de <strong>Muchimbas</strong> que pudesse reunir, fazendo-lhe ciente, contudo, que a paga seria segundo o serviço que prestassem, e que essa ainda assim era feita em gado, se algum fosse apreendido aos revoltosos». </div><div align="justify"></div><div align="justify">De facto à coluna juntaram-se, nos <strong>G</strong>ambos 500 <strong>Vachimbas</strong>, acompanhados não só dos indivíduos que os foram reunir, mas também de Kalenga, seculo da terra que habitavam. Postas as condições, que foram logo aceites pelos <strong>Vachimbas</strong>, o seculo Kalenga lembrou que estes haviam já tomado parte nas <strong>E</strong>xpedições do <strong>C</strong>ubango e do <strong>B</strong>ié e pediu uma bandeira portuguesa para arvorar na sua terra «como reconhecimento da soberania portuguesa, por isso que ele e os <strong>Muchimbas</strong> se consideravam súbditos portugueses».</div><div align="justify"></div><div align="justify">Desenrola-se a campanha e, batido o <strong>H</strong>umbe e a <strong>D</strong>onguena, Padrel vai ao encalço do rebelde Luhuma, resolvendo-se a atravessar o <strong>C</strong>unene. Era a primeira vez que tropas portuguesas transpunham o rio misterioso e penetravam, em som de guerra, no <strong>C</strong>uamato <strong>G</strong>rande.</div><div align="justify">À frente, a gente de ORLOG é que primeiro vai dar o arrojado passo. Um dos <strong>Vachimbas</strong>, porém, acobarda-se e hesita. ORLOG mete-lhe prontamente uma bala na cabeça. E todos passaram o rio sem mais hesitações!</div><div align="justify"></div><div align="justify">A luta ia ser acesa: «Às oito horas da noite travou-se o combate geral, abrangendo a fuzilaria de ambos os lados um círculo de um kilómetro de raio. A artilharia entrou em acção que, ora de um, ora de outro, foi reduzindo o inimigo ao silêncio, o que de todo se verificou à uma da madrugada.</div><div align="justify">Mas uma das peças breve se inutilizava. As munições iam rareando. E, para completo agravamento da situação, dos 3000 auxiliares <strong>Cuanhamas </strong>que acompanhavam a heterogénia coluna, uns 2000 haviam-se posto em fuga!</div><div align="justify">«Estes homens» - conta o Capitão Luna de Carvalho, chefe do <strong>H</strong>umbe - «conquanto perigosos, mal pensavam que a sua retirada, incutindo ânimo ao inimigo, enfranquecia e intimidava alguns dos nossos, que não conseguiam ocultar o desânimo que se apoderavam; nesta ocasião revigorou o espírito a muitos, a abnegação e coragem do Tchiluanda, chefe dos <strong>Muchimbas</strong> , que, à frente deles protestou a sua lealdade, vituperou a cobardia dos <strong>Mu-cuanhamas</strong>, e, em altas vozes e significativos gestos, declarou que jamais nos abandonaria, por mais crítica e arriscada que fosse a nossa situação».</div><div align="justify">Não descansa um instante a febril e irreqieta actividade do ORLOG, para cuja alma de lutador a guerra era a situação natural e favorita. Nos intervalos da paz, ORLOG, não podendo viver nem fazendo viver aqueles que haviam agregado os seus destinos ao dele, penetrava nas terras dos negros pacíficos e talava e roubava como conquistador.</div><div align="justify">Em Maio de 1900, o governo de Moçâmedes recebeu acusações de W. Chapman e de Jan Robertze contra as extorções de ORLOG, chefe de várias tribos de <strong>Boxímanes</strong>. Ouvido Artur de Paiva, este confirmou a verdade das queixas e informou que, tendo mandado intimar ORLOG a restituir o gado, havia recebido dois enviados <strong>Vachimbas</strong> comunicando que as cabeças roubadas tinham sido imediatamente entregues. E Artur de Paiva aproveitou o ensejo para indicar o seu ponto de vista acerca de ORLOG: «o que ORLOG está praticando, e com mais frequência desde o falecimento do Tenente Quintino Rogado, não é mais extraordinário do que as correrias periódicas dos <strong>Cuanhamas</strong>, com a diferença porém de que ORLOG roubava por necessideade, o que não acontecia com os outros potentados. ORLOG dispunha de gente bem armada e municiada, contando um bom número de atiradores excelentes. Para o destruir seriam precisos muito dinheiro e vidas. A sua táctica de se conservar sempre em movimento, passando ora para cá, ora para lá, o rio Cunene, dificultaria as operações contra ele dirigidas. E, sendo assim, mais valia tomá-lo ao nosso serviço, constituindo uma espécie de corpo de auxiliares que fariam a polícia do distrito e poderiam opor-se às correrias dos <strong>Cuanhamas</strong>, ideia que pelo próprio ORLOG seria aceite com entusiasmo.</div><div align="justify">«ORLOG! É um nome de guerra. é o terror dos <strong>G</strong>ambos e do gentio aquém Cunene!». Assim o apontava Roçadas, sob cujas ordens por mais de uma vez servira, e que conhecia bem a sua dedicação e coragem. A sua idade devia andar pelos 50 e os 60 anos. A sua gente são os <strong>Muchimbas</strong> e os <strong>Herreros</strong>, fugidos há anos da <strong>D</strong>amaralândia. As suas terras os montes dos <strong>Cubais</strong>. O seu viver a luta com o gentio, para o sustentar a si e à gente que o acompanhara!</div><div align="justify">Roubava. A sua valentia, em tempo de guerra, era tão grande como em tempo de paz a sua crueldade, que só tinha por limites a fazenda e a vida dos brancos. O grande auxiliar, que tantos e tão relevantes serviços prestara às nossas armas, andava por vezes perseguido e só encontrava refúgio além fronteira, onde só desenvolvia política oposta à nossa. Mas nunca ORLOG por ela se deixou tentar ou seduzir. Na primeira oportunidade apresentava-se a oferecer-se a si e aos seus para os mais duros e ásperos serviços. Em 1905 quando Roçadas assumiu o governo da <strong>H</strong>uíla, andava ORLOG a monte com os seus <strong>Vachimbas, Mucancalas e Herreros</strong>, de parceria com Candar, soba revoltado dos <strong>G</strong>ambos. Num ataque à embala do rebelde havia sido derrotada uma companhia indígena. Emissários da parte do governador foram convidá-lo a comparecer, sob promessa de ser acolhido sem qualquer castigo. Um dia, no <strong>L</strong>ubango, receberam a notícia de que se queria apresentar. Uma bela manhã, uma multidão de <strong>Mucancalas, Boxímanes, Berg-dâmaras e Muchimbas</strong>, com os seus chefes e ORLOG entre eles compareceram, numa data aprazada.</div><div align="justify">Roçadas mandou-o entrar na residência. Tremia como varas verdes, certamente no receio de alguma cilada. Veio vinho generoso. Ambos beberam. E ORLOG entrou de novo, submissamente, ao serviço de Portugal.</div><div align="justify">Na campanha de 1906, pela qual se fixou na margem esquerda do Cunene o Forte Roçadas, ORLOG esteve de novo connosco. Um reconhecimento ao interior do <strong>C</strong>uamato fora ordenado, constituído pelos auxiliares Boers e Portugueses, uma força de Dragões e auxiliares <strong>Vachimbas</strong>. A acção foi dura. E os <strong>Vachimbas</strong> fortemente dizimados. A retirada impôs-se, como única salvação, à frente da massa aguerrida dos <strong>C</strong>uamatos. E nessa retirada precipitada, foi ORLOG, como veremos, quem salvou a vida de Bartolomeu de Paiva, que tombara no chão com a sua montada.</div><div align="justify">«Destemido, autoritário com os seus, cruel mesmo para manter entre eles a disciplina, é extremamente dedicado e singularmente respeitoso para com os brancos portugueses, especialmente se estes envergam farda»</div><div align="justify">Roçadas manifesta por este valente auxiliar uma decidida predilecção, lamentando que nos intervalos das campanhas fosse posto em condições de roubar para viver.</div><div align="justify">Estivera na árdua campanha de 1907, no serviço avançado da expedição que sucessivamente dominou o <strong>C</strong>uamato <strong>P</strong>equeno e o <strong>C</strong>uamato <strong>G</strong>rande, após a qual, em reconhecimento dos seus serviços, foi nomeado chefe do Corpo de Polícia, criado para o Planalto da Huíla.</div><div align="justify">No ano seguinte João de Almeida reconhecia os serviços que os auxiliares poderiam prestar, tanto em tempo e paz como em tempo de guerra, e pensava no seu aproveitamento.</div><div align="justify">De facto, daqui resultou um corpo de irregulares, cuja actividade chegou a ser ainda devidamente regulamentada e aproveitada. Mas tal organismo foi de pouca duração; e, quando Roçadas, em 1914, voltou ao Sul de Angola, já ORLOG andava de novo a monte. Extinto aquele corpo de polícia, ORLOG foi posto à margem, e o velho servidor e guerreiro teve de recorrer à rapina para se sustentar e aos seus.</div><div align="justify">Ao passar nos <strong>G</strong>ambos, Roçadas chama-o, mais uma vez; e o velho chefe Zulu acode pressurosamente a pôr-se ao serviço das armas portuguesas.</div><div align="justify">Roçadas, como a despedir-se do seu auxiliar, deixou no relatório de 1914 um largo relato das suas façanhas «para que os governos não esqueçam e a posteridade conheça o nome daquele que, embora de raça negra e de país estranho, tão dedicadamente serviu a nação portuguesa nas guerras coloniais dos últimos tempos».</div><div align="justify">A paz veio, finalmente. ORLOG e os seus <strong>Vachimbas</strong> era agora um anacronismo na calma que reinava em todo o Sul de Angola. As autoridades civis não suportavam a sua irrequietude. Tornara-se um indesejável. A sua cabeça andava a preço. E, em breve, a horda dos seus guerreiros se viu, mais uma vez, na dura necessidade de passar o Cunene, que tão eficazmente um dia haviam ajudado a atravessar!</div><div align="justify">Mas, apesar de tudo, o coração de ORLOG mantinha-se fiel. E, a cada momento, chegavam de além fronteira os seus protestos de lealdade e arrependimento, os pedidos de fixação em território português, agora que os anos pesavam esmagadoramente sobre a sua cabeça e a morte se avizinhava dele a passos largos. </div><div align="justify">Até que esta chegou, apagando da retina do velho Zulu a imagem querida das terras do <strong>S</strong>ul de <strong>A</strong>ngola, onde, como os Jagas de outrora, «gente escoteira que vive de roubar e fazer guerra», os seus guerreiros empenachados passam em horríveis correrias, consumando a justiça do branco, implacável e vingadora!<strong></strong></div><div align="justify"></div></div>Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-61401998291859665012009-06-29T17:45:00.024+01:002009-08-06T11:33:23.474+01:00EU SOU UM VISEENSE<div align="justify"></div><div align="justify"><span style="font-size:130%;">"EU SOU UM VISEENSE"<br /></span></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">-<em> Cerimónia na Câmara Municipal de Viseu em 30 de Maio de 2009.<br />Apresentação do Prof. Mário Frota na recepção ao curso jurídico da Faculdade de Direito de Coimbra pelo Presidente da Câmara, Dr. Fernando Ruas, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Viseu, em 30 de Maio de 2009, às 12.00 horas<br /></em><br /><br /><span style="font-size:180%;color:#000000;">Comendador Luís José de Oliveira<br /></span><em><strong>Nasceu em Viseu a 6 de Novembro de 1827.<br /></strong></em><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Embarcou para Moçâmedes, por ordem do Ministro do Ultramar, com mulher e quatro filhos, em 7 de Outubro de 1861, “para vir empregar-se no ofício de tecelão”. Principiou em Março de 1862, os seus trabalhos “com os poucos auxílios que trouxe de Lisboa”. Tinha, então, 34 anos de idade (Ofício n.º 351 da Repartição Civil Distrital, de 8 de Outubro de 1864, dirigido ao Ministro do Ultramar pelo governador Fernando Leal).<br />Já funcionava no Distrito, mas em circunstâncias muito precárias, uma fábrica de fiação e de tecelagem que pertencia ao súbdito francês Eugénio Wherlin e trabalhava com um só tear, ocupando-se apenas em preparar grosseria de algodão (“o seu proprietário lutava com as mil dificuldades que todos os estabelecimentos novos encontravam num país falto de recursos”). A fábrica de Wherlin manteve-se neste ciclo ainda por alguns anos, pois que a ela alude Ferreira do Amaral, no seu relatório de 1878. Resumia o governador, por esta forma, as condições de trabalho do proprietário da fábrica: “recebia da Europa a matéria-prima, vivendo exclusivamente da diferença de preços dos salários”. E acrescentava: “o movimento da fábrica era assim irregular, e até de resultados problemáticos, tendentes, por isso, a conduzi-la, rapidamente, ao seu termo”.<br />No entanto, propôs-lhe Luís José de Oliveira fundar em Moçâmedes uma fábrica similar. Como aquele, teve este igualmente de pugnar com dureza pela audácia do esforço, conseguindo-o contudo, mais duradouramente, é certo, mas, por fim, sem possibilidade de continuar do mesmo modo a laboração.<br /><br />Limitado às circunstâncias, trabalhou, a princípio, com a mulher e dois filhos menores, de 9 e 10 anos. Mais tarde, ajudaram-no quatro libertos que o governador lhe forneceu. Bastante concorreu esta assistência para a fiação e cardação de algodão. Supria assim a falta de fio, de que muito se fazia ressentir a fabricação dos tecidos.<br /><br />À data do ofício (Outubro de 64), trabalhava já “com dois teares e oito rodas de fiar”, em que empregava (entre pessoas de sua família, libertos e aprendizes), 12 pessoas.<br /><br />Depois, durante algum tempo, a fábrica conservou-se estacionária, porque o seu proprietário carecia de determinados maquinismos e utensílios. Os maquinismos e utensílios precisos solicitou o governador ao Ministro, em ofício de 22 de Agosto de 1863 para lhe serem fornecidos “sujeitando-se o tecelão a pagar o seu custo pelo produto da sua fábrica”.<br /><br />Não obstante a reconhecida carência, já a fábrica havia prestado ao Distrito dois bons serviços: o fornecimento de fazendas a quase todas as embarcações de pescas, por não se encontrarem então no mercado outras apropriadas, e o provimento de linhagem de que se serviam os exportadores de algodão, para o expedirem em sacos, visto ter-se, naquele tempo, escasseado o artigo. Nestas verificadas conjunturas, nem as embarcações ficaram privadas das fazendas, nem os algodões deixaram, com risco de dano, de seguir os seus destinos. E era de notar que, no momento, os algodões tinham subido de preço em Lisboa.<br />Em consequência da privação de apetrechos completos, a fábrica produzia fazendas “de um só tipo”, nem lhe era possível, por aquele motivo, fabricá-las com “diversidade de padrões”.<br />A acompanhar o ofício remetido, Fernando Leal fez-lhe juntar a nota das máquinas e utensílios de que o industrial necessitava para o vantajoso funcionamento da fábrica.<br />Parecendo-nos importuna a citação esmiuçada de todos os aparelhos e instrumentos referidos na nota, em face da sua grande extensão, indicaremos apenas alguns: - máquinas de descaroçar, bater, cardar, desengrossar e fiar o algodão; de torcer fios para redes e de fazer cordão e linhas para pesca; um motor, um tear largo para cobertores, etc., etc.<br />O governador fez ainda juntar ao ofício um requerimento do industrial para serem remetidos os materiais da relação, a fim de poder o proprietário da fábrica “exercer o seu ofício em maior escala, pagando-os ele, depois, a prazos razoáveis”. Despacho do Governador: - <strong>“Deve ser atendido o seu pedido porque o desenvolvimento daquela indústria é de conveniência para a colónia”. Nota à margem: “Concordo plenamente”.<br /></strong>Em face do assentimento do Governador e da concordância do Ministro, relativos às pretensões do requerente, é de admitir que Luís José de Oliveira houvesse recebido os objectos requeridos, que muito o teriam ajudado no louvável empenho de aumentar e melhorar a produção. Mas, por terem sido poucos “os auxílios que trouxe de Lisboa” e ponderando, outrossim, a presumível demora na remessa dos maquinismos e utensílios requisitados, pensou o corajoso industrial que um razoável crédito lhe seria de muita utilidade para o desenvolvimento da sua arrojada iniciativa. Probo, conhecedor da profissão e protegido das autoridades, pôde facilmente adquirir o capital de “cinco contos”, com que, de ali em diante, impulsionou activamente os trabalhos da fábrica. Emprestou-lhos um componente da Primeira Colónia, o capitalista Manuel José Alves Bastos.<br />Animado com este auxílio, Luís José de Oliveira afanara-se, extraordinariamente, no prosseguimento valioso da sua indústria. <strong>Ousara até, poucos anos volvidos, sobre a sua chegada, concorrer à Exposição Industrial, realizada, em 1865, no Palácio de Cristal do Porto</strong>. Valera-lhe tal ousadia um êxito jubiloso. No livro Visitas à Exposição de 1865, de Joaquim Henriques Fradesso da Silveira, professor da Escola Politécnica de Lisboa e escritor muito distinto, especialmente versado em assuntos económicos (1825/1875), lemos, a pág. 65 do segundo volume, as seguintes palavras de relato e incitamento relativas à comparência de Luís José de Oliveira nesse famoso certame de projecção mundial: <strong>“Vieram também de Moçâmedes amostras de fios, grosserias, sarjas, panos tecidos com algodão amarelo, cotins e um cobertor de algodão, produto da fábrica organizada naquele Distrito pelo Sr. Luís José de Oliveira, a quem muitos louvores devemos dirigir por haver fundado naquelas regiões um estabelecimento, a que desejamos longa e próspera vida”.<br />Na apreciação dos produtos expostos, o Conselho Deliberativo da Exposição Industrial do Porto, resolveu, para lhe recompensar o mérito, conceder-lhe um prémio honorífico, e o Governo do País, reconhecendo-lhe o esforço, conferir-lhe uma distinção graciosa.<br />No mencionado livro de Fradesso da Silveira, é-nos dado conhecimento de que, pelo colecção do expositor, aprovada e confirmada por Sua Majestade El-Rei, o senhor D. Fernando, augusto presidente da Exposição, lhe foi outorgada medalha de primeira classe pelos excelentes tecidos de algodão, de Moçâmedes. E, no ano seguinte da Exposição, a Portaria n.º 76, de 30 de Abril de 1866 (Visconde da Praia Grande) houve por bem considerá-lo digno da real munificência e agraciá-lo com a mercê de Cavaleiro da Ordem de Cristo.<br /></strong>Luís José de Oliveira foi muito considerado em Moçâmedes, tanto pelo elemento oficial, como por diversas vereações do seu tempo. Costa Cabral chama-lhe: “benemérito cidadão” (relatório de 19 de Junho de 77) e Ferreira do Amaral, “homem digno, por todos os motivos, do melhor conceito” (relatório de 13 de Janeiro de 79). Antes da sua morte, a Câmara Municipal de Moçâmedes homenageou-o por duas vezes, apreciando-lhe os serviços prestados ao Município.<br /><br />Assim, em sessão de 23 de Novembro de 1881, da presidência de António Acácio de Oliveira Carvalho, a Câmara convindo (lê-se na respectiva acta) <strong>que os empreendimentos de manifesta utilidade pública fossem memorados de um modo perdurável, estando neste caso a fábrica de tecidos de Luís José de Oliveira, que iniciou neste Distrito a sua valiosíssima indústria, resolveu que a rua paralela à de Calheiros, e que passa, ao Sul dela, pelo seu estabelecimento, se denominasse Rua da Fábrica. E, quinze anos depois, em sessão de 25 de Novembro de 1896, a Comissão Municipal da presidência de Augusto José dos Reis Figueiredo, “atendendo aos muitos e relevantes serviços prestados ao Município pelo cidadão Luiz José de Oliveira como um dos vereadores que, durante mais de quinze anos quase que em sucessivas Vereações sempre havia mostrado inexcedível zelo, mesmo com sacrifício próprio na direcção das obras municipais, por muito tempo entregues à sua reconhecida competência, resolveu que uma das três ruas que seguem para o Nascente à do tenente Valadim..... se denominasse Rua Luiz José de Oliveira”.<br /></strong>Não obstante a honrosa reputação do seu nome e a firme pertinácia do seu afã, não foi possível a Luís José de Oliveira prosseguir, com a necessária eficiência, as relações contratuais da sua indústria. Desde a instalação, a fábrica de Luís José de Oliveira, contrariamente à de Wherlin, “vivia sobre si e com matéria-prima do Distrito” (Amaral, Relatório).<br /><br />Em 1865, porém, havia cessado a guerra separatista dos Estados Unidos, que provocara, no Distrito, o aumento da produção algodoeira e, consequentemente, o progresso do movimento exportador. Depois de 1865, mas nos primeiros anos da reconstrução americana, terminada em 1877, a produção e, por conseguinte, a exportação, chegaram a aumentar mais ainda do que no período agudo do conflito; vemo-las, porém, pouco depois, de modo assustador, a declinar precipitadamente. Nestas condições, manter a indústria com a matéria-prima importada da Metrópole, seria economicamente um contra-senso e praticamente uma impossibilidade. Os produtos, caríssimos, como haviam de ficar, com a alta de preços da matéria-prima nos mercados europeus, não seriam vendáveis. Luís José de Oliveira fora, portanto, obrigado a fechar a fábrica.<br /><br />Após o descanso vertiginoso da produção algodoeira, a fábrica havia sido para Luís José de Oliveira cruz e martírio. Continuou a viver na antiga residência, situada dentro do terreno onde tinha a fábrica. Mas, tendo que renunciar o mister fabril, passou a dedicar-se a outras ocupações em que granjeava, eficaz e dignamente, a subsistência.<br /><br />As notas do registo municipal, que consultámos, informam-nos que faleceu em Moçâmedes a 15 de Junho de 1908, com 80 anos de idade, vitimado por uma hemorragia cerebral.<br /><br />A Câmara Municipal de Moçâmedes, em tributo de acatamento à memória de Luís José de Oliveira, prestigiou-se, fidalgamente, fazendo expor, no salão nobre dos Paços do Concelho (não sabemos em que ano), a sua fotografia ampliada.<br /><br />Luís José de Oliveira, cuja vida representa uma odisseia de lutas, foi pessoa prestimosa, até onde as possibilidades o permitiram, devendo-lhe o Distrito, em períodos difíceis, assinalados serviços.<br /><br /><span style="font-size:130%;"><em>(A personalidade de que se trata é meu trisavô materno.)<br /></em></span><br /><br /><em>Bibliografia<br /><br />Manuel Júlio de Mendonça Torres (1974) </em></div><div align="justify"><em>O Distrito de Moçâmedes no Ciclo Áureo da Cultura Algodoeira,<br /><br />Ed. da Câmara Municipal de Moçâmedes, Vol. 2, pp.428-435. </em></div><div align="justify"><em></em></div><div align="justify"></div><div align="justify"><span style="font-size:130%;">(Texto gentilmente enviado pelo Prof. Dr. Mário Frota. O Comendador Luís José de Oliveira é seu trisavô materno)</span></div>Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-791662507312252322009-05-31T23:31:00.665+01:002020-05-27T16:28:35.622+01:00EM MEMÓRIA DE UMA AMIZADE INCOMUM<div align="justify">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgy5giOt1fhV1-Am7x_Kw2gOms9h5YiC_mL-W3IRdNBtzrQTkU2RVKxdfDY6iHS17ZKc4nytIAME-zw8aA_ZbSyTum6pDgLO9vlicMB8ve5pac08-qmvOJmJdlNFSjboWvIPNEjiw/s1600-h/mossamedes_1890.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5346567352828632002" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgy5giOt1fhV1-Am7x_Kw2gOms9h5YiC_mL-W3IRdNBtzrQTkU2RVKxdfDY6iHS17ZKc4nytIAME-zw8aA_ZbSyTum6pDgLO9vlicMB8ve5pac08-qmvOJmJdlNFSjboWvIPNEjiw/s320/mossamedes_1890.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 232px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a> O Sul de Angola viveu dezenas de anos (finais do séc. xIx e princípios do séc. xx) momentos de grande instabilidade na região de fronteira com o Sudoeste Africano. Povos insubmissos resistiam ao esforço de fixação de colonos portugueses nas regiões do interior sul.<br />
Em 30/12/1886 realizou-se o Tratado Luso-Alemão que definiu a linha de fronteira do Sul de Angola com o Norte do Sudoeste Africano, então colónia alemã. O Sudoeste Africano seria mais tarde o país livre da Namíbia. No mesmo Tratado e para que fossem reconhecidos direitos de soberania, Portugal ficou obrigado à "ocupação efectiva" do território "aquém fronteira", o mesmo acontecendo à Alemanha no território "além fronteira". A obrigação da "ocupação efetiva" fora acordada na Conferência de Berlim realizada em 1885 pelas potências coloniais europeias. Abrangia os territórios dos impérios coloniais em África. No interior do Sul de Angola só os funantes (comerciantes ambulantes) mantinham uma certa presença portuguesa a comerciar marfim e aguardente de cana. Era necessário promover políticas de povoamento europeu e criar condições de fixação em todo aquele vasto território fronteiriço.</div>
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Dado à resistência daqueles povos à ocupação europeia optou-se pela ocupação militar e só após a região pacificada, à ocupação civil. Impunha-se, pois, avassalar sobas.<br />
