Mossungo/Moçâmedes/Namibe
Tive o privilégio de ter conhecido um grande poeta angolano chamado Eduardo Mossungo. A sua alma estava encarcerada nas memórias da terra que o viu nascer. Vivia amargurado num Portugal que não lhe trazia qualquer razão de viver e a sua vida decorria sem objectivos de futuro. Ansiava pelo dia em que teria de pôr fim a esse desterro. E esse dia chegou. Estive com ele dias antes de partir. Disse-me que ía regressar a Mossungo, a sua Terra. Pouco tempo sobreviveu. O chão onde nasceu acolheu-o no seu seio num abraço eterno ao filho pródigo e amado. Foi um poema que nunca pôde escrever. Mas os seus amigos, aqueles que admiravam a sua luta, o seu amor, a paixão, nunca poderão esquecer o exemplar sentimento que nos legou.
Mossungo, Moçâmedes, Namibe, três fases no tempo. O mesmo mar piscoso e o mesmo deserto de microclima temperado. A pesca e a agro-pecuária em desenvolvimento galopante. Um casamento perfeito entre e Terra e o Mar. Dois povos pacíficos que se tornaram irmãos e que caminhavam lado a lado em direcção ao futuro que se visualizava promissor e feliz num progresso surgido no confronto de duas culturas que se apuraram no aproveitar útil de todas as suas capacidades em convivência pacífica. Por fim uma cidade que foi crescendo, filha desse Mar e desse Deserto, construída a pulso, onde abundavam as indústrias, as escolas que levavam o ensino a toda a população citadina e suburbana, o liceu, os clubes desportivos, os parques, o cais comercial e o de embarque de minério onde acostavam os maiores navios do mundo. E tudo isto fruto duma colonização que só pode ser exemplar pelo esforço, pela dedicação e pelo trabalho de todos e não pela devassa do burguês dissoluto como alguns querem fazer crer. Valeu o esforço, o sacrifício e o afecto do Homem na obra feita.
Este texto é uma homenagem a todos aqueles que lá viveram, construíram em Mossungo/Moçâmedes a sua Casa, desbravaram com charruas e enxadas o seu Chão, lançaram as suas linhas e redes no seu Mar generoso. Nos desalentos mais profundos foram buscar ânimo ao lema de Bernardino, o fundador: "vence, quem perseverar até ao fim", transformaram um pedaço de deserto em cidade e viram crescer a obra glorificada pelo trabalho árduo duma vida: a cidade de Moçâmedes. (Labor Omnia Vincit).
Mossungo, Moçâmedes, Namibe, três fases no tempo. O mesmo mar piscoso e o mesmo deserto de microclima temperado. A pesca e a agro-pecuária em desenvolvimento galopante. Um casamento perfeito entre e Terra e o Mar. Dois povos pacíficos que se tornaram irmãos e que caminhavam lado a lado em direcção ao futuro que se visualizava promissor e feliz num progresso surgido no confronto de duas culturas que se apuraram no aproveitar útil de todas as suas capacidades em convivência pacífica. Por fim uma cidade que foi crescendo, filha desse Mar e desse Deserto, construída a pulso, onde abundavam as indústrias, as escolas que levavam o ensino a toda a população citadina e suburbana, o liceu, os clubes desportivos, os parques, o cais comercial e o de embarque de minério onde acostavam os maiores navios do mundo. E tudo isto fruto duma colonização que só pode ser exemplar pelo esforço, pela dedicação e pelo trabalho de todos e não pela devassa do burguês dissoluto como alguns querem fazer crer. Valeu o esforço, o sacrifício e o afecto do Homem na obra feita.
Este texto é uma homenagem a todos aqueles que lá viveram, construíram em Mossungo/Moçâmedes a sua Casa, desbravaram com charruas e enxadas o seu Chão, lançaram as suas linhas e redes no seu Mar generoso. Nos desalentos mais profundos foram buscar ânimo ao lema de Bernardino, o fundador: "vence, quem perseverar até ao fim", transformaram um pedaço de deserto em cidade e viram crescer a obra glorificada pelo trabalho árduo duma vida: a cidade de Moçâmedes. (Labor Omnia Vincit).
A Eduardo Mossungo, pseudónimo de Eduardo Brazão Filho: ele era o afecto, o exilado desesperado pelo regresso, a expressão mais sentida do Amor que alguma vez alguém sentiu pela sua Terra: a cidade de Mossungo, que segundo ele, poderia ser a nova e a mais apropriada designação para a cidade de Moçâmedes, quando Angola deixasse de ser colónia portuguesa. No entanto, logo no primeiro governo da nova República independente (República Popular de Angola) foi rebaptizada para cidade do Namibe.
A Namibe (cidade) o desejo que o desenvolvimento torne àquele espaço para que não seja o Namibe (deserto) a fazê-lo com as suas areias.
