OLHÃO-TERRA DE PESCADORES/NAVEGADORES "A MAIOR DIÁSPORA COLONIZADORA A SUL DE BENGUELA"
A população de Olhão conta-nos uma história de duas actividades distintas relacionadas com o mar: a pesca e o comércio marítimo.
Dotado de uma matriz psicológica em que alguns historiadores destacam a valentia, o aventureirismo, a audácia, a ambição, o espírito de sacrifício, o gosto pelo risco, etc., o povo olhanense situa parte da sua história na pesca e no comércio de cabotagem em todo o litoral português especialmente na costa do Algarve, do norte de África e do sul de Espanha até ao Mediterrâneo Oriental e Mar Negro, havendo uma referência especial ao porto de Odessa, importante entreposto cerealífico russo, no Mar Negro, onde o pequeno caíque do olhanense António da Silva Guerreiro foi comerciar um grande carregamento de biqueirão em salmoura, trazendo umas toneladas de trigo e artigos orientais. Nessa viagem foi visitado pela mais alta hierarquia marinheira daquele País, onde foi comentada a audácia do homem do mar português ao aventurar-se, naqueles barquitos de vela latina de 50, 6O ou 70 toneladas, para tão longes paragens. Mal sabiam os russos que outras glórias épicas tinham surgido daquele povo e essas ainda mais ousadas: a viagem do caíque Bom Sucesso ao Brasil no dia 6 de Julho de 1808, (viagem essa comemorada anualmente por iniciativa de alguns docentes das escolas de Olhão, terminando com visita à réplica do caíque, aportado em cais próprio, que em boa hora a autarquia mandou construir), e mais tarde, a partir de meados do sec XIX, as viagens aos mares piscosos do sul de Angola, então colónia portuguesa, em viagens sucessivas, intermináveis, onde Adamastor, em promontórios outros, reclamava o seu mar, ante a pertinaz audácia daqueles navegadores; ou Neptuno, calmo e apaziguador umas vezes, outras bruto e temível, constituindo cada viagem um episódio épico-familiar, faltando somente o poeta inspirado nas musas parnasianas a cantar os feitos de tal ousada gente, onde não falta a tragédia dos naufrágios ou a alegria do reencontro após viagem tranquila ou mais atribulada mas nunca isenta de perigos. Centenas de olhanenses fizeram tal proeza. O destino era o mar piscoso do sul de Angola. Dezenas de barcos levando famílias inteiras aportaram nas baías e enseadas a sul de Benguela. Constituíram a maior diáspora naquelas paragens do sul de Angola.
Dotado de uma matriz psicológica em que alguns historiadores destacam a valentia, o aventureirismo, a audácia, a ambição, o espírito de sacrifício, o gosto pelo risco, etc., o povo olhanense situa parte da sua história na pesca e no comércio de cabotagem em todo o litoral português especialmente na costa do Algarve, do norte de África e do sul de Espanha até ao Mediterrâneo Oriental e Mar Negro, havendo uma referência especial ao porto de Odessa, importante entreposto cerealífico russo, no Mar Negro, onde o pequeno caíque do olhanense António da Silva Guerreiro foi comerciar um grande carregamento de biqueirão em salmoura, trazendo umas toneladas de trigo e artigos orientais. Nessa viagem foi visitado pela mais alta hierarquia marinheira daquele País, onde foi comentada a audácia do homem do mar português ao aventurar-se, naqueles barquitos de vela latina de 50, 6O ou 70 toneladas, para tão longes paragens. Mal sabiam os russos que outras glórias épicas tinham surgido daquele povo e essas ainda mais ousadas: a viagem do caíque Bom Sucesso ao Brasil no dia 6 de Julho de 1808, (viagem essa comemorada anualmente por iniciativa de alguns docentes das escolas de Olhão, terminando com visita à réplica do caíque, aportado em cais próprio, que em boa hora a autarquia mandou construir), e mais tarde, a partir de meados do sec XIX, as viagens aos mares piscosos do sul de Angola, então colónia portuguesa, em viagens sucessivas, intermináveis, onde Adamastor, em promontórios outros, reclamava o seu mar, ante a pertinaz audácia daqueles navegadores; ou Neptuno, calmo e apaziguador umas vezes, outras bruto e temível, constituindo cada viagem um episódio épico-familiar, faltando somente o poeta inspirado nas musas parnasianas a cantar os feitos de tal ousada gente, onde não falta a tragédia dos naufrágios ou a alegria do reencontro após viagem tranquila ou mais atribulada mas nunca isenta de perigos. Centenas de olhanenses fizeram tal proeza. O destino era o mar piscoso do sul de Angola. Dezenas de barcos levando famílias inteiras aportaram nas baías e enseadas a sul de Benguela. Constituíram a maior diáspora naquelas paragens do sul de Angola.