As populações já fixadas mais a norte e do litoral, viviam com inquietação esses dias de incerteza. Desde 1883 que hotentotes invadiam o espaço angolano, atiçados pelos alemães, tendo mesmo ameaçado a população de Porto Alexandre, ao tempo uma pequena aldeia de pescadores dedicada à faina do mar, na sua grande maioria algarvios de Olhão. (Porto Alexandre é hoje a cidade de Tômbua). Foi necessário um encontro <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitZjtlLusD01Vzu7dEIWTsJT1thdDSDBfeg7dLMf9nitaBWKFGDm12d72Z7ZTvRGiAW4hXsFTGmcb-9yik-bEvg4Bac4-nP2TbJ52Ic9GxuENcROEhu7qTctsBAh-u-Z87eBubpw/s1600-h/Arco1.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5357700177473553058" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitZjtlLusD01Vzu7dEIWTsJT1thdDSDBfeg7dLMf9nitaBWKFGDm12d72Z7ZTvRGiAW4hXsFTGmcb-9yik-bEvg4Bac4-nP2TbJ52Ic9GxuENcROEhu7qTctsBAh-u-Z87eBubpw/s320/Arco1.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 240px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>com os seus chefes que se realizou no "Arco do Carvalhão", também chamado "A Lagoa dos Arcos" um oásis a trinta kilómetros da então povoação piscatória e esta ficou a salvo da investida. Nessa reunião esteve presente a mui conhecida regedora de Porto Alexandre, Maria da Cruz Rolão, considerada heroína e um exemplo de coragem, coragem demonstrada nessa e noutras intervenções na defesa do interesse nacional e da população de Porto Alexandre em particular. Foi consagrada na toponímia olhanense, de onde era natural, com uma rua, e Porto Alexandre homenageou-a com a instalação de uma estátua à entrada da cidade e com o seu nome numa escola.</div>
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Foi sob o comando do capitão Roçadas e do General João de Almeida que se deu como consolidada a fronteira Sul com a Alemanha. Construíram postos fronteiriços de defesa, avassalaram sobas e criaram as condições para uma efectiva ocupação. Mas em 1912, sob a governação de Norton de Matos (1912-1914) os alemães tiraram a máscara quanto ao propósito de agregar à sua colónia do Sudoeste Africano vasto território angolano. Havia alguns anos que se serviam de oficiais disfarçados, pseudo cientistas e sobretudo de missionários que fomentavam a intriga junto do gentio contra os portugueses. Não tardou que as <em>mausers</em> e <em>manelikers</em> alemãs aparecessem nas mãos adestradas do gentio. Queixava-se Norton de Matos da ineficácia governativa da Metrópole que enviava pequenos núcleos de forças que eram derrotadas ou derrotavam o inimigo, retirando-se em seguida, revelando grande incapacidade de ocupação, nada prestigiante para um exército que se queria dominante. Razão por que a ocupação do Sul de Angola iniciada em 1885 só foi terminada em 1915 pelas forças do General Pereira d´ Eça. </div>
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A impressionante narrativa da batalha no Vale do Pembe (1904), que se revelou um desastre para<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjzxwD8WmmmpEB_f1x6tp5d0XGbEk8RSEd0SArFKXlWRHOCmFAnkfwqgcki-Q6j1vtQv-EwFHIFPul0g4sKMCGQPvE2dKEyqrfZ4mIsr0z-nHAs8zpzOUTjz2CC95BCrbVJHr-rg/s1600-h/Sul_Angola_08.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5346595985313901106" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjzxwD8WmmmpEB_f1x6tp5d0XGbEk8RSEd0SArFKXlWRHOCmFAnkfwqgcki-Q6j1vtQv-EwFHIFPul0g4sKMCGQPvE2dKEyqrfZ4mIsr0z-nHAs8zpzOUTjz2CC95BCrbVJHr-rg/s320/Sul_Angola_08.jpg" style="cursor: hand; float: right; height: 226px; margin: 0px 0px 10px 10px; width: 320px;" /></a> as tropas portuguesas é disso flagrante exemplo. Reuniram mais tarde trezentos esqueletos de soldados portugueses e auxiliares indígenas mortos nessa batalha, esqueletos que se encontravam espalhados pela zona de combate. </div>
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Impressionante o fim trágico do tenente António da Trindade que ferido numa perna e <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsctbUsoKh1Pk_5yoo2LoZPPvvfvA0Wga67mCEszHLDN1Gbt54mjdpNQdiRk3RKJXdGU7f3IC00UhV80n5IdD6qHj-PxEkuorH_c1fU0h1P9vkChojKLP2H-QfFWjZdbkw0r-47A/s1600/BENpan08.jpg"></a>impossibilitado de correr foi abandonado à sua sorte pelos seus maqueiros que e<span style="font-size: 0px;"></span>m pânico fugiam diante da correria e gritaria dos cuamatos. O tenente António da Trindade foi apanhado e massacrado por estes.</div>
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Impressionante o patriotismo do capitão Roby, que regressava à Metrópole como herói, depois de ter combatido em Moçambique. O barco em que viajava fez escala em Moçâmedes e não continuou a viagem; ofereceu-se para combater no Sul de Angola onde viria a encontrar a morte nos confrontos com os cuanhamas. </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBobw3SLqXMpkOHOyhnryVKRJTIvFnt9G3xi02Wekg9vzgFhH6i_WM89PRNn2jZFKl5ynxoWxyHcbZhIFV6WQAK5O7zYuvjRFb2oBV6HwqFxdwPUzb4V46akO913PrfOBJv1mKNQ/s1600-h/Mossamedes-061-c.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5347323313571109762" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBobw3SLqXMpkOHOyhnryVKRJTIvFnt9G3xi02Wekg9vzgFhH6i_WM89PRNn2jZFKl5ynxoWxyHcbZhIFV6WQAK5O7zYuvjRFb2oBV6HwqFxdwPUzb4V46akO913PrfOBJv1mKNQ/s320/Mossamedes-061-c.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 210px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>Os actos individuais até aí cometidos tinham a força e a liderança de Artur de Paiva, oficial do exército português pertencente ao Concelho Colonial da Humpata, casado com uma filha do patriarca boer Jacobus Friederick Botha da colónia agrícola de S. Januário constituída por boers fixados na Humpata e naturalizados portugueses, aliados de Artur de Paiva. Contava este oficial português com a combatividade da cavalaria boer da colónia de S. Januário comandada pelo heróico Willem Venter, (várias vezes ferido em combate), e de um grande guerreiro de origem zulu chamado Orlog ou Orlow, que se tornou no chefe incontestado de um grupo de guerreiros vachimbas, mucancalas e herreros. Orlog chegou à Humpata ainda criança e afeiçoou-se aos portugueses lutando sempre ao seu lado quando era solicitado, ou oferecendo-se para a guerra, mal pressentia acção. Era pago com o gado abandonado pelo inimigo conforme os serviços prestados. </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbgtxccM7sHxzEWQCcQRL4GISlpqKW58WJcsVvdr8_DWC3og4jXpn11e3xv-Q6wo8KnW_rbj8s8MiFHPQyct4rn2xaW7kb9mKQRqfIPmJHSQWtkvYimsE7yMqqdLZ51cthvkMWJQ/s1600-h/Sul_Angola_07.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5346583003062499842" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbgtxccM7sHxzEWQCcQRL4GISlpqKW58WJcsVvdr8_DWC3og4jXpn11e3xv-Q6wo8KnW_rbj8s8MiFHPQyct4rn2xaW7kb9mKQRqfIPmJHSQWtkvYimsE7yMqqdLZ51cthvkMWJQ/s320/Sul_Angola_07.jpg" style="cursor: hand; float: right; height: 242px; margin: 0px 0px 10px 10px; width: 320px;" /></a>Em 1914 a espionagem alemã acentuou-se nas áreas de Moçâmedes, a actual cidade do Namibe, e no planalto da Huíla, com a colaboração de noruegueses e holandeses residentes em Moçâmedes. Registe-se, que pretendiam comprar ao soba cuanhama Mandume, que fora educado nas missões alemãs, uma peça de artilharia tomada a uma força comandada pelo Sargento Francisco Pereira, desbarata entre o Evale e o Cafima. Na batalha de Mufilo a 21/7/1907, sob o comando do capitão Roçadas, as tropas portuguesas defrontaram vinte e cinco mil guerreiros que constituíam a tão temível Liga Ovampo, sete mil armados com espingardas. Compareceram guerreiros de toda a parte: Cuamatos, Cuanhamas, Cuambis, Ganguelas, Barantus e Bingas.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUQUYv6k6V6BEsQhOVlpuPavlMMVh6Mf47eBY8ccJppKrK9y8HwGmXFOEb6lqWrgfNuQz5mp4tLcmLcL8VgslCMenOsDqkZTFRtLBFqPqsnvRBWrCLunaSBSx2uUecUUGDDNRGoQ/s1600-h/Sul_Angola_06.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5346568973953861378" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUQUYv6k6V6BEsQhOVlpuPavlMMVh6Mf47eBY8ccJppKrK9y8HwGmXFOEb6lqWrgfNuQz5mp4tLcmLcL8VgslCMenOsDqkZTFRtLBFqPqsnvRBWrCLunaSBSx2uUecUUGDDNRGoQ/s320/Sul_Angola_06.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 237px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>O ano de 1914 foi o ano em que a Alemanha concretizou o que durante anos preparara para África, atacou os postos fronteiriços portugueses de Naulila e Cuangar em Angola e Maziua em Moçambique. A consequente retirada do exército português e o abandono dos postos fronteiriços após o ataque ao posto de Naulila deixou ao abandono vasto território que prefazia 1/5 de toda Angola.</div>
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1915. Desembarcou em Moçâmedes uma considerável força expedicionária portuguesa sob o comando do General Pereira d´Eça. Cumpria-lhe recuperar todo o território abandonado pelo exército português após o ataque alemão ao posto fronteiriço de Naulila, restaurar o prestígio de Portugal perante o gentio sublevado, fornecer aos governadores de distrito elementos para prontamente poderem sufocar qualquer rebelião e disponibilizar forças que fizessem face a qualquer nova investida alemã, vingando assim o que se passou a chamar "o desastre de Naulila".</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6XUdVZFksWxdM7xzNxlEl5mqdF7scHKt1Kfg5kriwRMZFVrQF93fECvCilfjNaYIkLEaysZx-xI8_erdmfUStzhmXNUZWbXLEwoRKV2oQwVFotfUxt9ZZXTjkMZ7kp5SrVia1vA/s1600-h/Sul_Angola_11.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5346570918524486210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6XUdVZFksWxdM7xzNxlEl5mqdF7scHKt1Kfg5kriwRMZFVrQF93fECvCilfjNaYIkLEaysZx-xI8_erdmfUStzhmXNUZWbXLEwoRKV2oQwVFotfUxt9ZZXTjkMZ7kp5SrVia1vA/s320/Sul_Angola_11.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 242px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>Moçâmedes tornou-se a base marítima das operações que se íam desenrolar a cerca de quinhentos kilómetros no interior, nas terras do Cuamato e do Cuanhama. Previa-se forte resistência dessas populações sublevadas, armadas e municiadas pelos alemães, sobretudo a Cuanhama, a tribo mais aguerrida de quantas havia em confronto, comandada pelo grande soba Mandume, um chefe duro e inflexível, um guerreiro, na verdadeira acepção da palavra, altivo e musculado, instruído nas missões protestantes alemãs, (dominava o alemão e o português), e em combate revelava-se um grande estratega militar à altura do seu adversário General Pereira d´Eça.</div>
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A população de Moçâmedes recebeu estes expedicionários como visitantes, solidária com o que se adivinhava no horizonte de suas vidas: angústias, perigos, cansaços, incertezas, medos e morte. (O exército alemão avançava na Europa e o inimigo agonizava à sua passagem. Portugal esperaria até ao ano de 1916 para entrar na primeira grande guerra mundial ao lado dos aliados contra a poderosa Alemanha.)</div>
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<img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5346575495307978642" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDseuAaVj2j3irIKyYnt6cwUAEVc_7zYTHGo7Ohh4oU8iq5EMyP6RnWDzyM9Wt-6igTym9tVqlNzaIulyaUD47BKnAu60DfGlpeOV3pJ5fD3n3spbpxW2kiqoBF3nTBIUxniYnOA/s320/Avo_Antonio_Lubango_Janeiro_1915_small.jpg" style="cursor: hand; float: right; height: 207px; margin: 0px 0px 10px 10px; width: 320px;" />Bivacaram na pequena cidade de Moçâmedes dois Batalhões de Infantaria, quatro Baterias de Artilharia e Unidades de Metralhadoras. Outras forças se dispersaram pelo Capelongo, Chibia, Humpata, Lubango, etc.. </div>
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Um acontecimento veio alterar toda a estratégia até aí delineada pelo comando. Em Março de 1915, 50.000 homens do exército inglês da África do Sul, comandados pelo general Botha, invade o Sudoeste Africano obtendo a rendição do exército alemão. Fica no terreno somente as tribos sublevadas dispostas a vencer. Naulila jamais seria vingada. (consultar: <a href="http://www.arqnet.pt/portal/portugal/grandeguerra/pgm_ang052.html">http://www.arqnet.pt/portal/portugal/grandeguerra/pgm_ang052.html</a>)</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOU9wPRNdwWK93EAjBYstax9Trl2ptbKRa9F_k3YquBY1HanFk2zFAkwr84EpJ1-QLwlmMHEmpSX9wRs_O3hwwh6CRC-BUVGH5enjwbmlSL56M0ONpXadHevVZZaQp-viFEgCIZw/s1600-h/Mo%C3%83%C2%A7amedes-_Praia_da_Torre_do_Tombo.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5346804211386623314" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOU9wPRNdwWK93EAjBYstax9Trl2ptbKRa9F_k3YquBY1HanFk2zFAkwr84EpJ1-QLwlmMHEmpSX9wRs_O3hwwh6CRC-BUVGH5enjwbmlSL56M0ONpXadHevVZZaQp-viFEgCIZw/s320/Mo%25C3%25A7amedes-_Praia_da_Torre_do_Tombo.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 201px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>Contava a família Trindade do bairro Torre do Tombo que, de entre os expedicionários ali chegados, um deles lhes causou desde logo boa impressão. Era pessoa simpática, afável, educada, humilde, de trato franco e aberto, cuja simpatia e condição religiosa fez consolidar uma amizade verdadeiramente digna de nota. Chamava-se Flores, o senhor Flores da Póvoa do Varzim. Considerava a família Trindade da Torre do Tombo como sua família de África. Não se sabe o posto, a arma ou a especialidade do senhor Flores. Teria vivido as incertezas da última batalha, a batalha da Môngua, quando as municões, a água e os víveres começaram a escassear? Teria vivido as canseiras de centenas de quilómetros em marchas forçadas? Mandume lhes cortara o acesso à rectaguarda não permitindo os abastecimentos e intensificou o assédio de hordas de guerreiros ao quadrado português. Apercebendo-se da grave situação o oficial português encarregado das comunições no Cunene organiza uma coluna de socorro, rompe o cerco e abastece as tropas, trazendo com este gesto heróico a vitória para as hostes portuguesas. Após a batalha da Môngua, e após a consolidação da paz na região, Pereira d´Eça deu como finda a missão com que vinham incubidos e iniciaram o regresso à Metrópole. Todos os anos, pelo Natal, chegava notícias do senhor Flores num postal de Boas Festas, remetidos da Póvoa do Varzim, que a família Trindade guardava. O último postal foi recebido por volta de 1950, no ano em que Trindade fechou os olhos para sempre. <em><span style="color: #000099;">(Créditos de imagem do blogue: <a href="http://www.antigamente1900.blogspot.com/">http://www.antigamente1900.blogspot.com/</a>, de Marco Oliveira)</span></em></div>
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<strong>VIAGENS E "REENCONTROS"</strong><br />
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1960. João Rodrigues Trindade Júnior pegou num dos postais de Boas Festas endereçado da Póvoa do Varzim pelo senhor Flores e incluíu-o na sua bagagem. Visitar a Metrópole, conhecer as paisagens do norte e do centro do País, tão propaladas pelos seus emigrantes, as praias turísticas do Algarve, os Jerónimos, a Batalha, os castelos e monumentos espalhados por todo o Portugal e referenciados nos livros escolares, Lisboa, a capital, visitar e descobrir recantos da terra de pais e avós, era o sonho de gerações de portugueses que tiveram como berço o ex-Ultramar Português, e que Trindade Júnior e Margarida Trindade íam transformar em realidade. </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiR7LnLdG2dZr53fecHN2-OBRtgxfQeixUPg8dEU3Oe733P6hoLR2QD2yqFFwkhzar8UIFjgnQo2FIq3gxIj3wnTSDnKBaOIgKtKhG2NB67tRKL7L51QBwzaNMxT5OouGXo9UaKVQ/s1600-h/FTrindade.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5400585285411279762" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiR7LnLdG2dZr53fecHN2-OBRtgxfQeixUPg8dEU3Oe733P6hoLR2QD2yqFFwkhzar8UIFjgnQo2FIq3gxIj3wnTSDnKBaOIgKtKhG2NB67tRKL7L51QBwzaNMxT5OouGXo9UaKVQ/s320/FTrindade.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 320px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 243px;" /></a>Quando o sr. Flores chegou a Moçâmedes como expedicionário em 1915 Trindade Júnior não era ainda nascido. Os seus pais, João Rodrigues Trindade e Lucinda Ferreira Trindade, viviam na Torre do Tombo numa casa de <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFr7NX7bZXGT1MuFYMkz6_m5wqakVNkjbj88Z2P3L2Uj-Gqx0tJlHqghksJbpX6Y2h29NnROAaI5L_R5PkuAFmj74iPJ1_GFBSDGG4I720x4T_0gGcKtUYq7OIkob7KJ26011emg/s1600-h/Casa+Lumelino+Trindade+T+TOMBO.jpg"></a>madeira. O agregado familiar era então constituído pelos pais e pelas duas irmãs mais velhas, a Leovegilda e a Zenóbia, respectivamente de nove e sete anos, que conheceram o senhor Flores como convidado de seus pais. A família tinha a vida organizada à volta de um barco de pesca, de uma quitanda (mini mercado, aberto num anexo da casa), e de <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfTLziQvhaEdZr0BV_eYybO8W13tYjddwTTP1-lkblOyYfKu7DQ9Hs8fWFA6yT5_Y9rn0W7vEVMLasFjd4hnuoTOUGw8xRmyALR3b61M4gVJ3IfW7Za_iAKRTEbdsUbu9Da-_1IQ/s1600-h/Casa+LumelinoTTT.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5360457211072331714" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfTLziQvhaEdZr0BV_eYybO8W13tYjddwTTP1-lkblOyYfKu7DQ9Hs8fWFA6yT5_Y9rn0W7vEVMLasFjd4hnuoTOUGw8xRmyALR3b61M4gVJ3IfW7Za_iAKRTEbdsUbu9Da-_1IQ/s320/Casa+LumelinoTTT.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 214px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>uma "escolinha" que funcionava na sala de entrada. Depois nasceu ele (João) e o irmão mais novo o Lumelino. Cresceram a ouvir dos pais a notícia da chegada dos postais de Boas Festas que o senhor Flores remetia todos os anos pelo Natal da Póvoa do Varzim. Considerávam-no como um amigo ou familiar que as circunstâncias o faziam omniausente. A possibilidade de o conhecer apresentou-se nesse ano de 1960 nessa viagem que estavam a planear. Não queria desperdiçar essa oportunidade. Duas dúvidas se sobrepunham: estaria ainda vivo? E se estivesse, onde estaria a morar?</div>
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De facto criaram grandes expectativas e entusiasmo nessa viagem à Metrópole. Em Faro, a antiga Ossónoba romana, cidade milenar, hospedaram-se num hotel junto à doca. Descortinavam do hotel a monumental entrada de "Vila a Dentro", na muralha árabe, inaugurada em 1812 com a imagem de S.Tomás de Aquino no nicho. Mandada construir pelo bispo D. Francisco Gomes do Avelar é encimada por um sino e por uma pequena capela dedicada às Festas da Nossa Senhora do Ó, que se realizavam nos quinze dias que antecediam o Natal e eram marcadas por umas antífonas começadas pela letra O. A parte frontal dessa capelinha só é vista pelo lado de dentro da muralha se olharmos para o seu topo. Perdeu-se a tradição mas ficou a memória da devoção das populações marítimas e suas famílias a esta santa, populações devotadas aos santos e à sua protecção. O obelisco à frente do hotel é uma homenagem ao Capitão de Mar e Guerra e Ministro da Marinha, Ferreira de Almeida, natural de Faro, que aboliu as varadas e outros castigos deprimentes infligidos aos escravos. Faro era a cidade natal do seu bisavô paterno António Rodrigues da Trindade. Fez carreira militar na Infantaria 15 em Lagos. Casou com Rosa Angélica do Carmo, natural desta cidade. </div>
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Olhão não foi esquecida, era a cidade natal do seu pai.</div>
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Em Lagos, no Algarve, descobriu os recantos históricos da Lacóbriga romana, cidade onde morou o Infante D. Henrique, o Navegador, grande figura dos Descobrimentos Portugueses e da História Universal. Lagos é a cidade natal do seu avô paterno João Rodrigues Trindade, nascido a 28 de Maio de 1855. Era o quarto filho do já 2º. sargento António Rodrigues da Trindade, natural de Faro, e de Rosa Angélica do Carmo, de Lagos, seus bisavós. Teve como padrinho de baptismo um dos notáveis da cidade: o Brigadeiro reformado e Governador da Praça Manuel Alexandrino Pereira da Silva. Cursou no Seminário, aceitando cumprir a vontade de sua mãe, profundamente religiosa. Fora-lhe oferecido um missal de grande valor no final do curso que infelizmente se perdeu numa fogueira da bubónica após a primeira grande guerra mundial. Naturalmente e como bom cristão reconheceu-se com pouca vocação para o celibato e logo após a sua mãe ter falecido acabou por desistir da carreira eclesiástica para se tornar alfaiate. Fixou-se em Olhão e casou com Anna da Conceição Galvão, uma jovem natural daquela vila. Era uma jovem com estudos pois era chamada a substituir o professor oficial sempre que este faltava. Em 20/5/1878 nascia o único rebento do casal, o seu pai, também chamado João Rodrigues Trindade, que emigrou ainda jovem para Moçâmedes, dedicando-se à pesca com o seu padrasto. Anna enviuvara e casara com Manuel Fernandes da Larga. Deixaram descendência em Moçâmedes: Leonilde, esposa do conhecido professor Marques, director da Escola de Portugal, e Ivone, esposa do guarda-livros (contabilista) sr. Serra. À Torre do Tombo chegavam ecos de vozes preocupadas. Umas tias-avós, irmâs de seu avô, lamentavam a sua avó Anica (Anna) de "ter posto o João (pai) a trabalhar no mar". Profissão sem tradição na familia e considerada de grande risco. </div>
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Em direcção ao norte, Lisboa e o Largo Camões na freguesia de Santa Catarina onde nas proximidades residiram os seus avós maternos Catarina e Agostinho Ferreira. Emigraram com os filhos para Moçâmedes e fixaram residência no bairro da Torre do Tombo. Desta descendência vamos encontrar a muito celebrada Raínha da Beleza de Moçâmedes, Riquita Bauleth, miss Portugal 1971, (trineta), figura muito querida dos moçamedenses que todos recordam com muito carinho. (Breve genealogia: h<a href="http://www.mossamedes-do-antigamente.blogspot.com/2007/11/blog-post.html">ttp://www.mossamedes-do-antigamente.blogspot.com/2007/11/blog-post.html</a> - Rodrigues Trindade. Riquita é neta de António Pedro Bauleth e Celmira Bauleth). Decorria a primeira grande guerra mundial quando sua mãe Lucinda veio à Metrópole com a saúde debilitada. Viajou acompanhada pela sua irmã mais velha Leovegilda e ficaram alojadas em casa de familiares no Largo Camões. Leovegilda recordava os Armazéns Grandela e os rebuçados que lá comprava quando fazia os recados familiares: «davam sempre uns tostões a mais para rebuçados» - dizia. Nessa época as viagens para a Metrópole eram extremamente arriscadas devido à ameaça que constituia a presença de submarinos alemães que patrulhavam o Atlântico. Tiveram a protecção de um caça-minas da Marinha de Guerra Portuguesa.</div>
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Pararam na Póvoa do Varzim, como estava programado. Hospedaram-se num hotel para prevenir uma eventual demora e puseram-se a caminho da morada do senhor Flores. Um táxi fez o percurso até à morada, inscrita no postal que o sr. Flores enviara dez anos antes. A porta entreabriu-se e o cabelo grisalho de um homem septuagenário surgiu na ombreira. «Vimos de África, de Moçâmedes, e procuramos um senhor chamado Flores» «sou o filho do Trindade da Torre do Tombo», disse. A emoção embargou a voz do sr. Flores, o abraço foi longo e apertado. Ofereceu hospedagem em sua casa insistindo para que fossem ao hotel buscar as malas. «A porta da minha casa está sempre aberta aos filhos do Trindade», dissera. Aquele abraço tivera a emoção sentida de um reencontro, do "reencontro" de dois verdadeiros amigos que 44 anos antes haviam construído uma amizade nas incertezas de uma guerra. </div>
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Leovegilda, que conheceu o senhor Flores aos nove anos, casou com Serafim dos Santos Frota, nascido também na Torre do Tombo. Quis preservar na família este magnífico "hino" de louvor à amizade, à fraternidade e à solidariedade, transmitindo-o aos seus seis filhos: Branca, Madalena, Mariete, Serafim, Walter e Cláudio. Em 1964 Walter veio a Portugal cumprir o serviço militar na Força Aérea. Viajou à Póvoa do Varzim para conhecer o senhor Flores que relatou os anos inesquecíveis de 1915 e 1916, a forma amiga e fraterna como foi recebido pelos Trindade da Torre do Tombo, avós do Walter, forma amiga e fraterna que ajudou a mitigar ausências e saudades, e do sentimento de gratidão por aquela amizade, que apesar da distância, perdurou no tempo. <span style="color: #000099;"><em>(créditos de imagem: </em><a href="http://www.princesa-do-namibe.blogspot.com/"><em>http://www.princesa-do-namibe.blogspot.com/</em></a><em>)</em></span></div>