15 Comentários:
Só para demonstrar o funcionamento desta coisada!
Por WatchMan, Às 12:37 da tarde
Maravilhosa a ideia.Tanta coisa recebemos de Angola e tanta coisa demos. Amor retribuido.
Lembrar Mossungo não podia ser mais feliz.
Reparem neste poema genial de amor
no seu canto...
ÁFRICA MINHA CANTORA
Guitarra, que estás tocando ?
Não vês a cor do luar ?
Não vês a cor do Sertão ?
Não vês a erma magia
Romântica Tentação
Desta Angola que nos criou
E nos toca o coração ?
Repara a ganga infiltrando
Em selvagem natureza
O feiticeiro espeldor ;
Ouve o cantar das viuvinhas,
Dos chacais ouve os latidos ;
Vê o clarão das queimadas
E o romper das madrugadas
Em quadros belos... perdidos...
Guitarra, que estás tocando
Nesta noite de luar ?
Não vês para além das chamas
As mucaias a gingar ?
Olha as sombras africanas
Bricando sob o palmar...
Ouve o rugir do leão
Ouve o chorar duma hiena
E verás quão bem pequena
É tua voz no Sertão !
E quando vires o manto
Do grande Zaire entre as relvas...
Pára guitarra teu canto
E deixa cantar as Selvas
Uma abraço
Massemba/glória
Autor:
Eduardo Brazão-Filho
1972
__________________
Por Anónimo, Às 7:49 da tarde
Obrigado Cláudio Frota por teres criado este site e homenageares o meu querido e falecido irmão Eduardo.
Um abraço
Mário Brazão
SANZALA
Noite, noite negra, espectral
Jungida em cada adobe
Com cazumbis e ekolokolos
Se batucando no silêncio sem sombras.
Há uma muralha da China
Envolvendo o ritual de desejos
Na cidade de bairro,
Com convulsões espasmódicas de ansiedade
Brotando de raiz dos seus dedos.
Autor:
Eduardo Brazão-Filho
(Mossungo)
Por Anónimo, Às 4:36 da tarde
Gostei imenso de ler tudo o que escreveste, sobre a fundação de Moçâmedes e a vida do seu fundador. Muitos desconhecem muitos aspectos do que foi a vida e obra BERNARDINO (eu incluido, daí deverem este documento histórico.
Walter
30/09/06
Por Anónimo, Às 9:29 da tarde
O KUKULAR DA NOVA VIDA
Quando, meu filho caçula, os teus filhos
e os filhos dos teus filhos
olharem para o passado e não souberem mais
o que foi uma tchimpaka
porque a àgua abunda
nas milhares de represas e cacimbas instaladas
Quando sentires os ekolokolos deixarem de atormentar
as recordações
dos seus corpos atirados ao mar
das galeras dos escravos...
QuandoQuando nos lugares das kubatas vires
casas de adobe e cimento
e os arimbos explodirem fartura...
Quando as secas
não forem mais calemas do passado
substituidas por um kandango forte
e a kizomba, a massemba e a kilapanga
kandangarem de kabinda ao kunene
louvores a N'Zambi
por este sonhop realizado...
Quando, meu filho caçula, os teus filhos
e os filhos dos teus filhos
não se lembarem mais de que no meu tempo
os homens se sangrentavam
numa guerra pelo poder
e o kazumbi que kukaiava em cada esquina
com inveja e mau olhado
se esfumar na sombra dos tempos...
...então
aí
como nas grandes solenidades dos chefes indios,
num grande kudissanga
o Povo
todo
poderá fumar a mutopa da Paz
e fazer soar o n'goma
pelo kukuiar da Nova Vida.
Autor.
Eduardo Brazão-Filho
(Mossungo)
Por Anónimo, Às 6:45 da tarde
CONVENÇÃO
Deixa que a espuma se enrole a teus pés
Deixa o porto chiar a canção dos guindastes
E os vapores transpirarem o fumo da partida.
Deixa sumir-se a fantasia de quem vai
No lenço branco de quem fica
Daqui a pouco
Há-de surgir a lua amiga
Que entrará num buraco da tua cubata
Para dormir contigo no chão
Com esteira de matêba.
Autor:
Eduardo-Brazão-Filho
(Mossungo)
__________________
Mário Brazão
Por Anónimo, Às 6:47 da tarde
Poemas do livro "AMAR ANGOLANAMENTE - Poemas de Exílio"
I
Amar,
amar angolanamente
é sentir este exílio sufocante,
esta amargura de korica enjaulado
à Pátria distante.
Lágrimas rolando em pena decretada
na ausencia forçada,
vigilante solidão em terra estranha
onde o silêncio é o grito maior que o trovão
e o respirar deste ar impuro
azagaia feroz a expiação.
Amar,
amar angolanamente
é ter muxima grande,
tão grande como o País distante
batendo dentro do peito
constantemente.
