EM MEMÓRIA DE UMA AMIZADE INCOMUM

Em 30/12/1886 realizou-se o Tratado Luso-Alemão que definiu a linha de fronteira do Sul de Angola com o Norte do Sudoeste Africano, então colónia alemã. O Sudoeste Africano seria mais tarde o país livre da Namíbia. No mesmo Tratado e para que fossem reconhecidos direitos de soberania, Portugal ficou obrigado à "ocupação efectiva" do território "aquém fronteira", o mesmo acontecendo à Alemanha no território "além fronteira". A obrigação da "ocupação efetiva" fora acordada na Conferência de Berlim realizada em 1885 pelas potências coloniais europeias. Abrangia os territórios dos impérios coloniais em África. No interior do Sul de Angola só os funantes (comerciantes ambulantes) mantinham uma certa presença portuguesa a comerciar marfim e aguardente de cana. Era necessário promover políticas de povoamento europeu e criar condições de fixação em todo aquele vasto território fronteiriço.
Dado à resistência daqueles povos à ocupação europeia optou-se pela ocupação militar e só após a região pacificada, à ocupação civil. Impunha-se, pois, avassalar sobas.
As populações já fixadas mais a norte e do litoral, viviam com inquietação esses dias de incerteza. Desde 1883 que hotentotes invadiam o espaço angolano, atiçados pelos alemães, tendo mesmo ameaçado a população de Porto Alexandre, ao tempo uma pequena aldeia de pescadores dedicada à faina do mar, na sua grande maioria algarvios de Olhão. (Porto Alexandre é hoje a cidade de Tômbua). Foi necessário um encontro
com os seus chefes que se realizou no "Arco do Carvalhão", também chamado "A Lagoa dos Arcos" um oásis a trinta kilómetros da então povoação piscatória e esta ficou a salvo da investida. Nessa reunião esteve presente a mui conhecida regedora de Porto Alexandre, Maria da Cruz Rolão, considerada heroína e um exemplo de coragem, coragem demonstrada nessa e noutras intervenções na defesa do interesse nacional e da população de Porto Alexandre em particular. Foi consagrada na toponímia olhanense, de onde era natural, com uma rua, e Porto Alexandre homenageou-a com a instalação de uma estátua à entrada da cidade e com o seu nome numa escola.
As populações já fixadas mais a norte e do litoral, viviam com inquietação esses dias de incerteza. Desde 1883 que hotentotes invadiam o espaço angolano, atiçados pelos alemães, tendo mesmo ameaçado a população de Porto Alexandre, ao tempo uma pequena aldeia de pescadores dedicada à faina do mar, na sua grande maioria algarvios de Olhão. (Porto Alexandre é hoje a cidade de Tômbua). Foi necessário um encontro

Foi sob o comando do capitão Roçadas e do General João de Almeida que se deu como consolidada a fronteira Sul com a Alemanha. Construíram postos fronteiriços de defesa, avassalaram sobas e criaram as condições para uma efectiva ocupação. Mas em 1912, sob a governação de Norton de Matos (1912-1914) os alemães tiraram a máscara quanto ao propósito de agregar à sua colónia do Sudoeste Africano vasto território angolano. Havia alguns anos que se serviam de oficiais disfarçados, pseudo cientistas e sobretudo de missionários que fomentavam a intriga junto do gentio contra os portugueses. Não tardou que as mausers e manelikers alemãs aparecessem nas mãos adestradas do gentio. Queixava-se Norton de Matos da ineficácia governativa da Metrópole que enviava pequenos núcleos de forças que eram derrotadas ou derrotavam o inimigo, retirando-se em seguida, revelando grande incapacidade de ocupação, nada prestigiante para um exército que se queria dominante. Razão por que a ocupação do Sul de Angola iniciada em 1885 só foi terminada em 1915 pelas forças do General Pereira d´ Eça.
A impressionante narrativa da batalha no Vale do Pembe (1904), que se revelou um desastre para
as tropas portuguesas é disso flagrante exemplo. Reuniram mais tarde trezentos esqueletos de soldados portugueses e auxiliares indígenas mortos nessa batalha, esqueletos que se encontravam espalhados pela zona de combate.