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<strong>NOTAS FINAIS</strong>:</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFT-skKooShxf14ye_J45xF28b8IpusPV6C_mge0C2XXCpjoou6tQyRMeQBfYh88zBkVrrd_8aM5jojSANRG7ks3uFublu9BqmQ0O0o_8IePjHRu4x3iYXZQDq8XK5rx5IjcXhEw/s1600-h/Cuamatos+1.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5362090678918945266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFT-skKooShxf14ye_J45xF28b8IpusPV6C_mge0C2XXCpjoou6tQyRMeQBfYh88zBkVrrd_8aM5jojSANRG7ks3uFublu9BqmQ0O0o_8IePjHRu4x3iYXZQDq8XK5rx5IjcXhEw/s320/Cuamatos+1.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 238px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>Orlog ou Orlow começou a combater em 1890 nas campanhas do Bié. Sobreviveu a muitas batalhas. Quem desobedecia tinha como "prémio" uma bala, era imediatamente morto. Mas o inimigo também se preparara para a guerra e numa acção de reconhecimento no Cuamato os vachimbas foram fortemente dizimados. A retirada impôs-se como única salvação em frente da massa aguerrida dos Cuamatos. E nessa retirada precipitada foi Orlog quem salvou a vida a Bartolomeu de Paiva, que tombara no chão com a sua montada. Bartolomeu de Paiva era filho primogénito de Artur de Paiva. Roçadas manifesta por este valente auxiliar uma decidida predilecção, lamentando que nos intervalos das campanhas fosse posto em condições de ter de roubar para viver. Orlog foi posto à margem. Tornara-se um indesejável. A sua cabeça andava a preço e viu-se na necessidade de passar o Cunene. Os anos foram passando inexoravelmente sobre a sua cabeça e a cada momento chegavam os seus mais vivos protestos de lealdade e arrependimento e os pedidos de fixação em território português. </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMbnTUQoojAoe5u_rJLK8YQVVqWExnnHkyoIhZ4tT-Cd8MkCMJW7U9Il68sjT9nLKMlx2kh08B9ZeK2_hI8xxizg3TjJxvfJst9roYbO6NmWZLVvX5VZTigKWqMEEpBygTuxSxcQ/s1600-h/Sul_Angola_10.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5360452620738899106" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMbnTUQoojAoe5u_rJLK8YQVVqWExnnHkyoIhZ4tT-Cd8MkCMJW7U9Il68sjT9nLKMlx2kh08B9ZeK2_hI8xxizg3TjJxvfJst9roYbO6NmWZLVvX5VZTigKWqMEEpBygTuxSxcQ/s320/Sul_Angola_10.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 231px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>Os boers partiram do Transval em 1876 em 400 carros boers pejados de gente. Não se resignavam aos vexames dos ingleses. À moda bíblica andaram cinco anos pelo deserto. Um deserto de sede. À luz das fogueiras elevavam as suas preces a Deus, louvavam a sua bondade e solicitavam a sua protecção e coragem, e uma Terra de Promissão. Quantos não sucumbiram à sede e às febres. Chegaram-lhes notícias de que na outra margem do Cunene existiam brancos. Era gente do agricultor e comerciante António José de Almeida que negociava na outra margem do rio. Animados de esperança fizeram os contactos com as autoridades portuguesas para se estabelecerem no planalto, regiões de muitas águas e boas terras. Instalaram-se nos baldios da Humpata, onde existiam somente dois portugueses estabelecidos. Constituíram a colónia de S. Januário. Em 23 de Dezembro de 1882 eram naturalizados portugueses e à sombra da nova bandeira íam lutar na guerra que se avizinhava.</div>
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Willen Venter era então um jovem de quinze anos. Anos mais tarde à frente da cavalaria boer enfrentou o inimigo em muitas batalhas. Foi várias vezes ferido em combate e foi condecorado pelo governo português. Mas em 1927 viu a grande maioria do seu povo abandonar as terras da Humpata em direcção à Dâmara. Um êxodo patrocinado pelo governo Sul-Africano. Willem Venter ficou. Em 1938, quando da visita do Presidente da República Portuguesa, General Óscar Fragoso Carmona a Moçâmedes, lá estava o septuagenário Willen Venter, (tinha um perfil alto e seco como o deserto que enfrentara), no seu garbo de cavaleiro, de medalhas ao peito e de Torre e Espada entre os heróis do Cuamato. Faleceu na sua <em>farm</em> na Palanca em idade muito avançada. </div>
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João Rodrigues Trindade possuía um terreno de "concessão régia" na Torre do Tombo e um lugar honroso no Grémio dos Industriais de Pesca do Distrito de Moçâmedes. A sua foto constava numa galeria de nomes com uma legenda: 46 anos de pesca. Figuravam na mesma galeria: Manuel Nunes de Carvalho, com 52 anos de pesca, António Mestre, com 40 anos de pesca, João Gonçalves Bento e Joaquim Bento, com 47 anos de pesca, Domingos Martins Nunes, com 46 anos de pesca, Tomás Ribeiro, com 52 anos de pesca, António Santos Paulo, com 39 anos de pesca, António Viegas Seixal, com 48 anos de pesca e Manuel Baptista Lisboa, com 44 anos de pesca. Quantos ainda poderiam enriquecer esta galeria de nomes? Muitos outros, concerteza. (Do livro "Caíques do Algarve no Sul de Angola" do historiador olhanense Dr. Alberto Iria)</div>
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Trindade Júnior demorou-se na Metrópole cerca de um mês. Após regresso retomou a sua actividade profissional de ajudante de despachante na conceituada "banca" de Raúl Radich Júnior. Como nos anos transactos os tempos livres dividia-os entre a família e o Sport Moçâmedes e Benfica. Esteve desde a primeira hora com os fundadores do clube em 1936. Os fundadores do clube eram ex-atletas do Ginásio Club da Torre do Tombo em colisão com a sua direcção. Considerados como rebeldes por aqueles que se mantinham fiéis à direcção e à camisola, eram "mimoseados" com um provérbio muito utilizado pelos homens do mar quando nos encontros ocasionais ou de circunstância se apresentavam na sede do seu antigo clube: "gaivotas em terra, tempestade no mar", numa clara alusão à sua rebeldia, contava Trindade Júnior. Ainda jovem, sentou-se no banco de suplentes no primeiro encontro de futebol que o Sport Moçâmedes e Benfica (ao tempo Sport Lisboa e Moçâmedes) realizou, e nunca mais parou. Foi atleta, treinador de futebol, seccionista, apoiante ou simples acompanhante. Integrou elencos directivos. Respeitado e respeitador cultivou relações de amizade com dirigentes dos restantes clubes da Terra, a saber: o Ginásio Club da Torre do Tombo, o Atlético Club de Moçâmedes e o Sporting Club de Moçâmedes, entre outros. Foi por fim o seu Presidente, o seu último presidente, reeleito em vários mandatos sucessivos durante cerca de quinze anos. Como empresário foi o último proprietário da <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEika4VvEcA19FuNXFhmcwxCdAtHkBGcEfOCRMYLF4n7-LXkbhaOdHQ-QQoDsQgk38LP_Xshfo3IS0BVVp88JrQIGWha1oGfcKr5-fo9xA8xlONcb2QbhwCNqHOtZETfCVYA_W1SJQ/s1600-h/Campo+Benfica++M%C3%83%C6%92%C3%82%C2%A1rio+1.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5351202071824550386" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEika4VvEcA19FuNXFhmcwxCdAtHkBGcEfOCRMYLF4n7-LXkbhaOdHQ-QQoDsQgk38LP_Xshfo3IS0BVVp88JrQIGWha1oGfcKr5-fo9xA8xlONcb2QbhwCNqHOtZETfCVYA_W1SJQ/s320/Campo%252BBenfica%252B%252BM%25C3%2583%25C2%25A1rio%252B1.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 207px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>conhecida Drogaria Nova, (casa fundada por Augusto Lopes Rosa), em sociedade com Artur Pinho Gomes, seu amigo e benfiquista de sete costados. (Na foto vemos dirigentes do Sport Moçâmedes e Benfica a cumprimentarem o Governador Geral de Angola Horácio Sá Viana Rebelo: Trindade Júnior, de óculos, João Maurício, Luís de Sousa Simâo e Mário António Guedes da Silva, a apertar a mão do governador. Foto tirada em 13/3/1959). </div>
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<span style="color: #000099;"><em>(Para consulta, recomenda-se a obra de António A. M. Cristão "MEMÓRIAS DE ANGRA DO NEGRO", capítulo II - 6 DESPORTO, por Mário António Guedes da Silva.)</em></span></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimt2qnZAmoFRuH6Zt5c-644aSNPJ1QZ1hduLe4fqiJhtCWplZkZEfX0iGWwSn69eQkV8fzAPxhoqAIYyyeBx7OseTaZTqOVn18r6H3S-FCbLsIYG4chlcrXJqHA8r4TOa0jr9aqA/s1600-h/Campo+SMB2006.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5355796178177638418" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimt2qnZAmoFRuH6Zt5c-644aSNPJ1QZ1hduLe4fqiJhtCWplZkZEfX0iGWwSn69eQkV8fzAPxhoqAIYyyeBx7OseTaZTqOVn18r6H3S-FCbLsIYG4chlcrXJqHA8r4TOa0jr9aqA/s320/Campo+SMB2006.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 240px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>Em 10/1/1976 foi divulgada a notícia de novos confrontos militares entre as forças que se digladeavam no terreno pelo poder em Angola, e após uma comunicação transmitida aos microfones do Rádio Clube de Moçâmedes, dirigida a toda a população da cidade, população já bastante reduzida apanhada numa guerra fraticida sem precedentes e em fuga para a Metrópole, abandonou o seu escritório no Largo dos Táxis, (já não havia táxis), onde exercia as funcões de ajudante de despachante, agora como colaborador do despachante oficial Mário Rogério da Silva após o falecimento de Raúl Radich Júnior, e dirigiu-se apressadamente a casa. Arrumou a primeira mala que encontrou, pois não podia perder mais tempo, e dirigiu-se a toda a velocidade ao cais comercial onde estava <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsctbUsoKh1Pk_5yoo2LoZPPvvfvA0Wga67mCEszHLDN1Gbt54mjdpNQdiRk3RKJXdGU7f3IC00UhV80n5IdD6qHj-PxEkuorH_c1fU0h1P9vkChojKLP2H-QfFWjZdbkw0r-47A/s1600/BENpan08.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5460032037817204226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsctbUsoKh1Pk_5yoo2LoZPPvvfvA0Wga67mCEszHLDN1Gbt54mjdpNQdiRk3RKJXdGU7f3IC00UhV80n5IdD6qHj-PxEkuorH_c1fU0h1P9vkChojKLP2H-QfFWjZdbkw0r-47A/s320/BENpan08.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 79px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>acostado o navio de carga grego Silver Sky. De caminho, um breve e último olhar ao magnífico campo de jogos do clube, a menina dos seus olhos, e por que não a menina dos olhos de todos os desportistas da cidade, implantado além do perímetro da cidade, circundado pelas repousantes areias do deserto que no seu milenar silêncio foi assistindo ao longo de anos ao seu crescimento, as fases que o tornaria num projecto concretizado, orgulho dos seus promotores, do clube e da cidade pela sua dimensão. A sua grandeza é notada logo à entrada nos amplos espaços dos acessos. As bancadas, construídas em toda à volta do recinto, comporta uma lotação que excede os três mil lugares sentados, (faltando por construir o projectado edifício/sede agregado ao campo e a concretização de um projecto de cobertura), e lá de longe, do navio grego Silver Sky, a navegar para o porto da Namíbia, Walvis Bay, acompanhado pelo seu sobrinho Walter e pelo seu sobrinho-neto Eduardo Manuel e mais 1600 refugiados, viu sumir no horizonte e para sempre a sua cidade, e com ela aquele símbolo de pertinácia, que muito dignifica o estóico e já histórico dirigismo desportivo moçamedense. Era o ano quarenta da fundação do clube do seu coração e o ano quarenta de uma forte dedicação pessoal à causa desportiva. Alguns dos nomes sonantes do futebol português, com destaque para o valoroso Peyroteo, um dos cinco violinos do Sporting Club de Portugal, iniciado no Atlético Club de Moçâmedes, os atletas das equipas de hockey em patins do Atlético Club de Moçâmedes, sete vezes campeãs de Angola, equipas que ombreavam com as melhores nacionais nas épocas em que Portugal dividia com a Espanha os títulos mundiais, os atletas da equipa de basquetebol do Atlético Club de Moçâmedes, uma vez campeã de Angola na classe junior, para além de basquetebolistas juvenis, (classe etária dos treze aos quinze anos), campeões nacionais da Mocidade Portuguesa em 1965, atletas escolhidos nas escolas dos clubes da cidade, cuja final se jogou em Lisboa e o resultado disputado até aos derradeiros segundos de jogo, (perfilaram: Helder Canhoto, Custódio Teixeira, Totta, Jorge Cruz, Pinto, Carlos, Elísio "treinador", Cecílio Moreira "dirigente"), devem algo a esta casta de dirigentes que souberam levar à prática desportiva a grande massa da juventude moçamedense. Em Porto Alexandre, a actual cidade de Tômbua, era o Independente Sport Club que nos últimos anos de colonização rivalizava em futebol sénior com as melhores equipas provinciais, chegando a ser tri-campeão de Angola nos anos 1969/70/71, perdendo o tetra para uma equipa do Moxico reforçada com atletas metropolitanos de alta craveira, com evidência para Seninho, do F.C. do Porto e da selecção nacional, e Xico Gordo, ponta de lança do Sporting Club de Braga, a cumprirem o serviço militar na Zona Leste de Angola. Atletas moçamedenses fizeram parte de valorosas equipas em outras partes da então Província de Angola. Pelos títulos conquistados sobressaem Carla Frota e Carolina Frota, filhas de Álvaro dos Santos Frota e Beatriz de Almeida Frota a vingaram no basquetebol huilano pelo Sport Lubango e Benfica. Trazem na bagagem o amor pelo basquetebol e o título de campeãs de Angola conquistado por diversas vezes e registe--se o de campeãs nacionais nas épocas de 1961 e 1962. Tal como Moçâmedes, a Huíla primou pelos seus atletas e dirigentes desportivos. Em 1963, e já sem a participação destas duas irmãs moçamedenses, foi realizado o feito mais brilhante desta equipa no plano internacional: a conquista do vice (2º) lugar no Campeonato Europeu, troféu máximo do historial do clube, ora divulgado, numa final disputada em Praga, na Checoslováquia, frente ao papão Real Madrid, para além de a equipa ter sido vencedora em diversos Torneios Internacionais. Nomes como Carla Frota, Carolina Frota, as huilanas Ernestina Coimbra, Paula Peyroteo, Regina Peyroteu, São Peyroteo, Guiomar, Elisabeth Freitas, Manuela Magalhães, Idalina Magalhães, Olívia Magalhães, Anália Lemos, Luísa Farinha, entre outras, tornaram-se conhecidos expoentes no panorama do basquetebol lusitano. Pode-se afirmar que Moçâmedes não foi somente e apenas feliz no seu desenvolvimento económico, social e cultural, apesar de algumas crises terem feito tombar gigantes, desenvolveu-se outrossim no campo desportivo, com as gerações da continuidade. Uma continuidade à altura dos seus primeiros, os lídimos <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmEKEVtKzslmD4k4H4nFn7vGyjnh2wdG2FtBAc3V7gtJNlVZVYhT5Fhr3YKjP7KCLVeghjH62j27PnVSAT72JUbBVCmw4kvg4Qby5dl2P8dPRTNAiGu_TSJ1ur2Uh9is6d1Zk6FA/s1600-h/10.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5363044944608034002" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmEKEVtKzslmD4k4H4nFn7vGyjnh2wdG2FtBAc3V7gtJNlVZVYhT5Fhr3YKjP7KCLVeghjH62j27PnVSAT72JUbBVCmw4kvg4Qby5dl2P8dPRTNAiGu_TSJ1ur2Uh9is6d1Zk6FA/s320/10.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 229px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>continuadores de sagas. </div>
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Nesta foto de 1946 vemos o torretombense, ex-atleta e Presidente do Ginásio Club da Torre do Tombo, Mário dos Santos Frota a discursar num evento perante as autoridades locais. Relacionava-se com a cerimónia do lançamento à água de uma guiga, barco de regatas a remos construído nos estaleiros de Óscar de Almeida, (imagem do blog de Nídia Jardim <a href="http://www.princesa-do-namibe.blogspot.com/">http://www.princesa-do-namibe.blogspot.com/</a>), um dos fundadores do club e seu cunhado, casado com Silvéria dos Santos Frota. Presentes, entre outros torretombenses "pratas da casa", José dos Santos Frota, (ex-atleta de referência), e Álvaro dos Santos Frota, ambos irmãos do primeiro. (São os que estão de óculos escuros). Os dirigentes desportivos puderam contar com os comerciantes e industriais do então distrito de Moçâmedes. Os seus subsídios, quer em dinheiro ou materiais de construção, foram de extrema utilidade na prossecução de projectos em conjunto com os subsídios que se obtinham do Estado. Desta forma puderam os clubes construir infraestruturas próprias, dentro do que era regulamentar, não só para servirem o desenvolvimento autónomo das suas actividades desportivas, mas, também, para as disponibilizar para os jogos no âmbito do calendário oficial. Quanto bairrismo vibrante não foi derramado naquelas "Catedrais do Hóckey em Patins" que só a elevada craveira de um Arménio Jardim, Rui Mangericão, Rui Sampaio, Quim Guedes, Carlitos Guedes, Álvaro Ascenso, Briguidé e os mais novos Orlando Santos (Camona), Carlos Brazão, Mário Graúna, Laurindo Couto, Laurentino Jardim (Tininho), Eloy Craveiro, Carlos Chalupa, estes mais novos fazendo parte da "equipa maravilha" do Atlético Club de Moçâmedes, podia motivar! As luzes daqueles velhos estádios continuam acesas ao serviço do desporto e da juventude do Namibe. Inevitavelmente, porém, alguém procurará, um dia, ir ao encontro da história e levar a esse presente e ao futuro todo um manancial de boas e gloriosas recordações dos saudosos primeiros anos de vida desses mesmos velhos estádios. Os subsídios já estão a acontecer.</div>
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<span style="color: #000099;"><em>(consultar: </em></span><a href="http://www.memoriasdesportivas.blogspot.com/"><span style="color: #000099;"><em>www.memoriasdesportivas.blogspot.com</em></span></a>, de Nídia Jardim<em><span style="color: #000099;">)</span></em></div>
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Em Portugal, Trindade Júnior reviu a descendência do sr. Flores, que falecera havia alguns anos. Recomeçou a mesma actividade profissional com o seu amigo algarvio, o despachante oficial António Cavaco, que exercera a profissão em Moçâmedes e depois com escritórios em Algés, e foi comerciante; o Estádio da Luz recebia mais um benfiquista anónimo e discreto nas suas bancadas; trazia quarenta anos de dedicação e serviços prestados a uma outra "águia" que nasceu e se criara num deserto em África e por lá esvoaçara nos mesmos quarenta anos. Silenciou o passado, as coisas que realizara, os avultados bens que lá deixara. Reencontrou amigos, fixou-se em Parede na linha de Cascais onde viria a falecer octogenário.</div>
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<em><span style="color: #000066;">(Agradeço ao meu amigo Telmo Ascenso a foto do Arco do Carvalhão e as do campo de jogos do Sport Moçâmedes e Benfica e à minha amiga e parente Nídia Jardim a cedência da foto da minha ascendência materna: a família Trindade e da casa de madeira onde moraram). (Um agradecimento a António Gama pelos dados biográficos de Willem Venter e Orlog, o zulu, e ainda pelo relato do que foi a odisseia dos boers da colónia de S. Januário chefiados pelo Patriarca Jacobus Friederick Botha, que sintetizei.)</span></em></div>
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Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-84264151989478696542008-06-14T12:24:00.416+01:002018-04-15T22:06:33.694+01:00A SAGA DA FAMÍLIA GOMES<div align="justify">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhlbJxc3VKUaFnLd-hgC8g99PV_yEcXocCHNTCFF7WG9VR-VkqGKG7iLVP7hrjoANVdT_JxcsXuGUbkO4pYKKrL-7vXJC4uD69AwwtdiEuiFPkNpqG4oFO9fVpAs0YIXxQrX9sVw/s1600-h/Albg1.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5218374824851624514" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhlbJxc3VKUaFnLd-hgC8g99PV_yEcXocCHNTCFF7WG9VR-VkqGKG7iLVP7hrjoANVdT_JxcsXuGUbkO4pYKKrL-7vXJC4uD69AwwtdiEuiFPkNpqG4oFO9fVpAs0YIXxQrX9sVw/s320/Albg1.jpg" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a>A história da família Gomes pode parecer-nos uma aventura de pendor ficcionista destinada a povoar prateleiras de livrarias e fazer sonhar as mentes que se abrem ao encanto de um conto irreal e imaginativo. Ela é bem real e constitui por si só, uma odisseia de valor épico.<br />
Alberto Gomes abriu-se às recordações de um passado vivido em África, nas praias que percorreu localizadas a sul de Benguela, com relevância à "sua" Baía das Pipas, situada a quarenta kilómetros a norte da cidade do Namibe, no sul da República de Angola, num desfilar de acontecimentos por ele vividos ou transmitidos de geração em geração numa saga incrível, iniciada em Olhão no ano de 1860.<br />
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<strong>ALBERTO GOMES, O LUCANGA (Duro e Invencível)</strong></div>
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Alberto Gomes foi uma figura incontornável da Baía das Pipas até ao ano de 1980, o ano em que o destin<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiupmqWPHUcPo3bv_0Rct8aFIoCsPkGF96LaIR5Xobrs-xkJ9rVeEJmFq01wuW56-SQgpsPCwytZD6iatVTYzd4l8V_GRPEwFccbhiCYXFgwj2TXeI5rd5NeMOh7sEJnUvra_2aPQ/s1600-h/CarAlbG1.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5212523910654234578" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiupmqWPHUcPo3bv_0Rct8aFIoCsPkGF96LaIR5Xobrs-xkJ9rVeEJmFq01wuW56-SQgpsPCwytZD6iatVTYzd4l8V_GRPEwFccbhiCYXFgwj2TXeI5rd5NeMOh7sEJnUvra_2aPQ/s320/CarAlbG1.jpg" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a>o o trouxe a Portugal por razões de saúde da sua filha Sara. A dificuldade em obter o visto que o levaria de regresso à Baía das Pipas, dificuldade essa motivada pelo recrudescer da guerra civil que se vivia naquele território do sul d´África, Angola, impôs-lhe a fixação definitiva em Quarteira quando contava 59 anos de idade, na companhia de sua companheira de sempre a D. Carolina Teixeira, sua esposa e mãe dos seus cinco filhos nascidos em África e avó de 28 netos. D. Carolina é descendente de madeirenses que povoaram o Vale do Lubango e que fundaram a grande cidade de Sá da Bandeira, a actual Lubango. O seu pai de nome José Teixeira, natural da Huíla, era conhecido por Zé <em>Cambuta</em>, que quer dizer "homem baixo", (alcunha vinda de seu pai), desceu ao litoral moçamedense e fundou uma pescaria na praia do Baba, onde conheceu Alberto Gomes. </div>
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Adaptaram-se facilmente ao meio marítimo e turístico de Quarteira e à nova vida que então iniciaram. O mar de Quarteira passou a ser aquele que iria dar o sustento a si e à sua família, faltando somente as espécies exóticas que povoam os mares de África e os pesqueiros onde eram capturados, que Alberto Gomes conhecia em toda a extensão da costa do distrito de Moçâmedes.<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieqjcdwrBOQNj0TKXfIVQIuw9E7ygRFA4wHVsk4Rj9THWeZeE4rp-QjLdE1ZXRtbyvqON1EuJyy8wrxPQpSPhX2Bs7U94OQt26CfRzf3260U95zhEL1SAc3lx77oNOkffgyH9Vdg/s1600-h/0715a.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5276011228003843218" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieqjcdwrBOQNj0TKXfIVQIuw9E7ygRFA4wHVsk4Rj9THWeZeE4rp-QjLdE1ZXRtbyvqON1EuJyy8wrxPQpSPhX2Bs7U94OQt26CfRzf3260U95zhEL1SAc3lx77oNOkffgyH9Vdg/s320/0715a.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 150px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 220px;" /></a>De África ficou a saudade dos caminhos que percorreu e que constituiram a sua vida: Moçâmedes, a actual Namibe, Porto Alexandre, a actual Tômbua, Baía dos Tigres, Lucira, Baba, e tantas outras praias que relembra. Uma vida vivida com intensidade, onde dois continentes se encontraram num mesmo espaço: a África e a Europa a caminharem lado a lado no sentido do progresso.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh92KLIje63pz6MnxgLDjTOjGPBlOJ-iaxuwm_vaawZ6k-jPrJBd-K8cEmWOYLqKSdK7DrDdAUge12h-xbf71D8l1gKiA6rJgJukXV_qq2N23zHDrzO30w2hsF2S4jW8EPgCC3e1Q/s1600-h/1010.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5352704849697787858" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh92KLIje63pz6MnxgLDjTOjGPBlOJ-iaxuwm_vaawZ6k-jPrJBd-K8cEmWOYLqKSdK7DrDdAUge12h-xbf71D8l1gKiA6rJgJukXV_qq2N23zHDrzO30w2hsF2S4jW8EPgCC3e1Q/s320/1010.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 160px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 220px;" /></a>A África e a Europa estão contidas no seu sangue e na sua forma de conviver. Com os trabalhadores da pescaria fundada por seu bisavô, aprendeu o dialecto umbundo do povo munano da região do Huambo e Caconda do centro de Angola, o dialecto dos cuanhamas, (povo que habita a região sul fronteira à Namíbia), o quimbundo de Luanda, e com os familiares e amigos africanos da Baía das Pipas, o dialecto do povo mucubal, do Giraúl de Cima, o chamamento da sua mãe África, na voz de sua mãe D. Virgínia, irmã do soba, a autoridade tradicional.<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWMwxUjKHRTuefqwzEP3ybwsYVaQOSNg1tqTZDNTowuh-GawAeG2uBjIXsz4LyoDUQE8VqlDirb5T3dt0XR0kRwFCr5WdIdMBkahASMe-EJM9ph_pVNNqnhdn8nw-m0jlJu9iV0g/s1600-h/Alberto+GomesRCM1.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5218375677977460690" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWMwxUjKHRTuefqwzEP3ybwsYVaQOSNg1tqTZDNTowuh-GawAeG2uBjIXsz4LyoDUQE8VqlDirb5T3dt0XR0kRwFCr5WdIdMBkahASMe-EJM9ph_pVNNqnhdn8nw-m0jlJu9iV0g/s320/Alberto+GomesRCM1.jpg" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a>Os familiares e amigos de origem europeia visitavam-no regularmemte no seu "retiro" na Baía das Pipas, onde os esperava uma saborosa caldeirada de peixe à moda do pescador algarvio ou uma moqueca de mexilhão, confeccionados pelo próprio Alberto Gomes, iguarias que não dispensavam, terminando com serões musicais. Na música, a concertina de outros tempos e o acordeon de tempos mais próximos onde abrilhantou festas particulares ou em colectividades, tornando-o popular em todo o distrito. Conhecedor de caminhos, era o guia e o caçador atento nas caçadas e nos passeios pelo deserto.<br />