A VIAGEM DO CAÍQUE "BOM SUCESSO" AO BRASIL
Visitava Olhão em 2005, quando, vindo da avenida principal, se ouviu o som de cavalos a trote e o rufar de vários tambores. Ao assumar-me notei que, quer os cavaleiros, quer os «tambores», trajavam à tropa napoleónica e em cortejo seguiam-nos um grupo de populares trajados à sec. XIX. Comemoravam a expulsão do exército napoleónico do Algarve e a consequente viagem épica do caíque Bom Sucesso ao Brasil, iniciada no dia 6 de Julho de 1808. O cortejo dirigiu-se a um cais onde se encontra acostado uma réplica daquele mesmo caíque e ali houve cerimónias e discursos. Pude ainda conversar com um elemento da organização que me afirmou pertencer esta iniciativa a um grupo de docentes das escolas de Olhão visando a divulgação deste acontecimento histórico, reputado como um dos que mais honram a história da cidade, e esclareceu-me que a viagem do caíque Bom Sucesso ao Brasil tem tudo a haver com a derrota das tropas francesas no Algarve.
O exército francês, comandado pelo General Junot, 1ª. invasão, exercia o domínio em todo o território português. A rebelião no Algarve teve início em Olhão e alastrou-se pelas aldeias, vilas e cidades até à sua expulsão definitiva. (Na ponte velha de Quelfes deu-se uma emboscada ao exército francês com a participação da população olhanense, resultando desta acção 18 baixas e 12 feridos para o lado francês e uma baixa para o lado português. Foi posta uma placa a assinalar este acontecimento).
Após a expulsão do exército francês do Algarve constituiu-se a Junta Suprema Provincial do Reino do Algarve que assumiu o governo em nome do Príncipe Regente, refugiado no Brasil com a Corte.
Tinham de levar a boa nova ao Brasil. Para essa empresa foi escolhido o marítimo olhanense,
reconhecidamente o mais destro para tão perigosa missão.
Partiram no dia 6 de Julho de 1808. Oito dias depois chegavam ao Funchal e a 16 rumaram ao Rio de Janeiro. (na foto vemos a réplica do caíque "Bom Sucesso", acostado em cais próprio em Olhão)
Levavam uma carta do governo de Faro que participava a expulsão dos franceses, cartas de felicitações do Bispo e uma cópia do auto de eleição da Junta Suprema e outra carta de parabéns do Compromisso Marítino, ao Príncipe Regente.
Pouco mais de 2 meses durou a travessia do Altântico. Tiveram, não só de lutar com o mar, mas também fugir dos franceses, dos corsários e de navios negreiros de todas as nacionalidades. Por mais estranho que pareça não possuíam qualquer aparelho ou simples carta marítima. Dirigiam-se por uma estimativa muito incerta, traçada por um vulgaríssimo e primitivo mapa.
Pouco mais de 2 meses durou a travessia do Altântico. Tiveram, não só de lutar com o mar, mas também fugir dos franceses, dos corsários e de navios negreiros de todas as nacionalidades. Por mais estranho que pareça não possuíam qualquer aparelho ou simples carta marítima. Dirigiam-se por uma estimativa muito incerta, traçada por um vulgaríssimo e primitivo mapa.
Chegaram ao Rio de Janeiro no dia 22 de Setembro. Tiveram recepão grandiosa à chegada, não só pela boa nova de que eram portadores, mas, também, pela audácia demonstrada.
A população carioca e mesmo a de todo o Brasil guardou memória deste acontecimento, de tal forma, que nos fins do séc. XIX, apareciam, ainda, no nordeste brasileiro pescadores e praieiros a dizerem-se descendentes dos pescadores de D. João VI que vieram ao Brasil numa "quenga", isto é, na metade de um côco.
D. João VI pagou pelo caíque 6.000 cruzados. Os 15 pescadores/navegadores olhanenses da tripulação, regressaram a Portugal num iate novo, oferta de D. João VI.
O caíque Bom Sucesso foi mandado conservar no Arsenal da Marinha no Rio de Janeiro, ad perpectuam memoriam, onde realmente esteve durante muitos anos, exposto à admiração de nacionais e estrangeiros.
Como reconhecimento desta empresa logo Olhão foi elevada à categoria de vila com o nobilitante título de "Vila de Olhão da Restauração".
8 Comentários:
Sr Claudio Frota
Ao pesquisar um trabalho sobre Angola na internet encontrei o seu blog e gostaria de lhe perguntar se tem mais informacao sobre a familia Sousa Ganho que em 1860 aportou em Mocamedes. Sou neta de Guilherme de Sousa Ganho natural de Mocamedes que bem podera ser por sua vez bisneto de Francisco de Sousa Ganho se nos pusermos a fazer contas por alto. O meu pai contava-me esta historia da familia mas nunca tive um suporte escrito como este que consegui agora. Agradecer-lhe-ia muito uma resposta porque estou com uma curiosidade imensa por chegar mais longe no conhecimento da minha familia paterna. Um abraco fraternal e amigo desde Luanda onde vivo. Luiza Machado Ganho louyza@netangola.com
Por Anónimo, Às 10:59 da manhã
Muito em breve escreverei algo graças ao grande historiador Dr. Iria.