Impressionante o fim trágico do tenente António da Trindade que ferido numa perna e impossibilitado de correr foi abandonado à sua sorte pelos seus maqueiros que em pânico fugiam diante da correria e gritaria dos cuamatos. O tenente António da Trindade foi apanhado e massacrado por estes.
Impressionante o patriotismo do capitão Roby, que regressava à Metrópole como herói, depois de ter combatido em Moçambique. O barco em que viajava fez escala em Moçâmedes e não continuou a viagem; ofereceu-se para combater no Sul de Angola onde viria a encontrar a morte nos confrontos com os cuanhamas.



1915. Desembarcou em Moçâmedes uma considerável força expedicionária portuguesa sob o comando do General Pereira d´Eça. Cumpria-lhe recuperar todo o território abandonado pelo exército português após o ataque alemão ao posto fronteiriço de Naulila, restaurar o prestígio de Portugal perante o gentio sublevado, fornecer aos governadores de distrito elementos para prontamente poderem sufocar qualquer rebelião e disponibilizar forças que fizessem face a qualquer nova investida alemã, vingando assim o que se passou a chamar "o desastre de Naulila".

A população de Moçâmedes recebeu estes expedicionários como visitantes, solidária com o que se adivinhava no horizonte de suas vidas: angústias, perigos, cansaços, incertezas, medos e morte. (O exército alemão avançava na Europa e o inimigo agonizava à sua passagem. Portugal esperaria até ao ano de 1916 para entrar na primeira grande guerra mundial ao lado dos aliados contra a poderosa Alemanha.)

Um acontecimento veio alterar toda a estratégia até aí delineada pelo comando. Em Março de 1915, 50.000 homens do exército inglês da África do Sul, comandados pelo general Botha, invade o Sudoeste Africano obtendo a rendição do exército alemão. Fica no terreno somente as tribos sublevadas dispostas a vencer. Naulila jamais seria vingada. (consultar: http://www.arqnet.pt/portal/portugal/grandeguerra/pgm_ang052.html)

VIAGENS E "REENCONTROS"
1960. João Rodrigues Trindade Júnior pegou num dos postais de Boas Festas endereçado da Póvoa do Varzim pelo senhor Flores e incluíu-o na sua bagagem. Visitar a Metrópole, conhecer as paisagens do norte e do centro do País, tão propaladas pelos seus emigrantes, as praias turísticas do Algarve, os Jerónimos, a Batalha, os castelos e monumentos espalhados por todo o Portugal e referenciados nos livros escolares, Lisboa, a capital, visitar e descobrir recantos da terra de pais e avós, era o sonho de gerações de portugueses que tiveram como berço o ex-Ultramar Português, e que Trindade Júnior e Margarida Trindade íam transformar em realidade.
1960. João Rodrigues Trindade Júnior pegou num dos postais de Boas Festas endereçado da Póvoa do Varzim pelo senhor Flores e incluíu-o na sua bagagem. Visitar a Metrópole, conhecer as paisagens do norte e do centro do País, tão propaladas pelos seus emigrantes, as praias turísticas do Algarve, os Jerónimos, a Batalha, os castelos e monumentos espalhados por todo o Portugal e referenciados nos livros escolares, Lisboa, a capital, visitar e descobrir recantos da terra de pais e avós, era o sonho de gerações de portugueses que tiveram como berço o ex-Ultramar Português, e que Trindade Júnior e Margarida Trindade íam transformar em realidade.