Possuidor de uma força física fora do vulgar, comparada à de Fernando Faquinha, este cerca de trinta anos mais velho e <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9KvRKJhfmiMZZnKE4zXdcI4Poil1HecjGkInhOqFkLsECADfv5sGkKQ_dzZVQs-XI03a6-Vcp4pg3FzDPDPtin-RyV0-bV6rxOobXP9pSP1-rv7yyeeEdZq1YeVesn_YOyXSnUQ/s1600-h/Pesc2.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237400610923824578" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9KvRKJhfmiMZZnKE4zXdcI4Poil1HecjGkInhOqFkLsECADfv5sGkKQ_dzZVQs-XI03a6-Vcp4pg3FzDPDPtin-RyV0-bV6rxOobXP9pSP1-rv7yyeeEdZq1YeVesn_YOyXSnUQ/s320/Pesc2.jpg" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a>conhecido como "o Hércules de Moçâmedes", seu amigo e mestre de palhabote, mereceu o apelido de "Lucanga", "Duro e Invencível", posto pelos nativos, quando numa pescaria de sardinha em Porto Alexandre, enfrentou e derrubou um grupo de cuanhamas, em defesa do mestre e proprietário do barco, o seu familiar Manuel de Carvalho.</div>
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(Fernando Faquinha "o Hércules de Moçâmedes" era descendente de João da Faquinha, referido mais adiante no texto. De um tio conta-se histórias de valentia nas viagens pelos portos do Mediterrâneo e um dos seus primos de nome João, sensivelmente da sua idade e morador em Olhão, "o algarvio mais forte do seu tempo". Este viajou às terras do Sul de Angola e por lá permaneceu durante um ano. Uma surpresa teve João quando regressou a Olhão: durante esse tempo de ausência, aconteceu surgir um novo pretendente à mão de sua noiva. Para resolver tal situação algo inesperada pensou utilizar medidas drásticas logo no primeiro encontro entre ambos: o pobre do pretendente viu-se agarrado pelos fundilhos das calças e lançado no meio da rua a esfregar um trazeiro dorido pelo impacto de algo parecido com um pontapé bem aplicado. </div>
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Por seu lado, Fernando, o Hércules de Moçâmedes, exibia-se, prendendo os pés na base do mastro do palhabote e içava a vela só com a força dos seus braços. Nota: para que essa operação fosse executada era necessário a força de quatro homens normais. Estas e outras demonstrações de grande poder físico fizeram-no ganhar o epíteto de "o homem mais forte do distrito de Moçâmedes" impondo-se ao longo dos anos a qualquer pretensão da concorrência a esse título.)</div>
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Outro acontecimento em que fez valer a sua invulgar força física, foi quando da preparação do casamento de uma sua serviçal chamada Vitória, noiva de um individuo de Malange chamado Cassessa. O boi que o noivo ofereceu para a boda investiu contra os presentes, cabendo a Alberto Gomes dominá-lo, segurando-o pelos chifres, derrubando-o de seguida. Alberto Gomes possuía a força e a valentia do seu bisavô olhanense Domingos Gomes do Armazém. Figura extraordinária de barbas compridas e temido pelos mais valentes.</div>
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O seu prestígio fê-lo regedor, a autoridade portuguesa naquela praia.<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKhMFtnOcE3FM1ZnQzIbR9NHZWpXm4fGhfS-ei0_A6Cj83ZfoARlKo8mzr08xOM2nChrgYhI6MzzknbLvphZGD5WxUGHH1Mcylw9HgTaEMHijQPX8UyluaDVsoVLsI3LU8SsGJ3g/s1600-h/albpBP1.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5218399035335077154" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKhMFtnOcE3FM1ZnQzIbR9NHZWpXm4fGhfS-ei0_A6Cj83ZfoARlKo8mzr08xOM2nChrgYhI6MzzknbLvphZGD5WxUGHH1Mcylw9HgTaEMHijQPX8UyluaDVsoVLsI3LU8SsGJ3g/s320/albpBP1.jpg" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a>Aos sete anos já seguia os trabalhadores da pescaria nos seus afazeres. Fez-se aos remos das baleeiras da pesca à linha, remando trinta kilómetros por dia atrás da taínha até à foz do rio Giraúl, (On Gila Ul, significa "o caminho acabou" nome posto pelos mucubais quando ali chegaram), quinze kilómetros da ída e mais quinze da vinda, uma empreitada quotidiana dura, executada metro a metro. <em>(Na foto, casas de moradia. Alberto Gomes morou na que fica atrás da mulemba, árvore plantada pelo seu tio Domingos Gomes há cerca de 77 anos, uma espécie de figueira.) </em></div>
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Apesar do trabalho braçal rude e violento aos remos das baleeiras e o descarregar cargas pesadíssimas que se impunha executar, (os barris de cimento chegavam a pesar 180 Kgs., confiando a si próprio a tarefa de os descarregar sozinho para que não caíssem e danificassem o casco de madeira das baleeiras), Alberto Gomes era conhecido essencialmente pela arte de bem <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6aUgdgE8BvLblhkn7FCyQNI7_ljFgAw4Z2jb4y2gcAzvO5kkZyjDh504nhyphenhyphenQWJBnFeWZqR6gG7YCljXyApkmxnqYUhCJfKfOp3sr3dtxUmTfKTg-HgjlvOFaXq84ELyITRsmUOg/s1600-h/albpBP2.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5218408792218897506" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6aUgdgE8BvLblhkn7FCyQNI7_ljFgAw4Z2jb4y2gcAzvO5kkZyjDh504nhyphenhyphenQWJBnFeWZqR6gG7YCljXyApkmxnqYUhCJfKfOp3sr3dtxUmTfKTg-HgjlvOFaXq84ELyITRsmUOg/s320/albpBP2.jpg" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a>receber, pela simpatia <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQYiDUKqwOcqHdoOs7CJLEIBobmiiiz1jVRG3NHDQQhvHgIvCsvsoVbUfiRW1LFFTaTelaKDnabq7TAt9RwqyCrVXKJDb1t176Ca2JSSaIq1_vETkFwB1QVDRKEokPsa08xGLVGg/s1600-h/CF2326.jpg"></a>que irradiava, pelas histórias que contava, em suma, por uma personalidade cativante e encantadora. Não perdeu esta forma de estar na vida e as qualidades que o tornaram popular e famoso em todo o distrito de Moçâmedes e na cidade vizinha de Sá da Bandeira, hoje Lubango. </div>
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É hoje um homem tranquilo que se entretém a desenhar as artes e barcos do seu tempo de juventude há muito desaparecidos da paisagem <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFjBYe6wFuVoS6h6eJOsa_6AEEpk-myn4aDajWGwK20aixFEQIij293ys94ip4XTZYPZc3pNCBYO-s3XhLXcZZqPekpTY1m4CeF9zMu7dD1jn_0n4VLFZbZ9R5SVtXNsnLtBFL6A/s1600-h/PDVD_418.jpg"></a>marítima e que a história recolheu em memória, memória que se vai diluindo no tempo ano a ano mais ténue. Tem orgulho do seu passado, dos sítios onde viveu e ajudou a desenvolver e que contam retalhos da sua vida, desde a praia ignota da Baía dos Tigres, lá bem no sul com as suas histórias de coragem, de isolamento e clima agreste; da Baía das Pipas enfrentando <em>calemas</em> (mar revolto) em manobras arriscadas aos remos das baleeiras; das cidades que viu crescer: Moçâmedes e Porto Alexandre, construídas sobre as areias do deserto do Namibe, (Namib, terra sem água no dialecto Nama do grupo étnico Khoi ou Hotentotes), a primeira, que se engrandeceu e se tornou na bela "Princesa do Namibe", a segunda, que se transformou num industrializado porto piscatório, o mais importante do território angolano, onde grangeou simpatias e amizades duradouras; saudades dos dias em que o trabalho era duro, totalmente físico, ganhando a admiração e o respeito de todos os companheiros pelo seu empenho e força física. Os seus desenhos são as marcas duma época de grandes esforços, de grandes sacrifícios, realizados por uma geração de pioneiros aguerridos e seus descendentes naquela parte de África onde nasceu, cresceu e se fez homem, num mar que o fez descobrir o ser e o estar.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibV4ddrJm0BUddWZh-nP5pwiGa2ig8COlWG_uD3CtEadfpoErk3rfuf4qHdcoSue4Uo5D43dFvx86mTPTbPIQs_G9awDFCcm4LpusUZFrNVmz45My8PPFv5nhj3UclcIlauLN6Tw/s1600-h/CF2329.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5269677124386687906" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibV4ddrJm0BUddWZh-nP5pwiGa2ig8COlWG_uD3CtEadfpoErk3rfuf4qHdcoSue4Uo5D43dFvx86mTPTbPIQs_G9awDFCcm4LpusUZFrNVmz45My8PPFv5nhj3UclcIlauLN6Tw/s320/CF2329.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 240px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>Esses barcos e artes estiveram também presentes na costa quarteirense. São lembranças de uma população que se reviu nos desenhos de Alberto Gomes, e por isso, apreciados e elogiados por professores, alunos e visitantes quando anos atrás foram expostos numa escola de Quarteira. (Na gravura, o desenho de um palhabote). </div>
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E agora, com oitenta e sete anos de idade e com um sorriso nos lábios, conta-nos que tudo começou na Ria Formosa, nas águas tranquilas que banham a então Vila de Olhão da Restauração, no Algarve, nos longínquos anos de 1860, ao leme de uma "CATRAIA".</div>
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<span style="color: black;"><strong>AO LEME DE UMA "CATRAIA"</strong></span></div>
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Decorria o ano de 1860, quando Domingos Gomes do Armazém, sua esposa Esperança do Rosário e João da Faquinha decidiram deixar Olhão e rumar a Moçâmedes, a actual cidade do Namibe no sul da República de Angola, na esteira dos primeiros colonizadores olhanenses que se fixaram naquelas paragens da então África portuguesa. Movidos pelas notícias de que naqueles mares se desenvolvia a indústria piscatória e que as espécies abundavam em toda a costa do distrito, de boas enseadas e baías, Domingos Gomes do Armazém apetrechou a sua "catraia" de pesca, levando também a primeira sacada (arte de pesca) que operou naquela zona de Angola. Alguém predestinara um melhor futuro em África e aconselharam que partissem. A sorte estava lançada. Íam enfrentar o mar naquele barquinho de vela latina triangular, com cerca de doze metros de comprimento e cerca de quinze toneladas de porão. Seria a maior aventura até então realizada pelos pescadores olhanenses com destino a Angola em barco à vela, não se conhecendo até hoje, outra que se iguale, dadas as condições em que foi realizada. </div>
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Esperança do Rosário estava num estado muito avançado de gravidez e teve o seu bebé a bordo já a sul de Marrocos. Puseram-lhe o nome de Teresa e era o primeiro filho do casal.</div>
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A viagem prosseguiu para Moçâmedes numa sucessão de dias. Não se sabe quantos. Eram pescadores experimentados e provavelmente com traquejo nas viagens pelo Mediterrâneo e norte de África. </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3zYY91gxpVqslmQJ91bZj3NDql6qmTJE-3rqHrArpyVBVHfzNFg1m1eiz6kZ-VmDMNnyPrhyphenhyphenQTlzc858666LHS2VLrINErAKWmr8JybRuoeYypShnBnQsMOJF9K5H7LhBeRlkWQ/s1600-h/008.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223006769565905378" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3zYY91gxpVqslmQJ91bZj3NDql6qmTJE-3rqHrArpyVBVHfzNFg1m1eiz6kZ-VmDMNnyPrhyphenhyphenQTlzc858666LHS2VLrINErAKWmr8JybRuoeYypShnBnQsMOJF9K5H7LhBeRlkWQ/s320/008.jpg" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a>Aportaram Moçâmedes em data indeterminada e descobriram uma pequena vila implantada no areal do deserto do Namibe, guardada por uma fortaleza. A meio da rua principal, a mais próxima da praia, (Rua do Bonfim), o primeiro jardim público de Moçâmedes, o Jardim do Colono, com cerca, poço, elementos arbustivos, lago, doze bancos e a meio dele uma bomba elevatória, onde nas tardes de quintas feiras e domingos a população se entretinha em convívio, ao som da banda da guarnição militar ali aquartelada. Esse jardim foi construído no sítio onde foram montados os barracões de pau a pique, que alojaram os fundadores da vila, onze anos antes, os componentes da primeira colónia agrícola proveniente de Pernambuco, e onde, posteriormente, foi construído o Cine Teatro de Moçâmedes.</div>
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Ao longo do rio Bero, (Sítio das Hortas, Cavaleiros, Boa Esperança, etc.) os arredores agrícolas com dezenas de propriedades. Conta-se 176 fogos na Vila e arredores, (34 em pedra, 116 em adobe, 26 de pau a pique e mais 31 cubatas de palha, reportamo-nos a um mapa de 1859).</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGFUW9dIn-XsOeYCxqj4MK1fCBthI666eanE9tRvwE8SBQ_1R2y63oCL_ADoGKUR9Rbq8CavW8ejEoBmDyG5E4RgKr7HLHmTcK12FuoBn1hpWC_WODTrTgyZ9RcYP3qb-70wWvwg/s1600-h/007.JPG"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223005395324882258" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGFUW9dIn-XsOeYCxqj4MK1fCBthI666eanE9tRvwE8SBQ_1R2y63oCL_ADoGKUR9Rbq8CavW8ejEoBmDyG5E4RgKr7HLHmTcK12FuoBn1hpWC_WODTrTgyZ9RcYP3qb-70wWvwg/s320/007.JPG" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a> Com uma população branca de mais de quinhentos habitantes, Moçâmedes, continuava na senda da produção do algodão e da cana de açúcar com resultados nem sempre satisfatórios.<br />
Esses colonos para além da agricultura dedicam-se também à pesca à linha em lanchas, escaleres e baleeiras, exercida por escravos. Produzem peixe seco e óleo de fígado de cação. O que se exportava era levado pelos barcos-correio do estado para Luanda, destinado aos armazens do almoxarifado, para ser comercializado, bem como outros produtos, como a cera, marfim e urzela. Cardoso Guimarães, olhanense, fundador da terceira feitoria em 1843, possuía também a sua propriedade agrícola, ainda antes da chegada destes colonizadores de Pernambuco e segundo o historiador Carlos Alberto Garcia, foi quem introduziu no distrito a produção do peixe seco, ensinando a arte da escalagem e secagem do peixe aos nativos. Esse pessoal foi aproveitado pelos colonos de Pernambuco que se lançaram, também, na sua produção e comércio. O restante da população era constituída pelos degredados, as famílias destes e a guarnição militar, alojados na fortaleza S. Fernando.<br />
Moçâmedes não dispunha de alojamentos que recebessem estes nautas, chegados sem aviso prévio.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgM6U5wZiGgH8ofEUE2XW1embxtcDxDMxkef5Qf4CQNBwbobNazYHhJVGG2de6DBDjlapNXhDA6hl6bwt36zDNpMohOZkeI5bg42AzPTKUn84MlopyG7-CrHuwuFnuj2HUm8PWY3A/s1600-h/Furnas3.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5251981154406270258" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgM6U5wZiGgH8ofEUE2XW1embxtcDxDMxkef5Qf4CQNBwbobNazYHhJVGG2de6DBDjlapNXhDA6hl6bwt36zDNpMohOZkeI5bg42AzPTKUn84MlopyG7-CrHuwuFnuj2HUm8PWY3A/s320/Furnas3.jpg" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a>Não havendo alojamentos decidiram escavar uma gruta na rocha argilosa do morro da Torre do Tombo para servir de moradia familiar temporária. Já existiam outras, escavadas provavelmente por mariantes, corsários ou esclavagistas que ali aportavam para fazer aguada (reabastecerem-se) ou embarque de escravos, anos antes, deixando os seus nomes e datas da sua passagem gravadas na rocha branda. Daí o nome Torre do Tombo, nome do Arquivo Nacional Português. <em>(Vêr o post "<strong>Quando tudo era um areal")</strong></em></div>
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Fizeram o reconhecimento da costa a norte da vila de Moçâmedes até à Lucira, e a sul até à Baía dos Tigres.<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiLLrY6wVfE-F_cq4TxZ5smhg4klOEAAgfA-4oYJlrkxmtdwI4NIvs6nvbkLSoRaS72fJo-nGRoon6P_MRrriQzAQKjyh5mGX2fZbuCZTGHdN0EMdEFDOTzavjRcK_CqNS-0GlJA/s1600-h/14Namibe%20provincia_Foz%20cunene30_03_2004b.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5218397827128381346" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiLLrY6wVfE-F_cq4TxZ5smhg4klOEAAgfA-4oYJlrkxmtdwI4NIvs6nvbkLSoRaS72fJo-nGRoon6P_MRrriQzAQKjyh5mGX2fZbuCZTGHdN0EMdEFDOTzavjRcK_CqNS-0GlJA/s320/14Namibe%2520provincia_Foz%2520cunene30_03_2004b.jpg" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a>A Baía dos Tigres não era habitada e não oferecia condições de permanência devido ao isolamento, ao clima agreste e a falta de água potável e solos que pudessem agricultar. O mar era dos mais generosos mas a paisagem era desoladora. O deserto é formado pela duna de areia fina que atinge mais de trezentos metros de altura, não se avistando qualquer ponto verde no horizonte. Os entendidos dizem que é o deserto com as dunas mais altas do mundo, o mais antigo com oitenta milhões de anos e com uma área de cinquenta mil kms.2.<br />Ao passarem por Porto Alexandre poderiam ter encontrado pescarias de algarvios ali fixados antes de 1860, mas não há informação que sustente esta afirmação de Ralph Delgado. Existiram sim, duas pescarias, a de Luís Castelino e outra de José da Silva Nogueira, proprietários de Moçâmedes, cuja pesca era exercida por escravos, com actividade a partir de 1861. Com futuro incerto, retiraram-nas pouco depois, como nos conta o historiador Manuel Torres.<br /><br />Em Moçâmedes contaram dezoito pescarias localizadas ao longo da praia e nas praias ao norte da vila mais quatro: no Baba e na Baía das Pipas desde 1855, na Lucira desde 1856 e no Catara desde 1857.<br />Na Torre do Tombo, na gruta que servia de moradia familiar nasceram dois dos quatro filhos do casal: Joaquim Gomes do Armazém (avô de Alberto Gomes, baptizado na Igreja de Santo Adrião no dia 10/06/1874) e Francisco Russo. A mais nova, a Assumpção, nasceu na Baía das Pipas.(Casou com João dos Reis, conhecido por João Baralhão, mestre de caíque).</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0J6Q5VT47-PaL8Rw2pJw5L2Fn7cpZeHvDDgW-92HGBWzonrYEx_XaGBKfQH1HbPGHeLo_m0J8fdEZXwQa3x7VQ-dlcCTvW73WWHKt_YC7K_NqB9O4UxnUX7CplxKVBLzbw3hW8w/s1600-h/Baia+das+Pipas.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5218394374956406674" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0J6Q5VT47-PaL8Rw2pJw5L2Fn7cpZeHvDDgW-92HGBWzonrYEx_XaGBKfQH1HbPGHeLo_m0J8fdEZXwQa3x7VQ-dlcCTvW73WWHKt_YC7K_NqB9O4UxnUX7CplxKVBLzbw3hW8w/s320/Baia+das+Pipas.jpg" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a>Por concessão régia fixaram-se na Baía das Pipas, onde se encontrava estabelecido com uma pescaria José João Paiva, proprietário de Moçâmedes que emprega três escaleres e vinte e quatro escravos, para fabrico de azeite de peixe, desde 1855. </div>
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Dedicaram-se à pesca à linha e ao fabrico de óleo de fígado de cação. Joaquim Gomes do Armazém, avô de Alberto Gomes sucedeu a seu pai na pescaria, passou depois para Joaquim do Espírito Santo Gomes, pai de Alberto, (que foi baptizado no dia 2/6/1895 e faleceu nonagenário), numa sucessão de herdeiros. Foi desactivada pelos anos 2000, por falta de mão de obra sob a gerência de um dos <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglBuuPL4KsRuQSqWtRuUFRE3-6-DZbuxMuLm_AFk2ZrvDoLX9wZCGW1rnWjN3lYJuOZs6vmDmQCobCbLtPD4PwYXbQXbOtq3lFpqeKtZvG3ZSl9DVsM_b0zLLW2vVIHzIMzf6b1A/s1600-h/Pesc1.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5237404239341884114" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglBuuPL4KsRuQSqWtRuUFRE3-6-DZbuxMuLm_AFk2ZrvDoLX9wZCGW1rnWjN3lYJuOZs6vmDmQCobCbLtPD4PwYXbQXbOtq3lFpqeKtZvG3ZSl9DVsM_b0zLLW2vVIHzIMzf6b1A/s320/Pesc1.jpg" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a>irmãos de Alberto Gomes, uma prole de onze irmãos: Beatriz casada com João Mendes dos Reis (endireita), Rosária, solteira, Alberto Gomes, Ângela, casada com Manuel Borda d´Água, Leontina casada com Benvindo Teixeira, Faustino casado com Lucinda Paulo, Ângelo casado com Rosária Ferreira, Mário, casado com Manuela Paiva, Ilda, casada com Cabral, Lourdes, casada com Álvaro Alves e Olávio, casado com Virgínia. Até essa data fora um dos primeiros marcos da colonização olhanense no sul de Angola, nas águas atlânticas que banham o litoral moçamedense, e talvez o último, com cerca de cento e trinta anos em permanente actividade, vividos por quatro gerações dedicadas à continuidade e ao futuro da pescaria familiar, uma teimosia de longevidade no abraço fraterno do povo mucubal. A Baía das Pipas foi porto de escala de caíques e palhabotes vindos do sul, de porto em porto, pescaria em pescaria, desde a Baía dos Tigres, a carregar o peixe seco com destino ao norte de Angola, Congo Francês, S. Tomé e Gabão, onde eram comercializados.</div>
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O sertão foi também destino da prole numerosa da família Gomes. A criação de gado o modo de vida. </div>
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A Baía das Pipas deve o seu nome a um acontecimento ocorrido em 1842 quando a Estação Naval Portuguesa mandou queimar grande número de pipas, destinadas a embarque em navio negreiro. O tráfego de escravos estava proibido por um acordo entre as potências europeias e procedeu-se em conformidade com o decreto de 10 de Dezembro de 1836, em cuja relação anexa figura os objectos que deviam considerar-se como indícios de tráfico de escravos, entre eles um excessivo número de pipas. Já o caíque "Flor de Maio" chegado a Moçâmedes em Janeiro de 1863 com uma leva de povoadores de Olhão foi interceptado por um navio inglês e fiscalizado, e a carta destinada à Alfândega de Moçâmedes, violada. Segundo o historiador Manuel Torres os ingleses abriram o corso ao navio negreiro. O estado de escravidão foi reconhecido pelas nações europeias como injusto e contra a moral cristã. A escravatura tinha os dias contados e teve o seu epílogo em 1869, ano em que foi abolida.</div>
Há relatos desses tempos em que os navios negreiros procuravam atrair os indígenas à praia com panos garridos estendidos no areal.<br />
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Muitos dos pescadores olhanenses chegados a Moçâmedes fizeram da Baía das Pipas porto temporário de permanência. O povo mucubal guardou preferências por alguns deles no seu memorial de oralidade. Alberto Gomes é já um mito, uma lenda. Os Tendinhas por lá passaram também, e o canal por onde corre a água da chuva obteve um novo nome: a "<em>damba</em>" do Tendinha. Possuíam uma armação à valenciana e salga e seca. Rumaram depois para Porto Alexandre, onde se fixaram e onde desenvolveram uma importante actividade industrial. Dedicaram-se também ao comércio de cabotagem com o caíque "Harmonia" de 53.40 m3 de arqueação, 18,93 mts. de comprimento de roda a roda, segundo indicações fornecidas pelo Delegado Marítimo ao Administrador da Alfândega local, em Agosto de 1887. O caíque Harmonia foi adquirido pela família Tendinha em leilão. Em 1912 quando atingiu a maioridade depois de completar 21 anos, assumiu-se como mestre Januário Tendinha, natural de Olhão e chegado ainda criança a Moçâmedes no vapor Cazengo, da Companhia Nacional de Navegação, em carreira regular para Angola. Casou com Felicidade dos Santos Frota, natural de Moçâmedes.</div>
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(Livro: Caíques do Algarve no Sul de Angola do Dr. Alberto Iria).</div>
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(Sobre o vapor Cazengo consultar o blogue <a href="http://www.naviosenavegadores.blogspot.com/">http://www.naviosenavegadores.blogspot.com/</a>.)</div>
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O mar na Baía das Pipas era de <em>calemas</em> e pouco convidativo a permanências muito prolongadas. Perderam-se vidas na agitação daquele mar.</div>
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Alfredo Felner, governador do distrito e notável historiador, conta-nos que após a chegada dos primeiros colonos de Olhão na barca D. Ana, desembarcaram mais dois grupos e depois mais outro, nesse ano de 1860. Não se conhece os nomes nem os barcos que os transportaram. Alberto Gomes desvenda-nos parte desse mistério. Com a pesca exercida por estes europeus do <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgafuRPB6R4uo5njgP1n3okBx8ilGPD16IcDaIiVW7WqVRAQ955ynGdiYbiGwJ28XVG4ahvBreXs0Aue-0MV7aam4CDEy2cmXsbqJne0wSUOInTBWCLB419srtUUcmEwl_nmxthKw/s1600-h/030.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5275963583848027202" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgafuRPB6R4uo5njgP1n3okBx8ilGPD16IcDaIiVW7WqVRAQ955ynGdiYbiGwJ28XVG4ahvBreXs0Aue-0MV7aam4CDEy2cmXsbqJne0wSUOInTBWCLB419srtUUcmEwl_nmxthKw/s320/030.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 213px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>Algarve no litoral moçamedense, antes e após a abolição da escravatura, as praias do distrito ganharam os bens de producão destinados à captura do peixe, a experiência nas técnicas de conservação do pescado, os barcos de abastecimento aos agregados populacionais isolados e dispersos pela costa (os dias do pão fresco) e o virtuosismo do trabalho profícuo do pescador humilde que se contenta com o que pode arranjar, mas que não perde de vista um futuro de melhores dias. </div>