Por Anónimo, Às 4:43 da tarde
D. Luísa Ganho:
É com enorme prazer que aqui deixo mais umas informações, poucas, é certo,sobre a sua ascendência,graças e esse grande historiador que foi o Dr. Alberto Iria e a outros no qual ele foi beber:
Francisco de Sousa Ganho era natural de Olhão e nasceu no ano de 1830, tendo falecido em Moçâmedes em 13/7/1895.Era filho de Francisco de Sousa Ganho e de Teresa de Jesus Ganho.
Seu filho o Júnior que fez a viagem na barca com 9 anos era da freguesia de Sta. Isabel de Lisboa e nasceu a 11/11/1850. Eles íam na canoa de pesca para Moçâmedes mas conseguiram entrar na barca D. Ana.Estiveram na Baía das Salinas onde se dedicaram á pesca á linha e á extracção de óleo de fígado de cação. Rumaram depois para Porto Alexandre e Baía dos Tigres, sendo dos primeiros a fixarem-se nessas praias. O Júnior teve a sua primeira pescaria na Baía dos Tigres. Possuíam o caíque Restaurador que fazia o comércio de cabotagem na costa até S. Tomé, Gabão e Congo Francês. Estiveram no Mocuio, Baía das Pipas e Baba onde possuíam uma armação à valenciana destinada à pesca da sardinha, a 3ª. que foi montada no distrito. Foi o 1º.olhanense a construir uma casa em Moçâmedes. Conta-se o seguinte episódio muito curioso:
"Em 3 de Fevereiro de 1871 o olhanense Francisco de Sousa Ganho indemnizou Maria da Cruz Rolão por ter lançado ao mar as madeiras para construção duma casa e mais utensílios de pesca que Maria da Cruz Rolão desembarcava na Praia do Sal ao norte da Vila de Moçâmedes". E a seguir "declarou perante testemunhas que promete sob palavra de honra viver bem com os seus visinhos residentes na Praia do Sal ou em qualquer parte deste distrito".(Maria da Cruz Rolão foi mais tarde heroína de Porto Alexandre e regedora).Pensa-se que sucederam alguns descontentamentos na fixação das populações em certas praias.
Há ainda um registo de 1921 em que foi concedido passaporte de Moçâmedes para Lisboa a Tolentino de Sousa Ganho, médico, casado com uma brasileira do Rio de Janeiro D. Adelina Salvatério Santos e a 2 filhas, Maria e Suzana, respectivamente de 7 anos e 14 meses. Tolentino era filho do Júnior.
Foi tudo o que encontrei sobre a sua ascendência graças ao Dr. Alberto Iria e à sua obra "Os caíques do Algarve no Sul de Angola". Se encontrar mais alguma notícia farei menção na oportunidade.
Um abraço fraterno deste seu amigo que lhe as maiores felicidades e até sempre.
Cláudio Frota
Por Anónimo, Às 12:23 da manhã
Permitam-me duas correcções:
Tolentino de Sousa Ganho tinha uma filha Suzana e um filho, Mário, meu avô.
A minha bisavó era a D. Adelina Salvatori Santos.
Mário Ganho casou em coimbra com a D. Gracinda, minha avó e teve seis filhos.
D. Gracinda tem hoje 96 anos, 23 netos e seis bisnetos.
Cumprimentos de Coimbra,
Pedro Ganho
Por Anónimo, Às 6:06 da tarde
Sr.Pedro Ganho:
Agradeço os seus esclarecimentos e aproveito para cumprimentar toda a família Sousa Ganho e desejar à D. Gracinda muitos anos de vida com muita saúde e bem estar.
Cláudio Frota.
Por Cláudio Frota, Às 1:13 da tarde
Sr.Mário frota,sendo eu descendente da família ganho,gostaria de dispor se possível,mais dados sobre o aparecimento desta grande família.
Cumprimentos de Braga
Nuno Ganho
Por Anónimo, Às 5:57 da tarde
Caro Cláudio Frota, sabe onde poderei encontrar mais informação sobre a ida dos pescadores olhanenses ao porto de Odessa?
Deixo-lhe o meu e-mail
leonardo.anacristina@gmail.com
Muito obrigada
Por Ana Cristina Leonardo, Às 1:24 da manhã
D. Ana Cristina:
Agradeço a sua intervenção.Encontrei somente uma referência ao porto de Odessa que foi publicada num livro sobre Olhão creio do historiador Dr.Antero Nobre. A mesma história vem mencionada noutras obras de outros historiadores. O Dr Alberto Iria também se refere a mesma história.Este historiador escreveu várias obras que poderão ser consultadas na biblioteca da Câmara Municipal de Olhão.Um abraço e até sempre.
Por Anónimo, Às 9:33 da tarde
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