De facto criaram grandes expectativas e entusiasmo nessa viagem à Metrópole. Em Faro, a antiga Ossónoba romana, cidade milenar, hospedaram-se num hotel junto à doca. Descortinavam do hotel a monumental entrada de "Vila a Dentro", na muralha árabe, inaugurada em 1812 com a imagem de S.Tomás de Aquino no nicho. Mandada construir pelo bispo D. Francisco Gomes do Avelar é encimada por um sino e por uma pequena capela dedicada às Festas da Nossa Senhora do Ó, que se realizavam nos quinze dias que antecediam o Natal e eram marcadas por umas antífonas começadas pela letra O. A parte frontal dessa capelinha só é vista pelo lado de dentro da muralha se olharmos para o seu topo. Perdeu-se a tradição mas ficou a memória da devoção das populações marítimas e suas famílias a esta santa, populações devotadas aos santos e à sua protecção. O obelisco à frente do hotel é uma homenagem ao Capitão de Mar e Guerra e Ministro da Marinha, Ferreira de Almeida, natural de Faro, que aboliu as varadas e outros castigos deprimentes infligidos aos escravos. Faro era a cidade natal do seu bisavô paterno António Rodrigues da Trindade. Fez carreira militar na Infantaria 15 em Lagos. Casou com Rosa Angélica do Carmo, natural desta cidade.
Olhão não foi esquecida, era a cidade natal do seu pai.
Em Lagos, no Algarve, descobriu os recantos históricos da Lacóbriga romana, cidade onde morou o Infante D. Henrique, o Navegador, grande figura dos Descobrimentos Portugueses e da História Universal. Lagos é a cidade natal do seu avô paterno João Rodrigues Trindade, nascido a 28 de Maio de 1855. Era o quarto filho do já 2º. sargento António Rodrigues da Trindade, natural de Faro, e de Rosa Angélica do Carmo, de Lagos, seus bisavós. Teve como padrinho de baptismo um dos notáveis da cidade: o Brigadeiro reformado e Governador da Praça Manuel Alexandrino Pereira da Silva. Cursou no Seminário, aceitando cumprir a vontade de sua mãe, profundamente religiosa. Fora-lhe oferecido um missal de grande valor no final do curso que infelizmente se perdeu numa fogueira da bubónica após a primeira grande guerra mundial. Naturalmente e como bom cristão reconheceu-se com pouca vocação para o celibato e logo após a sua mãe ter falecido acabou por desistir da carreira eclesiástica para se tornar alfaiate. Fixou-se em Olhão e casou com Anna da Conceição Galvão, uma jovem natural daquela vila. Era uma jovem com estudos pois era chamada a substituir o professor oficial sempre que este faltava. Em 20/5/1878 nascia o único rebento do casal, o seu pai, também chamado João Rodrigues Trindade, que emigrou ainda jovem para Moçâmedes, dedicando-se à pesca com o seu padrasto. Anna enviuvara e casara com Manuel Fernandes da Larga. Deixaram descendência em Moçâmedes: Leonilde, esposa do conhecido professor Marques, director da Escola de Portugal, e Ivone, esposa do guarda-livros (contabilista) sr. Serra. À Torre do Tombo chegavam ecos de vozes preocupadas. Umas tias-avós, irmâs de seu avô, lamentavam a sua avó Anica (Anna) de "ter posto o João (pai) a trabalhar no mar". Profissão sem tradição na familia e considerada de grande risco.
Em direcção ao norte, Lisboa e o Largo Camões na freguesia de Santa Catarina onde nas proximidades residiram os seus avós maternos Catarina e Agostinho Ferreira. Emigraram com os filhos para Moçâmedes e fixaram residência no bairro da Torre do Tombo. Desta descendência vamos encontrar a muito celebrada Raínha da Beleza de Moçâmedes, Riquita Bauleth, miss Portugal 1971, (trineta), figura muito querida dos moçamedenses que todos recordam com muito carinho. (Breve genealogia: http://www.mossamedes-do-antigamente.blogspot.com/2007/11/blog-post.html - Rodrigues Trindade. Riquita é neta de António Pedro Bauleth e Celmira Bauleth). Decorria a primeira grande guerra mundial quando sua mãe Lucinda veio à Metrópole com a saúde debilitada. Viajou acompanhada pela sua irmã mais velha Leovegilda e ficaram alojadas em casa de familiares no Largo Camões. Leovegilda recordava os Armazéns Grandela e os rebuçados que lá comprava quando fazia os recados familiares: «davam sempre uns tostões a mais para rebuçados» - dizia. Nessa época as viagens para a Metrópole eram extremamente arriscadas devido à ameaça que constituia a presença de submarinos alemães que patrulhavam o Atlântico. Tiveram a protecção de um caça-minas da Marinha de Guerra Portuguesa.
Pararam na Póvoa do Varzim, como estava programado. Hospedaram-se num hotel para prevenir uma eventual demora e puseram-se a caminho da morada do senhor Flores. Um táxi fez o percurso até à morada, inscrita no postal que o sr. Flores enviara dez anos antes. A porta entreabriu-se e o cabelo grisalho de um homem septuagenário surgiu na ombreira. «Vimos de África, de Moçâmedes, e procuramos um senhor chamado Flores» «sou o filho do Trindade da Torre do Tombo», disse. A emoção embargou a voz do sr. Flores, o abraço foi longo e apertado. Ofereceu hospedagem em sua casa insistindo para que fossem ao hotel buscar as malas. «A porta da minha casa está sempre aberta aos filhos do Trindade», dissera. Aquele abraço tivera a emoção sentida de um reencontro, do "reencontro" de dois verdadeiros amigos que 44 anos antes haviam construído uma amizade nas incertezas de uma guerra.
Leovegilda, que conheceu o senhor Flores aos nove anos, casou com Serafim dos Santos Frota, nascido também na Torre do Tombo. Quis preservar na família este magnífico "hino" de louvor à amizade, à fraternidade e à solidariedade, transmitindo-o aos seus seis filhos: Branca, Madalena, Mariete, Serafim, Walter e Cláudio. Em 1964 Walter veio a Portugal cumprir o serviço militar na Força Aérea. Viajou à Póvoa do Varzim para conhecer o senhor Flores que relatou os anos inesquecíveis de 1915 e 1916, a forma amiga e fraterna como foi recebido pelos Trindade da Torre do Tombo, avós do Walter, forma amiga e fraterna que ajudou a mitigar ausências e saudades, e do sentimento de gratidão por aquela amizade, que apesar da distância, perdurou no tempo. (créditos de imagem: http://www.princesa-do-namibe.blogspot.com/)
NOTAS FINAIS:


Willen Venter era então um jovem de quinze anos. Anos mais tarde à frente da cavalaria boer enfrentou o inimigo em muitas batalhas. Foi várias vezes ferido em combate e foi condecorado pelo governo português. Mas em 1927 viu a grande maioria do seu povo abandonar as terras da Humpata em direcção à Dâmara. Um êxodo patrocinado pelo governo Sul-Africano. Willem Venter ficou. Em 1938, quando da visita do Presidente da República Portuguesa, General Óscar Fragoso Carmona a Moçâmedes, lá estava o septuagenário Willen Venter, (tinha um perfil alto e seco como o deserto que enfrentara), no seu garbo de cavaleiro, de medalhas ao peito e de Torre e Espada entre os heróis do Cuamato. Faleceu na sua farm na Palanca em idade muito avançada.
João Rodrigues Trindade possuía um terreno de "concessão régia" na Torre do Tombo e um lugar honroso no Grémio dos Industriais de Pesca do Distrito de Moçâmedes. A sua foto constava numa galeria de nomes com uma legenda: 46 anos de pesca. Figuravam na mesma galeria: Manuel Nunes de Carvalho, com 52 anos de pesca, António Mestre, com 40 anos de pesca, João Gonçalves Bento e Joaquim Bento, com 47 anos de pesca, Domingos Martins Nunes, com 46 anos de pesca, Tomás Ribeiro, com 52 anos de pesca, António Santos Paulo, com 39 anos de pesca, António Viegas Seixal, com 48 anos de pesca e Manuel Baptista Lisboa, com 44 anos de pesca. Quantos ainda poderiam enriquecer esta galeria de nomes? Muitos outros, concerteza. (Do livro "Caíques do Algarve no Sul de Angola" do historiador olhanense Dr. Alberto Iria)
Trindade Júnior demorou-se na Metrópole cerca de um mês. Após regresso retomou a sua actividade profissional de ajudante de despachante na conceituada "banca" de Raúl Radich Júnior. Como nos anos transactos os tempos livres dividia-os entre a família e o Sport Moçâmedes e Benfica. Esteve desde a primeira hora com os fundadores do clube em 1936. Os fundadores do clube eram ex-atletas do Ginásio Club da Torre do Tombo em colisão com a sua direcção. Considerados como rebeldes por aqueles que se mantinham fiéis à direcção e à camisola, eram "mimoseados" com um provérbio muito utilizado pelos homens do mar quando nos encontros ocasionais ou de circunstância se apresentavam na sede do seu antigo clube: "gaivotas em terra, tempestade no mar", numa clara alusão à sua rebeldia, contava Trindade Júnior. Ainda jovem, sentou-se no banco de suplentes no primeiro encontro de futebol que o Sport Moçâmedes e Benfica (ao tempo Sport Lisboa e Moçâmedes) realizou, e nunca mais parou. Foi atleta, treinador de futebol, seccionista, apoiante ou simples acompanhante. Integrou elencos directivos. Respeitado e respeitador cultivou relações de amizade com dirigentes dos restantes clubes da Terra, a saber: o Ginásio Club da Torre do Tombo, o Atlético Club de Moçâmedes e o Sporting Club de Moçâmedes, entre outros. Foi por fim o seu Presidente, o seu último presidente, reeleito em vários mandatos sucessivos durante cerca de quinze anos. Como empresário foi o último proprietário da