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Esperemos que as famílias moçamedenses que guardam histórias desses tempos memoráveis protagonizadas pelos seus ascendentes, tragam ao nosso conhecimento todo esse passado de viagens épicas, que fizeram dos olhanenses grandes navegadores e aventureiros no séc. XIX e importantes obreiros da indústria de pesca naquelas paragens do sul de Angola. (Na foto, o casal Bacharel, da empresa Angopeixe, Lda., habitantes da Baía das Pipas, junto às <em>tarimbas</em> do peixe seco).</div>
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Com 87 anos de idade Alberto Gomes aspira regressar à sua casa na Baía das Pipas. Tomar novamente conta da pescaria fundada por seu bisavô há cerca de 130 anos. Trabalhar no duro enquanto a saúde e as forças o permitirem. Sente que pode realizar este objectivo de vida, talvez acalentado pelas recordações de uma vida cheia de desafios que soube vencer, pela energia com que sempre enfrentou e superou dificuldades ou pela esperança que nunca chegou a perder. Vai voltar, um dia.<br /><em></em></div>
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<em>(Agradeço as fotos de Alberto Gomes e da Baía das Pipas ao meu paciente amigo Telmo Ascenso. A foto da vila de Moçâmedes, fortaleza e casal Bacharel a <a href="http://www.princesa-do-namibe.blogspot.com/">http://www.princesa-do-namibe.blogspot.com/</a>)</em> </div>
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(Outro texto com o título O Alberto, sobre Alberto Gomes, encontra-se no blog:<em> <a href="http://www.fgamorim.blogspot.com/2009/08/blog-post.html">www.fgamorim.blogspot.com/2009/08/blog-post.html</a>,</em> cujo autor, sr. Francisco G. Amorim se encontra no Brasil.)</div>
Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com18tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-49140391582723917722007-07-27T18:16:00.192+01:002014-12-11T11:10:17.642+00:00JANEIRO DE 1893-A GRANDE VIAGEM E MOÇÂMEDES, NOVO BERÇO FAMILIAR<div align="justify">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghLaPJ4LwO9APpUbz1OMJGsibGwN97XmP-UcDyXYp9-WoUIFF-k82Fe58fMb7KdTpzxvnJFx3uPCo1z8Nn12erl3AdyfyY9y_RLAmTMWcNZt875wQm4T3iso-Kc-6_rZFhm_4ekQ/s1600-h/imagem0002.JPG"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghLaPJ4LwO9APpUbz1OMJGsibGwN97XmP-UcDyXYp9-WoUIFF-k82Fe58fMb7KdTpzxvnJFx3uPCo1z8Nn12erl3AdyfyY9y_RLAmTMWcNZt875wQm4T3iso-Kc-6_rZFhm_4ekQ/s320/imagem0002.JPG" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5130560172031667906" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a> Foram inúmeras as viagens que os olhanenses fizeram para o sul de Angola. Serviram-se de canoas de pesca, de palhabotes de transporte e de caíques que eram utilizados na pesca e sobretudo no comércio marítimo. Os vapores, em carreiras regulares, levaram muitos povoadores na expectativa de um melhor futuro. Os barcos de pesca, as linhas de pesca, as redes e as diversas artes que existiam na época foram transportados pelos seus proprietários na certeza de melhores dias. Não fora a audácia dos pioneiros algarvios que ousaram transpor o mar e levantarem uma indústria na costa de Angola, a sul de Benguela, pouco se teria feito.<br />
Nas histórias que se contam não se procura enfeitar realidades ou enfatizar pormenores. Na paz serena do dever cumprido, as gerações mais velhas contam o que há para contar, entre reflexões e reflexões, sobre vidas consumidas na labuta diária árdua, em lugares remotos e em condições de vida difíceis de suportar; uns, em empresas criadas por empreendedores audaciosos; outros, em trabalhos por conta própria. O que era necessário fazer, fez-se. Os capitais foram surgindo no investimento em consequência das valias do progresso. As gerações seguintes encontraram os alicerces firmes de uma casa em construção; e quem constrói uma casa constrói a vida, algo de definitivo e seu, transforma o meio, usufruindo-o em cada dia numa progressão imparável, onde se constrói o futuro e se modela a alma.<br />
<br />
O barco que levou os meus avós em Janeiro de 1893 na grande viagem para África, bem podia ter sido o caíque Judith do mestre Sebastião dos Reis, pela coincidência de datas entre o dia do início das operações de cabotagem por aquele caíque na costa angolana, (24 de Fevereiro de 1893), com a época de chegada dos meus avós ao porto de Moçâmedes, cuja data se situa também na segunda quinzena desse mês e ano. Era um caíque modesto com 17,5 metros de comprimento e cerca de 40 tons. de porão.<br />
O que se sabe, na verdade, é que o barco da grande viagem dos meus avós para África, partiu do porto de Olhão, talvez do cais "bate estacas" junto à praça do peixe num dia de Janeiro de 1893. A bordo, íam três passageiros especiais para a família Santos e para a família Frota, todos eles naturais de Olhão: a Carolina de 21 anos de idade, o Manuel de 24 e o pequeno Manuel de 18 meses, filho de ambos. Navegaram 41 dias pelo Atlântico até aportarem Moçâmedes, a actual cidade do Namibe, no sul da República de Angola, onde desembarcaram. Contava a minha avó Carolina que as fraldas do seu pequeno Manuel secavam no mastro daquele barco e o dia de embarque fora uma despedida definitiva à sua terra natal, à família e aos amigos que ficaram. Deixaram, também, as regalias que o "Compromisso Marítimo" oferecia aos mariantes e pescadores da vila nele inscritos: o médico, a botica e as ajudas nas aflições. Levavam a esperança de uma nova vida em África, a promessa de um advir mais promissor por terras de Moçâmedes. Não se conta qualquer facto relevante passado durante a viagem. Chegaram simplesmente ao porto de destino, sem sobressaltos, numa viagem tranquila. A terra era estranha, pisada pela primeira vez por aquele jovem casal na flor da idade e com um filho pequenino nos braços. Reencontraram o seu meio social, conterrâneos que labutavam por aqueles mares há alguns anos, uns, instalados na vila, capital do distrito que proporcionava melhores condições de estar, outros, nas praias isoladas, beneficiando dos abastecimentos que "os dias do pão fresco" veio trazer: a água potável transportada de Moçâmedes em pipas, em substituição da água salobra das cacimbas, (poços), escavadas na areia, e o pão fresco, também levado de Moçâmedes, em substituição da mandioca cozida, e outros géneros necessários à vida.<br />
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PRIMEIRO DESTINO: A BAÍA DOS TIGRES<br />
<span style="color: #3333ff;"></span><br />
<span style="color: #3333ff;">Créditos de imagem: <a href="http://www.mossamedes-do-antigamente.blogspot.com/"><span style="color: #3366ff;">http://www<em>.mossamedes-do-antigamente.blogspot.com/</em></span></a></span></div>
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As memórias da minha avó Carolina indicam como<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqKilbGfA5w9slCFC_saJ-mz0StyClcs729EqUtaoF8UiZvhCYy6z37anffqE0ZloWpBkRzUYSp06R9S9Ol705h7tsLv7bVMgBZ8o6NNSfA_zNhOsr1DKo-XumPIzH-OaSt4fIlQ/s1600-h/BaÃa%20dos%20Tigres%20-%20Igreja.jpg"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqKilbGfA5w9slCFC_saJ-mz0StyClcs729EqUtaoF8UiZvhCYy6z37anffqE0ZloWpBkRzUYSp06R9S9Ol705h7tsLv7bVMgBZ8o6NNSfA_zNhOsr1DKo-XumPIzH-OaSt4fIlQ/s320/Ba%25C3%25ADa%2520dos%2520Tigres%2520-%2520Igreja.jpg" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5107507806959739026" style="cursor: hand; float: right; margin: 0px 0px 10px 10px;" /></a> primeiro destino a Baía dos Tigres onde deviam ter encontrado, já instalada, a "armação à valenciana" pioneira de Manuel Joaquim Frota, meu bisavô, pai do meu avô Manuel, armação levada de Olhão para Moçâmedes em 1887 e fixada posteriormente na Baía dos Tigres, em data indeterminada. </div>
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"Trabalharam juntos, pai e filho", contava um familiar, rebuscando nas memórias palavras ditas e histórias vividas anteriores ao seu tempo.</div>
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Contava a minha avó Carolina que conheceu a violência das garroas, o vento do deserto, que abria frestas na sua casa de madeira por onde entravam as areias das dunas, levadas por esse vento forte, trazendo desconforto ao pequeno Manuel, que sentia na camita as areias que se <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwlDv-QDjjYR6vLRtebWAXXVtrubGgg_HcCJTxWhJjEUoPW-MVk90HdtmXHyYukUPd68jZPaMWbUM9Je7ZE0sYcyV5UNMsj368REA6b7Dps7vlHNEok_sXVw0UZnWD57JU2ImC3A/s1600-h/mossa88.jpg"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwlDv-QDjjYR6vLRtebWAXXVtrubGgg_HcCJTxWhJjEUoPW-MVk90HdtmXHyYukUPd68jZPaMWbUM9Je7ZE0sYcyV5UNMsj368REA6b7Dps7vlHNEok_sXVw0UZnWD57JU2ImC3A/s320/mossa88.jpg" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5146618392046478034" style="float: right; margin: 0px 0px 10px 10px;" /></a>depositavam. <span style="color: cyan;">(Nesta</span><em><span style="color: #3366ff;"> </span></em></div>
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<span style="color: cyan;">imagem: nuvem de areia levantada pelo vento da garroa).</span> </div>
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A minha avó, vigilante, ía sacundindo as roupas de cama do seu bebé Manuel, contava. Àquela praia, quase na foz do rio Cunene, já chegara os "dias do pão fresco", assim chamados os dias de chegada dos barcos das carreiras regulares de abastecimento às populações isoladas e dispersas pela costa, e a minha avó encomendava o leite em pó, o pão fresco de Moçâmedes, a água potável que vinha em pipas, os frescos. Por vezes a água era insuficiente e a solução era escavar na areia até se encontrar a água salobra que era consumida como último recurso. Segundo alguns livros, nessa altura, a população branca reduzia-se a sete casais de olhanenses, ou nem tantos, e era uma praia onde não se vislumbrava um ponto verde. Não existia lenha para cozinhar, serviam-se das cabeças de peixe seco como combustível para o fogão e para o aquecimento nos dias de inverno. É curioso notar a existência de cães selvagens, eram de grande porte e com bastante pêlo, cuja raça foi estudada muitos anos mais tarde. Originária da Terra Nova, Canadá, dóceis, quando criados em cativeiro junto do homem e adaptados à circunstância de terem de sobreviver naquele deserto. "Eram talvez sobreviventes de algum naufrágio", dizem uns, ou "foram levados pelos holandeses que conquistaram Angola, aquando do domínio filipino", dizem outros. O que é certo é que esses cães selvagens mantinham uma luta heróica pela sobrevivência, lambendo a película de água doce que existe à superfície do mar e alimentando-se do peixe qu<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCp2QB-VoJDaAAbP8cuGBuAOKzTb1cAxs2Lt64bzeCy12NxeQIBuYJ3lALPmKC3uucSciTYAajMYKZAwfctKRuF8CDURaguQfTVY-NkhUuRXc2zk6eNd73mnwINl4CmpYUgX1lMA/s1600-h/BaÃÂa+dos+Tiges+5.jpg"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCp2QB-VoJDaAAbP8cuGBuAOKzTb1cAxs2Lt64bzeCy12NxeQIBuYJ3lALPmKC3uucSciTYAajMYKZAwfctKRuF8CDURaguQfTVY-NkhUuRXc2zk6eNd73mnwINl4CmpYUgX1lMA/s320/Ba%25C3%2583%25C2%25ADa%252Bdos%252BTiges%252B5.jpg" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5107524699066114210" style="cursor: hand; float: right; margin: 0px 0px 10px 10px;" /></a>e dava à costa, ou tentando abocanhar de surpresa os que nadavam perto, numa espera calculada.<span style="color: #00cccc;"> E<em>sta foto representa uma duna "tigrada" que deu origem ao topónimo "Baía dos Tigres", antes chamada "manga das areias" </em><span style="color: #3333ff;">http://</span><a href="http://www.mossamedes-do-antigamente.blogspot.com/)"><em>www.mossamedes-do<span style="color: #3333ff;">-</span><span style="color: #000099;">antigamente</span>.blogspot.com/)</em></a></span></div>
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Os únicos animais selvagens que existem na zona. Não existem tigres. O nome, Baía dos Tigres, tem origem nas sombras projectadas nas dunas que mais parecem listas escuras semelhantes às listas que os tigres ostentam. Visão obtida do mar.</div>
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Decerto que o desencanto daquele lugar, o clima agreste bastante agressivo, a dificuldade de se obter o essencial para a subsistência familiar e o isolamento ter-lhes-íam provocado desilusões e ansiedades. A Baía dos Tigres não era a "Terra Prometida" que aquele jovem casal sonhara para realizar o seu futuro. </div>
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O segundo destino foi Porto Alexandre, hoje, cidade de Tômbua onde permaneceram alguns anos. Um familiar refere-se a uma "concessão régia", concedida ao meu avô ou ao meu bisavô, para instalar uma pescaria ou para construir uma casa. Anos mais tarde construíram uma escola nesse terreno. Porto Alexandre oferecia melhores condições de vida. A água potável chegava das margens do rio Curoca numa distância de cerca de vinte kilómetros. Era um rio seco mas facilmente se captava dos seus lençois subterrâneos a água potável necessária para abastecer uma população fixa já bastante numerosa de duzentos habitantes brancos e quatrocentos pretos. Havia também a água salobra das cacimbas (poços), que era consumida como último recurso, e os frescos chegavam mais amiúde por estar mais próximo as fontes de abastimento do povoado: as fazendas existentes nas margens do rio Bero na então Vila de Moçâmedes, hoje cidade do Namibe, e as fazendas das margens do rio Curoca que passaram também a produzir para o abastecimento da urbe em crescimento. </div>
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Os dois primeiros filhos nascidos em África, o Miguel e o José faleceram muito jovens. Foi uma época perturbada por esses acontecimentos que causaram grande sofrimento no seio da família e talvez por isso pouco mencionada. </div>
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Moçâmedes seria o destino definitivo do jovem casal.<br />
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No refazer caminhos quando os testemunhos directos já não se encontram entre nós, torna-se difícil obter datas certas dos acontecimentos ocorridos. O conjunto da informação fornecida pelos familiares mais velhos vem confirmar que os meus avós estariam fixados na Praia Amélia nos primeiros anos do séc XX. A Praia Amélia (assim chamada por ter sido aquela praia o local onde se afundou a escuna da marinha de guerra portuguesa "Amélia"), dista seis kms. do Bairro da Torre do Tombo, onde o pequeno Manuel dos Santos Frota, já adolescente, se inicia nos trabalhos da pesca com o seu pai. Namora a sua futura esposa Alda Ilha, (a tia Ada dos meus quatro anos), que vivia na Torre do Tombo, (as distâncias nunca foram um obstáculo às gentes desse tempo), e regressava à tardinha a casa, a pé, acompanhado pelo então jovem e futuro cunhado Rogério da Ilha, que por lá pernoitava regressando na manhã seguinte. Apraz-me aqui registar que eram também tios do ex-industrial de pesca, João Viegas Ilha, com pescaria no Canjeque, a dois Kms. do bairro da Torre do Tombo e com interresses em outras empresas do distrito, conta agora a veneranda idade de 80 anos, é de feitio amistoso e muito popular entre os seus conterrâneos, aberto às recordações de muitos acontecimentos da sua cidade; e de Zeca Ilha, comerciante, que acabou como proprietário, em sociedade com o seu irmão João Viegas Ilha, de uma das lojas mais conhecidas da cidade, a "loja do Jorge", atrás do Cine Teatro Moçâmedes. São descendentes de olhanenses moradores na Ilha da Culatra, que se situa frente a Olhão, daí o apelido Ilha, e de João da Rosa Machado, chegado em Julho de 1861, e considerado como o primeiro habitante da Baía dos Tigres. </div>
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Na Praia Amélia os meus avós vivem numa casa de madeira, tipo chalé, com varanda em toda à volta, que eram utilizadas na época. Passou a ser a segunda habitação familiar depois de se fixarem definitivamente na Torre do Tombo. Era ocupada aos fins de semana pela família nas suas deslocações a pé (seis kms.) Estava em bom estado de conservação nos princípios da década de 1930, como nos conta uma das netas.</div>
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(Essa casa de madeira era materialmente idêntica à casa dos meus avós maternos, João Rodrigues Trindade e Lucinda Ferreira Trindade, localizada na Torre do Tombo que chegou aos meus dias bastante degradada nos finais da década de 1950, tendo sido desmontada nessa época; ou , à casa de madeira da D. Aline com varanda em toda a volta. A D. Aline foi a professora da minha segunda classe na escola de Portugal. De dimensão espiritual elevada, era dedicada à educação de crianças e ao ensino. O significado das palavras companheiro, amizade, serviam para uma melhor consciência nas relações interpessoais entre os seus educandos, numa pedagogia assente em valores humanos e cristãos. «A oração da manhã é uma obrigação de todos os católicos», afirmava, sabendo que muitos dos seus alunos não tinham por hábito tal prática. Por isso recolhia-se nessa oração, diariamente, no início de <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoBRU2Dyc64OkD6laMKF_faJ4V9XgC7YbiyrTSGldpKX6oI_16Bi8MOtTmZhzCd1FvacsiRCtY_qlH9isehvnn6z4hnGj-m8cgUqRaMrBqoQyZu6Nz75KlwX8oMTityyJyadGmrA/s1600-h/VISTA_~1.JPG"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoBRU2Dyc64OkD6laMKF_faJ4V9XgC7YbiyrTSGldpKX6oI_16Bi8MOtTmZhzCd1FvacsiRCtY_qlH9isehvnn6z4hnGj-m8cgUqRaMrBqoQyZu6Nz75KlwX8oMTityyJyadGmrA/s320/VISTA_~1.JPG" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5422630027869763282" style="cursor: hand; float: left; height: 309px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>cada aula, convidando os alunos que não a tinham feito a acompanhá-la. Essa casa de madeira era proveniente da Praia Amélia, segundo me foi dito, e situava-se na estrada de acesso à aguada e às hortas, num largo de terra, isolada, logo após o antigo campo de futebol, num dos extremos da cidade, demonstrada nesta foto, onde existia, ainda, a fechar a avenida, uma moradia onde funcionava o antigo colégio das madres das Irmãs Doroteias. Esta foto de 1950 foi encontrada no blog <a href="http://www.mossamedes-do-antigamente.blogspot.com/">http://www.mossamedes-do-antigamente.blogspot.com/</a>. Aqui vemos a casa térrea onde morei até aos meus sete anos de idade situada em frente da casa da D. Aline e que foi arrendada ao meu pai pelo sr. Mário de Sousa, proprietário de uma oficina de automóveis e mecânico competente em motores marítimos. Daquela casa térrea saía todas as manhãs de bata branca, como era obrigatório na época para a escola nº. 49 para frequentar a primeira classe, cuja professora se chamava Salomé Mendonça.<br />
A D. Aline era um raro exemplo de prática religiosa, afecta à religião católica, tornou-se símbolo de bondade e de caridade e é referida nas recordações de muitas gerações de moçamedenses pelas suas qualidades humanas. Parte da sua casa era cedida à actividade da catequese e no final dos trabalhos distribuia um papo-seco com marmelada a cada criança, fazendo as delícias da tarde às mais carenciadas. Promoveu, ainda, uma actividade escolar: os ensinamentos de uma primeira classe que antecipava o ensino oficial Bem preparados ficavam esses alunos, de tal modo que, quando do ingresso na escola oficial, a primeira classe era como que um "passear pela escola". Apesar do muito tempo já passado, recordo alguns desses companheiros de jornada. Entre outros que ainda retenho em memória as suas fisionomias mas não os seus nomes, o Laurentino Jardim (Tininho) e o Leonel de Sousa (Leona), este, infelizmente já falecido, prematuramente vencido por um ataque quase fulminante do coração.<br />
A D. Aline manteve por muitos anos uma dedicação louvável na formação moral e religiosa de crianças. Por isso a Câmara Municipal de Moçâmedes, num gesto de reconhecimento, inaugurou um atractivo e bem equipado Parque Infantil com o seu nome, não faltando os animais do deserto de pequeno e de grande porte e um pequeno ringue de patinagem. A professora D. Aline Campos foi na verdade um admirável exemplo de bondade e uma lição que mereceu a pena ser aprendida; hoje é uma recordação que se preza e que se guarda, uma saudade que se eleva e que perdura).</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgib6QKhTVfn8ahnJG6WeExg5_ZLDx9guEav4LbS-amJa5bYfZdVT59byfpj13ts39rkvl5JSrgjnN8LUHGM5NeXUXGqzg13kFMrKhuWSZqJUkU2j7rhemo2CnHXreT1nsZEZLAXg/s1600-h/Mossamedes-011-c.jpg"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgib6QKhTVfn8ahnJG6WeExg5_ZLDx9guEav4LbS-amJa5bYfZdVT59byfpj13ts39rkvl5JSrgjnN8LUHGM5NeXUXGqzg13kFMrKhuWSZqJUkU2j7rhemo2CnHXreT1nsZEZLAXg/s320/Mossamedes-011-c.jpg" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5206230663236595810" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a>Naquela praia (Praia Amélia) foi instalada uma empresa da pesca da baleia por noruegueses em 1918, onde o meu avô se empregou. Os noruegueses eram exímios executantes de concertina, alegres e divertidos. Partiram em 1929 para nunca mais voltarem.Um dia o meu pai surpreendeu-nos com umas modinhas antigas tocadas num brinquedo oferecido a um neto, o João Carlos Frota Carranca, que não se lembra do facto por ser muito jovem. Embora o instrumento (concertina) fosse um brinquedo com evidentes limitações, demonstrou ter sido um bom executante na juventude, espelho dos seus excelentes mestres. </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRhOrSmW5T5CSwaPRLPdaH9cW_19FqdcuWPrzoFQXxT9ZHYHQi-o7jMdXuFTqbmtHSnikXRgxBiojM1psXaw_EYKIKWaWd5f7-grNjXNLd4lW-vLxtyjp0yCIjIUZK-BbzCfsXMw/s1600-h/Os%20Frotas.jpg"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRhOrSmW5T5CSwaPRLPdaH9cW_19FqdcuWPrzoFQXxT9ZHYHQi-o7jMdXuFTqbmtHSnikXRgxBiojM1psXaw_EYKIKWaWd5f7-grNjXNLd4lW-vLxtyjp0yCIjIUZK-BbzCfsXMw/s320/Os%2520Frotas.jpg" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5206228146868164770" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a>Por fim a fixação definitiva na Torre do Tombo que se tornou o bairro, a casa, a escola e a morada da primeira geração, uma prole de doze filhos. Para além dos já mencionados: Manuel, Miguel e José, a Ilda, a Felicidade, a Silvéria, o Serafim, o Mário, o Henrique, o José (Zeca), a Maria da Conceição, que faleceu muito jovem e o Álvaro. Eram unidos e amigos. No cimo dessa união familiar estava o meu avô, o mandador das armações à valenciana Manuel Fernandes Frota e a grande "matriarca" e educadora que foi a minha avó Carolina dos Santos Frota. Na casa grande, na Torre do Tombo nasceram os primeiros netos. A sala de jantar enchia-se, agora, com a garotada da segunda geração. Conheceram o avô Manuel a tratar das redes no seu enorme quintal. Ao fundo desse quintal, uma porta, para lá dessa porta, as areias infindáveis do deserto do Namibe. </div>
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O meu avô faleceu nos finais da década de 1930. Conheci a minha avó Carolina já muito velhinha, figura magra num carácter forte, um tanto frágil fisicamente nos seus oitenta e alguns anos, trança em carrapito enrolada atrás. Faleceu em Moçâmedes bastante idosa, com mais de noventa anos.</div>