Legendas:
Korica - Leão
Azagaia - Espécie de lança
Muxima - Coração
Eduardo Brazão-Filho
(Mossungo)
Por Anónimo, Às 11:57 da manhã
Amar Angolanamente
II
Nem séculos te ofuscaram
os ditames da glória conquistada;
Fez-se História
antes e depois da Pátria Libertada.
Unidos de ora avante
Povo e Nação
sentirão África na alma enternecida
e Angola ao bater do coração.
Eduardo Brazão-Filho
(Mossungo)
Por Anónimo, Às 7:18 da tarde
É bom sentirmo-nos acompanhados nesta homenagem. Obg. a todos.
Cláudio Frota
Por Cláudio Frota, Às 1:13 da manhã
AMAR ANGOLANAMENTE
XV
Não tenho o sol nem o luar
da minha terra, nesta terra estranha;
Não tenho o kuvale, o muhila, o luena a dançar
não ouço o korika a rugir, o batuque a tocar,
oh dor tamanha
desta dor sem par !
Minha irmã Nangombe, de te recordar
vê como padeço.
como é bom, como é bom minha irmã Nangombe
sonhar regressar
deste exílio opresso.
Como é bom
aplacar esta chama nostálgica, feroz,
este cruel algoz
como o inebriante sonho
de à Pátria voltar.
Como é bom, como é bom minha irmã Nangombe
sonhar transpor as solidões da desventura
nessa imagem cativante,
pura,
de te voltar a tocar
Como é bom minha irmã Nangombe
viver esta vigília,
Kalunga agitado no meu peito
já quase desfeito
dessa esperança
de esperar.
Como é bom,
Como é bom minha irmã Nangombe,
sonhar !
Eduardo Brazão-Filho
(Mossungo)
Por Anónimo, Às 5:19 da tarde
AMAR ANGOLANAMENTE
XVI
Esta luta interior, ciclópica, rebelde,
este combate nesta arena gigante do meu peito,
esta fúria dos meus gemidos revoltos,
como um tantan frenético
batendo incessantemente
na queimada hipnótica e pujante dos meus pensamentos.
Esta angústia de maracujás, pitangas e maboques
escorrendo do meu corpo
e marimbas repercutindo sons
no sonho nublado do meu suor.
Estas lembranças, geométricas pirâmides
cavando África no fosso angustiando da minha alma
fazem-me viver eternamente vigilante
na inacessível recusa de me sentir ausente.
Esta luta interior, ciclópica, rebelde,
envolve-me na dulcíssima melopeia das puítas,
nos cânticos desse povo que existe nesse belo País,
porque não existe outro País mais belo
do que o meu ausente mas sempre presente
e constante País.
Eduardo Brazão-Filho
(Mossungo)
Por Anónimo, Às 5:28 da tarde
AMAR ANGOLANAMENTE
XVII
O drama de mim mesmo
esconde-se na grandeza desse mato imenso.
Em minhas veias escorre
cada pulsação vibrante das anharas,
dos platôs e chanas,
dos desertos e rios.
Busco-me nas serras e vales;
penetro nas míseras cubatas
e deito-me no chão das esteiras
para adormecer alquebrado
num desencontro de esperanças.
O drama de mim mesmo
desprendeu-se da garganta profunda
do vazio da vida
e procura na noite
a luz do vagalume.
Em vão busco-me no entrechoque
da fantasia/realidade !
- Nem um punhal
para derrubar em cada esquina
o silêncio !
Nem uma catana
para arrancar cerce e impiedosamente
o pavor.
E a gélida ansiedade que o vento
arrasta sobre a mole humana
é meu drama,
meu drama pela desejada renúncia
deste abrigo/exílio !
O drama de mim mesmo
é este estigma desnudado !
Eduardo Brazão-Filho
(Mossungo)
Por Anónimo, Às 5:31 da tarde
AMAR ANGOLANAMENTE
"PADRE NOSSO"
Quando da vida o ar já não sorver
e fôr aos vermes vis apascentada,
só quero que deponham a meu lado
este livro que acabo de escrever.
Não peço mais, pois mais pedir não posso.
Se acaso alguém de mim se faz lembrar,
então peço que diga sem troçar:
-Ele fez do amor à Pátria o "Padre Nosso" !
Por Anónimo, Às 5:39 da tarde
Caros amigos
Os poemas que transcrevi, foram obra do meu saudoso irmão Eduardo Brazão-Filho, também conhecido por Mossungo
Por Anónimo, Às 12:21 da manhã
Amigo Claudio
Eu sei que estou em falta para esteb teu Blog, mas como já teb referi pessoalmente, deve-se ao facto de vários sites e o tempo voa...
Espero que este "cantinho" do meu querido e saudoso irmão coninue,
Um abraço
Mário
Por mário brazao, Às 1:25 da tarde
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