(Para consulta, recomenda-se a obra de António A. M. Cristão "MEMÓRIAS DE ANGRA DO NEGRO", capítulo II - 6 DESPORTO, por Mário António Guedes da Silva.)



Nesta foto de 1946 vemos o torretombense, ex-atleta e Presidente do Ginásio Club da Torre do Tombo, Mário dos Santos Frota a discursar num evento perante as autoridades locais. Relacionava-se com a cerimónia do lançamento à água de uma guiga, barco de regatas a remos construído nos estaleiros de Óscar de Almeida, (imagem do blog de Nídia Jardim http://www.princesa-do-namibe.blogspot.com/), um dos fundadores do club e seu cunhado, casado com Silvéria dos Santos Frota. Presentes, entre outros torretombenses "pratas da casa", José dos Santos Frota, (ex-atleta de referência), e Álvaro dos Santos Frota, ambos irmãos do primeiro. (São os que estão de óculos escuros). Os dirigentes desportivos puderam contar com os comerciantes e industriais do então distrito de Moçâmedes. Os seus subsídios, quer em dinheiro ou materiais de construção, foram de extrema utilidade na prossecução de projectos em conjunto com os subsídios que se obtinham do Estado. Desta forma puderam os clubes construir infraestruturas próprias, dentro do que era regulamentar, não só para servirem o desenvolvimento autónomo das suas actividades desportivas, mas, também, para as disponibilizar para os jogos no âmbito do calendário oficial. Quanto bairrismo vibrante não foi derramado naquelas "Catedrais do Hóckey em Patins" que só a elevada craveira de um Arménio Jardim, Rui Mangericão, Rui Sampaio, Quim Guedes, Carlitos Guedes, Álvaro Ascenso, Briguidé e os mais novos Orlando Santos (Camona), Carlos Brazão, Mário Graúna, Laurindo Couto, Laurentino Jardim (Tininho), Eloy Craveiro, Carlos Chalupa, estes mais novos fazendo parte da "equipa maravilha" do Atlético Club de Moçâmedes, podia motivar! As luzes daqueles velhos estádios continuam acesas ao serviço do desporto e da juventude do Namibe. Inevitavelmente, porém, alguém procurará, um dia, ir ao encontro da história e levar a esse presente e ao futuro todo um manancial de boas e gloriosas recordações dos saudosos primeiros anos de vida desses mesmos velhos estádios. Os subsídios já estão a acontecer.
Em Portugal, Trindade Júnior reviu a descendência do sr. Flores, que falecera havia alguns anos. Recomeçou a mesma actividade profissional com o seu amigo algarvio, o despachante oficial António Cavaco, que exercera a profissão em Moçâmedes e depois com escritórios em Algés, e foi comerciante; o Estádio da Luz recebia mais um benfiquista anónimo e discreto nas suas bancadas; trazia quarenta anos de dedicação e serviços prestados a uma outra "águia" que nasceu e se criara num deserto em África e por lá esvoaçara nos mesmos quarenta anos. Silenciou o passado, as coisas que realizara, os avultados bens que lá deixara. Reencontrou amigos, fixou-se em Parede na linha de Cascais onde viria a falecer octogenário.
(Agradeço ao meu amigo Telmo Ascenso a foto do Arco do Carvalhão e as do campo de jogos do Sport Moçâmedes e Benfica e à minha amiga e parente Nídia Jardim a cedência da foto da minha ascendência materna: a família Trindade e da casa de madeira onde moraram). (Um agradecimento a António Gama pelos dados biográficos de Willem Venter e Orlog, o zulu, e ainda pelo relato do que foi a odisseia dos boers da colónia de S. Januário chefiados pelo Patriarca Jacobus Friederick Botha, que sintetizei.)