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Um dos seus netos, certa vez, na curiosidade dos seus seis ou sete anos, quis conhecer os motivos que levaram à decisão da sua avó em ir morar com o seu avô numa praia como a Baía dos Tigres, a mais longínqua dos centros de abastecimento onde a vegetação era inexistente, onde a água potável, por vezes, era uma miragem inalcansável, onde se sufocava nos dias de garroa, onde as dunas pareciam querer engolir casas e população, onde as rajadas de um vento forte devassavam as frágias casas de madeira pelas frestas abertas e dentro delas as famílias esperavam, em silêncio, que tudo acalmasse. Era sem dúvida o lugar do deserto mais difícil de se viver. A sua mãe, momentaneamente surpreendida com a pergunta, não descortinou uma resposta imediata e plausível. Perante a insistência a resposta partiu um tanto de sopetão: «porque andava sempre atrás do teu avô». Os tempos eram outros; já os céus eram cruzados por avionetas que encurtavam distâncias e há perguntas que não têm resposta fácil. Esse neto é o penúltimo de uma vasta lista de 35, tinha compreendido a causa da existência de um profundo sentimento de carinho, respeito e admiração, que sabia, rodeavam a sua avó Carolina. Na sua casa, na Torre do Tombo, há muitos, muitos anos, à mesa grande da sala de jantar, reunia-se a vasta prole de filhos e netos. Carolina amara incondicionalmente e soubera transmitir os valores da família pela forma mais credível: pelo exemplo de uma vida dedicada, nos bons e nos maus momentos, sempre ao lado do seu marido Manuel.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbpoQu0iPusoYLXUwbYtYRuvjIfkpGJpfhK9PmPKl3USowEvDbQpGn5HDcnlD23aH9zabHn2WqgcY9H0QnQXGyEHvwRD0GBSgbB2ibay61ShP6oBxCcwwHWRR46wtPqWjt-UvRuA/s1600/38159_1529790130348_1402572736_31486320_4324144_n.jpg"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbpoQu0iPusoYLXUwbYtYRuvjIfkpGJpfhK9PmPKl3USowEvDbQpGn5HDcnlD23aH9zabHn2WqgcY9H0QnQXGyEHvwRD0GBSgbB2ibay61ShP6oBxCcwwHWRR46wtPqWjt-UvRuA/s320/38159_1529790130348_1402572736_31486320_4324144_n.jpg" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5540613054856932562" style="cursor: hand; float: left; height: 238px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>Do sítio onde estiverem: o Manuel, a Carolina, os doze filhos que tiveram, os netos e bisnetos que foram chegando, quer seja dos altos promontórios das rotas dos caíques, quer do cimo da falésia da Torre do Tombo, da duna tigrada da Baía dos Tigres ou da açoteia da casa cúbica da Rua João dos Santos na baixa de Olhão, que pertencera à família Santos, eles observam-nos e congratulam-se com a lição aprendida. Olham a mesa grande muito aumentada onde se sentam agora gerações e gerações da sua prole a comungarem os valores semeados.</div>
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<a name='more'></a></div>
Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-31272615944528403742007-04-24T17:48:00.008+01:002010-03-09T09:18:23.199+00:00MANUEL JOAQUIM FROTA - O Mandador Pioneiro das Armações à Valenciana<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKntV_NU4SEKJPM6bpbCC4AVUXZXCz_6y6pUim6vu0Og33wIafCOAep1goSzlpu1HSMHfRPpbQXGyVM79l7I3unucHMAvSD8M3v9sI0gBh60nRc23zGQXYHevkY1a9IFR5JLtsVQ/s1600-h/imagem0001.JPG"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; FLOAT: left; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5130559682405396146" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKntV_NU4SEKJPM6bpbCC4AVUXZXCz_6y6pUim6vu0Og33wIafCOAep1goSzlpu1HSMHfRPpbQXGyVM79l7I3unucHMAvSD8M3v9sI0gBh60nRc23zGQXYHevkY1a9IFR5JLtsVQ/s320/imagem0001.JPG" /></a><br /><br /><div align="justify">"Ía o nosso tempo em África e já Manuel Joaquim Frota era uma referência na história de Olhão. A ele se deve a ída para Angola da primeira "Armação à Valenciana" da pesca da sardinha, decorria o ano de 1887. Foi montada em Moçâmedes, seguindo depois para a Baía dos Tigres...."<br />É a parte inicial do texto de homenagem que foi prestada a Manuel Joaquim Frota por cerca de 30 bisnetos e trinetos, frente à sua catacumba, no cemitério velho de Olhão, no dia 7 de Outubro de 2000.<br />No ano seguinte promoveu-se novo encontro, desta vez com divulgação organizada para que a informação pudesse chegar a todos os familiares de norte a sul do País.<br />A resposta excedeu todas as expectativas. Cancelaram-se compromissos e reuniões e no dia 6 de Outubro de 2001, cerca de 100 descendentes do mandador pioneiro, nascidos em Angola, encontraram-se novamente no cemitério velho de Olhão, numa sentida homenagem. A nova geração nascida em Portugal esteve também presente.<br /></div><div align="justify">Manuel Joaquim Frota, nasceu em Olhão no dia 15 de Janeiro de 1838.</div><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhU4Gnb5QNY27wFIFL5TlAuvX77U2AM5To6ZPZyRSIx3GADcgZBz649q3dZt5jxJu6CN4bLcKnumhF1rhsrlhDCd50MGOkI7opUHcZCZtebJUhRuBRDvFV_wHhs46ps1moluyg1OA/s1600-h/Mossamedes-058-c.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; FLOAT: left; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5130579469319728914" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhU4Gnb5QNY27wFIFL5TlAuvX77U2AM5To6ZPZyRSIx3GADcgZBz649q3dZt5jxJu6CN4bLcKnumhF1rhsrlhDCd50MGOkI7opUHcZCZtebJUhRuBRDvFV_wHhs46ps1moluyg1OA/s320/Mossamedes-058-c.jpg" /></a>Em 1887, com 49 anos de idade decidiu fazer a travessia do Atlântico a bordo do palhabote S. José, de Manuel Pereira Gonçalves, levando a primeira "Armação à Valenciana" da pesca da sardinha que Angola conheceu e que foi montada na então Vila de Moçâmedes, hoje cidade do Namibe. Não se sabe o local onde foi instalada, talvez na Torre do Tombo, na praia onde foi construído o cais comercial, na ponta do Noronha. Demorou-se pouco tempo por ali e antes de 1893, ano de chegada do meu avô, já estaria montada na Baía dos Tigres. <span style="color:#00cccc;"><strong>(créditos de imagem:</strong><em>www.antigamente1900.blogspot.com) </em></span></div><div align="justify">Outras armações foram chegando: a de Lourenço Morgado que foi instalada, provavelmente no lugar da primeira ou muito próximo, e a de Francisco de Sousa Ganho, montada no Baba.</div><div align="justify">As armações fixas, eram as artes de pesca mais avançadas dessa época e de grande rentabilidade, que fizeram aumentar a produção do pescado naquela zona do litoral angolano. </div><div align="justify"></div><div align="justify">Poucos familiares conheciam a aventura africana deste nosso ascendente. Porque decidiu emigrar numa idade já um tanto avançada para este tipo de aventura? Porque mudou os seus planos de permanência em África? São perguntas que ficarão sem resposta certa, mas um familiar recordava-se que talvez houvesse um motivo forte para o seu regresso a Olhão: recordava-se de comentários feitos no seio da família que em dado momento, a minha bisavó reconsiderou o embarque definitivo para África, criando a dúvida se já lá teria estado alguma vez. O motivo desta decisão, talvez esteja nas difícies condições de vida que o meio sul angolense oferecia naquela época, com relativa excepção para a vila capital do distrito: Moçâmedes.<br />Manuel Joaquim Frota, o mandador pioneiro, regressou a Olhão em data indeterminada e faleceu no dia 12 de Outubro de 1912 aos 74 anos. </div><br /><div align="justify">A CATACUMBA ABANDONADA </div><br /><div align="justify">Decidi um dia entrar no cemitério velho de Olhão, naquele que é uma das principais fontes documentais da cidade, com arquivo próprio.</div><div align="justify">O funcionário era um simpatizante da pesquisa histórica e prontificou-se consultar os inúmeros registos ao seu dispor. Dois deles chamaram a minha atenção: a sepultura abandonada de um tio-bisavô, Francisco Lopes Frota e a catacumba, também abandonada que servia de última morada ao meu bisavô Manuel Joaquim Frota, o mandador pioneiro das armações à valenciana. Desloquei-me aos dois lugares onde fiz um breve recolhimento. Francisco Lopes Frota era um dos irmãos mais velhos do meu bisavô e não deixou descendência. Mais tarde, numa visita, constatei não existir mais a pedra da sua sepultura. A catacumba do mandador, meu bisavô, encontrava-se sem qualquer identificação, só em parede caiada, graças ao zelo dos funcionários. A minha bisavó migrou para Lisboa com a restante família deixando Olhão para sempre, daí não ter podido cuidar da sua manutenção. Existiu uma chapa, posta por um parente que tinha um táxi mas caíu e perdeu-se, (um gesto de rara sensibilidade vindo de um sobrinho-neto do meu bisavô). Há muitos anos era visitada por familiares ligados à minha bisavó, a família Lota, recordava-se o funcionário que manteve uma forte relação de amizade com o meu parente taxista, José Sérgio Frota e que nutria por ele grande respeito e admiração por ser um talentoso apresentador de teatro e autor de várias peças representadas na saudosa sala do teatro velho de Olhão por artistas amadores. Tive o grato prazer de o conhecer, já reformado, numa breve visita em sua casa, perto de Lisboa, há cerca de 20 anos.</div><div align="justify"></div><div align="justify">Confesso que, diante daquela catacumba, senti-me deveras emocionado. Ali estava sepultado o meu bisavô, um "africanista olhanense" que fez uma viagem épica a bordo de um palhabote e que era pioneiro das armações á valenciana. A sua pele fora curtida pelas maresias do mar de Moçâmedes e pelas garroas e lestadas da Baía dos Tigres. Na certidão de óbito vinha mencionada a idade aparente: 88 anos, quando na verdade tinha 74.</div><br /><div align="justify">Prometi, naquele recolhimento, encontrar a melhor forma de lá colocar uma lápide. Como propriedade particular que era, só ao proprietário era concedida a autorização para tal e o proprietário era a minha bisavó Maria Teresa Frota, falecida há muito em Lisboa. Decidi então fazer o pedido por escrito à Câmara Municipal de Olhão e juntar uma fotocópia da página de um livro onde menciona o meu bisavô como pioneiro. E assim fiz.</div><div align="justify">A autorização demorou quatro longos e expectantes meses. O pedido veio, finalmente, deferido. Manuel Joaquim Frota ía ter lápide na sua catacumba por ter sido reconhecido o mérito da sua iniciativa pioneira. A família Frota, nascida em Angola, soube respeitar a memória daquele seu ascendente comparecendo em grande número às homenagens que lhe foram prestadas. A primeira, a mais restrita, no dia 7 de Outubro de 2000, 113 anos após um sonho africano e 25 anos após a nossa chegada e dispersão por Portugal. A segunda com divulgação a todos os familiares de norte a sul do País. Uma iniciativa ímpar do meu primo Rui e do meu irmão Walter que criaram uma autêntica máquina de divulgação, e no dia 6 de Outubro de 2001, cerca de cem familiares descendentes de Manuel Joaquim Frota, encontraram-se, numa sentida homenagem. As recordações brotaram, nas intervenções de grande qualidade que se seguiram ao almoço, num total de 110 presenças. Recordámos a velha Torre do Tombo onde nasceram e viveram os meus tios e pai, uma prole de 12 irmãos; a praia Amélia onde o meu avô trabalhou na pesca da baleia; as agruras por que passaram os meus avós na Baía dos Tigres devido ao clima hostil e ao isolamento; ao perfil de todos eles, pela vida de rectidão que levavam, desenhado pelo meu primo José Manuel, com a espontaneidade e boa disposição a que nos habituou e a que se deve aos muitos anos na rádio como chefe de produção do Rádio Club de Moçâmedes e como repórter da antena um em Portugal, um grande comunicador; as palavras sábias do meu primo Mário Ângelo, homem de grande carácter e elevada cultura, que viajou de Coimbra e seguiu para Madrid nesse dia para uma conferência, não deixando, por isso, de estar presente. Um envolvente, belo e inesquecivel exercício da memória. Um pensamento foi aflorado e comungado por todos: "quando o passado está presente o exercício da memória é quase um dever". É quase um dever, diria, quando esse passado contém a dignidade do dever cumprido. </div><div align="justify">Outros encontros se sucederam, desta feita em Alcácer do Sal, com um récord de 120 presenças no primeiro lá realizado.</div><div align="justify"></div><div align="justify">Seria memorável e talvez inédito nas famílias portuguesas, um encontro global em Portugal de uma família que espalhou o seu apelido por diversos países do mundo. Muitas foram. A família Frota é uma delas: Portugal, Angola, Brasil, Estados Unidos, Argentina, etc., (sabendo que o ramo de Angola entronca somente no de Olhão), a exemplo dos Galvão, que têm organizado os seus encontros em França, com um número de presenças que rondam os mil, segundo consta. Um encontro global dos Frotas a realizar-se em Portugal, seria por bem em Alcácer do Sal ou Setúbal, cidades onde moram os pergaminhos do apelido e os portos de onde partiram em demanda das terras brasileiras nos séc. XVI a XVIII, onde se fixaram, e onde ainda residem os seus inúmeros descendentes. </div><br /><div align="justify">O TESTEMUNHO DE MR. GRUVEL</div><br /><div align="justify">As armações à valenciana foram surgindo no distrito de Moçâmedes em grande número: na Lucira, no Mocuio, em Porto Alexandre, na Baía das Pipas, no Baba, etc., e até mais do que uma em cada uma dessas praias, e com elas o aumento da produção do pescado e do peixe seco que era comercializado nos portos de Angola, Congo Francês, Gabão e S. Tomé, levados pelos caíques olhanenses. O desenvolvimento tornou-se imparável e suscitou a admiração de portugueses e estrangeiros pela obra que se estava a realizar naquela zona de África.</div><div align="justify">Mr. Gruvel era um oficial da marinha francesa, que encarregado pelo seu governo de fazer um inquérito às pescarias da costa Ocidental de África em 1909 referiu-se a Angola, nestes termos:</div><div align="justify"></div><div align="justify">"Não podemos deixar Angola sem falarmos da impressão extraordinária que nos deixaram dois dos principais centros de pesca: Porto Alexandre e Baía dos dos Tigres. </div><div align="justify">O que poderá ser a vida sedentária dum europeu numa região formada de areia pura, sem um traço de vegetação, estendendo-se tão longe quanto a vista pode alcançar? Um vento violento que sopra muitas vezes em verdadeiras tempestades, levanta quase todo o dia nuvens duma areia fina que penetra por toda a parte; bebe-se, come-se e ...sufoca-se!</div><div align="justify">É neste país de desolação, ao pé do qual Port-Etienne parece um verdadeiro paraíso, que vivem isolados do resto do mundo, bebendo água que vai de Moçâmedes, cerca de trezentos brancos em Porto Alexandre e cem na Baía dos Tigres."</div><div align="justify">"Não temos maneira de felicitar todos os portugueses que habitam este deserto, pela admirável coragem de que dão prova, vivendo assim nessas regiões de desolação".</div><div align="justify">A terminar:" Quando se vêm os milagres de energia que os portugueses têm tido que dispender para criar esta magnífica indústria de pesca em semelhantes regiões, pensa-se que temos de desesperar do nome francês se não conseguirmos fazer tão bem ou melhor que eles ...não apresentando nada de comparável ao que existe em Porto Alexandre e sobretudo na Baía dos Tigres."</div><div align="justify">Por portaria editada no Diário de Governo de 27 de Junho de 1925 o governo português louva o esforço colonizador no distrito de Moçâmedes, terminando nestes termos:</div><br /><div align="justify">"Manda o Governo da República Portuguesa pelo Ministério das Colónias que seja dado público testemunho do muito apreço em que é tido o valioso trabalho realizado por estes colonos, que tanto honram a Pátria e por esse motivo sejam louvadas as populações de Moçâmedes e Porto Alexandre por serem os principais núcleos desta colonização.</div><br /><br /><div align="justify">Paços do Governo da República 27 de Junho de 1925" </div><br /><br /><div align="justify"></div><br /><br /><div align="justify"></div>Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-1169157020545643242007-01-18T19:42:00.012+00:002011-02-03T10:52:39.478+00:00INÁCIO(Modelo de uma canoa da picada do blog: <a href="http://www.canoadapicada.blogspot.com/">http://www.canoadapicada.blogspot.com/</a>)<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgySqUu1FAhZeKG8FjQgLZbqW3IaZDHBjmADMEiR-5AJDinZmzlr3U5WERv3D73sz3q5j7_rPsWmoijPx65MtO_fMZm1Oqv_NuRK35d9Ud2I_qO8fXLsVF6IbIym2iVdLQL7T1rFg/s1600-h/DSC01368.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; FLOAT: left; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5140166359562759106" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgySqUu1FAhZeKG8FjQgLZbqW3IaZDHBjmADMEiR-5AJDinZmzlr3U5WERv3D73sz3q5j7_rPsWmoijPx65MtO_fMZm1Oqv_NuRK35d9Ud2I_qO8fXLsVF6IbIym2iVdLQL7T1rFg/s320/DSC01368.jpg" /></a><br /><div align="justify">Desfolhei um bloco de notas de há 15 anos onde se encontra o nome de um velho pescador olhanense que me contara um episódio da sua vida quando criança relacionada com uma viagem em barco à vela de Olhão para a cidade de Moçâmedes, a actual cidade do Namibe no sul da República de Angola. </div><div align="justify">A páginas tantas, lá estava o nome e algumas notas naquele bloco de recordações já um tanto desgastado pelo tempo: Inácio, canoa de pesca e naufrágio nos mares da Serra Leoa. Mais adiante o nome Zá-Zá que naquele momento não relacionei logo com o nome da canoa. </div><div align="justify">Naquele encontro Inácio vestia a tradicional camisa aos quadrados e numa das mãos transportava um balde preto com alguns peixes dentro para a sua última refeição do dia. Dirigia-se a casa após umas horas de pesca na Ria Formosa frente a Olhão. Disse-lhe que ele me fora indicado por um seu amigo que sabia haver existido ligações familiares entre as nossas famílias em África, e, por isso, pedia-lhe uns breves momentos do seu tempo para conversarmos. Poisou o balde. Aquele encontro requeria mais do que uns breves momentos do nosso tempo. Havia uma história para contar relacionada com uma viagem para África, a partir de Olhão, em barco á vela: </div><div align="justify"><br />Inácio era ainda uma criança quando seu pai decidiu deixar Olhão e rumar Moçâmedes, como muitos outros pescadores olhanenses o tinham feito já. </div><div align="justify">Os parentes de Inácio em Moçâmedes tinham conhecimento dos preparativos para a viagem e aguardavam notícias do dia provável da sua chegada.<br />Em Olhão o pai de Inácio apetrechou a sua canoa de pesca do alto, revestiu-a a folhas de cobre, obteve autorização de saída da capitania e preparou-se para zarpar. Levava alguns familiares e amigos a bordo e queria levar também o seu rebento Inácio. Mas Inácio queria ficar com sua mãe em Olhão e à hora de partir atravessou baldios e areais e escondeu-se. Procuraram-no por todo o lado e não foi encontrado. Só regressou a casa, para junto de sua mãe, quando viu, do esconderijo, a canoa de seu pai, já longe, a navegar, de velas enfunadas.</div><div align="justify"><br />Alguns dias depois a tragédia abateu-se sobre aquela canoa de pesca do alto que ousava atravessar perigosamente o Atlântico até Angola, então possessão portuguesa de África. </div><div align="justify">Perto da Serra Leoa, Neptuno bramiu a sua raiva àquela ousada gente, e a pequena canoa de pesca do alto sucumbiu na refrega, num mar que não era o seu. </div><div align="justify">Fora vencida pelas vagas alterosas e afundara-se. </div><br /><div align="justify">Inácio terminou a narrativa com uma profunda tristeza no olhar. Quantas vezes não teria contado esse episódio da sua vida de criança com a mesma tristeza que a distância no tempo não dissipou.<br />Contei-lhe que ouvira de minha mãe, a história do naufrágio dos Trocatos, ainda criança, em África e da forte impressão que me causara a ponto de não a ter esquecido. Parecia que se ligava àquela história de Inácio mas vivida pelos seus familiares em Moçâmedes: contou-me minha mãe das missas rezadas pelos familiares dos Trocatos, na esperança de ainda serem encontrados com vida perdidos na imensidão do mar, do desespero vivido, das ídas à praia, vezes sem conta, sempre que alguma vela surgia no horizonte á entrada da baía. Seriam duas partes duma mesma história ou teria havido um duplo naufrágio naquela época?</div><br /><div align="justify">Aquela tragédia marcou Olhão e a sua diáspora no sul de Angola nos primeiros anos da década 1920.<br />Inácio achava-se um "sobrevivente".<br />Na despedida ofereceu-me uns peixes do seu balde preto. Tinha trazido a mais para oferecer, caso encontrasse um amigo, e ofender-se-ía se eu os recusasse. Solidariedade olhanense?</div><div align="justify">Inácio nunca emigrou. Tornou-se pescador e foi envelhecendo no mar da sua Terra. </div><br /><div align="justify">Sobre este naufrágio escreve o grande historiador olhanense Dr. Alberto Iria numa publicação de 1938:</div><div align="justify">"A última embarcação que seguiu para Moçâmedes, há pouco mais ou menos 15 anos, foi a canoa da picada «Zá-Zá» que, cheia de gente moça e aventureira, saiu um dia da barra de Olhão para nunca se ouvir dizer nada do seu destino". Continua o texto dizendo:</div><div align="justify">"Outros tiveram melhor sorte. A chalupa Florinda de mestre José dos Reis Peixe Rei, andou à deriva nos mares de África com o mastro grande partido e as velas feitas em farrapos até aportarem no Congo Francês, ou o palhabote de mestre João Valente e o caíque de mestre João Bento Estrela que aportou à ilha de Ano Bom depois de a sua tripulação flagelada pela fome e sêde ter sofrido as piores inclemências".</div><br /><div align="justify">Estes episódios dizem bem do temperamento do povo de Olhão. </div><div align="justify">Os resultados práticos da colonização espontânea e livre feita pelos pescadores olhanenses no sul de Angola superaram em muito tudo o que se possa imaginar. Uns falam em milagre, outros em força criadora. Foi sobretudo a obra da coragem, do sacrifício e da perseverança na epopeia do mar e na epopeia do trabalho árduo. Ela lá está para quem quiser observar.</div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"></div>Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-1157026399954289312006-08-31T11:47:00.001+01:002008-07-29T12:54:13.587+01:00OS OLHANENSES A SUL DE BENGUELA<div align="justify">A fama do povo olhanense como povo navegador passou fronteiras no séc. XVIII. Eram eles que melhor conheciam o mar, pelas viagens de longo curso que faziam nos seus caíques, palhabotes e lanchas. Sabe-se que realizaram viagens ao Brasil na tarefa de colonizar, sem contudo deixarem memória desses factos. Agiam por conta própria numa predisposição natural ao apelo do mar.<br />As populações do litoral algarvio, desde há milhares de anos, têm sido tocadas por grandes civilizações oriundas do mediterrâneo, que construíram os seus impérios comerciais instalando feitorias. Algumas delas transformaram-se em importantes centros urbanos, como a fenícia Carteia, hoje Quarteira, ou Portus Anibalis, a actual Alvor ou Portimão, fundada pelo célebre general cartaginês Aníbal, ou Ossónoba (Faro), cidade romana com bispado, representada nos Sínodos, cujas actas se encontram depositadas nos arquivos da Universidade de Salamanca e é mencionada pelos maiores historiadores romanos, Silb (Silves), no Al-Gharb muçulmano, cidade luz da cultura árabe, tal como foi Córdova, Granada e Sevilha.<br />Olhando a história, ela leva-nos a admitir que o géne navegador e comercial dos fenícios, gregos, cartagineses, romanos e árabes, deixado nas praias algarvias, possa ter como principal herdeiro o povo de Olhão, que demonstrou ser o mais capaz de realizar as missões mais arriscadas no mar e adaptar-se perfeitamente a novas difilculdades surgidas em terra, no contacto com outros povos, levando até eles o seu capital de experiência como navegadores, comerciantes e trabalhadores do mar, peritos no manuseio das artes de pesca e nas formas de conservar o peixe.<br />Depois da independência do Brasil em 1822, deu-se prioridade ao desenvolvimento das possessões portuguesas de África. Mais uma vez os olhanenses responderam com a sua experiência. Em meados do séc. XIX, o chamado terceiro império, o Império Português de África estava em marcha. O esforço colonizador tinha-se iniciado. Era necessário povoar esses territórios e desenvolvê-los para que Portugal recuperasse a força de Potência Colonizadora de outros tempos.<br />A partir de 1860 os olhanenses iniciaram uma forte corrente migratória para a Vila de Moçâmedes, a sul de Benguela, hoje cidade do Namibe na República de Angola.<br />Muitos caíques, palhabotes e lanchas à vela partiram do porto de Olhão com destino a Moçâmedes, em viagens arriscadas que duravam mais de 40 dias. As embarcações eram frágeis cascas de noz reforçadas prèviamente a cobre, sujeitas a inspecção e autorização de saída por parte da capitania. Era necessário dotar aquelas "quengas" (metade de 1 côco, na gíria brasileira) de toda a segurança possível, pois a mulher olhanense, a companheira de todas as horas dos seus maridos, fossem elas boas ou más, íam também elas embarcar com os seus filhos de tenra idade, e partilhar sofrimentos e perigos, tornando cada viagem num épico-familiar, cujo final ninguém conseguia prever.</div><br /><br /><div align="justify">O primeiro caíque referenciado, já em carreiras de cabotagem entre Moçâmedes e Benguela, data de 1855 e chamava-se "Os 2 Amigos". Não há registo da sua entrada na capitania de Moçâmedes e desconhece-se o nome do seu proprietário. Os registos iniciam-se com a entrada da barca D. Ana em 1860 comandada por José Guerreiro de Mendonça. Tem como piloto José Guerreiro Nuno. Levava a bordo Francisco de Sousa Ganho e esposa Maria Catarina Peixe, Francisco de Sousa Ganho, filho de ambos com 9 anos, António de Sousa Ganho, irmão do primeiro e José Carne Viva, levando a 1ª. canôa de pesca do alto. São considerados como a primeira leva da corrente migratória que se gerou a partir de Olhão para a então Vila de Moçâmedes. </div><br /><div align="justify">A segunda leva foi composta por José Rolão e dois filhos João da Cruz Rolão e Francisco da Cruz, Manuel Tomé do O, Domingos Galambas e José Mendonça Pretinho. Ignora-se qual o barco que os transportou. </div><br /><div align="justify">Na terceira leva, levada pelo vapor "D. António" em carreira regular para África, segue a primeira rede de pesca. Um dos emigrantes, João da Rosa Machado é considerado o primeiro que se estabeleceu na Baía dos Tigres. Chegaram em Julho de 1861.</div><br /><div align="justify">O primeiro caíque registado na capitania de Moçâmedes foi o Flor de Maio com chegada em Janeiro de 1863. Tinha como tripulação o mestre Bernardino do Nascimento, vulgo o Brancanes, o piloto Pedro José dos Reis, Francisco Ferreira Nunes, Manuel Ramos de Jesus Peleira e um menor de nome Baptista. </div><br /><div align="justify">Nesse mesmo ano começam a chegar olhanenses a Porto Alexandre, hoje cidade de Tômbua, a 100 kms a sul de Moçâmedes. A corrente migratória continuou por muitos anos, quer em barcos à vela quer em vapôres. Em 1894 há nos Tigres 7 casais olhanenses e em Porto Alexandre 200 pescadores algarvios, na sua maioria olhanenses. O porto de chegada era o Bairro Torre do Tombo, a 1 km. da vila de Moçâmedes. Dali irradiavam para todo o distrito onde existisse uma praia: Porto Alexandre, Baía dos Tigres, Baba, Chapéu Armado, Lucira, Mocuio, Baía das Pipas, Praia do Catara, S. Nicolau, Porto Pinda, Praia do César, etc.; algumas delas sem água potável, que eram logo abandonadas até se organizarem carreiras regulares de abastecimento, quer de água potável, quer de pão fresco. Os dias de chegada desses abastecimentos eram chamados, "os dias do pão fresco", e podemos imaginar quão especiais eram esses dias para aquelas gentes, em locais isolados como Porto Alexandre e Baía dos Tigres, quase na Foz do Cunene, cujo clima era ainda mais agreste, com as célebres garrôas, o vento do deserto, a levantar a areia das dunas que picava a pele como alfinetes, dificultava a respiração e fustigava dias a fio as casas de madeira, abrindo frestas, por onde as areias entravam e se depositavam nos móveis e nas camas. Era, na verdade desesperante o desterro daquelas famílias na Baía dos Tigres. </div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrOLPMeKDogZS2Lxn-nGHUFiC7lDWc4t6vysB6yxDkDLvJV_vRnRvPRn1FrNavZV9iAQ7lT5VVBIgpROtkTbKrMJZK6vTPMBNDjAqw3mwg4WS8vkSD-zDmFx-gSJCrBfNNrCgSew/s1600-h/imagem0004.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5140197021334285298" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrOLPMeKDogZS2Lxn-nGHUFiC7lDWc4t6vysB6yxDkDLvJV_vRnRvPRn1FrNavZV9iAQ7lT5VVBIgpROtkTbKrMJZK6vTPMBNDjAqw3mwg4WS8vkSD-zDmFx-gSJCrBfNNrCgSew/s320/imagem0004.JPG" border="0" /></a><br /><br /><div align="justify">Em Porto Alexandre a vida tornou-se mais fácil, quando plantaram fiadas de casuarinas que aparavam os ventos do deserto e evitavam o avanço das dunas. </div><br /><div align="justify">Porto Alexandre, hoje Tômbua tornou-se numa cidade industrializada dos derivados do peixe. Chegou a ser nos anos 1960 um dos maiores centros piscatórios da África Ocidental, com dezenas de fábricas de farinhas e óleos de peixe, e grande centro conserveiro. <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEia6pIm2S7-fGQ73dElS_jVePFDJCnSZMFV_NV3PAM1nyGmz8DLPhYfinIHOSsvRFU1dbKD05xYv5n9fzZkZ-Tt7FTZWD9NTQcvyBKpcDrFupHANQcDEYGrjKvWgbTeWcG9G-JXNw/s1600-h/imagem0006.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5140184368360631250" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEia6pIm2S7-fGQ73dElS_jVePFDJCnSZMFV_NV3PAM1nyGmz8DLPhYfinIHOSsvRFU1dbKD05xYv5n9fzZkZ-Tt7FTZWD9NTQcvyBKpcDrFupHANQcDEYGrjKvWgbTeWcG9G-JXNw/s320/imagem0006.JPG" border="0" /></a></div><br /><div align="justify">A Baía dos Tigres só teve água potável nos anos 1950, levada do Rio Cunene, 60 Kms. de condutas. Nunca passou duma aldeia de pescadores com uns 500 habitantes, entre brancos e pretos, devido ao isolamento e ao clima agreste. As viagens por terra eram conseguidas por jeeps em baixa mar, aproveitando a areia endurecida e molhada da maré. Nada mais existia para além das dunas altaneiras de areia solta e o mar. Era uma viagem arriscada que alguns aventureiros tentavam, por vezes sem sucesso. A comun<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1vf8QYSZFKBlIYulcG42tb5VojDwM-ASkrLK-uj_ZUgP4DozgJ5SuSPwPc0BJMO3T28CZ4SbbzAMwuXwrxZY9ZTCqv1mR4zunCgUtC46I_rwonlOaHAaAfn9yFlpsJ7Od6haFvA/s1600-h/BA41.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5153837738149815010" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1vf8QYSZFKBlIYulcG42tb5VojDwM-ASkrLK-uj_ZUgP4DozgJ5SuSPwPc0BJMO3T28CZ4SbbzAMwuXwrxZY9ZTCqv1mR4zunCgUtC46I_rwonlOaHAaAfn9yFlpsJ7Od6haFvA/s320/BA41.jpg" border="0" /></a>icação com a Baía dos Tigres passou a fazer-se por avioneta (correio e passageiros). Acabaram por construir uma igreja, uma escola primária, um hospital, os correios, a casa do chefe do posto e uma rua que era também a pista para a avioneta. As casas eram construídas em cima de pilares, para que as areias levadas pelo vento da garrôa passassem livremente. </div><p align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7hQWmCUa2SJD0q_6uILqsKfqUdq6qVEuaNmBY6ypUiHinhR5qVxthj8oLFUuNOuRsCw606Wx6tyAXDhcO4eeOD1tJEduiqJDKliBiD_ned-QFK1QML94T57mbmr8-CNVn9EoPyw/s1600-h/imagem0005.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5140194916800310242" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7hQWmCUa2SJD0q_6uILqsKfqUdq6qVEuaNmBY6ypUiHinhR5qVxthj8oLFUuNOuRsCw606Wx6tyAXDhcO4eeOD1tJEduiqJDKliBiD_ned-QFK1QML94T57mbmr8-CNVn9EoPyw/s320/imagem0005.JPG" border="0" /></a> A todas aquelas vicissitudes os olhanenses foram resistindo ao longo do tempo. Os homens, as mulheres, as crianças. A Baía dos Tigres foi o limite das forças, do querer, da resistência humana, nos seus primeiros tempos. Sobrevivia-se mal e as eventuais ajudas muito distantes. Não posso deixar de admirar a força da mulher olhanense, o que ela representou nos primeiros tempos de povoamento, o esforço pioneiro partilhado, ao lado dos seus maridos e filhos. Era na verdade gente muito especial. Apetece dizer que os olhanenses desafiaram e venceram o deserto na Baía dos Tigres, o sítio mais isolado e agreste do deserto do Namibe. </p>Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com19tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-1155902835513156192006-08-18T11:18:00.031+01:002010-06-15T21:57:13.444+01:00OLHÃO-TERRA DE PESCADORES/NAVEGADORES "A MAIOR DIÁSPORA COLONIZADORA A SUL DE BENGUELA"<div align="justify">A população de Olhão conta-nos uma história de duas actividades distintas relacionadas com o mar: a pesca e o comércio marítimo.<br />Dotado de uma matriz psicológica em que alguns historiadores destacam a valentia, o aventureirismo, a audácia, a ambição, o espírito de sacrifício, o gosto pelo risco, etc., o povo olhanense situa parte da sua história na pesca e no comércio de cabotagem em todo o litoral português especialmente na costa do Algarve, do norte de África e do sul de Espanha até ao Mediterrâneo Oriental e Mar Negro, havendo uma referência especial ao porto de Odessa, importante entreposto cerealífico russo, no Mar Negro, onde o pequeno caíque do olhanense António da Silva Guerreiro foi comerciar um grande carregamento de biqueirão em salmoura, trazendo umas toneladas de trigo e artigos orientais. Nessa viagem foi visitado pela mais alta hierarquia marinheira daquele País, onde foi comentada a audácia do homem do mar português ao aventurar-se, naqueles barquitos de vela latina de 50, 6O ou 70 toneladas, para tão longes paragens. Mal sabiam os russos que outras glórias épicas tinham surgido daquele povo e essas ainda mais ousadas: a viagem do caíque Bom Sucesso ao Brasil no dia 6 de Julho de 1808, (viagem essa comemorada anualmente por iniciativa de alguns docentes das escolas de Olhão, terminando com visita à réplica do caíque, aportado em cais próprio, que em boa hora a autarquia mandou construir), e mais tarde, a partir de meados do sec XIX, as viagens aos mares piscosos do sul de Angola, então colónia portuguesa, em viagens sucessivas, intermináveis, onde Adamastor, em promontórios outros, reclamava o seu mar, ante a pertinaz audácia daqueles navegadores; ou Neptuno, calmo e apaziguador umas vezes, outras bruto e temível, constituindo cada viagem um episódio épico-familiar, faltando somente o poeta inspirado nas musas parnasianas a cantar os feitos de tal ousada gente, onde não falta a tragédia dos naufrágios ou a alegria do reencontro após viagem tranquila ou mais atribulada mas nunca isenta de perigos. Centenas de olhanenses fizeram tal proeza. O destino era o mar piscoso do sul de Angola. Dezenas de barcos levando famílias inteiras aportaram nas baías e enseadas a sul de Benguela. Constituíram a maior diáspora naquelas paragens do sul de Angola.<br /><br /></div><div align="justify">A VIAGEM DO CAÍQUE "BOM SUCESSO" AO BRASIL</div><br /><div align="justify">Visitava Olhão em 2005, quando, vindo da avenida principal, se ouviu o som de cavalos a trote e o rufar de vários tambores. Ao assumar-me notei que, quer os cavaleiros, quer os «tambores», trajavam à tropa napoleónica e em cortejo seguiam-nos um grupo de populares trajados à sec. XIX. Comemoravam a expulsão do exército napoleónico do Algarve e a consequente viagem épica do caíque Bom Sucesso ao Brasil, iniciada no dia 6 de Julho de 1808. O cortejo dirigiu-se a um cais onde se encontra acostado uma réplica daquele mesmo caíque e ali houve cerimónias e discursos. Pude ainda conversar com um elemento da organização que me afirmou pertencer esta iniciativa a um grupo de docentes das escolas de Olhão visando a divulgação deste acontecimento histórico, reputado como um dos que mais honram a história da cidade, e esclareceu-me que a viagem do caíque Bom Sucesso ao Brasil tem tudo a haver com a derrota das tropas francesas no Algarve. </div><br /><div align="justify">O exército francês, comandado pelo General Junot, 1ª. invasão, exercia o domínio em todo o território português. A rebelião no Algarve teve início em Olhão e alastrou-se pelas aldeias, vilas e cidades até à sua expulsão definitiva. (Na ponte velha de Quelfes deu-se uma emboscada ao exército francês com a participação da população olhanense, resultando desta acção 18 baixas e 12 feridos para o lado francês e uma baixa para o lado português. Foi posta uma placa a assinalar este acontecimento).</div><div align="justify">Após a expulsão do exército francês do Algarve constituiu-se a Junta Suprema Provincial do Reino do Algarve que assumiu o governo em nome do Príncipe Regente, refugiado no Brasil com a Corte.</div><div align="justify"></div><div align="justify">Tinham de levar a boa nova ao Brasil. Para essa empresa foi escolhido o marítimo olhanense, </div><div align="justify">reconhecidamente o mais destro para tão perigosa missão.</div><div align="justify">Partiram no dia 6 de Julho de 1808. Oito dias depois chegavam ao Funchal e a 16 rumaram ao Rio de Janeiro. <strong>(na foto vemos a réplica do caíque "Bom Sucesso", acostado em cais próprio em Olhão)</strong></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNqv8FV8RYdXY3gqIqhJK_qEay_uVLh5HXk0U8seUMFn3zexwaNyp-BehiFK6mon8CbPk25YodKAzY2rBPr-_J-YspNelvrOpra7gTvm7tLNjfwudlFeA-TP8mijCYWXDiDN2_kw/s1600-h/BomSuc1(1).jpg"><img style="MARGIN: 0px 0px 10px 10px; FLOAT: right; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5140557321845779458" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNqv8FV8RYdXY3gqIqhJK_qEay_uVLh5HXk0U8seUMFn3zexwaNyp-BehiFK6mon8CbPk25YodKAzY2rBPr-_J-YspNelvrOpra7gTvm7tLNjfwudlFeA-TP8mijCYWXDiDN2_kw/s320/BomSuc1(1).jpg" /></a> Levavam uma carta do governo de Faro que participava a expulsão dos franceses, cartas de felicitações do Bispo e uma cópia do auto de eleição da Junta Suprema e outra carta de parabéns do Compromisso Marítino, ao Príncipe Regente. <strong><br /></strong>Pouco mais de 2 meses durou a travessia do Altântico. Tiveram, não só de lutar com o mar, mas também fugir dos franceses, dos corsários e de navios negreiros de todas as nacionalidades. Por mais estranho que pareça não possuíam qualquer aparelho ou simples carta marítima. Dirigiam-se por uma estimativa muito incerta, traçada por um vulgaríssimo e primitivo mapa. </div><br /><div align="justify">Chegaram ao Rio de Janeiro no dia 22 de Setembro. Tiveram recepão grandiosa à chegada, não só pela boa nova de que eram portadores, mas, também, pela audácia demonstrada.</div><div align="justify">A população carioca e mesmo a de todo o Brasil guardou memória deste acontecimento, de tal forma, que nos fins do séc. XIX, apareciam, ainda, no nordeste brasileiro pescadores e praieiros a dizerem-se descendentes dos pescadores de D. João VI que vieram ao Brasil numa "quenga", isto é, na metade de um côco.</div><div align="justify">D. João VI pagou pelo caíque 6.000 cruzados. Os 15 pescadores/navegadores olhanenses da tripulação, regressaram a Portugal num iate novo, oferta de D. João VI. </div><div align="justify">O caíque Bom Sucesso foi mandado conservar no Arsenal da Marinha no Rio de Janeiro, ad perpectuam memoriam, onde realmente esteve durante muitos anos, exposto à admiração de nacionais e estrangeiros. </div><div align="justify">Como reconhecimento desta empresa logo Olhão foi elevada à categoria de vila com o nobilitante título de "<strong>Vila de Olhão da Restauração</strong>".</div><br /><br /><br /><div align="justify"></div><br /><br /><br /><div align="center"></div><br /><br /><br /><div align="center"></div>Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-1150309680519209452006-06-14T17:19:00.029+01:002013-02-11T10:55:28.633+00:00Bernardino - o intelectual , o militar, o patriota, o exilado que se fez colono, "Fundador de Moçâmedes"<div align="justify">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfx-qxHlaGnEqijDCtML4dLYn1aQlEXdgB7T0F8BEXLdfmRGnrp2WS_J6gi5jTCg0IDHFd28JPOHMrKWAy2BbkVg31aDACoK6qsl7mrYLegTLES0oT65Xdn7Ys1hnwlDlAfdIA-A/s1600-h/foto0001.JPG"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5130431477631610530" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfx-qxHlaGnEqijDCtML4dLYn1aQlEXdgB7T0F8BEXLdfmRGnrp2WS_J6gi5jTCg0IDHFd28JPOHMrKWAy2BbkVg31aDACoK6qsl7mrYLegTLES0oT65Xdn7Ys1hnwlDlAfdIA-A/s320/foto0001.JPG" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a> Bernardino Freire de Figueiredo Abreu e Castro, português, é considerado pelos historiadores portugueses como o fundador da cidade do Namibe, no sul da República de Angola, a antiga cidade de Moçâmedes da época colonial portuguesa, fundada em meados do sec. XIX por colonos portugueses, quando o areal imenso do deserto do Namibe bordejava por inteiro a baía do soba Mossungo.<br />
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Exilado em Pernambuco, do então Império do Brasil, Bernardino foi o mentor da primeira colónia agrícola de povoadores portugueses, que, também eles, radicados em Pernambuco, de lá saíram no dia 23 de Maio de 1849 (166 entre homens, mulheres e crianças) com rota ao novo porto de Moçâmedes e com chegada àquele porto no dia 4 de Agosto desse ano. As políticas de povoamento das possessões portuguesas de África estavam a ser implementadas pelo então governo português cujo reconhecimento da costa fora mandada pelo Barão de Moçâmedes, governador geral da "Província de Angola" do Reino de Portugal, em finais do sec XVIII.</div>
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A chegada desta colónia ao estabelecimento de Moçâmedes, hoje Namibe, revestiu-se de importância crucial para o desenvolvimento rápido da agricultura, especialmente das culturas da cana do açúcar e do algodão, fazendo também desenvolver no plano agrícola a região planáltica da Huíla, com a introdução de novos colonos.</div>
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Uma biografia de Bernardino conta a história duma vida dedicada à política, à pesquisa histórica, ao ensino e mais tarde, em Moçâmedes, à agricultura. História que merece ser recontada para conhecermos melhor a personalidade dum líder carismático, os seus ideais, a fidelidade às suas convicções políticas, pessoa que se ouvia proferir o seu nome como o fundador de Moçâmedes sem todavia conhecermos a sua vida e as suas lutas.</div>
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<strong>AS LUTAS DE UM GRANDE LIDER E O PATRIOTA</strong></div>
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Nasceu em Nogueira do Cravo região beirã perto de Coimbra e foi baptizado em 1809, ano do seu nascimento, ao que se supõe.<br />
Estivera matriculado na Universidade de Coimbra no "1º. ano de Leis" em 1829 e no 2º. ano em 1830. Não aparece matriculado no 3º. ano. "Teria sido levado pelos sentimentos e princípios de sua família e se alistara no exército de D. Miguel," voluntários realistas, como tenente de caçadores. Fizera a guerra civil seguindo os ideais absolutistas de D. Miguel contra o exército liberal de D. Pedro IV. </div>
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A guerra civil (1826-1834) fora dura e sangrenta e originara muitas baixas de ambos os lados. Bernardino sobreviveu e em 26 de Maio de 1834-tinha 25 anos de idade-assinava-se a convenção de Évora Monte, de que D. Miguel e seu partido saíam derrotados. Os seus regimentos seriam dissolvidos e partiria para o exílio no dia 1 de Junho, desse ano.</div>
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Bernardino que jurara fidelidade a D. Miguel, continuou fiel à causa que defendia e passou à clandestinidade em Lisboa, faz-se jornalista e colabora no jornal clandestino "Portugal Velho", defendendo, ainda, os princípios do absolutismo. Enquanto isto, outros companheiros continuam em armas contra o governo, organizam guerrilhas. Torna-se célebre o chefe de guerrilha Remexido que actuava no Baixo Alentejo e Algarve, chegando mesmo a tomar pelas armas Albufeira. Curiosamente conheci duas tetranetas do guerrilheiro, que me disseram que, se D. Miguel tivesse ganho a guerra civil, o seu tetravô, hoje, faria parte da galeria dos grandes heróis nacionais. </div>
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Remexido tinha o seu quartel general na Serra de Monchique e foi mais tarde aprisionado, condenado e fuzilado no Largo da Trindade em Faro, em 48 horas, por ter sido capturado de arma na mão, segundo a lei. A tomada de Albufeira tomou contornos duma verdadeira chacina e Remexido fora responsabilizado. Uma das vítimas dessa chacina foi Jacintho d´Ayet, que deu nome a um largo de Albufeira e curiosamente, a sua viúva e seu filho, com o mesmo nome, seriam os padrinhos duma minha tia-bisavó, nascida em Olhão em 1840. </div>
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Mas, o que poderia ter acontecido a Bernardino, se D. Miguel tivesse ganho a guerra civil? Fiel que sempre fora aos seus princípios e ao juramento que fizera, certamente não se teria exilado. A 1ª. colónia, organizada por ele, em Pernambuco, não teria existido. A fundação de Moçâmedes não seria a 4 de Agosto de 1849, (data da chegada da colónia). Não seria invocado, nesse dia, ano após ano, nos jogos interselecções, em aclamação e em uníssono pela claque, BER...NAR...DI...NO... BER...NAR...DI...NO, empolgando jogadores e público, para que a sua alma ajudasse a selecção de Moçâmedes a conquistar a vitória. O que é certo é que ninguém se lembra duma derrota da selecção, nesses dias festivos de comemoração do 4 de Agosto, o dia da cidade. Seria bem diferente a Moçâmedes da minha recordação, naquele velho estádio ao fundo da avenida, "memorial vivo" do desporto rei da terra, passado cheio de glória, numa época em que o desporto associativo era seguido com particular entusiasmo, avivando "bairrismos" nos jogos interselecções e amor clubista nos campeonatos distritais, antes do advento dos campeonatos provinciais. "Memorial" esse vergastado a golpes de camartelos e picaretas nos anos 1960, apesar dos defensores de memórias se terem oposto à sua demolição.</div>
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Após a sua estada por Lisboa na clandestinidade Bernardino exila-se no Brasil, fixa-se em Pernambuco, renuncia a toda a actividade política e dedica-se ao ensino de História, Geografia e Latim, no Colégio Pernambucano. Escreve livros de carácter didático, como a História Geral em 6 volumes. O 1º. sobre a História Sagrada do Antigo Testamento, o2º. sobre a História da Vida de Jesus Cristo e dos Apóstolos e História dos Judeus desde a dispersão até aos nossos dias, o 3º. sobre a História Antiga e Grega, o 4º. sobre a História Romana e da Idade Média, o 5º. sobre a História Moderna e o 6º. sobre a História de Portugal e do Brasil.</div>
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Escreve, ainda, o romance histórico, descritivo, moral e crítico " Nossa Senhora de Guararapes", que tem por fundo os encontros sangrentos entre portugueses e holandeses em 1648 e 1649, nos altos montes de Guararapes, na região do Recife.</div>
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As saudades da Pátria e da sua terra são enormes, Bernardino escreve: "Saudade, nome melodioso e suave, mas enternecedor! Vocábulo sem par! Que inveja fazes a tantos povos, os quais, por que te não sentiram, não te souberam exprimir. Ditosa língua que tal expressão possuis! Ditosa terra que tal língua tens! Ah!. Pátria minha! Tu o foste! Aceita cá de longe o suspiro da mais viva saudade que te envia o desterrado filho teu."</div>
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Mas os portugueses não estavam seguros em Pernambuco. Certos partidos brasileiros exigiam a expulsão dos portugueses do Império. As perseguições são particularmente intensas nos dias 8, 9 e 10 de Dezembro de 1847. Arruaceiros espancam pelas ruas da cidade quantos portugueses encontram. As turbas amotinadas gritam «mata marinheiros» e «não escape um só», entravam desenfreadas nos estabelecimentos comerciais, casas, a ferir e a matar, arrastando os cadáveres pela via pública.</div>
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Bernardino decide-se embarcar para solo português. O objectivo agora é sair de Pernambuco e estabelecer-se numa possessão portuguesa de África.</div>
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Organiza uma colónia agrícola de povoadores portugueses estabelecidos em Pernambuco e avança com o projecto.</div>
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Escreve para o Ministério da Marinha e Ultramar a solicitar relatórios sobre Angola. Simultâneamente pedia auxílio material, a fornecer pelo Estado, que permitisse o transporte de pessoas e bens desde o Recife até local a escolher, em terras angolanas. </div>
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Era funcionário do Ministério Luz Soriano, que se interessou pelo caso e enviou um relatório detalhado intitulado "Memória sobre a Angra do Negro". A seu ver, o local mais indicado para fixação europeia.</div>
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O relatório, mapas e tudo o que é conhecido recebe Bernardino de Luz Soriano. O governo propõe ao parlamento o projecto para fixação no Presídio e Estabelecimento de Moçâmedes, dos portugueses fixados em Pernambuco, no Brasil. </div>
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É dado apoio material aos colonos (18.000 reis, transporte e víveres) para a viagem. Adquiriu-se três engenhos de açúcar, que custaram 8.000 reis e seriam entregues a três sociedades ou a três concessionários, para exploração. O valor seria resgatado com o produto de 3 safras, sendo o primeiro resgate na terceira safra de laboração dos engenhos. Providenciou-se o apoio aos doentes para que não faltasse os alimentos próprios a estes e aos convalescentes. Uma vez chegados, o território destinado à colónia seria dividido de forma a que não faltasse o terreno para construção de uma habitação e formar maior ou menor estabelecimento agrícola. Era também fornecido, nos primeiros 6 meses, farinha e legumes pelo governo para sustento da colónia, etc.etc.. </div>
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<strong>O FUNDADOR DE MOÇÂMEDES </strong><br />
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A 23 de Maio de 1849, finalmente a concretização do projecto. Partia de Pernambuco, a barca "Tentativa Feliz" e o brigue da marinha portuguesa "Douro" com 166 portugueses a bordo, rumo ao estabelecimento de Moçâmedes, na Província de Angola, então província do reino de Portugal. Na viagem, sucumbiram, com bexigas, 3 adultos e 5 crianças. </div>
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Após 73 dias de viagem chegam ao destino. Entram na baía de Moçâmedes e avistam um vasto areal servido por um rio seco, o rio Bero, que mais tarde Bernardino chamou de Nilo de Moçâmedes, porque na época das chuvas a água das enxurradas invade toda a terra, trazendo os fertilizantes naturais para novas sementeiras, num microclima temperado. Era ali que os novos colonos íam reconstruir as suas vidas em tranquilidade, em paz e em território pátrio. Era o dia 4 DE AGOSTO DE 1849, que ficou na História como o dia da FUNDAÇÃO DE MOÇÂMEDES.</div>
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Houve recepção de boas vindas, discurso oficial pelo governador do distrito na presença das autoridades tradicionais: sobas Mossungo e Giraúl. Ficaram alojados em barracões construídos de pau a pique, cobertos de palha e amarrados com mateba ou cordas de cascas de árvores. </div>
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No dia seguinte foram conduzidos às áreas agrícolas onde foram distribuídas as terras. Bernardino seguiu para Luanda no dia 16 de Agosto afim de apresentar cumprimentos ao governador geral. </div>
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No dia 21 de Outubro foi a instalação, no Vale dos Cavaleiros, dos engenhos de açúcar: às 7 da manhã içou-se, no local, a bandeira portuguesa, na presença do governador do distrito, com uma salva de 21 tiros. A maior parte dos colonos ali compareceu e houve arraial com largada de foguetes. Almoçaram e jantaram em barracas improvisadas.</div>
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<strong><em>(Gravura da Fazenda dos Cavaleiros, propriedade de Bernardino Freire de Figueiredo Abreu e Castro)</em></strong><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9Md9RLVfO4Lwgx0V3RrnCRUalAtWHvyn7l5BB8Czz3t6A3r4Npt3Rv1eNt5vMnwXHrTUeAiqVXmrQfRhBpMHeNfu_OcAnghSoZXztEF2sxz9ueeekewvGT4aTxpUqKHSvvOGofw/s1600-h/Fazenda+dos+CAVALEIROS.JPG"><strong><em><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5286740936159366018" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9Md9RLVfO4Lwgx0V3RrnCRUalAtWHvyn7l5BB8Czz3t6A3r4Npt3Rv1eNt5vMnwXHrTUeAiqVXmrQfRhBpMHeNfu_OcAnghSoZXztEF2sxz9ueeekewvGT4aTxpUqKHSvvOGofw/s320/Fazenda+dos+CAVALEIROS.JPG" style="cursor: hand; float: left; height: 203px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 335px;" /></em></strong></a><br />
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Bernardino ergueu a sua habitação no Sítio da Bandeira, (designação que ficou na tradição popular), no Vale dos Cavaleiros.</div>
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No dia 13 de Outubro foi investido num cargo no Conselho Colonial de Moçâmedes. Faz viagens de estudo, contacta sobas, colabora com as autoridades, sobe a Chela, entra na Huíla, visita a lagoa dos cavalos marinhos, que fica a 4 léguas ao norte de Lopolo, onde os rios gelam em Maio e Junho. Já lá existem alguns colonos. Outros irão fixar-se noutras áreas do planalto da Huíla em consequência do estudo feito. Uma vida de líder, de rija têmpera, apostado em tudo fazer pela "sua" colónia. </div>
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Mas a natureza não se compadeceu dos recém-chegados. Uma estiagem de 3 anos secou as terras, perdendo-se todas as sementeiras. A 1ª. colónia luta com falta de tudo, desde alimentos a vestuário. A situação é desesperada. Alguns opinam mudar a colónia e comentam: "Antes fôssemos mortos em terras de Pernambuco, quando estávamos sentados junto às panelas cheias de carne e comíamos pão com fartura, em vez de padecer com fome neste deserto." Bernardino mantém-se firme e lança a máxima: "Vence quem perseverar até ao fim".</div>
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O governador do distrito oficia a desesperada situação dos colonos. Há um intenso movimento de solidariedade em Luanda e em Benguela, promovido pelas respectivas câmaras municipais. Os víveres, vestuário, dinheiro e outras ofertas chegam finalmente a Moçâmedes e tudo se vai normalizando. </div>
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Entretanto, em Pernambuco, os portugueses organizam, a expensas suas, uma segunda leva de colonos (125) para se dedicarem á agricultura em Moçâmedes, chefiada por José Joaquim da Costa. Viajam na barca Bracarense e no brigue Douro, da marinha portuguesa. Chegam a Moçâmedes no dia 26 de Novembro de 1850. Dedicam-se também à pesca. Lançam mão a pessoal conhecedor da técnica de escalagem e secagem do peixe que trabalhou na feitoria montada no estabelecimento pelo olhanense Cardoso Guimarães, 7 anos antes.</div>
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Bernardino reconhece que os colonos conseguiram vencer as adversidades e o deserto. São o maior exemplo de perseverança em toda a Província.</div>
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Moçâmedes engradece-se ràpidamente e é elevada a vila por decreto de 26 de Março de 1855. Em 1857 já existem 16 pescarias onde trabalham 280 escravos. </div>
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Ao festejarem o décimo aniversário da chegada da colónia, no dia 4 de Agosto de 1859, verificaram a existência de 83 propriedades agrícolas nas margens do rio Bero, três no Giraúl, dois no Bumbo, três em S. Nicolau, um no Carujamba, três no Coroca, sete na Huíla. </div>
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Tinha-se materializado o sonho do Barão de Moçâmedes, Luz Soriano e Sá da Bandeira, de fixar populações nas regiões a sul de Benguela. Foi graças à liderança forte de Bernardino que esse desiderato foi possível. Mas havia uma outra luta que todos eles estavam empenhados: a abolição da escravatura.</div>
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Bernardino não permite na sua fazenda mão de obra escrava. Bate-se pela abolição da escravatura. Escreve em 1857: "os poucos pretos com quem trabalho, podem hoje ser livres porque continuarão a ser úteis. Eduquei-os com boas maneiras e não com castigos bárbaros e por isso não me fogem e vivem satisfeitos. Não me agrada a distinção entre escravos e libertos, nem a admito na minha fazenda. Todos são agricultores com iguais direitos e obrigações". Em 1858 Portugal decretou que, passados vinte anos não poderia haver escravos; mas, onze anos depois, em 1869, aboliu o estado de escravidão. </div>
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Sabe-se que Bernardino foi generoso para com os companheiros mais desafortunados. A sua casa fora uma espécie de hospedaria ao visitante. </div>
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Bernardino faleceu pobremente, no dia 14 de Novembro de 1871. Tinha 62 anos de idade. Faleceu quando regressava de Luanda, onde tinha ído em serviço da comunidade. Causa da morte: uma pneumonia dupla.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7_D06v5wEZhprhiPuCzhdGunZP5AEWTTYrxacfQFI1FjxHQKTKZwd-MF3EZzBwj2PvV-3EddaxdZ6yKE-xBmC3s74LpQmiCnx-QkOoZjxG3IlrSy6V8uq-FuZgX3Y9PW9clrKQQ/s1600/Bernardino.JPG"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5541179228599725506" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7_D06v5wEZhprhiPuCzhdGunZP5AEWTTYrxacfQFI1FjxHQKTKZwd-MF3EZzBwj2PvV-3EddaxdZ6yKE-xBmC3s74LpQmiCnx-QkOoZjxG3IlrSy6V8uq-FuZgX3Y9PW9clrKQQ/s320/Bernardino.JPG" style="cursor: hand; float: left; height: 212px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 320px;" /></a>Não se sabe o local, no cemitério, onde foi sepultado. Memoriais: somente o grande quadro a óleo no salão nobre da Câmara Municipal e um busto muito simples no jardim, plantado cerca de 90 anos depois da sua morte. As autoridades portuguesas não prestaram a homenagem devida. Os sobas Mossungo, Giraúl, Moeni-Quipola e muitos outros deviam ter dado voltas nas sepulturas pela falta de reconhecimento das autoridades locais ao amigo que pugnou pela justiça e igualdade entre os povos e não admitia escravos na sua fazenda, porém quase ostracizado pelas autoridades da terra. O povo é que nunca o esqueceu e demonstrava-o nas competições interselecções quando a claque o invocava em uníssono BER...NAR...DI...NO, BER...NAR...DI...NO, para que a sua alma ajudasse a alcançar a vitória. </div>
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A história da vida de Bernardino irá perder-se como papéis imprestáveis nas prateleiras de algum arquivo. A guerra civil de Angola após 1974, entre os movimentos de libertação, criou uma nova diáspora em Portugal: a dos filhos de Moçâmedes. Nunca mais será invocado o seu nome na cidade que fundou. A população que o invocava e o respeitava já lá não se encontra a viver. Criou raízes em Portugal e só a visita para matar saudades da infância ou rever todo um passado deixado para trás.</div>
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Acreditemos que em algum ponto do universo, exista plasmado, um registo eterno de vidas justas e verdadeiras de heróis humanistas, como foi a vida de Bernardino, para que a ciência um dia a possa trazer de volta e ajudar na concepção de um Homem novo que esta Terra tanto necessita.</div>
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Um dia visitou Moçâmedes um amigo da família de Bernardino. Esteve na Fazenda dos Cavaleiros. Um negro idoso apontou a ruína duma casa onde muitos anos antes teria vivido um branco. Não se lembrava do nome. Num alto, a ruína domina toda a extensão da terra, numa vigília constante de mais de uma centena de anos. É também o Sítio da Bandeira onde os colonos íam beber a Pátria Portuguesa, naquela terra adoptiva de Angola e onde foi sonhada uma cidade: a cidade de Moçâmedes, hoje cidade do Namibe no Sul da República de Angola. </div>
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Moçâmedes foi elevada a cidade em 1907, 36 anos após a morte de Bernardino. </div>
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<em><span style="color: black; font-size: 130%;">(Agradeço ao moçamedense Ruca Pompeu da Silva a imagem da Fazenda dos Cavaleiros que gentilmente me enviou).</span></em></div>
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Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-1148386235302656272006-05-23T11:47:00.002+01:002014-10-05T09:46:19.352+01:00QUANDO TUDO ERA UM AREAL<div align="justify">
Durante o ano de 1485, mareantes portugueses avistam, desembarcam e baptizam como Angra das Aldeias e Manga das Areias onde hoje se situam a cidade de Tômbua, antiga cidade de Porto Alexandre do tempo colonial português, no sul da República de Angola e a Baía dos Tigres, pequena aldeia de pescadores, mais a sul, hoje completamente despovoada, ambas fundadas por pescadores olhanenses que se instalaram com carácter permanente nessas praias e desenvolveram a produção de pescado e a indústria dos derivados do peixe. A cidade de Moçâmedes seria edificada na baía que se designava como Angra do Negro e a Angra João de Lisboa seria mais tarde Lucira Grande (terminus da 1ª. viagem de Diogo Cão). Naquelas baías corsários fazem aguada e descansam (franceses na sua maioria), fazendo, também, aí, o embarque de escravos.</div>
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Durante o sec. XVII após ocupação holandesa, organiza-se expedições de reconhecimento e Cardonega, autor e contemporâneo delas, contacta o povo bochímane, que segundo sua opinião são os autênticos e verdadeiros aborígenes do continente africano. As actuais etnias do sul são na sua maioria povo banto, que segundo a tese do escritor negro M. S. Molena, quando no seu ensaio "The bantus-his past and présent" considera este povo nómada, migrante e invasor e que em muitos locais foram precedidos pelos portugueses. </div>
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O MORRO TORRE DO TOMBO<br />
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Em 1785 o Tenente Coronel Pinheiro Furtado, comandante de uma missão de reconhecimento portuguesa, visita a Angra do Negro, (designação do lugar onde mais tarde seria erigida a cidade de Moçâmedes da época colonial portuguesa, hoje, cidade do Namibe, no sul da república angolana) e registou as inscrições gravadas por mareantes e corsários na rocha branda. Talvez tivesse sido este oficial português quem primeiro chamou ao morro das inscrições de Torre do Tombo, pondo uma ponta de ironia na analogia com o Arquivo Nacional Português com o mesmo nome. Eis as inscrições:</div>
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1645-José da Rosa Alcobaça</div>
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1665-O capitão josé da Rosa Alcobaça passou por aqui indo para o Cunene no patacho Nossa Senhora da Nazareth em 4 de Janeiro de 1665.<br />
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O Piloto Pederneira<br />
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O sargento Domingos de Morais em companhia de José Rosa Alcobaça.<br />
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Bernardo Quado Goya<br />
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1666-André Chevalier<br />
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1723-Kenny<br />
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1762-Tomás Decombo<br />
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1765-Luís Barros<br />
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1768-W. Taylor<br />
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1770-Tomás Decombo<br />
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Manuel Rodrigues Coelho<br />
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Marti</div>
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Na rocha branda do morro das inscrições ou Torre do Tombo foram escavadas grutas, possivelmente por corsários, para servirem de abrigo e refúgio na sua itinerância pela costa. <em><span style="color: #330099;">(Créditos de imagem de Mário Tendinha´s Site) </span></em>E <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLakUS_zVv05SXPT27CGbiiQcME53veX5R1NAR-0VN0boeZ_2P4LBe2W_UN5-vF3yuLrqUOciDglhKn2JP8d-ouAMmsNDr1eR-hWjyCCBHz7hf9D5uH3XmgathTjdOPRwTmYJFbA/s1600-h/Cavernas2.jpg"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLakUS_zVv05SXPT27CGbiiQcME53veX5R1NAR-0VN0boeZ_2P4LBe2W_UN5-vF3yuLrqUOciDglhKn2JP8d-ouAMmsNDr1eR-hWjyCCBHz7hf9D5uH3XmgathTjdOPRwTmYJFbA/s400/Cavernas2.jpg" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5130567898677833458" style="cursor: hand; float: left; margin: 0px 10px 10px 0px;" /></a>foram essas mesmas grutas que abrigaram, anos mais tarde, famílias de olhanenses, que em meados do sec XIX foram chegando a Moçâmedes, em levas sucessivas, voluntariamente, sem apoios governamentais; os primeiros, em caíques (pequenas cascas de noz de vela latina triangular utilizados na pesca e comércio de cabotagem na costa portuguesa, no norte de África e no Mediterrâneo) para aí reconstruírem as suas vidas e inaugurarem uma nova era de progresso para o distrito, cuja riqueza seria proporcionada pelo mar. </div>
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Construíram o seu bairro perto do morro das inscrições ou Torre do Tombo, que foi crescendo à medida que mais olhanenses foram chegando. Constituíam um núcleo populacional à parte, a 1 Km. da vila. Montaram aí as suas pescarias e estaleiros, instalaram as artes de pesca e desenvolveram uma pequena indústria artesanal, bem como um pequeno comércio de víveres "as quitandas", onde não faltavam os legumes, as frutas, a batata, o arroz, o feijão, o leite e todo o género de produtos hortículas. As grandes fábricas apareceram mais tarde assim como o primeiro clube que Moçâmedes conheceu, o Ginásio Club da Torre do Tombo, que desenvolveu variada actividade desportiva, masculina e feminina e incrementou as festas tradicionais portuguesas. Esse bairro de pescadores passou a designar-se por bairro Torre do Tombo.<br />
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O NOME MOÇÂMEDES</div>
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Como foi referido acima, em Agosto de 1785, àquele abrigo da Angra do Negro chegava, para aportar, o Tenente Coronel Pinheiro Furtado , que a bordo da fragata Loanda, comandava uma expedição de reconhecimento da costa marítima até ao Cabo Negro.<br />
Para o mesmo local, mas por terra, seguia outro grupo de exploradores, chefiados pelo Sargento-Mor de ordenanças Gregório José Mendes. Estas duas viagens foram ordenadas por José de Almeida e Vasconcelos Soveral de Carvalho da Maia Soares de Albergaria, 11º. senhor da terra e celeiro de Moçâmedes, póvoa beirã no concelho de Vouzela, designado, Barão de Moçâmedes. Por honra e homenagem a esta iniciativa e ao êxito da empresa, Pinheiro Furtado quis fixar em terras de Angola os títulos de nobreza do seu governador, levantando cartas topográficas em que inscrevia os nomes de Baía de Moçâmedes onde anteriormente se mencionava Angra do Negro. Assim, este oficial seria o verdadeiro padrinho da futura cidade africana. O topónimo Moçâmedes, único no País, de origem árabe e de significado obscuro, para sempre ficaria ligado a uma terra de África. Ao passar por aquela póvoa beirã, foi-me indicado um solar senhorial, um tanto degradado, cujo portão da propriedade estava fechado a cadeado e que me disseram pertencer aos herdeiros de tão ilustre político, que marcou uma época em Angola depois de ser governador de Goiaz no Brasil. Os esforços que então foram feitos para fixação de povoadores portugueses a sul de Benguela, com receio de que outras potências coloniais tomassem tal iniciativa, não tiveram eco a nível de governo central e este grande anseio do Barão de Moçâmedes, naquele momento, não passou de um sonho cor de rosa. A corrente migratória continuou a processar-se para o Brasil que se tornou independente em 1822. Esse projecto iria materializar-se muito mais tarde, quando a 1ª. colónia chegou a Moçâmedes, no dia 4 de Agosto de 1849, ída de Pernambuco, chefiada por Bernardino Freire de Figueiredo Abreu e Castro, que já lá encontrou o presídio na Ponta Negra (Fortaleza S. Fernando), construído entre 1840 e 1845, (1º. passo para o povoamento da região, cuja força militar destacada seria o garante da segurança de povoadores e de seus bens) e 7 feitorias, cuja pesca era exercida por escravos. Uma delas, a do olhanense Cardoso Guimarães, que introduziu a técnica da produção do peixe seco em 1843, foi de primordial importância para o início do comércio de cabotagem que mais tarde os olhanenses promoveram em toda a costa de Angola, S. Tomé e Príncipe e Congo. </div>
<a name='more'></a>Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-1146077542153563162006-04-26T18:59:00.007+01:002014-03-29T19:50:42.547+00:00Objecto deste site<div align="justify">
Agradeço ao sr. Marco, ex-emigrante, e ao sr. Luís Espada, o apoio na abertura deste blog. Como padrinho, o sr Luís Espada manifestou a pretensão de se criar um livro em branco ao sabor da palavra de quem queira relatar as suas experiências pessoais, vivências de amigos ou familiares com substância aventureira, em Portugal, em solo de África, França, Brasil, Argentina, Venezuela, ou em qualquer outro país onde exista ou tivesse existido emigrantes.<br />
O programa televisivo que passou no canal um no dia 25/4/2006 sobre um grupo de emigrantes da Ilha Terceira que viajou no sec. XIX para o Hawai com destino às plantações da cana de açúcar seguindo depois para as cidades da Califórnia onde se radicaram; todo esse conhecimento de vivências, mais aventureiras umas, menos aventureiras outras, só foi possível graças às recolhas realizadas pelas associações criadas pelos seus descendentes e que foram ao encontro dos que desejavam relatar experiências pessoais, e outras estórias de vida no sentido de se dar uma contribuição preciosa à história da emigração terceirense. Relata sucessos de vida e outras estórias curiosas: o caso da captura de Bill the Kid que foi preso graças à informação de um Luso-americano descendente de terceirenses.<br />
Também aqueles que hoje vivem em Portugal ou noutro local do mundo e que viveram parte das suas vidas no antigo ultramar português, no Brasil, em França ou noutro país, podem deixar aqui o seu testemunho particular em estórias passadas consigo, com familiares ou amigos. Existe uma África pouco conhecida da maioria de nós. Existem vivências na África profunda do Norte, de Leste ou do Sul, em Angola, Moçambique ou Guiné que foram aventureiras e pouco comuns. Demo-nos a conhecer essas vivências para compreendermos melhor a alma portuguesa.<br />
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Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-1143657102756381362006-03-29T19:11:00.001+01:002020-05-13T20:57:21.727+01:00Mossungo/Moçâmedes/Namibe<div align="justify">
Tive o privilégio de ter conhecido um grande poeta angolano chamado Eduardo Mossungo. A sua alma estava encarcerada nas memórias da terra que o viu nascer. Vivia amargurado num Portugal que não lhe trazia qualquer razão de viver e a sua vida decorria sem objectivos de futuro. Ansiava pelo dia em que teria de pôr fim a esse desterro. E esse dia chegou. Estive com ele dias antes de partir. Disse-me que ía regressar a Mossungo, a sua Terra. Pouco tempo sobreviveu. O chão onde nasceu acolheu-o no seu seio num abraço eterno ao filho pródigo e amado. Foi um poema que nunca pôde escrever. Mas os seus amigos, aqueles que admiravam a sua luta, o seu amor, a paixão, nunca poderão esquecer o exemplar sentimento que nos legou.<br />
Mossungo, Moçâmedes, Namibe, três fases no tempo. O mesmo mar piscoso e o mesmo deserto de microclima temperado. A pesca e a agro-pecuária em desenvolvimento galopante. Um casamento perfeito entre e Terra e o Mar. Dois povos pacíficos que se tornaram irmãos e que caminhavam lado a lado em direcção ao futuro que se visualizava promissor e feliz num progresso surgido no confronto de duas culturas que se apuraram no aproveitar útil de todas as suas capacidades em convivência pacífica. Por fim uma cidade que foi crescendo, filha desse Mar e desse Deserto, construída a pulso, onde abundavam as indústrias, as escolas que levavam o ensino a toda a população citadina e suburbana, o liceu, os clubes desportivos, os parques, o cais comercial e o de embarque de minério onde acostavam os maiores navios do mundo. E tudo isto fruto duma colonização que só pode ser exemplar pelo esforço, pela dedicação e pelo trabalho de todos e não pela devassa do burguês dissoluto como alguns querem fazer crer. Valeu o esforço, o sacrifício e o afecto do Homem na obra feita.<br />
Este texto é uma homenagem a todos aqueles que lá viveram, construíram em Mossungo/Moçâmedes a sua Casa, desbravaram com charruas e enxadas o seu Chão, lançaram as suas linhas e redes no seu Mar generoso. Nos desalentos mais profundos foram buscar ânimo ao lema de Bernardino, o fundador: "vence, quem perseverar até ao fim", transformaram um pedaço de deserto em cidade e viram crescer a obra glorificada pelo trabalho árduo duma vida: a cidade de Moçâmedes. (Labor Omnia Vincit). </div>
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A Eduardo Mossungo, pseudónimo de Eduardo Brazão Filho: ele era o afecto, o exilado desesperado pelo regresso, a expressão mais sentida do Amor que alguma vez alguém sentiu pela sua Terra: a cidade de Mossungo, que segundo ele, poderia ser a nova e a mais apropriada designação para a cidade de Moçâmedes, quando Angola deixasse de ser colónia portuguesa. No entanto, logo no primeiro governo da nova República independente (República Popular de Angola) foi rebaptizada para cidade do Namibe.</div>
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A Namibe (cidade) o desejo que o desenvolvimento torne àquele espaço para que não seja o Namibe (deserto) a fazê-lo com as suas areias.</div>
Cláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com15tag:blogger.com,1999:blog-24997630.post-1143654963860189902006-03-29T18:54:00.000+01:002006-03-29T18:56:03.870+01:00Um padrinho sem memória!Cá está.<br />O pontapé de saída, para mais do que o comum.<br />O meu desejo é que este seja um livro em branco, que aceite todas as escritas, todas as palavras, o sentir e o fazer.<br /><br />Força Frota!<br /><br />Luís EspadaCláudio Frotahttp://www.blogger.com/profile/12347804865419095178noreply@blogger.com4